País sem chapéu: relações de resistência e relações transculturais

Autores

  • Laila Karla Lima Duarte Universidade Federal de Rondônia
  • Heloisa Helena Siqueira Correia

DOI:

https://doi.org/10.47209/2594-4916.v.9.n.1.p.157-171

Palavras-chave:

Romance haitiano, transculturação, Dany Laferriére, narrador personagem.

Resumo

O artigo apresenta reflexões sobre obra País sem chapéu (2011), do escritor haitiano Dany Laferrière, a partir do processo de transculturação visivelmente experimentado pelo personagem-narrador. Na narrativa, o personagem-narrador volta ao Haiti depois de vinte anos exilado por motivo da ditadura vivida por seu país. O romance apresenta uma dupla estrutura que organiza o enredo, ora a narrativa refere-se ao País sonhado, em que ocorre a produção de um livro do personagem-narrador, e ora remete ao País real, em que se descreve o Haiti a partir de tópicos do cotidiano, excetuando-se o último capítulo no qual os dois países são apresentados juntos. O leitor percebe que, ao percorrer as ruas de Porto Príncipe, o olhar do narrador tornou-se outro, as vivências em outro país o transformaram em variados sentidos. Esse olhar mescla a identificação com seu país de origem e os questionamentos proporcionados pelo afastamento no exterior. Objetiva-se evidenciar como o personagem-narrador, ao voltar à sua terra natal, apresenta uma nova percepção sobre o cotidiano e a história do país. A cada situação vivenciada desse novo cotidiano, o personagem-narrador parece reagir de um modo diverso, pelo estranhamento, pela observação ou, ainda, pela interação. Para compreender as ações do personagem-narrador, retomar-se-á o conceito de transculturação narrativa trabalhado pelo crítico uruguaio Ángel Rama, com especial atenção para as marcas da identidade de uma e outra cultura presentes na atuação do personagem. E não se deve esquecer que o Haiti também está inserido em processos de transculturação. No país, aspectos marcantes da cultura do dominador e elementos da ancestralidade e cultura do povo haitiano, anteriores à invasão do Haiti pelos colonizadores, são coetâneos.

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Publicado

11/02/2022