Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


Território e lugar em Extrema/RO: uma interpretação geográfica na Amazônia
Territorio y lugar en Extrema/RO: una interpretación geográfica en la Amazonia
Territory and place in Extrema/RO: a geographical interpretation in the Amazon
Revista Presença Geográfica, vol. 08, núm. 03, 2021
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Revista Presença Geográfica
Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil
ISSN-e: 2446-6646
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 08, núm. 03, 2021

Recepção: 02 Setembro 2020

Aprovação: 17 Novembro 2021

Resumo: Este artigo tem por objetivo compartilhar o lugar apreendido pelos territórios vividos por ex-seringueiros, brasivianos e migrantes no distrito de Extrema/RO. Existe um território físico delimitado por divisas entre outros distritos, entre o estado do Amazonas e o país da Bolívia. Todavia, dentro desse território político, diferentes culturas vivenciam seus mundos e criam seus lugares de vida, adaptando-se, organizando e reorganizando o mundo vivido. Na trajetória de aprendizagens e conhecimentos, numa ligação intrínseca com a Terra, esses grupos experenciam em meio a floresta, os rios, os pastos, a cidade, a rua e sua casa um provir de culturas, gerando plasticidade no modo de ser no mundo. Os modos de vida entre esses grupos, nesse território/lugar, produzem as multiterritorialidades, mas é no lugar que acontece o encontro do homem consigo mesmo, assim, produzem uma geograficidade. É no lugar que há a estabilidade, o aconchego, dores, amores, sabores e novos conhecimentos para serem resilientes às dificuldades vivenciadas.

Palavras-chave: Territórios, Lugar, Modos de vida, Seringueiros, Migrantes.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo compartir el lugar ocupado por los territorios vividos por antiguos caucheros, brasileños y migrantes en el distrito de Extrema / RO. Existe un territorio físico delimitado por fronteras entre otros distritos, entre el estado de Amazonas y el país de Bolivia. Sin embargo, dentro de este territorio político, diferentes culturas experimentan sus mundos y crean sus lugares de vida, adaptando, organizando y reorganizando el mundo en el que viven. En la trayectoria de aprendizaje y conocimiento, en una conexión intrínseca con la Tierra, estos grupos experimentan en medio del bosque, los ríos, los pastos, la ciudad, la calle y su hogar un venir de culturas, generando plasticidad en la manera de estar en el mundo. Las formas de vida entre estos grupos, en este territorio / lugar, producen multiterritorialidades, pero es en el lugar donde se produce el encuentro del hombre consigo mismo, produciendo así una geografía. Es en el lugar donde hay estabilidad, calidez, dolor, amor, sabores y nuevos conocimientos para ser resilientes a las dificultades vividas.

Palabras clave: Territorios, Sitio, Estilo de vida, Extractores de caucho, Migrantes.

Abstract: This article aims to share the place seized by the territories experienced by former rubber tappers, Brasivians and migrants in the district of Extrema / RO. There is a physical territory bounded by borders between other districts, between the state of Amazonas and the country of Bolivia. However, within this political territory, different cultures experience their worlds and create their places of life, adapting, organizing and reorganizing the world they live in. In the trajectory of learning and knowledge, in an intrinsic connection with the Earth, these groups experience in the middle of the forest, the rivers, the pastures, the city, the street and their home a coming from cultures, generating plasticity in the way of being in the world. The lifestyle between these groups, in this territory / place, produce multi-territorialities, but it is in the place that the encounter of man with himself takes place, thus producing a geography. It is in the place where there is stability, warmth, pain, love, flavors and new knowledge to be resilient to the difficulties experienced.

Keywords: Territories Place. Lifestyle. Rubber tappers. Migrants..

INTRODUÇÃO

O Distrito de Extrema pertence ao município de Porto Velho e possui um vasto território onde vivem ex-seringueiros e suas famílias, fazendeiros, pecuaristas, madeireiros, indígenas da T.I. Kaxarari que buscaram/buscam uma ligação com a terra, entre outros como comerciantes e funcionários públicos. Esses grupos sociais, após sofrem vários processos de migração, conflitos, doenças, desestabilidade entre um território/lugar para formação de outro território/lugar são pessoas resilientes e ressignificam seu lugar de vivência.

As políticas econômicas desenvolvidas para esse grande território e a própria trama econômica exclui e desencaixa o ritmo da vida, criando fluxos de mudanças e novas aprendizagens entre os que se justapõem nesse espaço. Assim, os valores culturais e econômicos estão no Ser de cada um, e, os territórios/lugares mostram o modo de vida e as experiências do/no Lugar onde há afeição entre a terra e o homem: sua casa, o quintal, o lar tem a “base” terra e os protegem, e, ganham estabilidade para enfrentar as certezas e incertezas da vida.

Para discutir e ou debater essa temática, utilizamos da metodologia fenomenológica, entendendo O LUGAR dentro dos territórios vividos na perspectiva de que o Lugar é onde o homem e/ou grupos sociais realizam suas ações, paixões, resiliência, forças, lutas, alegrias, dores e fragilidades, onde são acolhidos pelas suas percepções, intencionalidades, experiências. Desse modo, adentramos a Geografia Humanista Cultural.

Deste modo, entender o Lugar, enquanto território de experiências e mundo vivido pelos atores nesse espaço produzido, a metodologia submergiu bibliografias, pesquisas de campo e devido o quadro de pandemia do Covid-19, que requer isolamento, houve interação via watsapp e por telefone.

A METODOLOGIA

Esse artigo é parte integrante da dissertação de mestrado “Do passado ao presente a resiliência do seringueiro em Extrema/RO” e da Tese de doutorado “Os brasivianos do rio Mamu modos de vida e a poética fenomenológica do viver”

Essas pesquisas, buscaram compreender a vida do ser humano dentro da geografia humanista. Autores consagrados como Eric Dardel, Edward Relph, Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer são aportes teóricos que consideram a relação do homem e a terra uma ligação intrínseca para o ser e estar nesse mundo. Nessa perspectiva, contamos com o entendimento de Eduardo Mandarola, Ângelo Serpa e Lívia de Oliveira compreendendo o lugar de vida e vivências. Rogério Haesbaert também é parte da discussão quanto às faces do território, sendo que fala das multiterritorialidades existente em um espaço construído. Portanto, adentrando a complexidade da vida humana discorre-se sobre o lugar e território, enquanto espaço vivido, percorrendo o mundo cotidiano e os modos de vida de ex-seringueiros e migrantes, vislumbrando o sentimento de pertencer e ressignificar seu lugar de vida.

Segundo Relph (2014, p.19 e 20) “a Geografia foi concebida desde suas origens como o estudo de regiões e lugares”, assim, ele ressalta o lugar: “Uma vez que lugar é o fenômeno da experiência, era apropriado que ele fosse explicado por uma rigorosa abordagem fenomenológica que havia sido desenvolvida por Husserl e Heidegger”.

É o lugar que se fundamenta a vida experimentada entre o homem a terra e a natureza, no lugar estão os significados construídos, o valor de viver os sentimentos, a estabilidade, as crenças. Nesse sentido, Assunção (2012, p.15) observa que:

Na pesquisa geográfica humanística é importante ressaltar a valorização do modo de vida em cada lugar/território e país, pois este modo de vida é processado por uma sociedade no decorrer do tempo e através do espaço, sendo cada dia um duelo por sua subsistência, sobrevivência e resiliência aos percalços impostos pela exploração, expropriação, migrações e pelo modo de ocupação da terra e a experiência de vida.

A fenomenologia emana o descrever da vida cotidiana do indivíduo ou grupo social no lugar de vivência com suas intencionalidades. Assim, Moreira (2004, p. 64), destaca as palavras de Husserl:

“[...] a natureza é evidenciada no perceber [...] inclui então todas as formas pelas quais as coisas são dadas à consciência. Assim, o comportamento humano inclui a afetividade aos lugares, movidas pelo sentimento, desejos, e vontades”.

Husserl e Heidegger trazem uma fenomenologia que interessa-se pela apreensão, descrição e interpretação do fenômeno que está no mundo vivido, através das experiências do sujeito ocorridas no tempo e no território/lugar experenciado. E, é com esse aporte que vamos apreender a vivência do ser no mundo e, compreender os fenômenos ocorridos no espaço e no tempo, tendo como referência o território, enquanto chão de vivência para dar SIGNIFICÂNCIA ao LUGAR.

LOCALIZAÇÃO DA AREA E TERRITÓRIOS

O distrito de Extrema está localizado na chamada Ponta do Abunã, sentido Rio Branco /Acre. Distante da capital de Rondônia, aproximadamente, 330 km e a 180km da capital do estado do Acre. Um território fronteiriço, destacando os limites entre o país da Bolívia, o estado do Amazonas e o os distritos de Nova Califórnia e Vista alegre do Abunã no estado de Rondônia, conforme Mapa de localização, figura 1.


FIGURA 1
Mapa de localização - limites e áreas de territórios do Distrito Extrema na Ponta do Abunã/ Estado de Rondônia
Fonte: INPE/IBGE, elaborado por Luiz Claudio Fernandes, 2020

A imagem do mapa mostra os territórios e a marca do homem na relação com a Terra. Nesses territórios e lugares estão o mundo vivido de vários grupos sociais que imprimem sua identidade multiescalar no espaço. Para Serpa (2017) é através das experiências do ser no mundo que as questões entre território e lugar podem ser superadas. Dessa forma, é a ação do homem, pela experiência vivida que entrelaça o território em lugar.

ENTENDENDO OS TERRITÓRIOS PARA APREENDER O LUGAR

Para compreender a relação entre os grupos sociais no distrito de Extrema, podemos iniciar falando do grande território, esse foi delimitado pelo (Estado-Nação), via relação de poder, política econômica e política territorial nacional para o controle e demarcação do território brasileiro. Nesse território há os limites cartográficos e de divisas no estado de Rondônia, estado do Amazonas e a Bolívia, país vizinho.

Dentro desse grande território, vamos especificar “alguns” outros territórios identificados para APREENDER O LUGAR onde a vida se constrói, sendo: o território dos ex-seringueiros; o território agropecuário; o território urbano e o território indígena.

O território dos ex-seringueiros (os seringais), foi moldado pelo capital que impulsionava a economia mundial, através da borracha. Um território/lugar, onde construíram seus saberes dentro do espaço vivido e uma cultura concatenada com a terra e a natureza, onde foram resilientes para sobreviverem as insalubridades do trabalho e da vida em plena selva. Hoje esse lugar está na memória dos que ali viveram e vivenciaram essa experiência de vida. Para Santana (2019), o ex-seringueiro viveu uma identidade cultural peculiar:

Nas territorialidades e espacialidades dos seringais amazônicos, o seringueiro em sua singular existência, entrelaçou-se à natureza, e sem agredi la, construiu em seu espaço vivido, uma peculiar identidade cultural marcada pelo antagonismo da morte e da sobrevivência, numa floresta até então “desconhecida” (Santana, p. 154)

Os territórios agropecuários – Com a abertura das florestas e expansão do pasto, os antigos seringais deram espaço a uma nova forma de pensar a terra e a natureza, aqui entrou as frentes migratórias assentadas pelo governo em lotes de terras retangulares, impondo limites bem definidos, poder e posse, gados, cercas... Mas, nesse território, também está o lugar para o migrante, o lugar da conquista e de uma vitória diante de tantos processos migratórios vividos em busca de um pedaço de terra para viver e reconstruir seus laços com a mesma. Desta feita, formaram os territórios agropecuários (chácaras, sítios e fazendas) para criação de gado, ovinos, suínos e aves. A vida flui nesse cotidiano. Esse migrante por sua vez, também estava se re-territorializando e construindo seu lugar de vivência com formas de vida e cotidiano bem diferentes dos ex-seringueiros. O ex- seringueiro Francisco, ressabiado, ficou preocupado com o migrante:

[...] Chegou o tempo do loteamento de terra, nós nos encontramos aqui... O INCRA chegou e, iniciou-se uma tristeza em mim... A mudança, o progresso chegando.... As pessoas de fora, isso me incomodou muito, eu pensei assim... Agora chegou o tempo de não termos mais sossego, esse povo aí, desconhecido, não sabe se é valente ou manso, e daí por diante... (FRANCISCO TAVARES, 2011 apud ASSUNÇÃO, 2012 p.123)

O senhor Francisco, bem como outros seringueiros sentiram essa preocupação em seu território e a tristeza por não ter a tranquilidade e o sossego das florestas. Nesse contexto, observa-se a estrutura moldada para os territórios, por Haesbaert (2003, p.13), a saber: político, econômico, culturalista, podendo acrescentar o naturalista (relação-sociedade-natureza). O território político/econômico sobrepondo ao território cultural.

O território urbano é onde convergem as relações entre todos os grupos sociais, tornando-se o lugar relacional, nele existem diversos territórios, mas especificamente vamos falar do território do ex-seringueiros e também do migrante. É na cidade que esse conglomerado de cidadãos se encontram e realizam suas ações políticas, econômicas e culturais; seus sentimentos: paixões e emoções, sendo: compras, negócios, trocas, residem, vivem, namoram, vão a igreja, tratam a saúde, visitam as famílias, é, onde a economia se move e tece redes de relacionamentos, através da infraestrutura básica como: escolas, hospital, posto de saúde, lojas, casa lotérica, oficinas de carro, padaria, bares, bancos, igrejas, comércio, agropecuária, feirinha, serrarias, açougues, farmácias, postos de gasolinas.


FIGURA 2
O Território Urbano - Distrito de Extrema
Fonte: INPE/IBGE, elaborado por Luiz Claudio Fernandes, 2020

Configura-se nesse território urbano o “lugar” para o ex-seringueiro e sua família, pois recompuseram suas vidas com toda sua cultura e experiências vividas no tempo do seringal.

Os seringueiros se concentraram no último bairro que dá acesso ao ramal do rio Abunã. Ali, todos se conhecem. Os parentes moram próximos, no mesmo quintal ou terrenos um ao lado do outro. Assim, mantêm o vínculo familiar. Por vezes, na pesquisa de campo, encontrei os filhos visitando os pais ou, um “compadre” do tempo do seringal fazendo uma visita cordial... Em suas falas sempre sabem uns dos outros, pode perguntar que eles se conhecem e sabem o que fazem...Não possuem cooperativas, cada um trabalha para si, os aposentados ajudam os filhos que não conseguem ter um emprego fixo. (ASSUNÇÃO, 2012 p. 131)

O migrante possui, em muitos casos, sua casa como lugar de vivências também na cidade, outros possuem esse lugar de vida e cotidiano de experiências nas chácaras ou nos chamados lotes de terras (fazendas ou sítios).

Com a chegada do migrante, os ex- seringueiros que ainda viviam nas proximidades do rio Abunã, perceberam que estavam sem possibilidades diante do novo modo de vida que cercavam suas terras e desmatavam toda a floresta, então, resolveram mudar para o perímetro urbano do distrito e, outros, foram para o rio Mamu do lado da Bolívia, antiga área de seringal, onde podiam pescar, caçar e continuar sua vida de um jeito mais tranquilo, assim, a identidade brasiviana se consolidou, sendo ex-seringueiros brasileiros, vivendo no território boliviano. Todavia, para Santana (2019) a identidade brasivianos remonta desde o tempo do recrutamento de nordestinos para trabalhar nos seringais da Amazônia, onde adentraram os seringais nas terras brasileiras e bolivianas as margens do rio Abunã.

A identidade brasiviana tornou-se ameaçada, e os seringueiros brasivianos do rio Mamu tiveram que ser expulsos de seus seringais. Com a identidade brasiviana esfacelada, surge um imbróglio diplomático entre os dois países, que tiveram que receber apoio da Organização Internacional para Migrações – OIM, no sentido de coordenar a reterritorialização dos brasivianos em assentamentos brasileiros (SANTANA, p. 99)

Depois desse embate político entre os dois países e entre os camponeses bolivianos e os brasivianos. O Brasil, assentou parte deles no Acre e em Rondônia, outros resolveram permanecer no perímetro urbano do distrito de Extrema.

Falando em territórios, é, importante também ressaltar o território indígena, que já habitavam essas terras, antes dos seringueiros, todavia, não é parte das pesquisas exploradas, mas foram os primeiros a ocupar esse espaço, construindo seu território e sua identidade numa relação com a natureza. Esse território indígena tem partes no estado de Rondônia e no estado do Amazonas. Os índios kaxarari construíram seus saberes numa relação com a natureza, com a terra, água, o ar e o fogo. Permanecem no seu território, mas experenciam a entrada e pressão das madeireiras e grandes fazendas no limite da sua terra.

Segundo o site Povos Indígenas no Brasil, os índios kaxarari tinham uma grande população:

No início do século XX, a população kaxarari foi estimada em cerca de 2 mil índios (Masô, 1910). Desta época até o início da década de oitenta, os Kaxarari, mortos a tiros por caucheiros peruanos e seringalistas brasileiros e vítimas de epidemias viróticas, viram-se reduzidos a menos de 200 indivíduos.

Atualmente, os povos indígenas kaxarari permanecem no seu território e se relacionam com o migrante e no território urbano onde fazem compras, vão ao hospital, vão ao banco e se relacionam com os outros grupos.

Observando as culturas que se envolvem nesse território, cada uma com seu modo de vida e experiências no seu território, encontramos em Haesbaert e Glauco Bruce (2002, P. 6) aporte quando citam Guattari e Rolnik, sobre a noção ampla de território:

A noção de território aqui é entendida num sentido muito amplo, que ultrapassa o uso que fazem dele a etologia e a etnologia. Os seres existentes se organizam segundo territórios que os delimitam e os articulam aos outros existentes e aos fluxos cósmicos. O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio da qual um sujeito se sente “em casa” [...] (GUATTARI e ROLNIK, 1986:323 APUD HAESBAERT E BRUCE, 2002)

No distrito de Extrema uma nova cultura se construiu e/ou ainda se constrói. As trocas e o aprendizado entre os grupos (ex seringueiros, descendentes de nordestinos, migrantes do sul e sudeste, brasivianos, indígenas e bolivianos) acontecem nesse emaranhado de experiências entrelaçadas. Alguns migrantes que não conheciam a farinha d’água, o leite da castanha, o doce da castanha, o cuscuz com leite da castanha e o açaí, já aprenderam a experenciar esses novos sabores. Outros, encontraram no Centro Espirita Beneficente União do Vegetal um forte laço com a fé e a espiritualidade. Para os ex- seringueiros e brasivianos que conheciam o leite da castanha, caçavam e pescavam seus alimentos, hoje, encontram novos costumes alimentares: o leite de vaca, a carne bovina e de ovinos, o frango de granja, a maionese, entre outros alimentos que aprenderam a apreciar.

Nesse contexto, Assunção (2012 p. 28), ressalva que “as relações estabelecidas entre os grupos com modos de vida diferentes (ex-seringueiros, brasivianos e migrantes), muitas vezes, exclui e desencaixa a vivência, os saberes, os valores e atitudes para com o meio, todavia, novos valores são apreendidos”. Aqui, Haesbaert (2007, p.20), pontua sobre a multiterritorialidade. Para ele, “O que existe, de fato, é um movimento complexo de territorialização, que inclui a vivência concomitante de diversos territórios – configurando uma multiterritorialidade ...” afirma ainda que, muito mais do que perdendo ou destruindo os territórios, vivenciamos a intensificação e complexidade de um processo de (re) territorialização muito mais múltiplo, “multiterritorial”. E, em outro momento, fala sobre o mundo globalizado:

Num mundo dito globalizado como o nosso, o acesso pleno a um território como “experiência integradora do espaço” só se dará quando todos, de alguma forma, puderem vivenciar o mundo em suas múltiplas escalas, pois o território é, hoje, sobretudo multescalar e um território-rede... (HAESBAERT, 2007, p. 68)

Há, portanto, uma mobilidade no território. Ele é dinâmico e as relações se dinamizam no ritmo da produção econômica, cultural-simbólica e política. A justaposição de territórios vividos por diferentes grupos sociais forma essa multiterritorialidade apreendida.

Dessa forma, no território de Extrema, vários processos de mobilidade aconteceram, entre eles o de interesse do desenvolvimento e industrialização do país, voltado para a exportação da produção gumífera; assentamentos para preencher o vazio da Amazônia, conectando a região norte ao restante do brasil para circulação financeira e de capital; os assentamentos, as madeireiras; depois novos assentamentos para quem já se encontrava sem-terra no próprio estado de Rondônia, distribuição de lotes de terras para pequenos proprietários que com o sofrimento da malária e a falta de infraestrutura básica, não tinham como manter na terra, e, novamente, outro ciclo migratório, a chegada dos fazendeiros e, por conseguinte, os madeireiros. As madeiras movimentaram a economia local, a madeira para a comercialização foi retirada e o agronegócio tem se firmado com a expansão do gado de corte. Essa dinâmica globalizada e capitalista move os territórios, inclusive o indígena que, hoje, já não vive só em seu grupo étnico-cultural.

Para Gonçalves (2010, p.67) “A Amazônia, sempre foi ocupada e explorada pelo que havia de mais moderno em cada momento histórico”. As fronteiras econômicas, cultural e de poder político criam rupturas, limites e, também, criam acessos as redes, ou seja, as forças produtivas, mas é importante destacar também que cada grupo que compõe a sua história, sua identidade cultural tem poder, “relações estas que são sempre, também, de poder” (HAESBAERT, 2007 p. 54).

O território relacional flui movimentos e conexões, saindo da questão de enraizamento e estabilidade para uma tessitura de conflitos e/ ou grupos mais ricos se apropriando e enriquecendo cada vez mais e, os grupos excluídos que por sua vez ficam as margens da sociedade.

O conceito de território, enquanto chão de vivências (movimentos e conexões) será de fundamental importância para entendermos o dinamismo e o Lugar dos grupos sociais da história no distrito de Extrema. Dessa forma, é com Haesbaert (2007) que o território se define nessa pesquisa para entender o Lugar, quando ele diz:

Podemos então afirmar que o território, imerso em relações de dominação e/ou de apropriação sociedade-espaço, "desdobra-se ao longo de um continuum que vai da dominação político-econômica mais 'concreta' e 'funcional' à apropriação mais subjetiva e/ou 'cultural-simbólica'". (HAESBAERT, 2004a:95-96 apud HAESBAERT, 2007 p. 21)

Para Haesbaert (2007), o território tem a ver com poder mas não somente aquele poder politico de estado (dominação). Para ele, é importante visualizar que o território, enquanto “espaço-tempo vivido (poder simbólico /apropriação), possui múltiplas escalas, é diverso e complexo. Haesbaert ainda cita Lefebvre que este distingue apropriação de dominação, sendo que a apropriação tem a ver com as marcas do “vivido”, do valor de uso; e, dominação, é mais, funcional e vinculado ao valor de troca. Também possui uma nuance hibrida e em rede, dentro das práticas e relações de poder dos grupos sociais.

Para Haesbaert, não há uma materialidade neutra nos territórios, afirma que o território é “ao mesmo tempo um recurso ou um instrumento de poder ou de valor”, esse valor, ele, atribuiu a “base identitária”, possui valor simbólico cultural dentro dos espaços vividos, onde se estabelece uma relação “forte” e até “espiritual” com esses lugares, espaço de vida. (BONNEMAISON; CAMBREZY, 1996 apud HAESBAERT 2007, p. 50).

Cabe entender, portanto, que o território é produto da ação do homem, múltiplos sujeitos, indivíduos, grupos sociais, igrejas, Estado, empresas (trabalho e experiências) num espaço determinado, e, Extrema compreende bem essa realidade quando apresenta sobreposição de territórios, onde cada grupo social, político e econômico produz e reproduz fronteiras funcionais, materiais, econômicas e imateriais, abrindo-se e expandindo num sistema de rede-mundo. Todavia, o processo excludente entre os mais ricos e mais pobres, desafiam cada grupo a se fortalecer e criar resiliência dentro dos seus próprios territórios, uma dimensão simbólica-identitária de cada grupo de pertencimento.

Dessa forma, debater o contexto de território para APREENDER OS LUGARES de cada grupo social propicia um aporte teórico que traz no seu arcabouço o que Fuini (2017, p. 5), analisando os conceitos constituintes de território em Haesbaert, pontua: “ território não apenas se define, mas se compreende a luz dos processos históricos e socioespaciais”.

É importante salientar que o espaço vivido por diversos grupos, que relacionam entre si e com o mundo, num dinamismo constante, construindo, reconstruindo e reencontrando dentre as experiências de vida, conforme cada “insight” do capital, das culturas e até do movimento político, torna-se o território, chão de vivência, onde todas as ações e relações se materializam, tornando-se o LUGAR para muitos, onde se exerce a vida, por se sentirem parte desse mundo carregado de circulação, globalização, produção, mas a cima de tudo, carregado de sentimentos e emoções, de experiências somente por eles vividas dentro das intencionalidades de cada um.

LUGAR– PONTO PARA UM REFLETIR

As dimensões significativas de lugar, que na realidade é o sentido que se atribui a esse ou aquele (o meu, o seu ou nosso lugar), são pensadas em termos geográficos a partir das experiências, do habitar, do falar, e dos ritmos e transformações”. (Oliveira, p.15)

Para esse debate, vamos considerar as relações do homem com a terra, referenciadas por Dardel (2015, p.1), quando diz “Amor ao solo natal ou busca por novos ambientes, uma relação concreta entre o homem e a Terra, uma geograficidade (géografhicité) do homem como modo de sua existência e seu destino”. O homem entende que faz parte da Terra e escreve sua história no mundo vivido em meio a floresta, os rios, a terra, os animais, o sol, a lua, o mar, o urbano, a montanha, as estradas, etc. A Terra é experimentada como “base”, afirma Dardel (Ibidem, p.40). Assim, a condição do homem de estar e agir sobre a Terra é propiciada pelo habitar, plantar, cultivar, pescar, construir, criar, estudar, emergir, circular, dormir, descansar.

A Terra como base, é o advento do sujeito, fundamentado de toda a consciência a despertar a si mesma; anterior a toda objetivação, ela se mescla a toda tomada de consciência, ela é para o homem aquilo que ele surge no ser, aquilo sobre o qual ele erige todas as suas obras, o solo do seu habitat, os materiais de sua casa, o objeto de seu pensar, aquilo a que ele se adapta sua preocupação de construir e erigir. (DARDEL, 2015 p.41)

Foi na Terra, em meio a floresta, aos animais, as aves e aos rios que os ex-seringueiros e brasivianos desenvolveram laços afetivos e de pertencimento com o lugar e com seus vizinhos, companheiros de luta travada na selva.

O homem estabelece relação de vivência com o meio, não sendo fixado, eternamente, em um espaço. Ele se locomove, possui relações, direções e trocas. Assim, o habitar, o construir, o cultivar a terra são experiências da realidade vivida que se transforma em lugar de base do ser, sem este lugar ele encontra-se desprovido da vida cotidiana... O lugar é o núcleo da ação e da intencionalidade do ser. No lugar, se fundamenta a identidade dos indivíduos e/ou grupo devido à estabilidade, os sentimentos, os significados construídos. (ASSUNÇÃO, 2012p. 41)

Na floresta aprenderam a respeitar a árvore mãe (seringueira), onde retiravam o sustento com o leite (látex); a castanheira com sua castanha salvava muitas crianças e adultos com seu leite saboroso e rico em valores nutricionais; desenvolveram habilidades em conhecer várias árvores para retirada de cascas, folhas e caule para chás como remédio, com nomes populares (quina-quina, carapanauba, jatobá, massaranduba, angico, castanheira, breuzinho, copaíba, cipó unha de gato, jataí, copaiba…), como afirma o senhor Osmar[1]:

“[...] A quina-quina é um remédio natural, não contém nada, a não ser só a força da natureza mesmo…ela previne um bocado de coisa como corona, malaria, doenças do fígado e uma série de prevenção ela traz para o ser humano. É uma erva natural muito bom pra gente tomar sempre é o chá da casca de jatobá, pode cozinhar ela com açúcar mesmo pra beber como café, fortalece o organismo, o cérebro, o organismo inteiro”.

Também, é utilizado em rituais religiosas, para a elevação espiritual, o chá da Ayahuasca composta pelo cipó do Mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas da chacrona (Psychotria viridis). Dando sequência, o mundo vivido no tempo do seringal, apreciavam nos rios o banho fresquinho, o peixe para comer, os rios também eram/são as estradas que formavam os caminhos. Com os animais na floresta, uns tinham medo (ex. cobra, onça) e outros, caçavam para se alimentar (a paca, o macaco, a cotia, o veado, anta, queixada, jacu) e outros para criar como animais de estimação (papagaio, macaco, jabuti, arara). No “roçado”, como diziam, plantavam alguns alimentos para ajudar na subsistência como o feijão a mandioca e, no quintal, os canteiros eram de palafitas, altos do chão para as galinhas não estragarem de cebolinha, o coentro, a pimenta, a couve, a chicória. Também tinham o algodão roxo, a sabugueira, o malvarisco, alfavaca e assa-peixe, eram remédios que não podiam faltar para tartar infecção de garganta, sarampo, gripes. Construíam suas casa de palafitas, cobertas com palhas de coqueiros babaçu, buriti, jarina, sapé e oricuri e dentro de dimensões intencionais e de sabedoria enfrentavam o medo, a insegurança, a incerteza, a solidão as doenças, o trabalho escravizado. Mas, mesmo diante dessas dificuldades, foi na “base” Terra que encontravam maneiras de saciar as necessidades e desejos físicos, biológicos e da alma.

Foi nesta Terra que construiram seu habitat e o lugar de pertencimento. Romper com os modos de vida da beira do rio, entre as matas, com a tranquilidade que viviam, foi um momento muito complexo para alguns, como afirma d. Francisca:

“[...] A Nelide dizia... mãe, vamos pra Extrema, eu digo não, não vou, mais mãe por que a senhora não vai pra Extrema? Porque se eu for eu vou morrer de fome, vou deixar meus bichos aqui, minhas galinhas, minhas criações... Aqui pelo menos eu tenho a macaxeira pra eu comer, tenho a mandioca pra fazer minha farinha, tenho meu arroz, tenho meu feijão e nessa Extrema eu vou é morrer de fome... Eu não tenho dinheiro pra comprar nada. Mãe vamos embora a senhora não vai morrer de fome ... Digo eu vou nada, eu chorava[...] (ASSUNÇÃO, 2012 p. 134)

Para d. Francisca, o seu mundo vivido, o “seu lugar” não lhe deixaria passar fome, tinha segurança. Extrema, cidade, era considerada o externo, o desconhecido, ela, acreditava que poderia morrer de fome.

Dessa maneira, o mundo vivido está envolto no habitar do ser humano e seu cotidiano. O dinamismo experimentado e vivido está relacionado com a interação do homem com a natureza e ambiente que ele vive. É o que nos afirma Buttimer (1985, p.78 apud Assunção, 2012 p.76) “cada pessoa está rodeada por “camadas” de espaço vivido, da sala para o lar, para a vizinhança, cidade, região e para a nação”.

Portanto, habitar a Terra não é passar pisando nela, é mais profundo, é construir um lar, um lugar que pertence no afeto, nas decisões, alegrias, sabores e desamores. È encontrar nela a cama e o cobertor. Ela é a “base” que acolhe, que recebe e que recolhe saberes, intencionalidades, percepçao do Ser dentro de suas experiências no mundo. Assim, percebemos na pesquisa que:

Os modos de vida nos seringais estão atrelados a uma diversidade de valores do espaço vivido que foram em suas diferentes temporalidades construídos e reconstruídos numa fronteira de territorialidades e espacialidades, onde através das experiências da cotidianidade foi surgindo a identidade cultural brasiviana. (Santana, 2019, p. 71)

No mundo vivido se estabelece conexões no desenvolver da vida individual e coletiva, pela atividade de trabalho, pela relação de amor, medo, afetividade, com o meio (Terra-base), floresta, animais, aves, rios, rua, comércio. Alguns lugares dão estabilidade como a casa (o aconchego), o trabalho (segurança), a floresta, os rios (o sustento). O ambiente foi/vai recebendo valores e significados de pertencer ou não a floresta ou a cidade, mediante a experiência vivida cotidianamente.

Apaixonado pela fenomenologia, o geógrafo Relph (1979), pontua o mundo vivido, observado por Husserl sob os aspectos: natural, social ou cultural e geográfico. Assim, Relph (1979, p.5 e 6, apud ASSUNÇÃO, 2012, P. 77) descreve o mundo vivido da inter-relação homem e ambiente, ou seja, o mundo das experiências pessoais. O quadro 01 é uma elaboração própria desse entendimento:

QUADRO 1
Mundo Vivido

Fonte: elaboração própria (2012), baseado nos conceitos de Relph (1979)

Esse mundo geográfico representa a géografhicité, onde o homem entrelaça uma relação intima, por assim dizer, com a Terra, através do seu cotidiano, das experiências vividas nela e com ela, ou seja, os fenômenos eram percebidos pelos seringueiros e, assim, existia uma intencionalidade que se apresentava para o bem viver.

Para Mandarola (2016), as ideias de Relph, diz que o lugar é a essência fundamental para a edificação teórica sobre a busca do espaço existencial. Ele aprofunda na dimensão da experiência e identidade dos lugares dentro de uma ótica fenomenológica, expressa pela interioridade e exterioridade. Numa relação estabelecida entre o indivíduo, o meio e as atividades que se exercem. Na interioridade está o comportamental (o físico), (o emocional) e o (existencial) ou compromisso com o todo. Na exterioridade é quando não se tem muito envolvimento, apego ou afeto. O lugar é apenas cenário para execução de atividades simples.

Mas, tanto para o ex-seringueiro como para o migrante que permanece em Extrema a mais de 10 anos, vai estabelecendo-se o compromisso com a vida nesse lugar. Ou como afirma Tuan (p. 209) “Sentir um lugar é registrado pelo nossos músculos e ossos”. Mandarola (2016) menciona ainda que ”Entender o lugar enquanto existencialmente vivido, no sentido heideggeriano, é um dos caminhos mais férteis que se tem avançado, nos últimos anos na compreensão fenomenológica do lugar” e, prossegue, “ a ideia de lugar continua sendo potente para pensar as possibilidades de ser, ou seja, a multiplicidade de maneiras de ser-e-estar-no-mundo. Assim, lugar é um movimento vivo e dinâmico de experiências e existências.

Considerando as leituras de Tuan (1983 p. 16 e 17) “ ...a experiência implica a capacidade de aprender a partir da própria vivência...Significa aturar sobre o dado e criar a partir dele...A experiência é constituída de sentimentos e pensamentos”. Neste sentido, o sentimento afetivo pelo lugar é influenciado pela percepção e experiência que se transforma em conhecimento, onde a experiência cria sentimentos, formas, mitos e forças dando significado, característica e valor ao lugar.

Para Tuan (ibden, p.204) “o lugar é um mundo organizado. ” E, também, complementa com a utilização de uma frase bem usada “leva-se tempo para conhecer um lugar”. Assim, o lugar é um modo particular e singular de sentir e perceber dentro de intencionalidades o viver, por isso, para imprimir suas experiências vividas no lugar demora um tempo.

A geógrafa Lívia de Oliveira (OLIVEIRA, 2014 p. 15,16) também ressalva o lugar: “É o lugar experimentado como aconchego que levamos dentro de nós. Ou o lugar consciente do tempo social histórico recorrente e mutável, no transcorrer das horas do tempo em um espaço sentido dentro de um lugar interior e exterior”. Para ela, Rio Claro é o seu lugar, onde lhe dá o aconchego seguro, sua terra natal, seu lugar de trabalho.

Assim, Assunção (2012, p.77) pontua que “Este mundo vivido vincula laços de costumes e hábitos para a eternidade. São os lugares e as paisagens de pertencimento que são carregadas na objetividade e na intersubjetividade do sujeito”. E, através das experiências e percepção de mundo, desenvolvemos laços afetivo, de segurança e de pertencimento com esse mundo vivido, transformando-o em LUGAR.

“No lugar, se fundamenta a identidade dos indivíduos e/ou grupo devido à estabilidade, os sentimentos, os significados construídos. Assim, a fenomenologia deixa os fenômenos “falar” sem pressupostos que o antecedem. Parte da compreensão da vivência do sujeito da história vivida, sem definições pré-estabelecidas, exaltando a compreensão da vida experimentada”. (ASSUNÇÃO, 2012 p. 26)

Continuando com o pensamento de Dardel, podemos nos desalojar, mas sempre estaremos a procura de um lugar como sustentação para o Ser. O lugar como refúgio, aconchego proteção, repouso, que desperta a nossa consciência para o viver. É nesse lugar lar que firmamos a nossa conexão conosco mesmo, com a Terra e com o universo:

[...] Antes de toda escolha, existe esse “lugar” que não pudemos escolher, onde ocorre a fundação da nossa existência terrestre e de nossa condição humana. Podemos mudar de lugar, nos desalojarmos, mais ainda é a procura de um lugar; nos é necessária uma base para assentar o nosso SER e realizar nossas possibilidades, um aqui de onde se descobre o mundo, um lá para onde iremos. [...] (DARDEL, 2015 p.41)

Para Dardel (ibidem p.44), “ o que o homem encontra, assim, na Terra, é uma “feição”, um certo acolhimento”. A Terra acolhe o homem e o homem em suas interações consigo mesmo, com outros grupos sociais ou com toda a natureza sente a sua presença ou não, abraça-a dentro da sua intencionalidade o e/ou subjetividade.

Os ex-seringueiros e brasivianos abraçaram a floresta e, por conseguinte, a Terra, assim, desenvolveram um modo de vida característico no seu cotidiano entre sua casa, o quintal, o roçado, os caminhos da seringa, dos castanhais, dos rios, da pesca, da caça, respeitando a Terra para reconhecer-se no lugar. Construíram valores e simbologias, dentre as alegrias e tristezas para sobreviverem e resistirem as dificuldades vividas. Transformaram as alegrias, os medos, as dores, os sofrimentos em pertença, configurando também uma identidade cultural. Para eles, esse mundo vivido interioriza um comportamento de valorização de si e das coisas dentro de um significado contínuo no tempo e no espaço. Por conseguinte, Relph (2019, p. 31), destaca:

Lugar não é meramente aquilo que possui raízes, conhecer e ser conhecido no bairro…O núcleo de significância de lugar se estende, penso eu, em ligações inextricáveis com o ser, com a nossa própria existência. Lugar é um microcosmo. É onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco.

Hoje, não negam ser seringueiros e sentem saudade do “lugar” vivido próximo aos rios, em meio a “mata” (floresta) onde encontravam um silêncio e um sossego, mas já aprenderam novos hábitos no emaranhado continuum de vida globalizada e, construiram e ressignificaram um “novo” lugar. A televisão, a internet, o telefone, a rua, o watsapp, a geladeira, a máquina de lavar roupa, o comércio são novos meios de comunicação e vivência, fazem parte do cotidiano. A saudade do lugar está na memória. As festas de São Sebastião, São Pedro, Santo Antônio, os rios para pescar, para tomar banho, os rios que eram estradas, que levavam as pessoas e as canoas, o cantar dos pássaros, a caçada, a carne de caça e a castanha compõem as suas histórias vividas.

Para Mandarola (2016, p. 13) é preciso entender o lugar enquanto existencialismo vivido e pontua que:

“Ao invés de uma concepção estática, ou nostálgica de nossa relação com os lugares, a perspectiva fenomenológica existencial compreende a dinâmica dos lugares enquanto dinâmicas do ser, que se desloca em sua consciência do mundo da vida, nos diferentes contextos em que está inserido: o lugar, a comunidade, o mundo. ”

Essa realidade é vivenciada pelos grupos em Extrema. Em seus terrenos no perímetro urbano da cidade nova forma de território/lugar é vivido pelo ex-seringueiro e alguns brasivianos. Nos terrenos retangulares, cercados, para alguns, com ripas de madeira, ali reproduzem com certezas incertezas, parte do modo de vida do tempo do seringal. Esses terrenos tornaram-se, novamente, “seu lugar” de pertencimento, pois é nele que a vida desenlaça e sua casa é seu lar, aconchego, proteção, segurança. No quintal sempre há flores, uns canteiros com cebolinha, couve, coentro, um pé de boldo, entre outros. Alguns ainda vão até o rio Abunã ou no rio Mamu/Bolívia pescar. Uns colhem castanhas, açaí, trabalham em fazendas, ou vivem como aposentados “soldados da borracha”. Quanto a religião, uns frequentam a União do Vegetal, outros a Igreja Evangélica e outros a Igreja católica.

Para Mandarola (2014, p.234) “O ser se constitui, portanto, por essa circunstancialidade composta pelos entes (as coisas do mundo) e os seres, os quais se dispõem de determinada maneira relacional. ”

Observamos, portanto, o mundo circundante dos seringueiros e migrantes pela vida relacional que experenciam.


FIGURA 3
Casa de ex-seringueiros; Horta cultivada por uma ex-seringueira
Fonte: Assunção, M. Julho, 2020


FIGURA 4
A rua e o terreno de um ex-seringueiro
Fonte: Assunção, M. Julho, 2020


FIGURA 5
O pasto do migrante
Fonte: Assunção, S. T. Dezembro, 2019.

Percebe-se que há um movimento relacional, onde os territórios funcional e simbólico não desaparecem, mas são justapostos, hibrido e flexível, mediante o sistema globalizante e das tecnologias de informação. Portanto, o território de cada grupo social delimitado por fronteiras funcionais, materiais, econômicas e imateriais abre-se e expande num sistema de rede-mundo. Todavia, há o processo excludente entre os mais ricos e mais pobres que desafiam cada grupo a se fortalecer e criar resiliência dentro dos seus próprios territórios, e, ou lugares, numa dimensão simbólica-identitária de cada grupo.

Nessa ótica, Corrêa (2007, p. 169) diz que a cultura deve ser vista dentro das condições materiais de existência, e, ressalta Geertz:

A cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos de modo causal os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível - isto é, descritos com densidade. (GEERTZ,1989 apud CORRÊA, 2007, p. 169)

Para Assunção (2012, p.63 e 64) “A experiência de uma cultura em um lugar influencia na interpretação do ambiente em que vive. Ali a mente, o cognitivo, procura dar significados para as vivências de acordo com as intencionalidades para cada fenômeno apreendido”. Desse modo, tanto o ex-seringueiro, os brasivianos, como os migrantes, nesse lugar têm intencionalidades que proporciona entendimento dentro da fenomenologia, pois as experiências vivenciadas transportam a presença da consciência no desencadeamento das ações e práticas entre o lugar de outrora e a vida vivida no presente.

Os ex- seringueiros, brasivianos e migrantes não vivem sem o mundo passado porque nele estão as amálgamas da vida. Os valores, as crenças, os mitos, as atitudes, seu modo de ser, ver e viver estão presentes no cotidiano. Eles não deixam sua história, seu aprendizado, acrescenta-se outras culturas ao seu modo atual de vida.

Logo, nesse período de pandemia em que vivemos, diante da Covid-19, resolvemos também inovar e acrescentar em nossa pesquisa, entrevistas feitas pelo whatsapp com moradores de Extrema. Onde pedimos para que o entrevistado falasse de qual estado migrou, qual a cultura que trouxe e se teve alguma relação cultural ou de produção com os seringueiros e indígenas, qual o laço afetivo com o lugar, se planta e colhe e usam ervas medicinais; quais os hábitos alimentares e religiosos. Segue a experiência da professora, Elaine[2]:

Viver em Extrema, para nós é sinônimo de vida simples, uma cidade em que todos se conhecem, tem seus problemas estruturais de Educação, Saúde, Saneamento, segurança, mas é uma cidade acolhedora, mista. Boa de se viver!

Somos oriundos do estado do Paraná, de onde viemos ainda criança, na década de 80, incentivados pelo “povoamento da Amazônia”, família veio em busca de adquirir terras. O laço afetivo se tornou muito forte, pois se conseguiu o que almejava, por um período embora que hoje já não somos proprietários de terras. Trouxemos na bagagem a cultura do Sul, comida, dança, estilo de música, modo de trabalho, linguagem, forma de relacionamento, os quais foram agregados com os costumes locais, hoje se convive com a diversidade por ser um local miscigenado. Em relação com seringueiros praticamente não houve, a não ser “conhecer” pessoas, mas sem a convivência. Com os indígenas a convivência também se resume a convivência social por termos próximos os Kaxararis que estão muito presentes devido à proximidade de algumas aldeias.

Nosso modo de vida se resume somente ao trabalho no meu caso na área da educação e meu esposo no trabalho autônomo. Não temos posses de chácaras, sítios.... No quintal de casa temos a mangueira, coqueiro, abacateiro, bananeira, jabuticaba, acerola, laranjeiras e limoeiros, além das plantas medicinais como o boldo, babosa, capim cidreira, ora pro nobis. Somos frequentadores da igreja católica, participamos das missas e festividades com assiduidade. (Elaine Terezinha Royer Abati, 47 anos)

Dona Aparecida[3] trouxe sua identidade cultural do estado de Minas Gerais, mas diz ter aprendido muito com os ex-seringueiros, novos hábitos alimentares e religiosos:

Sou natural de Minas gerais, trouxe comigo a cultura de minhas raízes como costumes alimentares, pratos preferidos: o tutu de feijão, angu com frango caipira no quiabo, pé-de-moleque de amendoim e carne de porco curtida na lata; festas religiosas católicas: leilões de prendas, folias de Santo Reis, Coração de Nossa Senhora, Novenas e terços. Dançar em bailinhos caipiras ao som de sanfona.... Na região onde eu cresci, meu pai e moradores trabalhavam na terra, plantavam café, milho, feijão, fava e cana de açúcar, da qual faziam a rapadura, banana, laranja, só não plantavam o arroz porque a região não produzia. Quando viemos para Extrema, saímos de Mato Grosso, pois já havíamos migrado para lá algum tempo. Lá aprendi alguns pratos da região: pacu assado, caldo de piranha, frango e arroz com pequi e pamonha. Chegamos em extrema cheios de esperanças, em busca de ter a nossa terra e conseguimos. As dificuldades eram grandes, não tinham escolas e nem médicos, teve muita malária. Convivi pouco tempo com os povos seringueiros, eles eram pessoas acolhedoras e simples, tinha uma cultura rica, sua culinária era a base de frutos da castanha e animais da floresta e rios. Os pratos prediletos eram carne de paca, jabuti e tracajá, todos preparados no leite da castanha, peixe assado na fogueira, cocada de castanha e pé de moleque de macaxeira. Viviam da coleta do látex da seringa e da castanha, cultivavam o milho, o feijão, macaxeira para subsistência. Eram conhecedores das plantas medicinais, se tratavam e curavam com elas. Alguns diziam ser católicos, outro usavam um chá misterioso para as sessões religiosas. Aqui na região já tinha os índios Kaxarari que viviam na aldeia. Não tive aproximação com eles. Em extrema, muitas coisas mudaram.... Hoje, tem educação, saúde, segurança, mas há muito a desejar. O que movimenta a economia é a pecuária e o comércio, tem também as madeireiras.... Eu e meu esposo moramos em nosso sítio, gosto de viver aqui, lugar generoso. Trabalhamos com pecuária, temos gado nelore, ovelhas e porcos. Ao redor de minha casa tem minhas plantas medicinais: hortelã, boldo, alecrim, capim santo, cidreira e mastruz. Os seringais transformaram em fazendas de gado e os seringueiros mudaram para a cidade. (Maria Aparecida Assunção, 69 anos e, vive em Extrema há 35 anos).

Cleiton[4], um entrevistado, com 10 anos, vivendo em Extrema e convive com os ex-seringueiros, frequenta a União do Vegetal, disse que veio do Rio de Janeiro, mas estava morando em Rio Branco e a esposa fez concurso para Extrema na área de saúde e se adaptaram ao lugar:

...o que se vê diferente é que o povo (seringueiro) é mais tranquilo, a grande maioria desse povo dali tem vivência de subsistência, não faz nada assim pra crescer...ter algo a mais... é pra comer e viver...isso a gente aprende aqui...a coisa aqui é bem lenta, não é acelerada como na cidade grande...aprendi a trabalhar em casa, atendo meus clientes de whatsapp, é um aprendizado daqui, sem muita correria. São pessoas que acreditam na sorte, tem fé, acreditam em algo superior, em Deus...o que eu aprendi comer aqui foi o açaí e o hambutã....planto no quintal capim santo, boldo e outra planta que não recordo o nome...Fui na Bolívia, subi o rio Mamu, dormi na casa de um boliviano, extrativista...lá achei muito interessante...é bom a gente vivenciar a coisa...eles saem de manhã bem cedinho...levaram comida pronta... chegaram umas 6h da tarde...chegou um machucado, não reclamam da vida, do mundo...fizeram um cafezinho e ofereceram pra gente, a gente dormiu num lugar tipo 3mx3m, dormimos umas 8 ou 9 pessoas, no assoalho e na rede... uma parte da casa era um curtinado, outra de madeira tirada de paxiúba, outra de lona...achei interessante que eles foram no rio buscar a alimentação deles, pegar o peixe, fritar e fazer a farofa pra comer na hora...achei muito incrível...a gente se não tem vai logo comprar no mercado...lá não... a natureza tá lá para atender... Se não pegar o peixe fica com fome, mas a natureza tem, ne? Eles têm o jeito deles…A gente na rua tem aquelas preocupações, qualquer coisa que falta a gente reclama... a gente observa algumas pessoas que vivem com tão pouco, e, eles não reclamam, simplesmente, vivem aquela vida”.

Diferentes experiências em um lugar, constroem espacialidades com redes de significados visíveis, imaginárias, hábitos de alimentação, espaços de trabalho, de lazer, de crenças. Recordar contribui com a compreensão do modo de vida das pessoas e de sua resiliência.

A resiliência reforça os sonhos e a esperança. É a busca constante por sobreviver, impulsiona a ação, a intuição e a imaginação para o agir. É a arte humana de ultrapassar sofrimentos na busca do “ir além” chegando ao eu transcendental, protagonizando superação positiva aos obstáculos vividos. (ASSUNÇÃO, 2012 p. 71)

Outro fator interessante para ressaltar, mediante as expressões dos entrevistados, é que a identidade passa, a partir da contemporaneidade, a ser uma identidade híbrida e móvel. O sujeito passa a assumir e receber sistemas de culturas fora da sua cultura e representatividade. Nessa perspectiva, Serpa (2019, p. 67) orienta que:

[...]Esse habitar o mundo se complexificou em termos existenciais, articulando lugares e territórios em “rede”, através da apropriação da técnica e da tecnologia; que as experiências geográficas na contemporaneidade são permeadas por múltiplas territorialidades/lugares; que em uma escala pode se habitar o mundo enquanto território e, em outra escala, enquanto lugar; que a presença articula multiterritorialidades e multilugaridades.

Com a globalização, o mundo parece estar menor e várias culturas se encontram. A identidade cultural dos ex-seringueiros, brasivianos e migrantes é um conjunto de relações, saberes, crenças, valores compartilhados e vividos historicamente. Não há substituição da cultura local e/ou de cada um, mas cada um passa a ter uma cultura híbrida. Cada grupo reconstrói saberes.

Assim, a identidade não é imutável, é um construto social. Compreender isto é dar visibilidade a um processo de identidade que vai sendo construído, desconstruído e reconstruído ao passar do tempo, perpassando os lugares vividos. Prontamente, é nos territórios/lugares que a vida se equilibra com significados e novos aprendizados. O fluir da vida está num continuum, e, portanto, os territórios e ou lugares não podem ser entendidos como fronteiras inflexíveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os grupos tradicionais de ex-seringueiros e brasivianos, bem como os migrantes buscaram um lugar, um lar para receber o cobertor na base terra, estabelecendo relações com ela e com outros grupos. Cada um que compõe essa história tem seu cotidiano marcado por experiências vividas onde percebem o ambiente, reconstroem saberes vivendo no perímetro urbano e, se relacionam com pessoas oriundas de outras regiões do país, somando culturas e novas aprendizagens longe das florestas ou da terra natal.

No mundo vivido (lived world) ou mundo da vida (Lebenswelt), através de suas experiências, os grupos sociais em Extrema, organizam, produzem e reorganizam suas vidas, para assim, chegar ao Lugar, onde a vida, para cada um tem um pertencer, valorar, integrar, interagir, viver, sentir apreender a ser e estar na Terra. E, no desenvolver um laço com a terra, despontaram a geograficidade.

No perímetro urbano da cidade, onde existe vários territórios, a vida como ela se apresenta, marca o ir e vir desses grupos, que ressignificam seu modo de ser e viver, criam laços com o lugar de agora com as lembranças de outrora. Portanto, conhecemos o lugar do ex-seringueiro com o aporte do cotidiano e de suas vivências passadas. O perceber, o sentir as coisas vivenciadas num relacionamento com a natureza e, os valores dessa ligação foram encontrando significados para o ser e viver com uma certa calmaria, sem muito querer ganhar e acumular riquezas. Construiram um lugar pelo saber viver no mundo, ou seja, no seu mundo, onde esse lugar foi/é o ninho do aconchego que acolheu/acolhe a vida. O “lugar” também para o migrante que desmatou, fez pasto para criar gado entre outros animais, plantar algumas árvores frutíferas, venceu a malária, e, continuou na terra, isso, é um construto, uma vitória, uma géografhicité no seu modo de ser e viver na terra, tendo uma vida um pouco mais acelerada, e, essa é sua labuta diária. O “lugar” para cada um desses grupos, é, pois, onde encontram estabilidade e permanência e está repleto de valor e significados.

Nesse contexto humanista e fenomenológico, o território, apresenta-se como um espaço de vida onde são realizadas as atividades e ações de cada indivíduo ou grupo social no seu cotidiano, tornando-se o Lugar. O ser e estar em vários territórios ao mesmo tempo e o renovar-se dentro das diferentes culturas é abrir caminho para as multiterritorialidades, onde os modos de vida são diferentes, devido as distintas culturas que adentraram esse imenso território, mas que se inter-relacionam e sucedem novos saberes.

Destarte, o mundo de cada grupo social é ativo, dinâmico, movimenta-se. As pessoas agem, exercitam suas potencialidades e possibilidades frente aos trabalhos, as alegrias, as tristezas, o descanso, a circulação. Fazem pausas reflexivas e tomam atitudes que favoreçam o seu cotidiano, igualmente, os laços afetivos com esse lugar, o torna o “lugar” de pertencimento e a identidade se manifesta construída pela relação estabelecida entre o meio natural, individual, urbano e social.

Com a dinâmica política e econômica globalizante, ex-seringueiros e migrantes estão criando novas territorialidades e “lugar” de se “pertencer”. Reconhecem Extrema como um bom lugar para viver. Existe uma identidade híbrida com trocas de aprendizagens, mas um só lugar para cada um. É importante pensar formas de atenção ao grupo de ex-seringueiros, menor renda, mais excluídos, pois, não possuem associação ou cooperativa, necessitam de novas políticas para se pensar sua sustentabilidade no perímetro urbano de extrema.

Assim sendo, o perímetro urbano, constitui um ecossistema, tem plasticidade, a vida está sendo construída e reconstruída pela força do poder de produção, consumo e poder simbólico-cultural dos grupos que vivem e convivem nesse Território/lugar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSUNÇÃO, Sandra Teixeira de. Do passado ao presente a resiliência do seringueiro em Extrema/RO. 2012.156f.:il. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geografia), UNIR, Porto Velho, Rondônia, 2012.

CORRÊA, Roberto L. A Geografia Cultural e o urbano. In: CORREA, Roberto L. e ROSENDAHL, Zeny(orgs). Introdução a Geografia Cultural.2ª Ed.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. pp. 167-186.

DARDEL, Eric. O Homem e a Terra. São Paulo, Perspectiva, 2015.

FUINI, Lucas L.; O território em Rogério Haesbaert: concepções e conotações. Geografia, Ensino e Pesquisa, vol. 21(2017), N1, P.19-29. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/geografia/article/view/22589/pdf. > Acesso em: 1 de junho de 2020.

GONÇALVEZ, Carlos Walter Porto. Amazônia, Amazônias.3ª Ed., São Paulo, editora contexto, 2010.

HAESBAERT, Rogério. Concepções do território para entender a desterritorialização. In: SANTOS, M [et all]; (org). Território, territórios; ensaios sobre o ordenamento territorial. 416p. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.

HAESBAERT, R.Território e Multiterritorialidade: um debate. GEOgrafia- ano IX- vol. 9 Nº17-2007. Acesso em: 12 de junho de 2020.

HAESBAERT, R. & BRUCE, G. A desterritorialização na obra de Deleuze e Guattari. GEOgrafia. ano IX - vol. 4 Nº7-2002. Acesso em: 16 de junho de 2020.

HAESBAERT, R.Da Desterritorialização à Multiterritorialidade. Boletim Gaúcho de Geografia, 29:11-24, 2003. Disponível em: http://seerufgs.br/bgg/article/view/38739/26249. > Acesso em: 12 de junho de 2020.

MARANDOLA Jr, Eduardo. Identidade e Autenticidade dos lugares: o pensamento de Heidegger em Place and Placelessness. Geografia, Rio Claro, v.41, n.1, p5-15, abril de 2016. Disponível em http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ageteo/article/view/11876/8170 > Acesso em: 1 de junho de 2020.

MARANDOLA Jr, Eduardo. Lugar enquanto circunstancialidade. In: MARANDOLA Jr, Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia. Qual o espaço do lugar? 1ª edição. São Paulo: Editora perspectiva, 2014.

MOREIRA, Daniel Augusto. O Método Fenomenológico na Pesquisa. 2ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2004.

OLIVEIRA, Lívia. O sentido de lugar. In: MARANDOLA Jr, Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia. Qual o espaço do lugar? 1ª edição. São Paulo: Editora perspectiva, 2014.

RELPH, E. C. Reflexões sobre a Emergência, Aspectos e Essência de Lugar. In: MARANDOLA Jr, Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia. Qual o espaço do lugar? 1ª edição. São Paulo: Editora perspectiva, 2014.

SERPA, Angelo. Por uma Geografia dos espaços vividos: Geografia e fenomenologia/Angelo Serpa; - São Paulo: contexto, 2019.128p.

SERPA, A. Ser Lugar e ser território como experiências do ser-no-mundo: um exercício de existencialismo Geográfico. Geousp-Espaço e Tempo (online) v.21, n.2, p.586-600.agosto de 2017.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da Experiência. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL; São Paulo, 1983.

SANTANA, Francisco. Os brasivianos do rio Mamu modos de vida e a poética fenomenológica do viver. 330 fols. Tese de doutorado (Doutorado em Geografia), UNIR, Porto Velho, RO, 2019.

Notas

[1] Ex-seringueiro, conversa informal no whatsapp sobre chás e Covid-19 (data 13.07.2020)
[2] Entrevista escrita, via watsapp dia 04.07.2020.
[3] Entrevista via watsapp e escrita no papel no dia 11.07.2020.
[4] Em conversa informal no whatsapp sobre o relacionamento com o ex-seringueiro (data 06.07.2020)


Buscar:
Ir a la Página
IR
Modelo de publicação sem fins lucrativos para preservar a natureza acadêmica e aberta da comunicação científica
Visor de artigos científicos gerado a partir de XML JATS4R