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Grupos e Caminhos Warao pelo Brasil
Warao Groups and Paths Through Brasil
Revista Presença Geográfica, vol. 08, núm. 02, Esp., 2021
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Revista Presença Geográfica
Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil
ISSN-e: 2446-6646
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 08, núm. 02, Esp., 2021

Recepção: 19 Janeiro 2021

Aprovação: 03 Agosto 2021

Resumo: Os indígenas Warao entraram no Brasil pela Amazônia Ocidental, nos estados de Roraima e Amazonas; seguindo para o Pará, Maranhão e diversos outros estados do Nordeste e no Centro Oeste a partir de 2018, atingindo as regiões Sul e Sudeste, em 2019 e 2020. Perseguindo os rastros dos censos oficiais das Prefeituras, recomendações do Ministério Público Federal, documentos produzidos pela ONU, notícias de jornais e discussão bibliográfica o artigo faz uma descrição dos caminhos seguidos por diversos grupos Warao pelo Brasil e as causas de algumas divisões internas vividas entre eles. Com o advento da Pandemia do novo Coronavírus diversos grupos Warao se fixaram por tempo mais prolongado nos diversos estados em que estavam passando a dialogar com o poder público. O artigo termina detalhando o caso do Acre nesse sentido.

Palavras-chave: Warao, Mobilidade, Caminhos Indígenas, Grupos, Demografia.

Abstract: The Warao Indigenous people started to penetrate Brazilian territory through the States of Roraima and Amazonas, following to Pará, Maranhão and different Northeast states during the year of 2018 reaching the South and Southeast between 2019 and 2020. Following the traces of the official cities census for the Venezuelans refugees, documents of the justice department, UN briefings, articles from the press and bibliographical discussion, this article aims to describe the different routes taken by the Warao people in Brazil and the cases of group division lived by them. During the COVID-19 Pandemic many Warao engaged in a more durable dialogue with public policies. The article finish detailing the case of the Warao in Acre.

Keywords: Warao, Mobility, Indigenous Routes, Groups, Demography.

INTRODUÇÃO

Já são conhecidos por caminhantes os milhares de refugiados e migrantes Venezuelanos que, desde 2016, estão deixando seu país em direção a Brasil, Chile e Peru passando por Colômbia e Equador no trajeto. Dentre estes viageiros (Rosa, 2018), está o grupo dos indígenas Warao, que passaram a ingressar em massa, hoje já por volta das mais de quatro mil pessoas (ACNUR, 2019b: 17), se espalhando Brasil afora em busca de melhores condições de vida[1]. A Plataforma Resposta para os Venezuelanos (R4V) estima que mais de 4600 indígenas Venezuelanos estão atualmente vivendo no Brasil (R4V, 2019: 45) e o Relatório de Atividades para Populações Indígenas de Outubro e Novembro de 2020 registra 5.078 indígenas Venezuelanos registrados no Brasil de cinco etnias diferentes: Eñepa, Kariña, Pemon, Warao e Wayuu (ACNUR, 2020). Depois de atravessarem a região da Gran Sabana, seguindo o troncal 10 da Carretera Panamericana, na Venezuela, os Warao entram no Brasil pela cidade de Pacaraima seguindo então para Boa Vista, em Roraima, ambas cidades possuindo os primeiros abrigos geridos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os Warao no Brasil. Continuando pela BR-174 os Warao foram, aos poucos, chegando em Manaus, onde permaneceram durante quase todo o ano de 2017 em novos abrigos organizados pela Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) mas passaram também a alugar casas para algumas famílias e perambular pela cidade em busca de dinheiro. O que não se previa foi a diáspora em massa que os indígenas Warao realizaram a partir daí, ocupando todo o Brasil. Há quem diga que os Warao "não sabiam a dimensão do país”, mas cabe investigar qual a noção de espaço cultivada pelos Warao desde que passaram a se dividir pelos diversos estados brasileiros.

O artigo inicia discutindo a presença dos Warao entre Belém e Santarém no primeiro semestre do ano de 2018 para depois ter um panorama de seu espalhamento pelas cidades do interior do Pará no segundo semestre do mesmo ano até chegar, por um lado, ao Maranhão e ocupar diversos estados do Nordeste e por outro, em direção a Rondônia, durante o ano de 2019. No final, o artigo faz breves considerações sobre a chegada desses indígenas no Acre e seu diálogo com o poder público.

Os Warao são exímios recenseadores. Quase todos os grupos guardam um caderno com as famílias e pessoas Warao que vivem naquele lugar específico e quantas são as mulheres, os homens e as crianças. As vezes adolescentes e mulheres grávidas também são discriminados. Os censos são atualizados toda vez que chega uma família nova, ou outra se vai. Isso permite com que cada grupo saiba exatamente qual a demanda que tem que suprir nas cidades e qual a dimensão do trabalho nas ruas. A estratégia das "correrias urbanas” descritas para os winikineros[2] que estavam vivendo nas cidades de Barrancas, Tucupita e Caracas, envolve toda uma logística de “coleta”, que vai desde quando fazer as viagens, passando pela organização familiar interna, chegando à programação do itinerário e distribuição das tarefas entre os parentes. Chamada por alguns autores de "ética da mendicância” (Castro, 2000; Lafée-Wilbert e Wilbert, 2008) ela será apenas o pano de fundo para os trajetos descritos aqui. Em meados do século, por mais de dez anos, Dieter Heinen e sua turma, coletaram amostras de sangue, informações genealógicas e censitárias entre cinco subtribos Warao vivendo próximos a área de Winikina. Para ele, os Warao do Delta do Orinoco e áreas adjacentes parecem ser uma unidade homogênea apenas de longe. Heinen acredita que esses grupos Warao formam redes multiétnicas desde tempos coloniais e estão organizados politica e socialmente em unidades menores com entre 25 a 60 membros diz ele:

A maioria das vezes a subtribo reúne um grupo de rancheria muito próximas umas às outras, mas em outros casos, as rancherias estão distantes. Os grupos estão, via regra geral, constituidos por famílias extensas que realizam alianças matrimoniais entre si, brindando-se com ajuda mútua, a qual acontece especialmente durante o ritual das colheitas (LAYRISSE et al, 1977: 47)

Segundo o aidamo e professor indígena Aníbal Cardona "hoje, há núcleos Warao em Pacaraima, Boa Vista, Manaus, Rio Branco, Santarém, Belém e em outras dezoito cidades do Pará. Também há famílias em quase toda a região Nordeste (São Luís, Imperatriz, Teresina, Campina Grande, Natal, Mossoró, João Pessoa, Recife) e em diversas outras cidades do país, como Rio de Janeiro, Campinas, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Brasília, Anápolis e Florianópolis” (Cardona, 2020). As cidades que conseguimos mapear presença dos Warao no Pará foram: Belém, São João do Outeiro, Santarém, Abaetetuba, Ananindeua, Óbidos, Monte Alegre, Itaituba, Jacareacanga, Altamira, Marabá, Redenção, Bragança, Castanhal, Capanema, Canaã dos Carajás, Parauapebas e Paragominas. Já temos alguns mapas que indicam partes desses caminhos percorridos pelos Warao, como os que estão presentes nas publicações de ACNUR (2019a) e IOM (2020).

OS WARAO OCUPAM BELÉM E SANTARÉM (PA)

Mesmo que tivessem sido avisados pela Secretaria de Justiça do Estado do Amazonas que um grupo de oitenta e dois indígenas Warao estava em trânsito para Belém do Pará, ninguém iria imaginar que o espalhamento Warao iria assumir tão grande proporção Brasil afora.

O primeiro grupo de quinze indígenas Warao chegou em Belém/PA em junho de 2017. Em setembro chegam dois novos grupos; um de vinte e duas pessoas e o outro de dezessete. A Defensoria Pública e a Procuradoria no Pará instauraram junto a União tanto Ação Civil Pública[3] quanto duas Recomendações específicas para saúde[4] e educação[5] dos indígenas migrantes Warao no Pará. Endereçada ao DSEI Guamá-Tocantins, a recomendação de saúde orienta para imunização, prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças epidemiológicas dos Warao enquanto que a recomendação de educação é a de uma educação intercultural e bilíngue com produção de material didático específico, contratação dos próprios Warao como professores temporários e que se crie um Projeto Político Pedagógico (PPP) adaptado à realidade Warao, que mais tarde se consolidou no Projeto de Educação Kuarika Naruki. Por hora, vale a pena nos deter nas informações que os Processos mencionados trazem sobre os grupos Warao e suas subdivisões.

O grupo de quinze pessoas, que poucos dias depois ficou com nove, foi despejado da área conhecida como "cracolândia de Belém” sendo transferidos para a casa de passagem do Imigrante em trânsito chamada Domingos Zaluth, onde já habitam Colombianos e Haitianos. O segundo e o terceiro grupo ficaram alojados na Praça do Pescador, em frente a maior feira ao ar livre da América Latina, o Ver-o-Peso[6]. No grupo do Ver-o-Peso estavam os aidamo Niekito e Hector Warao.

Foi apenas no inicio do ano de 2018 que o número de Warao em Belém cresceu. De acordo com estudo da FUNPAPA[7], em Janeiro se calculava cento e quatorze pessoas, ocasião em que foi feita a primeira grande reunião entre autoridades com participação de lideranças Warao. A partir daí, reuniões menores passaram a ocorrer regularmente para se discutir temas relativos a vida dos Warao em Belém como: educação diferenciada das crianças; saúde das mulheres e imunização; alimentação e emissão de documentos. No mês de Outubro Belém já contava com duzentos e setenta e oito Warao, sendo constatado que setenta estavam abrigados no espaço de acolhimento do Estado e os outros duzentos e oito estavam espalhados pelos imóveis do bairro do Comércio. Nesse período, foram tomadas reuniões para maturação do protocolo de consulta livre, prévia e informada do povo indígena Warao. O Protocolo de Consulta Prévia trilíngue do Povo Warao em Belém, Eku Jakotai Avitu Tuma, ficou pronto em 2020 com o consentimento das lideranças Warao que vivem na zona metropolitana de Belém a partir de da Recomendação 34/2019 do MPF que fez um histórico dos encontros entre os Warao e o poder público entre os meses de Setembro e Novembro de 2018 visando uma “interpretação culturalmente diferenciada da atuação dos órgão de proteção” no município com relação aos Warao[8]. À pergunta “Quem Deve Ser Consultado?”, do Protocolo, não deixa de ser interessante, notar que os Warao respondem “nossos representantes que devem ser indicados por cada grupo familiar que se encontre em processo migratório e que esteja presente na cidade de Belém/PA” (Protocolo, 2020: 51), fazendo-nos refletir sobre que forma é essa assumida pelo coletivo Warao, especialmente devido a alta mobilidade vivida por esse grupo.

Realizou-se a triagem dos Warao para posterior redistribuição dos mesmos pelas chamadas “Casas de Autogestão Monitoradas” geridos pela Prefeitura de Belém com capacidade para abrigar até trezentos Warao. O abrigo Domingos Zaluth ficou encarregado de fazer a triagem dos Warao recém chegados à cidade e ainda prestar serviço emergencial para as áreas de saúde, educação e assistência social, bem como cadastramento de documentos necessários para a regularização migratória.

De acordo com o relatório circunstanciado de diligência externa realizado pela Procuradoria da República entre Agosto e Setembro de 2019[9], os Warao em Belém estavam assim divididos: no Cametá, o aidamo Jesus Nunes Paredes que representava oitenta e seis indígenas Warao, separado deste, no Aziru Zaluth, residiriam mais oito famílias de outro grupo. Nos abrigos da Prefeitura os Warao estavam divididos entre oitenta pessoas, dezessete famílias (setenta e sete pessoas); cinco famílias; vinte pessoas; cinco famílias (trinta e oito pessoas); uma casa em Tapanã, já no Distrito de Icoaraci , representado pela Warao Margarita Grimon Ratia com quarenta pessoas; uma casa no Bairro Distrito Industrial cuja liderança era Renie Zapata, abrigando seis famílias (vinte e três pessoas), de acordo com tabela abaixo:

Tabela 1
Quantitativo Warao em Belém/PA em Fevereiro 2018

Fonte:MPF, 2018: 36

Tabela 2
Quantitativo Warao em Belém/PA em Agosto-Setembro/2019

Fonte:MPF, 2019: 16

O MPF dá como total de Warao em Belém nessa época quatrocentos e vinte e dois indígenas. Isso significa que o número de Warao aumentou em 65% em um ano. Ainda que esses números pareçam confiáveis, a Diligência comenta da dificuldade do cálculo dos Warao: “o maior problema no controle e contagem dos indígenas consiste nas mudanças de endereço constante dos mesmos. Desse modo, não foi possível precisar a quantidade exata de crianças, adultos e idosos existente em cada local” (MPF, 2019: 16). Como era de se esperar, no mês seguinte, a Defensoria Pública da União (DPU) anexa um novo Relatório ao Processo que visa denunciar o “desabrigamento" em um dos abrigos, desabrigamento este, feito pelos próprios Warao que haviam se dividido em dois grupos: um grupo de cinquenta e quatro pessoas continuou em Belém, mas foi para São João do Outeiro, representados por Eloi e outro grupo de trinta pessoas da mesma família foi até Paragominas[10].

De acordo com levantamento feito pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTRAS), em Santarém, na madrugada do dia 28 de Setembro de 2017 um grupo de trinta Warao chega de barco, na cidade e ficam alojados na praça da Bandeira, no Centro. Depois de passarem pelo Centro POP Dom Lino Vombommel, são abrigados em uma Igreja Batista. Ainda no Centro POP são visitados por lideranças indígenas Borari. Já em Outubro o grupo é transferido para o Centro de Formação Franciscana, que fica no bairro Jardim Santarém, ligado a Diocese de Santarém, ocasião em que chegam mais duas mulheres e duas crianças, e alguns dias depois chegam mais doze Warao fazendo o grupo aumentar para quarenta e seis pessoas. Os indígenas Warao não param de chegar em Santarém fazendo a equipe técnica da SEMTRAS contabilizar, no final do mês, sessenta e cinco Warao divididos em onze famílias, no entanto já nessa época, “alguns integrantes do grupo se desentendem e aparece pela primeira vez um pedido para ter dois abrigos e maior presença da equipe técnica para mediar conflitos” (PREFEITURA DE SANTARÉM, 2017b: 5). Ainda de acordo com a SEMTRAS, em Novembro, Santarém chegou a abrigar cento e vinte Warao, sendo que cento e sete deles estavam divididos em dois abrigos provisórios: a Escola Nossa Senhora de Fátima, no bairro Cambuquira e nas dependências do CRAS Santarenzinho, mais especificamente na Casa Abrigo para Adultos e Famílias (CAAF), equipamento criado especificamente em função da chegada dos Warao (PREFEITURA DE SANTRÉM, 2017c: 6). Em Setembro de 2018, ou seja, um ano depois de chegarem em Santarém o número de Warao na cidade já tinha caído para apenas setenta e sete pessoas (SANTOS, 2019: 66).

De acordo com Parecer Técnico produzido pelo MPF que levantou o perfil migratório dos indígenas Warao em Belém e Santarém entre Janeiro e Março de 2018, residiam dezenove famílias Warao com um total de oitenta e cinco pessoas em Santarém e vinte e uma famílias Warao com um total de noventa e sete pessoas em Belém. Ainda que subestimando os fluxos de deslocamento dos Warao pelo Brasil e entre Brasil e Venezuela, o Parecer identifica os percursos de ida e volta desses indígenas entre diversas cidades como Pacaraima, Boa Vista, Manaus, Belém, Santarém e Brasilia ressaltando ser bastante comum que apenas um indivíduo da familia realize viagens e que muitas vezes esse mesmo individuo, por incrivel que pareça, diz esquecer dos percursos já realizados. Talvez por isso, “os fluxos migratórios dos Warao pelo Brasil não necessariamente são lineares, implicando em idas e vindas por motivações diversas” (MPF, 2018: 30).

A pericia do MPF do ano anterior sobre os Warao em Roraima, confirma que a migração dos Warao era feita, geralmente, por uma parte ou todo o núcleo familiar. Nessa época, no entanto, a maior parte dos familiares ainda estava na Venezuela e gradativamente foram ampliando a rede de parentes no Brasil. Na conclusão da peça pericial: "os aidamos referem-se ao seu núcleo familiar como sendo sua esposa, filhos solteiros, filhas, genros e netos mas a família extensa abarca também os sogros de um homem, todos as suas cunhadas, os cunhados solteiros e todas as crianças” (TARRAGÓ, 2017: 9)

OS WARAO ORBITAM PELO PARÁ

Depois de Belém e Santarém, desde Abril/2018 que grupos Warao chegam em diversas cidades no interior do Pará, tais como São João do Outeiro, Abaetetuba, Ananindeua, Óbidos, Monte Alegre, Itaituba, Jacareacanga, Altamira, Marabá, Redenção, Bragança, Capanema, Castanhal, Canaã dos Carajás, Parauapebas e Paragominas.

Um grupo de vinte e três Warao acampou na rodoviária de Altamira[11] em meados de Julho/2018 chegando de Santarém. Com a chegada de novas pessoas, um grupo de trinta e quatro Warao correspondentes a dez famílias, sob a liderança de Amikra (Amircar) Rodriguez, foram transferidos para um abrigo no bairro Brasília[12]. No final de 2018, um grupo de quarenta Warao chega em Castanhal[13]. Uma parte deles fica hospedado na Paróquia Santa Cruz, visitados pelo padre Napoleão.

Depois que os oitenta e cinco Warao chegaram em Parauapebas (PA) junto com outros Venezuelanos não-indígenas, esse município do sudoeste paraense declarou situação de Emergência Social através do Decreto 646/2019[14]. O mesmo aconteceu em Monte Alegre[15]. Os Warao foram para um Abrigo Municipal apenas em Setembro mas continuaram orbitando pelo interior do Pará, sendo encontradas vinte e um Warao em Canaã dos Carajás[16] e duas famílias em Marabá, em Outubro de 2019. No inicio de Maio de 2020 mais uma família de quinze pessoas chegou em Marabá vindos de Redenção (PA) e ficaram na Casa de Passagem tendo como destino Santarém. Desde fevereiro que sete famílias já estavam em Redenção[17].

Entre Agosto e Setembro de 2019 um grupo Warao de vinte e cinco pessoas chegava em Castanhal vindo da cidade de Capanema[18]. Ainda em Setembro, quarenta Warao sob a liderança de Fred chegam em Itaituba/PA dizendo que já tinham passado por Altamira, Belém e Santarém antes[19]. Primeiramente, eles ficaram hospedados na sede da empresa de navegações Rodonave e depois foram alocados em uma casa no bairro do Piracanã. Em Novembro de 2019 chega outro grupo, as mesmas famílias que este ano estavam morando na “Barraca da Santa”, na orla de Itaituba, em frente a matriz. É constante o trânsito dos Warao entre Itaituba e Santarém. Mais recentemente, os Warao de Itaituba receberam a ajuda da Associação Indígena Paririp, coordenada por uma liderança Munduruku da Praia do Índio[20]. De Itaituba um grupo de trinta pessoas continuou subindo o rio Tapajós e, de acordo com dados do DSEI-Itaituba chegou em Jacareacanga visitando até a aldeia Karapanatuba, dentro da Terra Indígena Munduruku. Veja tabela do quantitativo Warao com dados coletados em agosto de 2018:

Tabela 3
Quantitativo Warao no Pará em Agosto 2018

Fonte: Santos, 2019: 67

Dois indígenas Warao tiveram casos confirmados de Covid-19 no Pará, em Abril de 2020. Três meses depois se registrava seis mortes no estado, quatro em Belém e duas em Santarém[21]. Representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social de Marabá disseram, em ata de reunião que aconteceu em Setembro de 2020, que “antes os Warao não paravam na cidade, era apenas um entreposto” e que mesmo na “fase de estabilização” os dois grupos Warao que estavam na cidade se recusaram a morar juntos devido a “chegada de mais doze indígenas de Santarém que não se davam muito bem” com os que já estavam ali[22]. A Recomendação Conjunta expedida à Prefeitura Municipal de Marabá, pelo Ministério Público do Pará, o serviço Especializado em Abordagem Social de Marabá, é orientado a “buscar ativamente a população indígena Warao que eventualmente se encontre em situação de rua” e que “garantam de imediato o seu acolhimento em instituição adequada, com a garantia de todos os seus direitos” (MPPA, 2020a; 2020b: 6). Essa “busca ativa” cujo inexorável fim é o abrigamento foi, em muitos dos lugares que os Warao passaram, justamente o motivo das discórdias entre os grupos, como veremos que aconteceu subrepiticiamente no Nordeste. (Error 1: La referencia [22] debe estar ligada) (Error 2: El tipo de referencia [22] es un elemento obligatorio) (Error 3: No existe una URL relacionada)

Ainda cabem mais pesquisas para entender os efeitos da chegada da população Warao pelo Pará. Os dados apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3 indicam que durante o ano de 2018 e 2019, os Warao vem se deslocando por diversas cidades daquele Estado, tendo, inclusive, bastante contato com as populações indígenas locais, tanto nas cidades, como nas Terras Indígenas. No inicio de 2018, estavam em grande número em Belém, para chegar a encontrar apenas setenta e nove em Agosto. Em Santarém, eles eram oitenta e cinco no inicio do ano, para apenas cinquenta e um serem encontrados em Agosto. O número de Warao em Altamira nessa época é bem alto exatamente no momento que eles começam a chegar em Itaituba também, marcando a exploração que se iniciaria pelos interiores e se extenderia pelo ano seguinte já se conectando com o Nordeste pelo Maranhão, como veremos na próxima seção. Esses contatos, são causa e consequência das migrações e são capazes de produzir coletividades e trocas inesperadas, se comparadas com as relações interétnicas vividas pelos Warao no Delta Amacuro. Apesar de parecerem inéditos, no entanto, eles lembram muito o ethos de viajante daquelas levas de famílias Guarani-Mbyá[23]que se deslocavam em direção ao mar por diversos trajetos. As vezes abandonando um e reativando outros itinerários, os grupos ficavam algum tempo convivendo com companheiros de determinada localidade:

à procura por novos contextos em que possa animar-se, ficar alegre, a pessoa está, assim, sempre referida ao convívio com parentes, os que foram deixados um dia e que agora se quer rever, os que ela quer propriamente ver (aqueles dos quais tem notícia, mas com quem não conviveu, ainda), os que poderá vir a ter, a partir de novas relações que se estabeleçam nestas andanças (PISSOLATO, 2007: 171)

Os caminhos Warao impressionam tanto quanto as “dilatadíssimas jornadas” feitas a pé descalço pelos bandeirantes do século XVIII (HOLANDA, 1986: 170). Naquele contexto, trilhas indígenas tais como as estradas de Facão e Passa Vinte, próximas a Cunha, mas também o caminho dos Goizaes, Guayanazes, Paranapiacaba e outros mais que compunham o famoso caminho do Peabiru eram trilhadas ancestralmente pelos índios Guaianases, Guarulhos ou Maramumis (CAPISTRANO DE ABREU, 1989: 26) que eram andantes e não tinham pouso certo. Ainda que essas vias de comunicação fossem instáveis, especialmente quando interrompido seu fluxo mais ou menos prolongadamente, o tempo não fazia apagar a “direção-geral do traçado” que, nos lugares acidentados, “garantia a passagem obrigatória por determinados sítios, que serviam de baliza ao longo do trajeto” (HOLANDA, 1957 [2017]: 40).

Com a ocupação maciça do território Guarani, as novas gerações vão mudando sua forma de se orientar e de se deslocar pelas estradas envolvidas no percurso:

O caminhar exclusivamente a pé, parando em casa de parentes que ficam pelo caminho de onde se quer chegar, foi sendo substituído pelas viagens de ônibus, mas os trajetos continuam sendo programados visando visitar o maior número possível de parentes que moram nos pontos de passagem, a medida que o tempo e o dinheiro das passagens rodoviárias o permitem (MELLO, 2001: 48)

São por essas marcas de caminhos que depois viram estradas, infraestrutura planejada e fornecida pelo Estado, cujas aldeias Guarani estão hoje na beira; e que causaram tanta expectativa e desejo nos Andes Peruanos (HARVEY e KNOX, 2015), que as viagens dos Warao se dão. Se guiando pelos rastros das migrações anteriores, os Warao “são o próprio movimento, sem destino final, pois não importa onde esteja, se a vida continuar, existe sempre outro lugar que se pode ir”, (...) “em um contínuo processo de crescimento, desenvolvimento e auto-renovação” (INGOLD, 2011: 150).

OS WARAO PELO NORDESTE

Maranhão e Piauí

Desde o primeiro semestre de 2019, os indígenas Warao passaram pelo Maranhão (São Luis, Imperatriz, São José de Ribamar, Santa Inês, Passo do Lumiá, Timon, Pinheiros, Barreirinhas, São Mateus, Bom Jardim, Estreitos e Açailândia); Piauí (Campo Maior e Floriano); Ceará (Fortaleza, Caucaia, Itarema e Sobral), Rio Grande do Norte (Natal, Mossoró), Pernambuco (Recife, Petrolina, Caruraru, Santa Cruz de Capibaribe); Paraíba (João Pessoa, Campina Grande); Sergipe (Aracajú), Alagoas (Maceió) e Bahia (Salvador, Feira de Santana).

Os primeiros trinta Warao começaram a chegar na capital do Maranhão no final de Abril de 2019, vindos de Belém (PA), ficando hospedados no terminal rodoviário. De acordo com a Secretaria de Assistência Social de São Luís, eram seis famílias “que pretendiam ficar no Maranhão trabalhando até dezembro para retirar os demais familiares que continuam na Venezuela” (Prefeitura São Luís, 2020: 2). Logo em seguida, foram realocados para uma casa no Conjunto Cohab Anil onde, no mês seguinte, mais quatorze pessoas se somaram ao grupo. Esses quarenta e quatro Warao, foram novamente transferidos, desta vez, para o bairro Vassoural/Parque Jair.

Em Março do ano seguinte, o primeiro DTM[24] indígena produzido pela OIM, encontrou dezenove famílias Warao em São Luis e sete famílias em Imperatriz no abrigo Reviver da Prefeitura, em um total de cento e doze pessoas. Em relatório apresentado pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) de Imperatriz, em Maio, o abrigo Reviver assistia apenas cinco famílias em um total de setenta e três Warao com abrigamento, educação, saúde e assistência social. Houve a redução de duas família no período de dois meses.

Em São Luís, sessenta e seis Warao estavam dispostos em quinze famílias, vivendo em kitnets alugadas no Parque Vitória (e quatro no Santo Antônio). No final de Abril, no entanto, a Prefeitura de São Luís faz novo levantamento no Parque Vitória identificando que lá estavam vivendo apenas dez famílias. Cinco famílias, miraculosamente, não estavam mais (PREFEITURA DE SÃO LUÍS, 2020a). Talvez essas famílias indígenas estivessem apenas transitando entre Pará e Teresina. Isso é possível a exemplo da família de Abel Rattia, que de São Luís, no Maranhão, rumou para Teresina, no Piauí onde ficou hospedada no Poti Velho, para depois aparecer no cadastro da Prefeitura de Mossoró, no Rio Grande do Norte, como veremos mais adiante.

Essa drástica redução do número de pessoas em São Luís e Imperatriz, de um mês para o outro, “reforça a percepção de que existem dinâmicas de mobilidade muito próprias dos Warao” (IOM, 2020). Além disso, o DTM mostrou que a maioria dos chefes de família entrevistados desejavam trazer outras pessoas de sua família para o Brasil, reforçando a ideia de que as movimentações Warao se devem aos encontro entre núcleos familiares dispersos. O levantamento feito pela Prefeitura de São Luís também identifica uma família morando no bairro Parque Atenas, uma família morando no Caratatiua e mais quatro famílias que viviam no bairro Santo Antônio, próximos a Rodoviária mais (PREFEITURA DE SÃO LUÍS, 2020b)

Em Maio de 2021 completará dois anos desde que mais de duzentos Warao passaram por Teresina, no Piauí. Tempo suficiente para eles estarem cadastrados na Base Territorial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deste Estado como “agrupamento indígena Warao I e II”. O IBGE considera como “agrupamento indígena” “o conjunto de 15 ou mais indivíduos indígenas em uma ou mais moradias contíguas espacialmente que estabelecem vínculos familiares ou comunitários” (IBGE, 2020). A medida que conheciam melhor a região, os Warao passaram a usar da estratégia de mobilidade para fazer a “coleta” em cidades do interior como José de Freitas, Campo Maior[25], União e Floriano[26].

De acordo com laudo antropológico produzido no final de Janeiro de 2020 encomendado pelo MPF, foram cinco grupos no total que chegaram na cidade entre maio e junho de 2019. O primeiro grupo que chegou em Maio, com cinquenta e três pessoas, ficou nas imediações do Estádio Municipal Lindolfo Monteiro, no centro, e depois foi para o bairro Poty Velho para ficar hospedados na Associação de Pescadores do Poti Velho (Clube Social Piratinga). Durante esse período, Rafael e Abel eram os aidamos do Clube Piratinga que poderia comportar entre 75 e 90 pessoas. Na época do trabalho de campo feito na perícia antropológica, eram dez famílias aparentadas originárias da região de Janakajamana, no delta do Orinoco e os interlocutores com o poder público foram Domingos Fuentes e Cruz Rattia. ”Um dos homens do grupo, que preferiu não se identificar, disse que há várias famílias entre os viajantes"[27].

O segundo grupo de Warao que chegou em Teresina era composto de trinta e sete pessoas, tinha como seu principal interlocutor o aidamo Celso Garcia e ficaram hospedados, inicialmente, na Praça Saraiva, no centro de Teresina para depois serem transferidos, provisoriamente, para o centro de convivência do bairro KM7. O terceiro grupo foi para uma casa no bairro Mocambinho, um quarto grupo foi abrigado no centro pela pastoral da rua e o quinto grupo foi para a sede do Movimento pela Paz na Periferia (MP3), no bairro São Pedro.

Em Julho/2019, os grupos do KM7, Mocambinho, pastoral de rua e MP3, foram remanejados para o abrigo do Centro Social Urbano (CSU) no bairro Buenos Aires, zona norte da cidade. Charles Oliveira então coordenador do abrigo do CSU chegou a calcular, entre 90 e 110 pessoas divididas em 29 famílias no superando a capacidade. Na abertura do abrigo[28] a soma chegou a cento e quarenta e um Warao que esperavam viver lá, mas a capacidade máxima era de apenas setenta. Na época do laudo antropológico encomendado pelo MPF lá haviam vinte e oito famílias perfazendo um total de cento e vinte e três pessoas ali (SANTOS, 2020: 12). O grupo de Celso vai recusar as instalações do novo abrigo justamente devido a quantidade de gente, e retorna para São Luís; para depois ser encontrado em Mossoró/RN, como atesta a lista da Prefeitura de Mossoró (2020). O aidamo representativo do CSU Buenos Aires acabou caindo nas mãos de Guerrero Mendoza, como consta na “Relação Atualizada dos Núcleos Familiares do Abrigo CSU Buenos Aires” atualizado no final de Setembro de 2019. Devido à pandemia, as famílias Warao do CSU Buenos Aires foram divididas em três abrigos e atualmente, estão nas mãos do Projeto Cajuína[29]. Para responder a não-aglomeração no final de Abril de 2020 a Prefeitura de Teresina transferiu 60 Warao que estavam no CSU Buenos Aires para o antigo prédio do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí - EMATER localizado na BR-343 na entrada da cidade, para quem vem do Norte.

Yovini Eulálio Torres desde o começo é o intérprete Warao que faz a tradução de das demandas dos Warao no CSU Buenos Aires. Segundo laudo antropológico, Yovini chegou a voltar para a Venezuela para visitar os parentes que ficaram, mas devido a situação continuar insustentável lá regressou ao Brasil “mantendo contatos constantes e pretendendo que essas pessoas estejam com eles em breve” (SANTOS, 2020: 14). Essa vontade, ressoa com a da interlocutora do Poti Velho que “gostaria de trazer suas três irmãs para o Brasil (…) mas não possui recurso para isso” (idem: 9).

A situação dos Warao nessa região estava crítica em Julho de 2020 quando foram contabilizados 78 casos confirmados de COVID-19 em Teresina (um veio a óbito), 68 em João Pessoa e 15 em Mossoró. É possível que esses números sejam consequência direta do deslocamento de um grupo de aproximadamente 26 pessoas que saiu contaminado dos abrigos da capital piauiense em direção à Paraíba, alertando para o fluxo de indígenas potencialmente contaminados para outros regiões e a necessidade de adotar um protocolo cuidadoso de monitoramento entre cidades e estados e de um diálogo adequado com os indígenas que planejam mudar de cidade. A recomendação do MPF é que cada cidade crie uma rede de comunicação para informar sobre os deslocamentos das famílias Warao, especialmente para onde a família pretende viajar, quantas pessoas farão o percurso e qual seu estado de saúde[30].

PERNAMBUCO, PARAÍBA E RIO GRANDE DO NORTE E TOCANTINS

Os por volta de setenta Warao que chegaram em Recife (PE) no final de Setembro de 2019 tiveram um revival e foram morar no bairro da Boa Vista, mais precisamente na rua da Glória e na Rua Santa Cruz, próximos ao Centro. Quando o grupo foi transferido para o bairro dos Coelhos, o poder público teve, então, a chance de contabilizar que eram divididos em quinze famílias entre vinte oito adultos e trinta e nove crianças[31]. Eram liderados pelos aidamos Santo Tobá, Américo e o casal Marisol e Johnny Mata. Ao ser perguntado como se coordena com os demais parentes, Santo Tobá parece desdenhar do repórter “Foi tudo feito com controle, a gente se ligava e perguntava ‘onde está você?’, o endereço é tal, rua tal, número tal’,”[32]". A possibilidade de se comunicar constantemente com os grupos que estão para chegar, ou que acabaram de ir oferece uma interessante oportunidade para as pesquisas etnográficas, agora no momento da Pandemia do coronavírus, onde não se pode mais conviver fisicamente com as pessoas, e no entanto, pode-se comunicar instantanêa e coordenadamente com vários grupos, inclusive oferendo ajudas virtuais a eles, seja na forma de “vaquinhas” ou contactando serviços públicos locais.

É desde Setembro/2019 também que os Warao chegaram nos municípios de Natal, Parnamirim e Mossoró até atingir o número máximo de cento e sessenta pessoas em Março/2020 (CERAM, 2020c). Em Natal, em setembro, primeiro chegou o grupo do Maurício com por volta de cinquenta pessoas. Ficaram hospedados numa pousada na Ponta Negra, e em dezembro chega o grupo de Anibal que se encontra em Natal até hoje. No mapeamento feito, em Abril deste ano, pelo Comitê Estadual Intersetorial de Atenção aos Refugiados, Apátridas e Migrantes do Rio Grande do Norte (CERAM), o grupo de Maurício estavam morando em um conjunto de casas no bairro Cidade da Esperança em doze familias; quatro outras famílias Warao estavam morando no bairro Planalto e uma família ainda permanecia na Rodoviária, totalizando setenta e seis Warao em Natal (CERAM, 2020a).

Estão atendidos pela Prefeitura de Mossoró trinta e oito Warao cujos aidamos estão divididos entre três grupos nas casas das Irmãs alemãs Ellen e Cristina (Lar da Criança Pobre de Mossoró) que são: Celso Garcia, Librando José Rattia-Rattia e América Mata; e os três grupos de Abel Rattia-Quinonez, Alírio Rattia-Rattia e Librando Rattia que estão abrigados na Escola Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro do OuroNegro-Aeroporto (PREFEITURA DE MOSSORÓ, 2020a; 2020b). Recentemente, três famílias deixaram o abrigo da Irmã Ellen; seu paradeiro é desconhecido.

O “Coletivo Venezuela” passou a auxiliar um grupo de oitenta Warao que estava instalado, desde dezembro de 2019, no Terminal Rodoviário de Campina Grande (PB), no bairro Catolé. Saúde e Assistência Social da cidade[33] acompanharam esse grupo até que eles partiram para Recife (PE) e continuam fazendo esse trânsito mesmo no período de quarentena. Atualmente os vinte e nove Warao que lá estavam se mudaram para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) da Prefeitura de Campina Grande.

Em Janeiro, uma mãe Warao revelou que na verdade morava em João Pessoa e só vinha para as ruas de Campina Grande para fazer a “coleta”. Outra família Warao que fazia “coleta” na Praça da Bandeira disse ter chegado de Caruaru. Uma família Warao chegou em Caruaru em meados de dezembro/2019 (REDE, 2020: 38). Pelo noticiário, entre Novembro e Dezembro de 2019 temos notícias de famílias orbitando por essas cidades (dois casais e sete crianças). É desse mesmo período os Warao que chegaram em Santa Cruz de Capibaribe (PE)[34].

De Fevereiro a Maio chegaram dois grupos de Warao em João Pessoa (PB). Ao contrário do que aconteceu no Pará, órgãos governamentais deliberaram “fazer o contato” com os grupos de Nelson e Rafael através dos povos potiguara e tabajara. Inicialmente, em meados de Fevereiro, chegaram 14 famílias que passaram a residir em uma vila alugada no bairro do Roger. Esses famílias ainda estavam fazendo o trânsito vindo de Recife (PE) e de Teresina (PI). No inicio de Abril temos notícia de dezenove famílias somando oitenta pessoas que foram alojadas no Centro Social Arquidiocesano São José. Pelo menos vinte e seis famílias Warao estavam morando em João Pessoa no mês de Abril representados pelos aidamos Nelson e Rafael. O Padre Egídio de Carvalho Neto, através da Ação Social Arquidiocesana (ASA), acabou por se encarregar de distribuir refeições para os Warao[35]. No inicio de Maio somam vinte e oito famílias, cinco delas alojadas em uma casa no Jaguaribe. Pelo menos quarenta Warao entre João Pessoa e Campina Grande estão contaminadas pelo COVID-19[36](BOLETIM, 2020).

Tabela 4
Tabela demográfica dos Indígenas Warao em Campina Grande - PB

Fonte: Rede Povos da Terra da Paraíba. Relatório sobre vulnerabilidade. Abril/2020

Entre meados de Dezembro de 2019 e inicio de Janeiro de 2020 começam a chegar as primeiras famílias Warao em Salvador, na Bahia. O aidamo dessas duas primeiras famílias é Anibal; e é composta por quatorze pessoas, sete adultos e sete crianças. A história da família de Aníbal é um pouco mais conhecida. O pai de Aníbal; Elias, trabalhava como barqueiro, atravessando mercadorias entre Mariusa e Trinidad e Tobago - recentemente teve de fugir devido à ameaças de narcotraficantes- mas talvez dai venha a influência sobre seu filho que começou sua saga pelas cidades litorâneas do Nordeste Brasileiro. Chegaram no Maranhão por volta de Agosto de 2019 e ficaram três meses. Em Novembro saíram de São Luis para Fortaleza, onde, mesmo ficando apenas uma semana deu tempo para que perdesse seu filho Joro, de quatro meses, nascido em Boa Vista[37]. Logo em seguida, rumaram para Salvador e depois Natal, sempre acompanhados de dona Petra a mais velha do grupo, com oitenta anos, Aqui há uma contradição porque algumas pessoas que tiveram contato com o grupo de Anibal em Salvador menciona que foram para Goiânia.

No inicio de Fevereiro, aparece um grupo Warao na cidade de Feira de Santana (BA), mas esse grupo não tem ligação com o grupo de Anibal. Trata-se do grupo do aidamo Atilano, são dezesseis pessoas que passaram por Caruaru (PE) e partiram em uma expedição particular por Feira de Santana onde ficaram hospedados no bairro Mangabeira, depois foram para Petrolina (PE), ou melhor, foram suspeitosamente colocados em uma van a mando do Prefeito de Petrolina

Em meados de Novembro 2019 outro grupo de quarenta e três Warao sob a liderança de Virgílio Fuentes González, chega no Tocantins, vindos de Imperatriz (MA). A Arquidiocese de Palmas, na figura de Frei Felisberto, disponibilizou para os Warao o Centro Social Carmelita que fica no distrito de Luizimangues, em Porto Nacional. No final deste mesmo mês, uma comissão de indígenas visitou o local disponibilizado para decidirem se aceitavam ou não, ficar hospedados ali (MPF-TO, 2019). "Em Palmas, eles resolveram se dividir e um grupo de dezoito pessoas retornou para Imperatriz, enquanto outro grupo, de vinte e cinco pessoas, seguiu para Goiânia (GO)"[38]. Talvez parte da família Fuentes González tenha ficado em Imperatriz desde então; visto que de acordo com a lista do fluxo de refugiados venezuelanos que migra na região, elaborada pela Prefeitura de Imperatriz em Maio deste ano, encontramos Elia Fuentes González de 36 anos e a criança Antonio Jesus Fuentes González de apenas 12 anos “Não se tem todos os nomes”, continua o Oficio da Prefeitura de Imperatriz, “pois alguns não se adaptam ao abrigo e não aceitam as normas e preferem viver como transeuntes. Portanto permanecem nas idas e vindas, abrigo casas de aluguéis e acompanhados de várias formas” (PREFEITURA DE IMPERATRIZ, 2020).

Esse é apenas o primeiro dos grupo Warao que passou por Palmas. O segundo grupo chegou de São Luis (MA), em inicio de Fevereiro deste ano e era composto de três familias, três casais, sob a liderança do aidamo Eliazar Moreno Zapata. Eles rumaram para Recife (PE). O maior grupo que passou por Palmas, no entanto, foi o terceiro e último, que chegou em meados de Março. Era composto de sessenta pessoas e ficou apenas três dias na cidade. Segundo Valdeir, o assistente social que trabalha nos serviços de atendimento ao migrante no CREAS/Palmas, esse grupo tinha por líder Rojas Hernandez e também se dividiu: um grupo de por volta de treze pessoas foi para Natal (RN) enquanto que outro grupo foi para Açailândia (MA)[39].

De acordo com levantamento da situação dos Venezuelanos em Açailândia, datado de Fevereiro deste ano, encontramos treze famílias de um total de sessenta e uma pessoas que estabeleceram-se no bairro Capeloza, município de Açailândia, faz por volta de dois meses. Esse número coincide com o maior grupo de Warao que passou em Palmas em Março. Pelas últimas notícias, se soube que esse grupo, agora no mês de Maio, aumentou para noventa e seis Warao.

A presença dos Warao em Recife, teve seu auge bem no inicio de 2020, quando a Prefeitura cadastrou cento e quarenta e quatro Warao em sua base de dados. Eles estavam organizados em trinta grupos familiares. Em Fevereiro, no entanto, possivelmente no período em que o grupo de Eliazar chegava la, esse número já havia caído para apenas trinta e cinco adultos, sendo que vinte e quatro deles acompanhavam o aidamo e professor José Baez e onze, o já conhecido aidamo Santo Tobá[40], que como vimos já perfazia um recorde de sedentarismo Warao, por volta de seis meses em Recife.

Em Março temos notícias que os aidamo Guando R. Antonio, Jhony José Mata e Santos Tobá estão conversando com as Pastorais Sociais e se dividem em duas casas alugadas, ambas no Centro da cidade. Em inicio de Maio um Warao de 81 anos faleceu de Coronavírus na Rua dos Prazeres[41] e algumas semanas depois essa mesma residência pegou fogo[42]. De acordo com relatório da vistoria realizado pela Defesa Civil, o incêndio foi devido a “explosão de botijão de gás” afetando a “rede elétrica do imóvel” (PREFEITURA DE RECIFE, 2020).

Todas essas divisões de grupos Warao, citados até agora, nos coloca frente a dupla dúvida, já apontada por Pierre Clastres, de, por um lado, entender como essas unidades familiares se relacionam entre si; e de outro, sobre como essa familia estendida ou alargada se articula em regras residenciais. Talvez pudéssemos pensar que as kitnets funcionariam como comunidades de residência numa grande casa ou maloca coletiva e que ali aquele conjunto de parentes trabalharia em solidariedade sob a autoridade politica de um ou dois aidamo, representantes do grupo. No entanto, na prática, os deslocamentos e formação de grupos Warao descritos nesse trabalho parecem corresponder aqueles meios que desenvolveram as sociedades indígenas para controlar ou impedir o crescimento de sua população, tal como já notava Clastres:

o que não deixa de acontecer é que a autoridade, longe de ser única, de algum modo se retalha e torna-se múltipla; que, ao conservar o seu próprio líder, cada família alargada traduz a sua vontade de manter, de maneira mais ou menos acentuada, a sua identidade (CLASTRES, 2003: 57)

RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

Ao analisar o histórico de atendimento aos índios Warao produzido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, pode-se conhecer os dois grupos que chegaram àquela cidade a partir de meados de Janeiro. O primeiro grupo do aidamo Estevan José Mata Mata já tinha passado por Manaus (AM), Porto Velho (RO)[43] e Brasília (DF) e, como de costume, ficou acampado junto com sua mulher e três filhos próximos a rodoviária Novo Rio para depois ser transferido para o Centro de Acolhimento Maria Teresa Vieira (UMRS Maria Tereza). Quatro dias depois chega na cidade novo grupo familiar composto por quatro adultos dizendo que além do trajeto anterior havia permanecido também um dia em São Paulo. Mais recentemente, eles foram levados para o Japeri.

O segundo, foi um grupo de treze pessoas sob a interpretação do aidamo Jerônimo Pocatera. Esse grupo se recusou a ser abrigado, reclamando da alimentação, permanecendo em situação de rua, se deslocando, posteriormente, foi para a região de Campinas e Hortolândia (SP). Segundo Relatório Social da Cáritas-RJ, primeira instituição que fez contato com o grupo de Pocaterra: "Contaram que além do grupo de treze pessoas que já está no Rio, hoje chegariam mais oito pessoas, vindas de Brasília, e que no total o grupo conta com quarenta pessoas, que pretendem se reunir e permanecer juntos” (CÁRITAS, 2020: 2). De fato, na lista de Warao que encontramos no relatório do histórico de atendimento dos Warao em Fevereiro, a familia de Pocatera aparece com 22 pessoas, mas a história que ele contou para a Prefeitura do Rio, é no entanto, um pouco diferente. Disseram que tinham o “objetivo de conseguir recursos financeiros para retornarem a Brasília, para de lá, seguirem viagem até o destino final que seria a Venezuela” (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2020). O grupo que chegou no interior de São Paulo vindos do Rio de Janeiro, era composto de dezesseis pessoas e, em Março, já havia sido abrigado pela igreja Congregação Cristão do Brasil no bairro Jardim Nova Europa, em Hortolândia. Segundo um Jornal local o líder desse grupo de quatro casais seria Miguel Antonio Quijada Lorenzano que “percorreu cidades como Manaus, Itaquatiara, Vilhena, Cuiabá, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro”[44]. Em Campinas, o serviço do imigrante da Prefeitura tinha registrado a presença de quarenta e dois indígenas Warao, nessa época. Ainda assim, o trânsito entre Campinas e Hortolândia é frequente. Eles moram em Hortolândia e fazem a “coleta” nas principais vias de Campinas.

OS WARAO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL

No final de Setembro os primeiros grupos Warao chegam no Acre. Uma família de onze pessoas, incluindo uma gestante, parece que escolheu de propósito fazer a “coleta” bem próximos a Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres, na Av. Ceará, bairro Estação Experimental. O Relatório sobre os Warao em Rio Branco confeccionado pelo CIMI, diz que três semanas depois da chegada de dois casais de idosos, incluindo o Sr. Damason seu genro e seu sobrinho, cada duas semanas chegam mais familias ligadas a Damason até atingir o número de setenta pessoas no final de novembro de 2019 (CIMI, 2020: 2). Três famílias ligadas ao aidamo Asunilio aproveitaram o final do ano e foram passar o Natal em Cruzeiro do Sul/AC[45] mas voltaram logo ajudadas pela Prefeitura daquela cidade.

Desde a Venezuela, eles vieram de ônibus durante todo o caminho passando por Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Porto Velho (RO) indicando que esse grupo tomou outra rota; preferiu pegar a BR-319 direto para Rondônia e depois Acre (DIVAL, 2019: 99), não passando pelo Pará, nem Nordeste. Dival dá a entender que esse grupo Warao que hoje está em Rio Branco saiu mais tardiamente da Venezuela e decidiu seguir para a Amazônia Ocidental ao perceber que tanto Boa Vista como Manaus já estavam superlotados de imigrantes. É possível, no entanto que essas famílias Warao já estivessem em Manaus desde as primeiras entradas e vendo que o fluxo ia mais além decidiram também se arriscar pelo Brasil afora. Ainda assim, pesquisas mais aprofundadas são necessárias para se entender as diversas levas de migrações Warao para o Brasil e as rotas que os diversos grupos tomaram.

As informações mais atualizadas que temos dos Warao no Acre são as encontradas no relatório demográfico do CIMI. Atualmente, em Rio Branco, habitam dezesseis famílias e setenta e uma pessoas divididas por três espaços. Quando chegaram, um grupo de quatro famílias ficou hospedado em uma casa de madeira cedida pela Cáritas próxima ao Centro; que também alojava migrantes não-indígenas de outros países. Em um quarto moravam oito pessoas juntas. Entre Março e Abril, um total de 65 pessoas foram abrigados na Escola Campos Pereira, que fica no longínquo bairro da Cidade do Povo. Entretanto, quinze dias depois, o grupo se dividiu em dois: 28 pessoas, seis famílias, ainda permaneceram na Escola, enquanto que um grupo maior de 42 pessoas, dez famílias, voltou para o bairro da Base. Os que permanecera foi o grupo liderado por Jesus Zapata e inclui as famílias Moreno, Rojas, Zapata, Navarro, Beria, Beria Beria, Moreno Moreno, Moreno Beria, Coromoto,

Os que voltaram para o bairro vivem com o aidamo Muchilon Garcia Arazuri casado com outra parte da família Zapata auxiliadas pelo tradutor Alexis Rivero. Mesmo voltando junto para o mesmo bairro, essas dez famílias ainda se dividiram novamente, ficando seis famílias, um total de vinte pessoas em quatro quartos de pensão e as outras quatro famílias com um total de vinte e três pessoas, ocupando um prédio abandonado ao lado (CIMI, 2020: 9).

O Relatório do CIMI ainda aponta que "entre janeiro e fevereiro uma família retornou para Venezuela; uma família migrou para Goiania/GO e o casal sr. Alvaro e sra. Adela que em outubro foram para Venezuela, retornaram com 03 filhas e suas respectivas famílias” (CIMI, 2020: 7). A família que foi para Goiânia é a de Asunilio, o mesmo que foi passar o Natal no Juruá. De acordo com recomendação conjunta expedida pelo MP-GO e MPF pra a prefeitura de Anápolis, trinta e três Warao estão abrigados na Igreja Assembléia de Deus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não foi preciso muito tempo para que, depois de os peritos responsáveis iniciarem as entrevistas e aplicação de questionários junto aos indígenas Warao, no inicio de 2018, se dessem conta da impraticabilidade de realizar a demanda pericial formulada pelo MPF, qual seja, de um censo e perfil migratório dos indígenas Warao que, naquele momento, já se espalhavam pelos estados de Roraima, Amazonas e Pará, nessa ordem. É impraticável traçar uma lógica coerente e cronológica de chegada e saída dos Warao de algumas cidades, não só porquê nem sempre as respostas dadas aos censeadores são, de fato, as verdadeiras atitudes e movimentos tomados pelos grupos e famílias Warao, mas também porquê um censo pressupõe o registro e a obtenção de informações de “todos” os indivíduos ao mesmo tempo, sem subnotificações ou duplicações, tarefa complicada em função do movimento orbital entre o dormir e o “coletar” nas cidades. De acordo com o Parecer Técnico, “a dinâmica de mobilidade Warao, marcada por deslocamentos constantes entre as cidades brasileiras e a Venezuela, torna esse registro total praticamente impossível” (MPF, 2018: 3). Tal qual as aldeias Mbyá do litoral Sudeste, percebe-se, em um espaço de tempo relativamente curto, que a população pode oscilar consideravelmente, uma vez que os indígenas não permaneciam o tempo todo nos mesmos locais. Bem como os documentos oficiais usados para obter as informações mostradas neste artigo; os censos Warao envelhecem muito rápido. A listagem dos beneficiários ou o levantamento das famílias que se tinha a um mês atrás, agora já está desatualizada.

Segundo informações coletadas das unidades descentralizadas da FUNAI em Abril de 2020, verificou-se a existência de grupos Warao em 17 (dezessete) das 39 (trinta e nove) Coordenações Regionais (CRs). Em Outubro, a FUNAI recebeu 25 (vinte e cinco) respostas das CRs ao questionário sobre atendimento das demandas relacionadas a presença de indígenas venezuelanos, concluindo que os grupos geralmente variam em torno de algumas dezenas de pessoas e que os Warao se deslocam com suas famílias estendidas, sendo comuns os intercâmbios entre famílias de grupos distintos, apesar de haver registros de deslocamentos de grupos familiares pequenos. Sabendo que tais localidades não representam o “número total de cidades pelas quais indígenas Warao passaram ou se instalaram, referindo-se apenas às cidades em que as CRs instruíram processos sobre a presença Warao” (FUNAI, 2020a) é possível afirmar que “o número de indígenas reportados pelas CRs está muito aquém do indicado pelos censos de outras organizações, o que revela que potencialmente as unidades descentralizadas da FUNAI não tem tido maneiras de acompanhar de perto a migração indígena Venezuelana pelo Brasil” (FUNAI, 2020b).

Vimos também que apesar de só estarem, oficialmente, registrados no Piauí, os agrupamentos indígenas Warao poderiam, virtualmente, estar em qualquer uma das cidades descritas acima pelas quais eles passaram, seja no Nordeste ou pela Amazônia. O levantamento da população Warao não pode continuar sendo feito isoladamente por cada Estado correndo o risco de aniquilar a história de vida desses indígenas, história essa, que os fez estar ali, naquele momento, naquela situação. Ao invés disso, torna-se mais efetivo se feito através de genealogias de maneira a detectar os intercâmbios que existem entre os grupos familiares na Venezuela e no Brasil.

A intensa mobilidade dos indígenas Warao tem, por um de seus efeitos, despistar os mecanismos censitários das organizações e dos estados impedindo-os de ter uma visão totalizadora da situação, minando assim, qualquer capacidade das politicas públicas para supri-los, abrindo uma brecha para que eles continuem angariando recursos em conversas multilaterais.

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Notas

[2] Warao originários do Caño Winikina, no baixo Delta do Orinoco, nordeste da Venezuela.
[3] Processo e Assistência Jurídica - PAJ 2017/003-02202
[4] Recomendação no 044/2017. 27 de setembro de 2017
[5] Recomendação no 045/2017. 27 de setembro de 2017
[6] MPF, DPU e DPE Pará. Ação Civil Pública. Disponibilizar, de imediato, abrigo emergencial, provisório e adequado aos indígenas Warao, migrantes da Venezuela, em Belém/PA. 29 de setembro de 2017. 19 pp.
[7] Prefeitura Municipal de Belém. Fundação Papa João XXIII (FUNPAPA). “Plano para Atendimento Intersetorial…”. 2018. 10-11.
[8] Recomendação no 34/2019. Belém/PA. 11 de outubro de 2019.
[9] MPF/PR - Pará/Castanhal. Relatório Circunstanciado de Diligência Externa PR-PA No 00043/2019.
[15] Prefeitura Municipal de Monte Alegre. Decreto n. 256/2019.
[21] Parecer DPA/CNP/SPPEA no 1127/2020
[22] MPF/Marabá/PA. Ata de Reunião. Ref. 1.23.001.000329/2020-62. 9 pp.
[23] A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) possui um GT de Mobilidade no qual participam grupos Guarani e Kaingang.
[24] Displacement Tracking Matrix, veja: https://dtm.iom.int/brazil
[28] O abrigo do CSU Buenos Aires é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (SEMCASPI)
[30] Parecer DPA/CNP/SPPEA no 1127/2020.
[31] “Imigrantes venezuelanos recebem moradia e assistência para se proteger do coronavírus”. Ana Carolina Guerra, Diário de Pernambuco. 30/04/2020.
[32] https://marcozero.org/waraos-no-recife/ (acessado em 01/05/2020).
[33] Junto com Centro Pop, Programa Ruanda e Unidade de Acolhimento Irmã Zuleide Porto (REDE, 2020: 32)
[35] A questão da alimentação para os Warao exige um artigo a parte. Eles já tiveram várias experiências com isso desde poder cozinhar seus próprios peixes no fogo como no abrigo de Yanokoida, até o extremo de receber Coca-Cola e Marmitas em João Pessoa.
[38] Informação pessoal Valdeir, CREAS Palmas.
[40] DPE realiza visitas a abrigo para venezuelanos e ambulatório LGBT - ANADEP - Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos(acessado em 01/05/2020)
[43] Onde algumas crianças foram cadastradas na Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho.


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