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A Praça Vinte de Julho como importante elemento da paisagem urbana da pequena cidade de Montanhas-RN
The Vinte de Julho Square as an important element of the urban landscape of the small town of Montanhas-RN
La Plaza Vinte de Julho como elemento importante del paisaje urbano del pequeño pueblo de Montanhas-RN
Revista Presença Geográfica, vol. 08, núm. 01, 2021
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Revista Presença Geográfica
Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil
ISSN-e: 2446-6646
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 08, núm. 01, 2021

Recepção: 13 Abril 2021

Aprovação: 03 Agosto 2021

Resumo: A praça se constitui numa das formas urbanas mais importantes da cidade, por concentrar significativa parcela da população que nela se reúne para conversar ou se divertir em dias festivos. E como espaço de uso coletivo apresenta cotidianamente função social, uma vez que tornou-se um lugar de encontro e de manifestações culturais. Partindo disso, teve-se como objetivo neste trabalho abordar o uso e as funções que a Praça Vinte de Julho, localizada no centro da cidade de Montanhas-RN, desempenha no espaço urbano. Para tanto, além das referências utilizadas, como dissertações, teses, livros e artigos científicos, realizou-se também uma pesquisa de campo, a fim de analisar a dinâmica que a praça exerce enquanto forma urbana que expressa funcionalidade no contexto da cidade. Foram aplicados 80 questionários visando identificar os motivos pelos quais costuma-se frequentar esse espaço que integra a paisagem urbana local. Pela análise da pesquisa, constatou-se que a busca pela praça se dá por diferentes razões, dentre as quais, as festividades, as manifestações políticas e ainda por se constituir como espaço de lazer, durante a noite, e como lugar de circulação de pedestres, no qual é possível realizar caminhadas.

Palavras-chave: Praça, Espaço urbano, Manifestações culturais.

Abstract: The square is one of the most important urban forms in the town, as it concentrates a significant portion of the population that gathers there to chat or have fun on festive days. And as a space for collective use, it has a social function in day life, as it has become a meeting place and cultural manifestations. Based on this, the objective of this work was to approach the use and functions that Vinte de Julho Square, in the center of Montanhas-RN, plays in the urban space. Therefore, in addition to the references used, such as dissertations, thesis, books and scientific articles, a field research was also carried out in order to analyze the dynamics that the square exerts as an urban form that expresses functionality in the context of the town. 80 questionnaires were applied in order to identify the reasons why it is customary to attend this space that is part of the local urban landscape. By research analysis, it was found that the choice by square occurs for different reasons, among which, the festivities, political demonstrations and also because it constitutes a leisure space, at night, and a place for pedestrians to circulate in the which is possible to go hiking.

Keywords: Square, Urban space, Cultural manifestations.

Resumen: La plaza es una de las formas urbanas más importantes de la ciudad, ya que concentra una parte importante de la población que se reúne allí para charlar o divertirse en los días festivos. Y como espacio de uso colectivo, tiene una función social en el día a día, ya que se ha convertido en un lugar de encuentro y manifestaciones culturales. Basado en esto, el objetivo de este trabajo fue acercar el uso y las funciones que la Praça Vinte de Julho, ubicada en el centro del pequeño pueblo de Montanhas-RN, desempeña en el espacio urbano. Por ello, además de las referencias utilizadas, como disertaciones, tesis, libros y artículos científicos, también se realizó una investigación de campo con el fin de analizar la dinámica que ejerce la plaza como forma urbana que expresa funcionalidad en el contexto de la ciudad. Se aplicaron 80 cuestionarios con el fin de identificar las razones por las que se acostumbra frecuentar este espacio que forma parte del paisaje urbano local. A través del análisis de la investigación, se descubrió que la ida a la plaza se da por diferentes motivos, entre los cuales, las festividades, manifestaciones políticas y también porque constituye un espacio de ocio nocturno y un lugar para que los peatones circulen y hagan caminatas.

Palabras clave: Plaza, Espacio urbano, Manifestaciones culturales.

1 INTRODUÇÃO

A praça pública é um importante referencial urbano que compõe a estrutura e a vida social da cidade, tendo em vista ser um lugar de convivência e sociabilidade, em virtude das suas características físicas que se destacam na paisagem e desempenham uma função estética e ambiental no espaço. Nesse sentido,

A função da praça quebra a monotonia da paisagem da cidade emoldurada pelas edificações, possibilitando a interação das atividades humanas e do meio ambiente, portanto desempenhando sua função estética, ambiental e social. Trata-se, pois, sem dúvida, de um espaço de lazer e de embelezamento do espaço urbano frente ao concreto das edificações ─ um espaço de fuga da monotonia do dia a dia (BOVO; HAHN; RÉ, 2016, p. 454).

Ademais, pode ser vista como um espaço livre que faz parte do tecido urbano da cidade, destinado ao lazer e aos eventos culturais proporcionados pela sociedade, por ser um lugar de concentração e de circulação, em função da atratividade que apresenta, seja pela sua forma urbana, seja pelos jardins que embelezam a área na qual está localizada.

A Praça Vinte de Julho, situada no espaço urbano do município de Montanhas, estado do Rio Grande do Norte, foi inaugurada no dia 20 de julho de 1995 e sempre foi um marco em termos de ser um dos locais para onde a população costuma frequentar, já que a cidade oferece poucos espaços, cuja infraestrutura tenha atratividade e possibilite momentos de interação, diversão e lazer (Figura 1).


FIGURA 1
Localização da Praça Vinte de Julho na área urbana do município de Montanhas-RN
Fonte: IBGE, 2019, Google Earth Pro, 2020

Dessa forma, a praça se destaca no centro da cidade como importante elemento da paisagem urbana, apropriada para uso coletivo, especialmente por apresentar características típicas do cotidiano de uma pequena cidade.

A pequena cidade de Montanhas possui uma população urbana de 8.870 habitantes (IBGE, 2010), que utilizam, entre outros lugares públicos, a praça. Esta, além de compor a morfologia urbana, tornou-se também um espaço de centralidade, destinado a concentração de pessoas e as interações sociais.

Nesse contexto, a praça se constitui numa unidade urbana dinâmica, configurando-se como um espaço onde se estabelece relações sociais através do encontro e das atividades culturais e cívicas. Além disso, exerce significativa relevância para a cidade, uma vez que sua estrutura física se consolida como elemento histórico que retrata o cotidiano local.

Nessa linha de raciocínio, Soriano (2006) afirma que a praça pode ser considerada como espaço de encontro e reuniões, local das festas profanas e religiosas, onde ocorrem ainda manifestações políticas e culturais, sendo também palco e cenário da vida cotidiana de uma determinada sociedade capaz de aglutinar e registrar estilos e modismos de cada época.

No entanto, apesar da praça pública sofrer modificações ao longo do tempo no que tange à sua função (estética, simbólica e social) e ao seu uso (encontro, espetáculo, comércio e manifestações culturais), assim como em sua forma, ela permanece como lugar de encontro, de circulação de pessoas e de convivência (BOVO; HAHN; RÉ, 2016).

Baseado nesse pressuposto, buscou-se neste trabalho discutir sobre usos e funções da praça enquanto forma material geradora de processos sociais construídos historicamente e que retratam a vida urbana local. Para isso, utilizou-se como metodologia referenciais teóricos pertinentes à temática proposta, bem como ainda a aplicação de questionários através da pesquisa de campo, a fim de verificar a importância que a praça tem para a população que costuma frequentar esse ambiente como espaço de socialização.

2 A PRAÇA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE SOCIABILIDADE

As formas urbanas constituem a paisagem cultural transformada pela sociedade. Esta modifica o espaço segundo suas necessidades, e essa dinâmica é resultante da intensa e constante evolução capitalista com reflexos na economia e na organização territorial e funcional da cidade. E esta funcionalidade depende da diversidade de configurações urbanas existentes onde “observa-se que a praça se apresenta como um lócus privilegiado da cidade, sobretudo pelo seu caráter de espaço multifuncional (CALDEIRA, 2007, p. 4).

Nesse sentido, as praças apresentam importante destaque no cenário urbano da cidade, constituindo-se como local que retrata a vida urbana contemporânea, bem como ainda preserva valores históricos através de sua arquitetura representada pelas formas materiais que compõem sua estrutura. Daí, porque qualquer política de intervenção nesse espaço deve considerar a cultura local, buscando preservar seu significado enquanto elemento da paisagem urbana que faz parte da vida da sociedade.

Em face disso, ao se planejar e viabilizar a construção de praças públicas, estas devem estar integradas às demais áreas que compõem a morfologia da cidade, onde seu desenho urbano precisa possibilitar acesso e funcionalidade, pois por mais que tenham ocorrido mudanças nos hábitos e cotidiano das pessoas, elas continuam como locais destinados ao lazer, ao descanso e ao encontro. Além disso, são

unidades urbanísticas fundamentais para a vida urbana, configurando-se como locais para a prática de lazer passivo e ativo, além de servirem ao encontro e à convivência das pessoas e às atividades culturais e cívicas. Têm presença marcante na composição das cidades, levando-se em consideração sua diversidade e seu uso pela população, representando importantes elementos, tanto históricos como culturais (SILVA; LOPES; LOPES, 2011, p. 199).

Diante disso, entende-se que as praças se configuram como espaços de múltiplas relações, estabelecidas cotidianamente pela população, devido serem elementos fixos com diversas funções, onde se desenvolvem atividades que geram fluxos desencadeados pela dinâmica urbana local. Essa dinâmica decorre da necessidade da sociedade em dispor de ambientes livres, ou seja, lugares de vivências, de convergência e de centralidade, onde se expressam relações, usos e funções que refletem a organização espacial urbana, principalmente na cidade pequena. Sendo esta compreendida

[...] como uma das dimensões socioespaciais, geradas pelo processo histórico de produção do espaço urbano e regional. As dimensões espaciais, o número de habitantes, a pouca diversidade de funções urbanas, a dependência de um centro maior, a temporalidade lenta, a relação com a vida rural e a proximidade entre as pessoas são os principais elementos que caracterizam as cidades pequenas (GONÇALVES, 2005, p. 20).

Ademais, ao estudar sobre as cidades pequenas, Coutinho (2011, p. 102) aponta que não se deve levar em conta apenas o aspecto populacional referente ao número de habitantes. Tal critério, segundo ele, “é um caminho, entretanto, não pode engessar as discussões e análises, visto que a vida de relações presente em cada localidade torna-se mais relevante para definir a realidade e o contexto urbano da cidade”.

Seguindo essa linha de pensamento, entende-se que essas cidades precisam ser analisadas a partir de suas singularidades, considerando sua infraestrutura em termos de equipamentos sociais urbanos, incluindo, neste caso, a praça pública enquanto forma estruturada para atender diferentes usos decorrentes da vida urbana contemporânea. E, embora algumas praças apresentem transformações em sua fisionomia arquitetônica, devido às mudanças implementadas pelo poder público, permanecem como áreas de confluência de pessoas.

Assim, ao se abordar sobre praças públicas não se pode perder de vista os processos geradores de sua centralidade e os reflexos das relações intraurbanas em escala local, considerando o que ela representa para a população, enquanto mobiliário urbano onde prevalecem interações sociais. Pois,

a praça pública é uma forma de integração do espaço urbano e que [...] constitui local de destaque na história da cidade. A história da praça é parte destacada da história da própria cidade, por ser espaço que representa a vida cotidiana da população, é ponto de encontro de manifestações culturais, artísticas ou, simplesmente, espaço de lazer. A praça é uma das principais referências de centralidade da pequena cidade, em muitos casos congregando em seus arredores o comércio e os serviços mais importantes da vida comunitária (BOVO; HAHN; RÉ, 2016, p. 432).

Nesse contexto, parte-se do pressuposto de que a praça, por atuar algumas vezes como espaço que exerce centralidade urbana, torna-se um elemento de destaque não só por concentrar pessoas, mas por ser ponto de referência na paisagem urbana da cidade pequena.

Segundo Santos (2014), a paisagem existe através das formas criadas em momentos históricos diferentes, mas coexistindo agora. As formas de que se compõe a paisagem preenchem as necessidades atuais da sociedade. Tais formas nasceram sob diferentes necessidades, emanaram a partir da realidade vivenciada a cada período, mas só as formas mais recentes correspondem a determinações da sociedade atual.

As transformações sucessivas pelas quais passam a cidade são resultantes da aceleração da vida urbana contemporânea que impulsiona grandes transformações no espaço e, por conseguinte, nas praças. Estas adquirem mudanças nas formas, mas o mais importante é se essas mudanças estão atreladas a uma melhor qualidade ambiental, seja com relação a uma temperatura mais agradável na área, seja no que diz respeito à proteção do solo, tendo em vista que a vegetação da área servirá de proteção contra a erosão. Assim,

[...] as praças, sob a perspectiva ambiental, são vistas como espaço público fundamental para a qualidade de vida e da paisagem urbana. São também percebidas como lugares onde as relações sociais são firmadas, além de reforçarem os aspectos da identidade cultural e da memória. Destacam-se na paisagem da cidade e possuem extrema relação com a qualidade de vida e com a dinâmica de ocupação do território, criando possibilidades para a vivência coletiva sendo, portanto, o lugar onde as atividades e trocas sociais acontecem (MENEZES; MENDONÇA; TÂNGARI, 2017, p. 83-84).

Por outro lado, sua funcionalidade deve ser marcada por opções que atendam diferentes necessidades de lazer em consonância com a realidade sociocultural da cidade. Sobre esse aspecto, as praças geralmente trazem em sua arquitetura obras de artes diversificadas, inclusive, por vezes, com personalidades políticas de relevância local, como forma de homenagem por ter ocupado alguma posição no poder legislativo ou executivo municipal. Portanto,

A estrutura das praças relaciona-se as principais atividades que nela se desenvolvem, logo se a praça faz parte do centro comercial da cidade, nela se verifica uma estrutura econômica; se a praça apenas funciona como uma área verde, ela possui uma estrutura ambiental; se ela é representação histórica, cultural ou artística, as respectivas estruturas serão, então, ligadas predominantemente à história, cultura ou arte no espaço manifestado (CHAVES; AMADOR, 2015, p. 1709).

Nesse sentido, a paisagem criada para valorizar o passado servirá como elemento histórico presente na memória da cidade. Por isso, o espaço que compreende a praça precisa ser bem planejado e estruturado, de modo a preservar a cultura local, mantendo seu valor estético e o de lugar onde se intensificam as relações interpessoais, uma vez que, como equipamento urbano, representam ambientes de sociabilidade.

Na cultura ocidental, tais espaços têm desenvolvido papel essencial enquanto símbolo urbano, palco de diversos eventos, espaço agregador e local de confluência. Sendo, portanto, elementos permanentes na história das cidades, uma vez que tanto sua função como a morfologia estão atreladas aos processos de formação política, social e econômica próprios da gênese urbana (CALDEIRA, 2007).

Partindo disso, compreende-se que as praças são locais de convergência de pessoas de diferentes faixas etárias e origens culturais, portanto, um espaço de uso coletivo, cuja estruturação explica sua organização física e retrata sua função como ambiente plural no que tange à possibilidade de acesso a todos, mesmo que pertençam a diferentes classes sociais.

Dessa forma, ela não apenas proporciona momentos de lazer, descanso e passagem para os pedestres, como cumpre função social na cidade pequena, uma vez que se constitui num lugar público utilizado por crianças, jovens, adultos e idosos. Por isso,

a essência e a dinâmica do espaço urbano se constroem com base nas diferenças dos grupos sociais que o constituem, sendo a praça uma amostragem bastante significativa disso, por ser um logradouro público que permitem o encontro de crianças, jovens e inclusive idosos (DEPOLLO; BOVO, 2020, p. 49506).

Em muitas cidades, a praça se configura como um ponto estratégico para as interações sociais. E, neste sentido, pode ser considerada como um espaço livre do tecido urbano a ser utilizado tanto para o lazer como para a sociabilidade da população.

Ademais, ao contrário do que se imagina, a praça numa pequena cidade tem papel fundamental. A população considera ser a praça espaço de centralidade, tanto espacialmente, quanto simbolicamente, pois além do lazer e do convívio social, a praça também se configura como espaço de ações políticas e culturais, sendo assim vista na pequena cidade como simbolismo cultural presente no imaginário coletivo da sua população (BOVO; HAHN; RÉ, 2016).

Sob esse olhar, a praça pode ser compreendida como espaço de sociabilidade e de manifestações diversas, como as festividades e os eventos políticos, tendo em vista ser o local de destino para onde moradores e visitantes geralmente frequentam, principalmente nos dias de maior atratividade decorrente da funcionalidade das atividades que estejam sendo desenvolvidas.

Nessa linha de raciocínio, entende-se que as praças continuam sendo espaços de referência e, dessa forma, uma cidade ambientalmente saudável deve valorizá-las e assegurá-las como elemento que compõe a vida urbana da cidade. Assim, são os “espaços públicos da cidade – calçadas, ruas, praças e parques – que garantem “vida” às cidades. Em centros urbanos bem-sucedidos as praças são componentes-chave que compõem o espaço público” (SILVA; LOPES; LOPES, 2011, p. 210).

Nessa perspectiva, as praças podem ser definidas como formas urbanas que pela sua dinâmica funcional expressa relevante papel no contexto da cidade e, por isso, o setor público deve priorizar políticas que valorizem esse espaço como patrimônio paisagístico e cultural, além de lócus de sociabilidade com melhor qualidade de vida urbana para a população.

3 A PRAÇA VINTE DE JULHO COMO SÍMBOLO DE EXPRESSÃO CULTURAL NA CIDADE

A praça é um importante espaço público frequentado diariamente pelas pessoas da cidade, seja para conversar, divertir-se ou simplesmente para passar alguns minutos ou horas. Por isso, deve ser vista como um lugar único, singular e que faz parte da história da cidade. Sendo, na concepção de Soriano (2006) um lugar de grande relevância para a cidade, bem como também para o cidadão, considerando o seu caráter de encontro, no âmbito da vida pública, além de ser espaço das ações do cotidiano, sejam estas sociais, culturais ou políticas.

Dessa forma, pode-se afirmar que uma praça numa cidade pequena apresenta uma maior apropriação por parte da população devido às funções que desempenha, dentre elas, a social, diferenciando-se da grande cidade, onde se tem muitas praças com diferentes usos e funções. Na cidade pequena, a praça geralmente encontra-se localizada no centro, sendo o principal ponto de encontro de sua população, uma vez que no entorno da praça se concentram atividades comerciais e na maioria das vezes ali estão instalados os órgãos públicos municipais (BOVO; HAHN; RÉ, 2016).

Assim, deve-se reconhecer o papel social que as praças exercem no âmbito do espaço urbano e de sua organização territorial. Essa complexidade, segundo Depollo e Bovo (2020) pode ser entendida a partir do espaço urbano quando se direciona o olhar para as praças, observando-se ainda suas diversas morfologias e as relações sociais desencadeadas pelos atores que compõem o cotidiano urbano. Logo,

É conveniente lembrar [...] que o espaço urbano é um reflexo, tanto de ações que se realizam no presente, como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais presentes. Nesse sentido o espaço urbano pode ser o reflexo de uma sequência de formas espaciais que coexistem lado a lado, cada uma sendo originária de um dado momento (CORRÊA, 2005, p. 148).

Neste contexto, entender como se configura a praça pública significa refletir sobre os processos e formas que constituem o espaço urbano, considerando as transformações no âmbito da dimensão físico-espacial da cidade, como também as mudanças no cotidiano urbano a partir das funções e do uso dado a esse espaço público.

Assim sendo, em muitas cidades, a praça representa uma ruptura no tecido urbano, tornando-se um ponto nodal para as práticas sociais. E em razão de seu caráter integrativo, pode-se defini-la como espaço de convergência de pessoas e de centralidade, tendo em vista sua importância enquanto espaço referencial da paisagem urbana que tende a concentrar atividades, usos e funções (ECKER, 2020). Entre estas funções,

[...] pode-se ressaltar: espaços para a circulação, o encontro e o convívio, manifestações populares, atividades culturais, educativas, espetáculos, esporte, lazer, e a contemplação, entre outros. Cada praça pode desempenhar mais de uma função, isto depende da apropriação do espaço e do convívio social (MINDA, 2009, p. 41).

Em relação à Praça Vinte de Julho, pode-se constatar mais de uma função, seja como espaço de encontro, lazer ou de diversas atividades culturais. Outro dado relevante refere-se ao fato de que os frequentadores da área não são apenas do centro, mas também de outros bairros. E apesar de outras pequenas praças comporem a estrutura urbana da cidade, elas não têm a mesma dinâmica e centralidade.

Ademais, pode-se evidenciar que o fato de haver maior número de frequentadores na Praça Vinte de Julho, está atrelado à maior funcionalidade do espaço no qual está situada, onde há a presença de atividades terciárias, como lojas, óticas, bares e pequenas lanchonetes em vias urbanas próximas. Essas vias, segundo Coutinho (2013), além de serem mais dinâmicas, apresentam singularidades que as diferenciam das demais, considerando a intensidade dos fluxos na área, o que as consolidam como importantes eixos viários que concentram funções urbanas, referentes ao setor terciário. Nelas, viabilizam-se com maior facilidade as manifestações culturais e a funcionalidade das atividades desenvolvidas.

Essas atividades geralmente são impulsionadas pela dinâmica local e pela infraestrutura da praça, conforme expresso nas figuras 2, 3, 4 e 5 que apresentam as formas urbanas desse importante equipamento urbano.


FIGURAS 2 e 3
Partes da Praça Vinte de Julho
Fonte: Acervo do autor, 2021


FIGURAS 4 e 5
Partes da Praça Vinte de Julho
Fonte: Acervo do autor, 2021

A praça é um dos pontos de referência mais conhecido por estar no centro da cidade e por ser uma área circundada por vias nas quais ocorrem grandes eventos festivos e políticos que concentram significativa parcela da população que costuma frequentar o local.

Durante a pesquisa de campo foram aplicados 80 questionários, visando identificar os motivos pelos quais as pessoas frequentam a praça pública do centro da cidade, conforme expresso na figura 6.


FIGURA 6
Motivos que levam as pessoas a frequentarem a Praça Vinte de Julho
Fonte: Pesquisa de campo, 2021

Pela análise da figura, fica evidente que a praça exerce centralidade no contexto da cidade, sendo palco de diferentes funções, tendo em vista o fluxo de pessoas impulsionado pela dinâmica das atividades desenvolvidas.

A pesquisa revelou que as pessoas frequentam a praça por diferentes razões, dentre as quais, as festividades que ocorrem na área, seja durante períodos de emancipação do município, seja devido as manifestações políticas ou ainda como espaço de lazer, durante a noite, e como lugar no qual é possível realizar caminhadas.

A Praça Vinte de Julho tornou-se uma referência urbana, seja pelas suas formas, seja pelas funções que desempenha, tanto no aspecto estético quanto social. Assim, deve-se reconhecer que ela não é apenas um equipamento urbano que faz parte da estrutura e organização territorial da cidade, mas também um espaço público onde se promove a sociabilidade.

Desse modo, pode-se afirmar que a praça é um lugar coletivo onde ocorre o encontro de jovens, as brincadeiras de crianças e as conversas do dia a dia dos adultos, que passam alguns minutos ou horas no local. Sendo, portanto, “um espaço de livre acesso, de caráter público com um amplo sentido sociocultural, arraigado aos hábitos, costumes e usos do povo” (MINDA, 2009, p. 52).

Nessa perspectiva, a praça se caracteriza como um elemento da paisagem urbana que exerce importante papel na consolidação das relações sociais. Tais relações são intrínsecas ao contexto histórico e cultural da cidade, marcado por tradições que permanecem no cotidiano local. Sendo assim,

A permanência, na praça, é potencializada pelas condições de conforto e pela existência de elementos urbanos que garantam a escala humana dos espaços, resultando em configurações que favoreçam e estimulem o contato. Também é reforçada pela frequência e repetição dos eventos. A regularidade na frequentação estabelece padrões de uso e comportamento, nos quais os usuários, familiarizados com o lugar, contribuem para sua conservação. As pessoas tendem a preferir locais onde se sintam protegidas, onde possam observar o movimento, e tendem a escolher, para permanecer, aqueles locais onde há algum elemento que lhes sirva de apoio ou referência (ECKER, 2016, p. 77).

Apesar disso, a Praça Vinte de Julho não tem tido um olhar especial por parte do poder público em relação a sua manutenção ou revitalização, visando criar alternativas nas quais estejam implícitas condições estéticas e ambientais que possibilitem ao cidadão usufruir do espaço não apenas durante a noite, mas também pelas manhãs e tardes, uma vez que há pouca arborização, o que dificulta a presença de pessoas durante o dia.

Ademais, os estudos revelam que processos de manutenção sem planejamento ou sem profissionais qualificados, não surte efeito e ainda pode descaracterizar o ambiente, sua composição florística e arquitetônica. Por essa razão, qualquer intervenção realizada nesse espaço público, os moradores devem ser consultados, afim de que se mantenha as características históricas, culturais e ambientais, garantindo assim, a identidade local. Dessa forma,

As políticas públicas urbanísticas devem preservar o patrimônio e melhorar a manutenção da infraestrutura, contemplando a qualidade ambiental, a valorização da paisagem urbana, a melhoria das condições de mobilidade e segurança. Com isso, é reforçada a função de passagem e consumo do centro da cidade, tornando as praças centrais um local de encontro de todos (SILVA; LOPES; LOPES, 2011, p. 211).

Nesse sentido, o poder público deve zelar e priorizar esse espaço que faz parte da memória e da vida cotidiana local, pois a cidade não seria a mesma sem a praça, porque lhe faltaria uma das mais relevantes formas urbanas que compõem a paisagem cultural da cidade. Por isso, deve ser um lugar atrativo, que propicie bem-estar, seja através de sua infraestrutura ou simplesmente pela possibilidade de maior sociabilidade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A praça pública numa pequena cidade é uma das áreas mais importantes do tecido urbano, podendo exercer diferentes funções, seja estética, de lazer ou ainda como espaço de interação social, já que constitui um ponto referencial, ou seja, um lugar onde a população costuma frequentar, independente das condições socioeconômicas.

A pesquisa realizada na Praça Vinte de Julho, no município de Montanhas-RN, evidenciou que em razão de poucos espaços de convivência, a praça tornou-se um lugar de referência para muitos moradores que a veem como alternativa viável para passar o tempo e/ou participar de algum evento promovido pela prefeitura.

Por meio do questionário aplicado, ficou claro que as pessoas que frequentam a praça reconhecem sua importância enquanto espaço de sociabilidade, tendo em vista ser um lugar privilegiado onde se permite a convivência, as relações sociais e, portanto, a participação democrática e cidadã nas manifestações culturais que ocorrem na área.

Ademais, em função de estar localizada no centro da cidade, ela se destaca pelo fato de, em suas proximidades, se concentrar atividades comerciais e serviços públicos e privados, o que a configura como importante elemento da organização territorial urbana e, desta forma, torna-se um espaço onde se expressa centralidade em razão de ser um ponto de concentração de pessoas.

Nesse contexto, a praça não é apenas local de festas, de encontro ou de manifestações políticas, mas sim espaço onde se entrelaçam a cultura e a história do município, que se refletem no cotidiano, seja através dos costumes ou das atividades que o poder público desenvolve na área.

REFERÊNCIAS

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Autor notes

Mestre em geografia. Professor da Escola Estadual Profª Ocila Bezerril - Ensino Fundamental e médio, Secretaria de Estado da Educação e Cultura.
[1] Mestre em geografia. Professor da Escola Estadual Profª Ocila Bezerril - Ensino Fundamental e médio, Secretaria de Estado da Educação e Cultura.


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