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O uso do aplicativo anchor na produção de um podcast como metodologia ativa e ferramenta didática no ensino superior para professores de geografia
The use of the anchor app in the production of a podcast as an active methodology and didactic tool in higher education for geography teachers
Revista Presença Geográfica, vol. 10, núm. 1, Esp., 2023
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Revista Presença Geográfica
Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil
ISSN-e: 2446-6646
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 10, núm. 1, Esp., 2023

Recepção: 12 Abril 2023

Aprovação: 12 Abril 2023

Resumo: As tecnologias de informação e comunicação (TICs) vêm sendo incorporadas nas atividades acadêmicas como meio para aproximar e integrar professores e alunos com aprendizagens mais dinâmicas. Este artigo discorre sobre o uso do podcast como metodologia ativa no processo de ensino-aprendizado com professores de Geografia do curso de pós-graduação em Geografia e tem como objetivo geral: analisar o uso do aplicativo anchor como ferramenta didática para a produção de um podcast enquanto recurso de aprendizagem para aqueles discentes. E específico: apreender a importância das metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem em especial o uso de podcasts. O método utilizado foi o fenomenológico seguido dos procedimentos: pesquisa bibliográfica e documental e entrevista com os pós-graduandos da especialização. Como resultados, constatou-se que, embora sendo uma novidade metodológica para muitos pós-graduandos foi avaliada positivamente, pois eles aprenderam a manusear um recurso didático e poderão usar em sala de aula com seus atuais e/ou futuros alunos. O podcast é um recurso que facilita a aprendizagem se trabalhado de maneira correta, com um bom planejamento, embasamento teórico, orientação técnica e acompanhamento pelo professor.

Palavras-chave: Podcast, Metodologias ativas, Ensino da Geografia.

Abstract: Information and communication technologies (ICTs) have been incorporated into academic activities as a means to bring together and integrate professors and students with more dynamic learning. This article discusses the use of the podcast as an active methodology in the teaching-learning process with Geography teachers of the graduate course in Geography and has the general objective: to analyze the use of the anchor application as a didactic tool for the production of a podcast as a learning resource for those students. And specific: apprehend the importance of active methodologies in the teaching-learning process, especially the use of podcasts. The method used was the phenomenological followed by the following procedures: bibliographical and documental research and interviews with post-graduate students of the specialization. As a result, it was found that, although being a methodological novelty for many graduate students, it was positively evaluated, as they learned to handle a didactic resource and will be able to use it in the classroom with their current and/or future students. The podcast is a resource that facilitates learning if worked correctly, with good planning, theoretical basis, technical guidance and monitoring by the teacher.

Keywords: Podcast, Active methodologies, Geography Teaching.

INTRODUÇÃO

O uso do podcast ganha relevância no ensino superior à medida que a geração atual é marcada pelo contato frequente com as tecnologias digitais. Logo, é importante que professores em formação ou aqueles que buscam uma melhor especialização sejam capazes de dominar ferramentas digitais para usarem em sala de aula. De acordo com os autores (SCHUARTZ; SARMENTO, 2020, p.430) “o contexto digital requer um professor que não seja apenas um transmissor do conhecimento, mas também um provocador em uma sociedade que tem demandado sujeitos críticos, competentes, criativos, tecnológicos e flexíveis”. Nesse sentido, ao constatar as transformações que as novas ferramentas digitais trazem à educação, é necessário definirmos o que são as tecnologias de informação e comunicação (TICs) e quais as suas aplicabilidades ao contexto escolar.

Consoante o autor (RODRIGUES ,2016, p. 15) as tecnologias da informação e comunicação podem ser definidas como “o conjunto total de tecnologias que permitem a produção, o acesso e a propagação de informações, assim como tecnologias que permitem a comunicação entre pessoas”. Com isso, no campo educacional, foram inseridas novas tecnologias que proporcionaram o advento de meios para o compartilhamento de informações e para a busca por conhecimento. Pode-se dizer que a presença de aparelhos com o acesso à internet, se bem aproveitado, facilita o desempenho acadêmico de muitos estudantes. Um outro autor traz uma perspectiva crítica a respeito das TIC’s e diz que:

As tecnologias mais relevantes à educação são aquelas que amplificam os poderes sensoriais do homem ou que possibilitam a comunicação com outras pessoas, como a capacidade de adquirir, organizar, armazenar, analisar, relacionar, integrar, aplicar e transmitir informação (CHAVES, 1999, p.133).

Em se tratando de tecnologias que ampliam os poderes sensoriais do aluno e propiciem o diálogo, como exemplo, pode-se citar o Google Meet que é um serviço de comunicação por vídeo criado pelo Google. Através dele podemos reproduzir uma sala de aula de maneira remota facilitando a interação entre os agentes, bem como aborda os autores:

O Google Meet “recria” o ambiente em sala de aula, permitindo uma sincronia entre o professor e aluno em tempo real. Tudo isso pode contribuir para facilitar o processo de ensino e aprendizagem, bem como minimizar aspectos relacionados ao desinteresse e a falta de participação dos alunos nas aulas, aspectos esses muitas vezes relacionados a ociosidade e falta de estímulos mais envolventes nas aulas remotas. Outro benefício é a possibilidade de estar ligando a câmera, para que desse modo, tanto o aluno como o professor tenham uma interatividade maior e a possibilidade de dialogar sobre os conteúdos abordados, dúvidas e outros tipos de questionamentos ao vivo (LIMA; NASCIMENTO; SANTOS; CARVALHO; LINDS, 2020, p.2).

Além dessa abordagem sobre a definição das TIC’s, é importante ressaltarmos as estratégias que colocam os estudantes no centro do processo de aprendizagem, para isso é necessário entender o que são as chamadas metodologias ativas, de acordo com Moran (2019) metodologias ativas são possibilidades, alternativas que colocam o foco das aulas no aluno, tirando a prioridade do ensino tradicional, do tipo educação bancária, como argumentava o autor Paulo Freire na obra Pedagogia do Oprimido (1996). Ademais, sobre o objetivo das metodologias ativas os autores dizem que:

O objetivo das metodologias ativas é projetar no sujeito a capacidade de se colocar como agente que desenvolva o protagonismo na conquista da própria aprendizagem, buscando encontrar soluções para um problema ou uma situação que motivem a construção de meios para apontar alternativas que possam agregar conhecimentos e trazer estratégias para se chegar a uma aprendizagem que possa modificar a si mesmo ou o seu entorno (TEOTONIA; MOURA, 2020, p. 9)

O intuito é desenvolver um aluno que seja o personagem principal da relação de ensino e aprendizagem cujo professor contribua no processo participando de outra forma. À vista disso, devido à pandemia, a docência possibilitou um progresso nas metodologias ativas de ensino, professores e alunos usufruem de ferramentas virtuais de comunicação e entretenimento para desenvolver o processo de aprendizagem.

Com o propósito de trabalhar com tecnologias educacionais na sala de aula, o profissional da educação precisa desenvolver competências ao longo de sua formação, especialmente relacionadas à noção e uso de tecnologias, por isso, antes de falarmos sobre o uso do aplicativo Anchor e sobre o podcast, foram coletados alguns exemplos de outras TIC’S que podem ser usadas como metodologias ativas em sala de aula. Tais como o Kahoot, o Padlet, . Google Earth e o Youtube. O Kahoot é uma plataforma de aprendizado baseada em jogos, usada como tecnologia educacional em escolas e outras instituições de ensino.

De acordo com (RAMOS; CARDOSO; CARVALHO, 2020, p.4, apud BYRNE, 2013) “o Kahoot é um sistema de resposta que envolve os alunos através de jogos pré-fabricados ou questionários, discussões e pesquisas improvisadas”. Os jogos se tornam cada vez mais atrativos para os jovens, especialmente por gostarem de competir, o Kahoot é uma ferramenta bastante utilizada em momentos de competição e descontração dentro e fora da sala de aula. O autor (MORAN,2019, p.7) diz “os jogos colaborativos e individuais; de competição e colaboração; de estratégia, com etapas e habilidades bem definidas se tornam cada vez mais presentes nas diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino”. Outra ferramenta relevante é o Padlet, que de acordo com as autoras:

O Padlet é um recurso para construção de mural virtual, on-line, colaborativo e gratuito. O recurso possibilita aos usuários curtir, comentar e avaliar as postagens de materiais publicados no mural, além de compartilhar com demais usuários para visualização ou edição do mesmo. Ferramentas como o Padlet, que apresentam características colaborativas, permitem a interação dos sujeitos difundindo ideias, cultura, democratizando as informações e aprendendo em um contexto diferente do presencial, ou seja, da tradicional sala de aula (SILVA; LIMA, 2018, p.85).

A troca de informação permite que alunos e professores interajam entre si. No caso dos alunos, as inúmeras ferramentas educativas disponíveis fazem com que os mesmos usem o tempo deles com aplicativos mais relevantes que irão contribuir de alguma forma com o seu crescimento. Atualmente é muito comum assistir aos jovens em inúmeras redes sociais, como oTikTok ou Instagram, porém, nem sempre essas ferramentas são pertinentes, muita das vezes os alunos ficam horas navegando e não aprendem assuntos relevantes.

No que diz respeito às ferramentas que facilitam o processo de aprendizagem das Ciências Geográficas, pode-se citar o Google Earth como uma ótima ferramenta aliada. Ela pode ser usada de diferentes maneiras em sala de aula, como por exemplo, coleta de dados, análise de paisagens, compreender os conceitos de longitude e latitude e, aproximar os alunos das Ciências Geográficas, fazendo com que os mesmos possam “viajar” por diferentes lugares com um simples click. Bem como discorre o autor (SOUSA, 2019, p.3) “o Google Earth possui um rico conteúdo geográfico, pois a manipulação de suas ferramentas permite observar e analisar diversos lugares e paisagens a partir de um mosaico de imagens de satélite, obtidas de diversas fontes.”

O próximo instrumento é a plataforma Youtube, não é novidade que ele pode ser usado para o aprendizado, lá é possível encontrar uma gama de tutoriais disponíveis de forma gratuita, desde como aprender francês até de que forma escrever uma pesquisa científica. Professores de diferentes lugares do mundo postam diariamente diversas aulas.

O Youtube torna-se um bom aliado ao ensino da Geografia porque é uma ferramenta que alcança o sentido visual, permitindo o professor ilustrar de maneira mais precisa certos fenômenos geográficos através de imagens e vídeos. Além disso, por ser uma plataforma democrática, os alunos podem postar vídeos de sua autoria explicando determinados fenômenos da natureza ou até mesmo mostrando suas vivências no espaço geográfico, como vídeos de viagens, ou relatando algum acontecimento relevante na comunidade em que vivem.

Em relação ao podcast, que é um conteúdo digital em áudio que vem sendo bastante usado ultimamente, seja para fins de lazer, seja para fins educativos (CRUZ, 2009). Ele pode ser produzido por meio de programas especializados em telecomunicação, por canais no Youtube, por emissoras de TV ou até mesmo aplicativos de fácil acesso, como o anchor.

De acordo com os autores (CUNHA; BORIN; RITTER; ASSUMPÇÃO, 2021, p.263) “o podcast é inspirado nos programas de rádio, sendo um conteúdo de arquivo multimídia via internet, criado pelos próprios usuários, individualmente ou coletivamente”. Por se tratar de áudios geralmente curtos e dinâmicos, os podcasts vêm conquistando seu espaço no meio educacional e é possível usá-lo e classificá-lo como uma metodologia ativa. De acordo com (BACICH E MORAN, 2018, p.18) “desenvolver metodologias ativas por meio das mídias significa reinterpretar concepções e princípios elaborados em um contexto histórico, sociocultural, político e econômico diferente do momento atual”. As mídias digitais desenvolvem várias competências nos discentes, não só em relação à produção de um conteúdo digital, mas também o trabalho em grupo, a roteirização, a escolha dos temas etc.

No que diz respeito à utilização do podcast, segundo o autor (JESUS, 2014, p.41) “no momento que são utilizados na educação, os podcastspodem desenvolver a construção do conhecimento, ora pelos próprios alunos ora pelos educadores, sendo que a sua criação, no âmbito da realização de trabalhos, pode vir a proporcionar uma experiência interessante”.

Atualmente existe diversas plataformas que podem receber os podcasts para suas publicações, como por exemplo o Soundcloud, que é uma plataforma gratuita destinada aos artistas que estão começando no mundo da música e desejam publicar suas autorias. Tem a Wix, que é uma empresa destinada ao público que trabalha com vendas e que desejam não só desenvolver sites, mas também criar episódios de podcasts.

Há também o google podcasts que é vinculado ao google igual a plataforma google Earth, naquele é possível encontrar os principais programas de todo o mundo, basta pesquisar no idioma que deseja e também é possível publicar episódios de forma gratuita. Por fim e não menos importante, há a plataforma mais conhecida, o Spotify,que de acordo com o site spotify.com.br é a plataforma que possui mais usuários no mundo e que foi a grande responsável por difundir e popularizar os podcasts pelo mundo. É importante ressaltar que o aplicativo Anchor, é vinculado ao Spotify, Anchor é um recurso que possibilita gravar, editar e postar os episódios diretamente no spotify, mas falaremos dele mais a frente.

Ao realizar buscas pela internet foi possível encontrar diversos episódios sobre educação e entretenimento no spotify, no que diz respeito aos educativos, pode-se citar os de estudos de idiomas, como: Duolingo history, Inglês básico todo dia, Fale Frances Avec Elisa entre outros. Além disso, existem os relacionados ao conhecimento de mundo e conhecimentos geográficos, como: A terra é redonda, Astronomia em meia-hora e Vinte mil léguas, Scicast e etc.

Durante o curso de Especialização em Geografias da Amazônia brasileira, ofertado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) o podcast foi utilizado como ferramenta metodológica na disciplina Geografia Humana na Educação Básica em que foi possível realizar um trabalho avaliativo por meio da produção de um podcast com o uso do aplicativo anchor, destinado ao compartilhamento de saberes geográficos e propostas metodologias para o ensino de geografia.

E em outra disciplina, metodologias ativas no ensino da Geografia, aprendemos acerca das diversas metodologias ativas existentes que podem ser usadas em sala de aula. Dada a importância do podcast na produção do conhecimento é que esse presente artigo foi escrito após a finalização do Curso.

A pesquisa parte dos seguintes questionamentos: qual a importância de os professores dominarem as ferramentas digitais? como ocorreu o aprendizado por metodologias ativas no Curso de Especialização em Geografias da Amazonia tendo em vista a produção de um podcast? Esses são questionamentos a serem respondidos no decorrer desse artigo.

METODOLOGIAS

Segundo os autores Moresi (2003), Lakatos e Marconi e (2003) e Sposito (2004), toda pesquisa científica necessita se apropriar de um método para ser considerada ciência, pois o método é um conjunto de formas de pensar sistematizado que leva os pesquisadores a obterem determinados resultados. Como escrevem os autores (JAPIASSU E MARCONDES,1990, p. 44) “o método é o conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um objetivo determinado”. Sobre o método escolhido nesta pesquisa, Moresi diz:

Preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é. A realidade é construída socialmente e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento (MORESI, 2003, p.26, apud GIL, 1999; TRIVIÑOS, 1992).

À vista disso o método fenomenológico foi escolhido pela possibilidade de detalhamento direto da experiência, o foco estará no relato e na percepção dos pós-graduandos. No sentido de sistematizar cientificamente a pesquisa, essa é classificada, predominantemente, como pesquisa qualitativa (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 31), uma vez que foi analisado o uso do aplicativo anchor como ferramenta didática para a produção de um podcast enquanto recurso de aprendizagem para discentes do ensino superior.

Considerando que algumas questões do formulário eram objetivas com opção para assinar “sim” ou “não”, foram feitos gráficos a fim de evidenciar o percentual das respostas. Não obstante estes sejam utilizados na pesquisa quantitativa, pode-se fazer uso dos gráficos para apresentar variáveis significativas, conforme salienta o autor (KNECHTEL, 2014, p.106) “por meio de símbolos numéricos e os dados qualitativos mediante a observação, a interação participativa e a interpretação do discurso dos sujeitos”.

No que diz respeito à natureza da pesquisa, pode-se compreendê-la como pesquisa exploratória (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 35, apud GIL, 2007) porquanto foi apreendida a importância das metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem. É, também, pesquisa participante porque a autora também é sujeito do processo ora apresentado.

Assim, “este tipo de pesquisa caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.40). Por fim, para apurar os relatos de experiência, foi aplicado um questionário com 8 perguntas através do Google forms. a fim de descrever o relato dos acadêmicos pós-graduandos que fizeram parte da disciplina. Sobre os chamados questionários, o autor (MORESI,2003, p.30) diz que “o questionário: é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante”.

O link do Google forms com as perguntas foi enviado por WhatsApp para os discentes da pós-graduação cujas respostas foram respondidas entre 3 a 4 dias. As 8 perguntas realizadas foram divididas em: 4 perguntas fechadas e 4 perguntas abertas. (vide o apêndice 1 pra ler as trasncrições das perguntas na íntegra). Para a análise e sistematização dos dados arrecadados nas entrevistas, em alguns casos, foi aplicada a técnica de análise do conteúdo da autora Bardin (1977), nisso foram transcritos trechos de partes das entrevistas para posteriormente, ser discutido e analisado, tal técnica procura, “conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça” (BARDIN, 1977, p. 44).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O USO DO PODCAST COMO RECURSO DE APRENDIZAGEM

A sociedade atual é marcada pela era da tecnologia. De acordo com a autora (WORLF, 2013, p.17) “na segunda metade do século XVIII, a Revolução Industrial indicava o nascimento de um novo momento, baseado nas inovações tecnológicas”. Todas essas mudanças na produção industrial geraram inúmeros avanços tecnológicos e consequentemente mudaram o cotidiano das pessoas, que passaram a ter contato mais frequente com as inovações cujas ferramentas alteraram o modelo de vida em diversas áreas, na área profissional, cultural, social, econômica e até mesmo na educacional. Devido ao fato de cada vez mais a sociedade está diretamente ligada às tecnologias, é necessário que os professores estejam preparados para o manuseio desses recursos no âmbito escolar. Segundo a autora (WORLF, 2013, p.26) “com a educação não poderia ser diferente, hoje, as tecnologias contribuem para um melhor processo de ensino-aprendizado, proporcionando novas formas de ensinar e aprender”.

O gradativo uso do podcast em nosso cotidiano fez com que professores se interessassem em fazer uso dessa mídia social cada vez mais presente na vida dos alunos. Entretanto, para que se tenha bom desempenho no processo de elaboração de uma ferramenta didática tecnológica é necessário ter preparo e prática pedagógica, bem como afirmam os autores:

A formação de professores, inicial ou continuada, para explorar o potencial das tecnologias e mídias digitais no desenvolvimento de metodologias ativas em um contexto sócio-histórico parte da experiência educativa, ou seja, da experiência associada com a reflexão apoiada na teoria para extrair o significado da relação entre prática e teoria e criar referências que possam influenciar experiências posteriores (BACICH E MORAN, 2018, p.19).

A produção de um podcast na disciplina Geografia Humana na educação básica corrobora com um dos objetivos do curso que é aprofundar técnicas e estratégias para a prática docente na educação básica. Trouxe inúmeros desafios para os alunos, a começar pelo manuseio do aplicativo anchor.

O aprendizado por metodologias ativas por sua vez, ocorreu desde o momento da roteirização quando os alunos tiveram que ler textos científicos para consubstanciar o roteiro do podcast. Nesse primeiro momento o trabalho foi em grupos para que o aprendizado fosse construído e compartilhado ao mesmo tempo.

No que diz respeito à Geografia, visto que iremos analisar a experiência de professores de geografia, é necessário falar sobre o ensino geográfico. Sabe-se que tal ciência passou por altos e baixos até ser considerada ciência, pois ela era vista muita das vezes como uma disciplina meramente decorativa, conforme diz o “nas escolas, a geografia era tida como um saber inútil, de caráter inventariante de recursos susceptíveis de exploração e, até de pontos possíveis de ataques militares que tenderiam a servir, estrategicamente às forças armadas nacionais” (RODRIGUES, 2001, p.59).

Fato que tornava o ensino unicamente descritivo. Ela passou por uma enorme crise de identidade consoante a lei 5.692/71 com a criação de Estudos Sociais e a abolição das disciplinas de História e Geografia da grade curricular (PONTUSCHKA; PAGANELLI; CACETE,2007, p. 59).

Dado esse fato, é evidente que a ideia inicial era tirar aos poucos a capacidade crítica dos alunos em refletir sobre o espaço geográfico levando em consideração as diferentes estruturas sociais existentes em cada momento histórico, afinal de contas, qual é a finalidade de aprender “a pensar” se o principal objetivo da escola, na época, era formação qualificada para o mercado de trabalho.

Apesar disso, devido às reivindicações dos geógrafos e a aceitação à geografia crítica, os objetivos e propostas curriculares da disciplina geográfica passaram por alterações, as quais foram ressaltadas cada vez mais as dimensões sociais, culturais, individuais e coletivas. Porém, esse fator histórico reflete até mesmo nos dias de hoje nas aulas de geografia e de que forma os alunos veem esta disciplina.

Muitos não valorizam, acham que é irrelevante e que eles não irão usá-la no futuro. Tão importante quanto ter tecnologia presente nas aulas é ter professores capazes de utilizá-la. É necessário que professores invistam na formação continuada no âmbito tecnológico e não fiquem presos em usar as tecnologias apenas para elaboração de aulas por meio do uso de powerpoint, mas sim, para promover a inclusão tecnológica focada no objetivo a ser alcançado, que é a aprendizagem. De acordo com (BACICH E MORAN, 2018, p. 249) “tornar o professor proficiente no uso das tecnologias digitais de forma integrada ao currículo é importante para uma modificação de abordagem que se traduza em melhores resultados na aprendizagem dos alunos”. As novas formas de abordar o conteúdo contribuem de maneira significativa para o processo de ensino-aprendizado dos alunos contemporâneos.

O uso do podcast para o processo de ensino aprendizagem faz-se refletir a respeito de uma percepção mais aprofundada sobre o ensino crítico da geografia e o espaço geográfico, visto que com o advento da revolução industrial e consequentemente do capitalismo o mundo ficou marcado pelo que Milton Santos (2008) chama de “meio-técnico-científico-informacional”. Com o mundo globalizado, o a acesso à informação se tornou cada vez mais mecanizado, as informações que demoravam meses a circular, hoje, com um click são possíveis de serem acessadas, alguns podcasts gravados nas plataformas de streamings, por exemplo o youtube, possuem mais de 1 milhão de visualizações simultaneamente.

Tal fato transformou a informação em mercadoria funcional para o capitalismo. Hoje, empresas globais usam a audiência das plataformas midiáticas para promover propagandas e o consumo. Sobre isso, pode-se dizer que cada vez mais a sociedade ocidental se enquadra no período em que Milton Santos preconizava em seus livros, bem como descreve o trecho abaixo:

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos processos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico científico informacional (SANTOS, 2008, p. 238).

Se pensamos que a globalização transformou as informações em informações mecanizadas, distribuídas em massa, é relevante a importância das ciências geográficas para influenciar os alunos a terem uma visão mais crítica do espaço geográfico.

A geografia como disciplina escolar necessita assessorar os alunos na leitura e compreensão do mundo, entendendo o espaço geográfico como uma construção histórico-social cuja relação está intimamente ligada com o ser social capaz de transformar o meio e criar mecanismos para compreendê-lo.

A UTILIZAÇÃO DO APLICATIVO ANCHOR NA PRODUÇÃO DE UM PODCAST

Como já foi dito anteriormente, a disciplina: Geografia Humana na educação básica, ofertada pelo curso de pós-graduação Geografias da Amazônia brasileira, foi a grande responsável por aplicar uma atividade avaliativa diferenciada para os discentes. De forma remota, o principal objetivo foi que os alunos construíssem um podcast usando o anchor. Este é um aplicativo gratuito e de fácil acesso oferecido pela plataforma Spotify para que os usuários criem seus próprios podcasts, salvem os episódios on-line e distribuam nas suas plataformas de streamings favoritas.

A professora, responsável por ministrar esta disciplina, dividiu a turma (de 31 alunos) em 9 grupos de 3 a 4 pessoas. O intuído era que os grupos se reunissem e construíssem os episódios, cada grupo ficou responsável por abordar um tópico do livro de Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia, (2005) -. Esse livro possui três capítulos e dentro de cada capítulo existem 9 subtítulos. Então, ela dividiu assim: grupo 1- subtítulo 1.1 a 1.3, grupo 2- subtítulo 1.4 a 1.6, grupo 3- subtítulo 1.7 a 1.9, grupo 4- 2.1 a 2.3, grupo 5- 2.4 a 2.6, grupo 6- 2.7 a 2.9, grupo 7- 3.1 a 3.3, grupo 8- 3.4 a 3.6 e grupo 9- 3.7 a 3.9.

A proposta era que cada episódio fosse construído em até 16 minutos, contendo: questão geográfica e Freire; participação da equipe; olhar geográfico para o Amazonas e clareza e objetividade na comunicação. A avaliação foi feita por colegas de outras equipes, ou seja, a equipe 1 avaliou a equipe 2, a 3 avaliou a equipe 1 e assim sucessivamente.

Antes de as equipes iniciarem os trabalhos, a professora fez uma aula tutorial explicando como manusear o aplicativo anchor, a começar pelo download do aplicativo na playstore até o processo da gravação em áudio. Nesta aula, ela propôs aos alunos que fizessem um podcast-teste (para entregar no mesmo dia) a fim de experimentar o uso do aplicativo. O resultado foi surpreendente, (figura 1), cada aluno conseguiu produzir um episódio curto e enviar instantes depois para o grupo de whatsApp da turma, com acesso imediato da gravação final.

A professora ficou bastante orgulhosa, pois em poucos minutos os alunos conseguiram realizar com primazia a proposta daquela aula-teste. É possível notar nesse primeiro momento a importância de o professor incentivar a autonomia dos discentes. A professora poderia apenas ter apresentado o tutorial de como usar o aplicativo, porém, ela propôs que os alunos usassem sua autonomia e realizassem os episódios sozinhos. Sobre a importância da autonomia do aluno, os autores dizem que:

A autonomia é um princípio pedagógico fundamental para uma educação libertadora e sua construção é fruto de uma relação dialógica entre docentes e discentes. Ela não é constituída da noite para o dia, tampouco é dada de um sujeito a outro. A autonomia é uma construção associada ao amadurecimento do sujeito ao longo dos processos da vida, ao reconhecimento da liberdade, da própria cidadania e das responsabilidades nas tomadas de decisões (FREITAS E MACIEL,2021, p.343, apud FREIRE, 2002).

De acordo com os autores a autonomia é construída por meio da liberdade que o indivíduo possui, é possível estimular esta autonomia através das vivências, dos estímulos à criatividade, do uso das metodologias ativas e da relação professor-aluno.


FIGURA 1
Feedback da professora pelo WhatsApp
Fonte: elaborada pelo autor, 2022

Chegou o momento que os alunos executaram o produto final em grupo. Dessa forma, as equipes formaram subgrupos de whatsApp e, cada equipe ficou responsável por: escolher um tema, escolher um artigo científico para fundamentar a gravação, roteirizar o episódio e relacionar os tópicos do livro de Paulo Freire (2002) com um assunto relacionado ao ensino da geografia na Amazônia brasileira.

É importante ressaltar que as equipes receberam um prazo de uma semana para produzir os seus respectivos podcasts. A produção levou tempo e foi necessário que os discentes se organizassem para pesquisar o assunto e roteirizar o episódio. Sobre essa organização e preparação a autora diz:

Para criar um podcast, o autor (professor e/ou alunos, colegas, especialistas, etc.) deve desenhar um fio condutor da sua ação que definirá o estilo do podcast: formal ou informal. No caso particular do ensino, sendo o professor o autor, o podcast pode ser por disciplina, por unidades temáticas, etc., de tipo Expositivo/ Informativo, Feedback/ Comentários, Instruções/ Orientações e Materiais autênticos. Estes quatro tipos de podcasts prendem- se com a forma como o podcast pode ser utilizado. Assim, um podcast de tipo Expositivo/ Informativo incide sobre a apresentação de um determinado conteúdo, uma síntese do que foi leccionado, um resumo, uma análise, etc. O podcast pode incidir, igualmente, sobre forma de feedback onde o professor tece comentários sobre trabalhos dos alunos, propõe caminhos, etc. Também se pode usar o podcast para disponibilizar instruções, orientações para a realização de trabalhos, visitas de estudo, orientações precisas, etc. Por fim, podem ser utilizados podcasts feitos para um público mais alargado, que ultrapasse o alvo estudantil como é o caso das entrevistas de rádio, telejornal, entre outros (CRUZ,2009, p. 68, apud CARVALHO, 2009).

Os podcasts foram produzidos no curso de especialização tiveram caráter informativo-argumentativo, uma vez que cada grupo teve de escolher um artigo científico e relacioná-lo com o tópico do livro do Paulo Freire para analisar uma realidade educacional no Amazonas.

No que diz respeito à coleta de dados, a fim de compreender a experiência que cada aluno teve ao produzir um podcast, foi disponibilizado um questionário pelo google forms para entrevistar os pós-graduandos que participaram da atividade. De 31 alunos, apenas 14 responderam às perguntas, mesmo a pesquisadora enviando-as com antecedência e lembrando sempre. A primeira pergunta (figura 2) realizada foi fechada do tipo: “sim ou não”, objetivava-se saber se os alunos já haviam utilizado o podcast como recurso de aprendizagem antes da disciplina, conforme mostra a figura 2.


FIGURA 2
Gráfico 1 utilização de um podcast como recurso de aprendizagem
Fonte: autor do trabalho, 2022

Consoante o gráfico, nota-se que 85,7 % dos alunos nunca haviam utilizado o podcast como recurso de aprendizagem, no entanto, 14,3 % já haviam utilizado. Isso mostra que a utilização desta ferramenta foi uma novidade para muitos discentes do ensino superior.

Outro aspecto relevante diz respeito ao grau de dificuldade que cada aluno teve ao construir um podcast do zero, uma das perguntas feitas (figura 3) constatou que 85, 7% dos discentes acharam “fácil” e 14,3 % acharam “difícil”, o que nos mostra que, embora a grande maioria não tinha utilizado antes esta ferramenta, após a utilização, achou o uso fácil. Tais fatos só foram possíveis de ocorrer devido à atividade avaliativa desta disciplina. Sobre isso, o autor argumenta que:

A combinação de metodologias ativas com tecnologias digitais móveis é hoje estratégica para a inovação pedagógica. As tecnologias ampliam as possibilidades de pesquisa, autoria, comunicação e compartilhamento em rede, publicação, multiplicação de espaços e tempos; monitoram cada etapa do processo, tornam os resultados visíveis, os avanços e as dificuldades. As tecnologias digitais diluem, ampliam e redefinem a troca entre os espaços formais e informais por meio de redes sociais e ambientes abertos de compartilhamento e coautoria (BACICH E MORAN, 2018, p.53).

De fato, fazer uso das ferramentas tecnológicas disponíveis, de forma gratuita, fez com que os pós-graduandos lograssem de novos meios para alcançar a aprendizagem e para conhecer novas estratégias de ensino cujo resultado foi positivo, uma vez que vários deles produziram excelentes conteúdos o que nos faz pensar que provavelmente eles irão utilizar em sala de aula em suas respectivas escolas de atuação. As autoras (SOARES; MIRANDA; BARIN, 2018, p.1) ao dissertarem sobre o potencial pedagógico do podcast no ensino superior, afirmam que, “as tecnologias contribuem para a autonomia de docentes na elaboração de materiais didáticos colaborativos e cooperativos, flexibilizando tempo e espaço no ensino através da inserção de diversas opções de recursos didáticos digitais”. Por certo, esta ferramenta possui um potencial pedagógico significativo, uma vez que é possível mesclar vários assuntos em um mesmo episódio e esses matérias podem ficar salvos e serem usados por outros professores.


FIGURA 3
Gráfico 2 grau de dificuldades dos alunos
Fonte: Autor do trabalho, 2022

A fim de entender a experiência dos alunos no processo de produção do podcast e o impacto na vida deles, foi-lhes feita a seguinte pergunta no formulário, “Cite um ponto positivo e um ponto negativo do processo de construção e roteirização do podcast na disciplina Geografia humana na educação básica do curso de pós-graduação”. Dentre as 14 respostas, algumas chamaram atenção, quadro 1, a saber

QUADRO 1
Respostas dos pós-graduandos

Fonte: elaborado pelo autor, 2022

Nota-se que muitos alunos compartilham a ideia que o podcast é uma ferramenta que auxilia e estimula o canal de aprendizagem, mas que, como qualquer outra ferramenta tecnológica, pode ser inviável a sua utilização devido a falta de acesso a uma internet de qualidade.

No tocante à eficácia do podcast enquanto recurso de aprendizagem, foi-lhes questionado: “Você acredita ser possível aprender sobre algum tema apenas escutando podcast? Justifique.”, quadro 2, essas foram algumas das respostas:

QUADRO 2
Justificativa dos pós-graduandos

Fonte: elaborado pelo autor, 2022

O aluno 4 considera que o podcast é um recurso que facilita o canal da aprendizagem, mas que não pode ser a única fonte de busca por informação e de aprendizado, corroborando com esta dissertativa, o filósofo e professor Paulo Freire (1996, p. 53) em seu livro valoriza o uso das ferramentas tecnológicas, mas diz que o uso precisa ser consciente, isto é, ele acredita que não devemos nos sustentar apenas em metodologias ativas como se elas fossem a única alternativa para uma educação transformadora, mas sim, é um instrumento pelo qual a educação possa acontecer. Nesse sentido, é importante lembrar que não necessariamente para ser considerado metodologias ativas precisa ter tecnologia, basta ter o foco no aluno. Logo, é possível realizar aulas diferenciadas sem o uso de ferramentas digitais, pois o objetivo do professor precisa ser a aprendizagem do alunato. Sobre isso, os autores afirmam:

Nossa análise aponta nessa direção porque conseguimos enxergar que, assim como na pedagogia de Freire, as metodologias ativas sugerem e provocam o pensamento crítico e a atitude autônoma, promovendo o diálogo horizontal e estimulando a ação do aluno. Dialogicidade que no modelo bancário é desprezada, mas que, nas metodologias ativas, assim como na concepção de educação de Paulo Freire, é valorizada à medida em que é retroalimentada nas interações fluidas e nas trocas de experiências e saberes entre educador-educando e educando-educador (FREITAS; MACIEL, 2021, p. 338).

Toda esta discussão sobre o uso das metodologias ativas para o processo de ensino e aprendizado nos remete à inclusão digital nas escolas e a falta de acesso à internet, principalmente nas escolas da rede pública. É sabido que nem todas possuem acessibilidade digital e torna-se difícil professores promoverem o uso das TIC’s dentro das salas de aula. Além da falta de domínio das ferramentas digitais, professores de escola pública encontram diversas barreiras na infraestrutura das escolas o que os impossibilita de usufruírem das mídias digitais. É evidente que as instituições escolares já vêm enfrentando muitos obstáculos devido á falta de investimento do Estado. Sobre isso o autor diz que:

Ao analisarmos os desafios que se apresentam aos professores das escolas públicas no que se refere à utilização das TIC no processo ensino-aprendizagem, podemos perceber que a sua integração às práticas pedagógicas está longe de atingir o padrão de qualidade preconizado pela legislação. Há que se reorientar os programas de implantação dos equipamentos nas escolas buscando garantir a sua manutenção, atualização e adaptação em termos de acesso a serviços de alta velocidade, qualidade pedagógica (no caso de programas e jogos), como também a disseminação de sistemas mobilidade, proporcionando a relação de um computador para cada aluno e para cada professor (MODROW; SILVA, 2013, p.18).

No Brasil, em se tratando do sistema público de ensino é explícito o descaso do Estado no que se refere à melhoria das escolas. Muitas vezes os professores passam por sobrecarga de trabalho, salas superlotadas, falta de ar-condicionados nas escolas, excesso de provas e trabalhos para corrigir, fato que acaba dificultando o seu desempenho como profissional o que pode gerar a falta de motivação e exaustividade no dia a dia. Por isso, por mais que o profissional tente realizar trabalhos diferenciados com os alunos na sala de aula, acontece que muitas escolas não tem instrutura adequada para esse feito ou até mesmo o professor não tenha tempo disponível para planejar uma atividade dessa natureza.

Outro ponto importante diz respeito ao fato de muitos professores não terem conhecimento do que são as chamadas metodologias ativas, vale lembrar que é um assunto relativamente novo e muitos cursos de licenciatura ou magistério não possuem ele na grade curricular de seus cursos como disciplina obrigatória. Bem como afirmam os autores (DARUB; SILVA, 2020, p.1) “os professores não estão recebendo formação continuada sobre a temática de metodologias ativas e por isso não fazem uso destas estratégias para solucionar os problemas existentes na prática docente”. Após refletir sobre esse fato surgiu inúmeros questionamentos sobre a importância da formação continuada dos professores, no mundo contemporâneo é importante que as práticas pedagógicas estejam alinhadas às mudanças sociais.

No que se refere à construção do podcast, lhes foi perguntando se “É possível aprender construindo um podcast, justifique”. Muitos disseram que sim, porque ao construir um podcast a pessoa precisa pesquisar sobre um determinado tema e roteirizar o assunto a ser trabalhado, quadro 3, destacam-se abaixo algumas respostas:

QUADRO 3
Justificativa dos pós-graduandos

Fonte: elaborado pelo autor, 2022

Corroborando com o que os alunos relataram, o autor diz Cruz:

Ao utilizar um podcast o professor alia informação, entretenimento, dinamismo e rapidez ao processo de ensino-aprendizagem. Mas criar um podcast exige ao professor muita dedicação uma vez que conceber e dinamizar atividades exige uma grande capacidade de trabalho e criatividade (CRUZ, 2009, p. 67).

De fato, é importante ter um preparo na elaboração dos episódios para que o resultado final seja satisfatório. Em relação à utilização, ao falarmos do uso das tecnologias ativas como ferramenta didática, de acordo com Moran (2019) existem três conceitos-chave que expressam as metodologias, tanto para professores como para os estudantes, como: Maker (exploração do mundo de forma criativo-reflexiva, utilizando todos os recursos possíveis: espaços-maker, linguagem computacional, robótica), Designer (projetar soluções, caminhos, itinerários, atividades significativas de aprendizagem) e empreender (testar ideias rapidamente, corrigir erros, realizar algo com significado).

Por certo, é notório que o processo de ensino aprendizagem pode acontecer não apenas no ambiente escolar, mas sim, no cotidiano, nas vivências, na convivência com os familiares, nas pesquisas, no acesso à internet, nos livros entre outros. Acredita-se que, o papel do professor e da família é essencial para mostrar aos alunos a importância de aprender ao logo da vida, sendo uma ação constante, isto é, o processo de aprendizagem nunca terá fim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer deste artigo, falamos sobre o uso do aplicativo anchor na produção de um podcast como metodologia ativa e apresentamos uma atividade metodológica realizada por docentes do curso que elaboraram um episódio para obtenção de nota na disciplina Geografia Humana no ensino básico,

De acordo com os autores estudados, como Cruz (2009), Moran e Bacich (2018), Moran (2019), Smaniotto; Miranda e Soares (2018) entre outros. As metodologias ativas contribuem para o processo de ensino e o uso de ferramentas tecnológicas, como os podcasts que são ferramentas didáticas que auxiliam docentes e discentes que buscam metodologias ativas para o processo de ensino e que desejam uma atividade não tradicional.

Em relação aos dados coletados, os alunos da turma que participaram da elaboração dos episódios relataram que, o uso desta ferramenta contribuiu para o canal de aprendizagem deles e que, se bem planejado, o uso desse mecanismo no contexto da sala de aula pode ser vantajoso porquanto é uma forma de trabalhar determinado conteúdo de uma maneira mais dinâmica e ativa, tirando o foco do professor e centralizado o foco da aula no aluno. Ressalta-se a importância dos professores em formação ou aqueles já formados em dominarem tais tecnologias.

Cabe aos professores aprimorarem cada vez mais o ensino, torná-lo mais didático e atrativo. A inserção das metodologias ativas no ensino regular faz com que os alunos se interessem cada vez mais pelas aulas, por isso é importante que os professores dominem tais técnicas.

Entretanto, alguns questionamentos surgiram e podem ser temas de futuras pesquisas, a pergunta que fica é como os professores que realizaram o curso de especialização irão encarar o uso das metodologias ativas em sala de aula, será que os ensinamentos adquiridos do curso irão penhorar no decorrer da docência dos mesmos? Sabe-se que na academia é muito comum que os universitários de cursos relacionados à educação estudem diversos métodos de ensino e formas de aplicar o conhecimento aos alunos, porém, como será a jornada dos professores no dia a dia? Será que os cursos de formação continuada fazem a diferença na prática docente? Esses questionamentos deixam abertos janelas para novas pesquisas.

A educação é um caminho para que os alunos venham alcançar a evolução tanto acadêmica quanto profissional e professores bem preparados se tornam mentores dos alunos neste processo, porém, muitos professores possuem dificuldades no domínio de tecnologias, o que muitas das vezes os deixam impossibilitados de tentar algo novo.

Há a necessidade de aplicar novas estratégias de ensino dentro da sala de aula, com o passar do tempo, os alunos se tornam cada vez mais imersos no contexto tecnológico, entretanto as escolas precisam ter estrutura adequada para receber esses alunos que almejam por novidades. Cabe ao Estado investir mais nessa esfera que, mesmo custosa, não irá mais mudar, a tecnologia é um caminho sem volta e por isso é importante viabilizar aberturas a novas diretrizes de ensino.

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QUESTIONÁRIO NA INTEGRA.

1- Antes da disciplina, você já havia utilizado um podcast enquanto recurso de aprendizagem? SIM ( ) NÃO ( )

2- Sobre o uso do aplicativo anchor para produzir um podcast do zero, a depender da escola, você o considera aplicável ao ensino regular (fundamental e médio) como metodologia ativa para o processo de aprendizagem? SIM ( ) NÃO ( )

3- Cite um ponto positivo e um ponto negativo do processo de construção e roteirização do podcast na disciplina Geografia humana na educação básica do curso de pós-graduação. _______________________________________________________________________________________________________________________________

4- Após a conclusão do podcast com o aplicativo Anchor, você achou fácil ou difícil fazer uso deste aplicativo? FÁCIL ( ) DIFÍCIL ( )

5- Qual tema você e seu grupo abordaram no episódio do podcast?

6- Vocês pensaram em publicar o episódio em alguma plataforma de streaming?

7-Você acredita ser possível aprender sobre algum tema apenas escutando podcast? Justifique. _________________________________________________

8-E construindo um episódio de podcast, é possível aprender? Justifique. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________



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