O nascimento de um Império: da blasfêmia e da epistemologia ocidentais até o “renascimento” mitológico – o caso de Lueji

Conteúdo do artigo principal

Rodrigo Castro Rezende

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo analisar o mito de Lueji no interior da África Centro-Ocidental e sua relação com as alterações políticas, econômicas e culturais ocorridas, sobretudo, na formação do Império Lunda. A nossa principal hipótese é de que os mitos sejam fontes importantes para descreverem os fenômenos ocorridos nas sociedades humanas, utilizando, para tanto, de metáforas próprias desses grupos. Neste sentido, partimos de uma análise sobre as transformações do uso e do entendimento sobre os mitos nas Ciências Humanas, a partir do expansionismo cristão na Europa e, posteriormente, com a consolidação das ciências no período do Iluminismo. Em um segundo momento, discutimos sobre o “ressurgimento” dos mitos, através dos estudos das tradições orais de alguns dos povos do continente africano. Lueji simbolizaria as mudanças políticas, econômicas e sociais em Lunda. Assim, é possível identificar como uma confederação de Estados passa de uma economia agrícola e pescadora, para uma exportadora de escravos, com o poder extremamente centralizado e militarizado.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
Rezende, R. C. (2021). O nascimento de um Império: da blasfêmia e da epistemologia ocidentais até o “renascimento” mitológico – o caso de Lueji. Afros & Amazônicos, 1(3), 7–20. Recuperado de https://periodicos.unir.br/index.php/afroseamazonicos/article/view/6260
Seção
Artigos
Biografia do Autor

Rodrigo Castro Rezende, Universidade Federal Fluminense - UFF

Doutor em História Contemporânea I pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor de História da África, da Universidade Federal Fluminense de Campos dos Goytacazes.

Referências

ARMSTRONG, Karen. Breve História do Mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

BÂ, Amadou Hampaté. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (Org.). História geral da África, I: Metodologia e pré-história da África. 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010, p.167-212.

BÂ, Amadou Hampaté. Amkoullel, o menino fula. 3ª ed. São Paulo: Palas Athena: Acervo África, 2013.

BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.

BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício de Historiador. Rio de janeiro: Jorge Zahar ed., 2002

BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Português e Latino. Rio de Janeiro: UERJ, 2000.

BURKE, Peter. A escrita da História, novas perspectivas. São Paulo. Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992.

DIOP, Cheikh Anta. A Origem africana da civilização: Mito ou Realidade. Westport: Lawrence Hill, 1974.

ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. Trad. Pola Civelli. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1989.

FAGE, John D. An Atlas of African History. 2 ed. London: Edward Arnold Ltd, 1978.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

FORD, Clyde W. O herói com rosto africano: mitos da África. São Paulo: Summus, 1999.

GINZBURG, Carlo. História Noturna: decifrando o Sabá. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

GRUZINSKI, Sergi. A Colonização do Imaginário: Sociedades indígenas e ocidentalização no México espanhol. Séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

HEYWOOD, Linda M. and THORNTON, John K. Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585-1600. Cambridge: Cambridge University press, 2007.

KRAMER, Heinrich e SPRENGER, James. O martelo das feiticeiras. 24ª ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2014

KURY, Lorerai. Viajantes-naturalistas no Brasil oitocentista: experiência, relato e imagem. História, Ciências, Saúde – Maguinhos. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001. Vol. VIII (suplemento), p.863-888.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: UNICAMP, 1990.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. 2 ed. Lisboa: Edições 70, 2011.

LOVEJOY, Paul E. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Trad.: Regina A. R. Bhering e Luis Guilherme B. Chaves. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

M’BOKOLO, Elikia. África negra história e civilizações. Salvador: Casas da África, 2008. V.1.

MARSHALL, Francisco. Arqueologia clássica e patrimônio nacional. Cadernos do LEPAARQ. Textos sobre Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. Pelotas: Editora da Universidade Federal de Pelotas, 2005, vol. 2, n. 4, p. 19-26.

MILLER, Joseph Calder. Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830. Wisconsin: University of Wisconsin Press, 1988.

MUDIMBE, Valentin Yves. A invenção de África: Gnose, filosofia e a ordem do conhecimento. Mangualde (Portugal), Luanda: Edições Pedago; Edições Mulemba, 2013.

PALMEIRIM, Manuela. Paradoxos, fluidez e ambiguidade do pensamento simbólico (o caso ruwund): para uma crítica a alguns modelos de análise. Etnográfica. Lisboa: Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 2008, p.353-368.

PEPETELA. Lueji, o nascimento de um império. São Paulo: LeYa, 2015.

PINTO, Luiz Maria da Silva. Diccionario da Lingua Brasileira por Luiz Maria da Silva Pinto, natural da Provincia de Goyaz. Na Typographia de Silva, 1832.

SILVA, Alberto da Costa. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, São Paulo: EDUSP, 1996.

THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitudes em relação às plantas e aos animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

THOMAS, Keith. Religião e o declínio da magia: crenças populares na Inglaterra, séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

THORNTON, John Kelly. Africa and Africans in the making of the Atlantic World, 1400-1800. 2 ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

VANSINA, Jan. Kingdoms of the Savanna. Madison: University of Wisconsin Press, 1966.

VANSINA, Jan. Oral tradition as history. Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1965.

VERNANT, Jean-Pierre. Entre mito e política, São Paulo, Edusp, 2009.