A teoria hiper-heterodoxa da dívida e do dinheiro de Deleuze & Guattari: do Estado arcaico às sociedades de controle

Autores

  • Émerson Pirola PUCRS

Resumo

Dos inúmeros conceitos que povoam a obra de Deleuze & Guattari, um que não recebe tanta atenção, ou não recebia até recentemente, é o de dívida. O conceito, entretanto, é central na teorização, inspirada em Nietzsche, que os autores propõe nos dois volumes de Capitalismo e esquizofrenia, além de ter papel fundamental no diagnóstico deleuzeano das sociedades de controle. Para um entendimento mais aprofundado deste diagnóstico é necessário entender a relação imbricada que há, em Deleuze & Guattari, entre a dívida, o dinheiro, o mercado e o Estado. Esta mesma relação está presente, de maneira geral, nas teorias econômicas do dinheiro chamadas de heterodoxas: se na ortodoxia o dinheiro é fruto do mercado e sua relação conceitual com a dívida é contingente, na heterodoxia o dinheiro e o mercado são frutos do Estado e sua relação com a dívida é necessária, analítica. Assim, após opor e desenvolver as posições orto e heterodoxas sobre a natureza do dinheiro, desenvolvemos a teorização hiper-heterodoxa própria de Deleuze & Guattari, na qual a dívida e seus conceitos correlatos (dinheiro, Estado, mercado) serão tomados como um possível eixo para pensar a história universal da contingência e as suas diferentes máquinas sociais, dando centralidade à máquina Estatal e à sua absorção pela máquina capitalista, bem como às transformações do dinheiro sofridas dentro do próprio capitalismo. É apenas entendendo estas passagens históricas e os conceitos que lhe são conexos que será possível entender o significado do papel que a dívida adquire nas sociedades de controle.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Émerson Pirola, PUCRS

Doutorando em Filosofia pela PUCRS (bolsista CAPES). Bacharelando em Ciências Sociais pela UFRGS

Referências

CAVALLERO, L.; GAGO, V. Uma leitura feminista da dívida: Vivas, livres e sem dívidas nós queremos. Porto Alegre: Criação Humana, 2019.

DELEUZE, G. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações. Trad. de Peter Pál Pelbart. 3ª ed. São Paulo: Editora 34, 2013a, p. 223-230.

DELEUZE, G. Sobre a Filosofia. In: Conversações. Trad. de Peter Pál Pelbart. 3ª ed. São Paulo: Editora 34, 2013b, p. 173-198.

DELEUZE, G Nietzsche e a filosofia. Trad. Mariana de Toledo Barbosa e Ovídio de Abreu Filho. São Paulo: n-1 edições, 2018.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. O Anti-Édipo – capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Luiz B. L. Orlandi. São Paulo: Editora 34, 2010.

DELEUZE, G. & GUATTARI, F. Mil platôs – Capitalismo e esquizofrenia 2, v. 5. São Paulo: Editora 34, 2012.

COCCO, G. KorpoBraz – Por uma política dos corpos. Rio de Janeiro: Mauad X, 2014.

COCCO, G.; CAVA, B. New Neoliberalism and the Other: Biopower, Anthropophagy, and Living Money. Lanham/Boulder/New York/London: Lexington Books, 2018a.

COCCO, G.; CAVA, B. O Enigma do disforme: Neoliberalismo e biopoder no Brasil global. Rio de Janeiro: Mauad X, 2018b.

DODD, N. The Social Life of Money. Princeton/ Oxford: Princeton University Press, 2014.

FUMAGALLI, A. e MEZZADRA S. (Orgs.). A crise da economia global. Mercados financeiros, lutas sociais e novos cenários políticos. Ed. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 2011.

GRAEBER, D. Dívida: os primeiros 5.000 anos. São Paulo: Três Estrelas, 2016.

HARDT, M. & NEGRI, A. Império. Tradução de Berilo Vargas. Rio de Janeiro: Record, 2001.

LAZZARATO, M. The Making of the Indebted Man: An Essay on the Neoliberal Condition. Semiotext(e) Intervention Series 13. Cambridge, MA: MIT Press, 2012.

LAZZARATO, M. O Governo do Homem Endividado. Rio de Janeiro: n-1 editora, 2017.

MADARASZ, N. R. Obstruções à Justiça – Dívida, sexo, estética pós-punk e outros "small data" da filosofia contemporânea. Porto Alegre: Editora Fi, 2017.

MANDARINI, M. Marx and Deleuze: Money, Time, and Crisis. Polygraph 18, 2006, p. 73–97.

MARX, K. Grundrisse: manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. Tradução de Mario de Duayer e Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011.

MARX, K O Capital: Crítica da economia política - Livro III: O processo global da produção capitalista. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017

MASON, P. Pós Capitalismo: Um guia para o nosso futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

NIETZSCHE, F. Genealogia da moral: Uma Polêmica. Trad. Paulo César de Souza, São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

NUNES, R, ‘Forward How? Forward Where? I: (Post-)Operaism Beyond the Immaterial Labour Thesis. ephemera, vol. 7 (1), 2007, p. 178-202.

OBSOLETE CAPITALISM. Acceleration, Revolution and Money in Deleuze and Guattari’s Anti-Oedipus. Translated by Letizia Rustichelli and Ettore Lancellotti and revised by Edmung Berger. Strong of the Future Series of Books, Rizosfera, 2016.

SHAVIRO, S. The "Bitter Necessity" of Debt: Neoliberal Finance and the Society of Control. Concentric, 37(1): p. 73-82, March, 2011.

SMITH, D.l W. Flow, Code and Stock: A Note on Deleuze’s Political Philosophy. Deleuze Studies, Volume 5: supplement, p. 36–55, 2011.

TOSCANO, A. Capture. In.; PARR, A. (ed.). The Deleuze Dictionary. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2010, p. 43-45.

VAROUFAKIS, Y. O Minotauro Global – A verdadeira origem da crise financeira e o futuro da economia global. Tradução de Marcela Werneck. São Paulo: Autonomia Literária, 2016.

Downloads

Publicado

02/04/2021

Edição

Seção

Artigos