O NOVO NORMAL: A INFLUÊNCIA DA PANDEMIA NO COMPORTAMENTO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS RESSIGNIFICAÇÕES

  

 

THE NEW NORMAL: THE INFLUENCE OF THE PANDEMIC ON THE BEHAVIOR OF EARLY CHILDHOOD EDUCATION TEACHERS AND THEIR RESIGNIFICATIONS

 

 

Juracy Machado Pacífico[1]

Diana Campos Fontes Arcanjo[2]

Samara Ferreira da Silva[3]

Maria Antônia do Nascimento [4]

 

Resumo

A pandemia da Covid-19, declarada em 2020 pela OMS provocou a necessidade de adoção de medidas estratégicas e a formatação de novas configurações para conter a propagação da doença. As medidas em âmbito geral culminaram em mudanças significativas no comportamento cotidiano da população, que passou a buscar novas formas de ressignificar suas ações. Nesse sentido, o objetivo geral do trabalho foi investigar a mudança comportamental de professores da Educação Infantil na adoção de novos hábitos diante do cenário pandêmico e suas implicações psicológicas e os objetivos específicos foram identificar de que forma esses professores têm ressignificado a vida em busca da manutenção do equilíbrio emocional; compreender os comportamentos adquiridos com a Pandemia após a ressignificação e proporcionar uma reflexão acerca dos efeitos na saúde mental desses professores diante da Pandemia. O estudo teve como base o método qualitativo descritivo, o instrumento foi a entrevista presencial estruturada, com seis professores de Educação Infantil do município de Porto Velho, sendo três da rede pública e três da rede privada, que estiveram em isolamento social. Os dados foram organizados em categorias baseando-se ao modelo referencial de Bardin, sendo elas: o domínio na utilização de tecnologias; os impactos da Pandemia na vida do professor de Educação Infantil e saúde mental dos professores de Educação Infantil. Pode-se concluir que os desafios de transformar o ensino presencial em remoto na Educação Infantil somadas ao contexto da Pandemia, mostraram-se tendenciosos a desenvolver doenças psíquicas tanto na rede pública como na privada.

 

Palavras-chave: Pandemia. Professores Educação Infantil. Ressignificação.

 

Abstract

The Covid-19 pandemic, declared in 2020 by the WHO, provoked the need for the adoption of strategic measures and the formatting of new configurations to contain the spread of the disease. As measures in the general scope, they culminated in relevant changes, without the population's daily behavior, which started to look for new ways to give new meaning to their actions. In this sense, the general objective of the work was to investigate a behavioral change of early childhood education teachers in the adoption of new habits prior to the pandemic scenario and its psychological conclusions and specific objectives were identified in which way these teachers have given new meaning to life in search of maintenance. make emotional balance; understand the reflexes acquired with the pandemic after the redefinition and provide a reflection on the effects on mental health of these teachers in the face of the pandemic. The study was methodologically based on the descriptive qualitative method, the instrument was a semi-structured interview with six kindergarten teachers in the city of Porto Velho, three from the publics and three from the private network, who were in social isolation. Data were organized into three categories based on Bardin's referential model, namely: the domain in the use of technologies; the impacts of the pandemic on the life of early childhood education teachers and the mental health of them. It can be fulfilled that the challenges of transforming classroom teaching into remote in early childhood education, added to the context of the pandemic, prevent biased people from developing mental illnesses in both public and private schools.

 

Key words: Pandemic. Childhood Education Teachers. Reframing

 

Introdução

 

A Pandemia da Covid-19, foi declarada em 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) e suscitou a necessidade de adoção de estratégias urgentes para reduzir o avanço da doença. Para atender ao novo contexto, órgãos governamentais instituíram várias medidas temporárias para evitar a propagação da doença ações preventivas ao contágio e enfrentamento da Pandemia. Essas medidas culminaram em mudanças significativas no cotidiano da população, desde a restrição ao acesso a locais com grande aglomeração de pessoas, suspensão de aulas presenciais e adesão ao ensino remoto, adoção do sistema de home office, isolamento social e medidas de biossegurança, como o uso constante de máscaras, álcool em gel e higiene pessoal, como lavar bem as mãos com mais frequência.

De acordo com a FIOCRUZ (2020) a Pandemia impactou as pessoas de maneiras especificas, trazendo a necessidade de ressignificações que favorecessem a adaptação ao novo normal. Lidar com esse momento de incertezas é algo desafiador, pois se considerarmos que a Pandemia e suas consequências foi um acontecimento marcante e histórico devido a quantidade de pessoas que vitimou. Lister (2020) ressalta que essa situação permite examinarmos o que realmente importa no que concerne ao nosso sistema de valores nas relações interpessoais e no trabalho..

O presente artigo, fruto de uma pesquisa qualitativa de carater descritivo e exploratorio conforme descrição de Minayo (2007, p.21) a qual se propôs a investigar a adoção de novos hábitos diante do cenário pandêmico e suas implicações psicológicas nos professores de Educação Infantil do município de Porto Velho-RO, nos comportamentos e suas ressignificações. Os dados foram coletados através de entrevista estruturada e questionário. Foi realizada categorização dos dados a partir análise de conteúdo com fim de que tecessemos nossas discussões e considerações.

 

Referencial teórico

 

Contextualizando a Pandemia

 

Dados apresentados pelo Ministério da Saúde (2020) relatam que o Coronavírus  apareceu primeiramente na China no final de 2019. Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde, a reconhece como Pandemia.

No Brasil a doença foi rapidamente contaminando a população, assim provocando condições diversas nas pessoas. Segundo Brasil (2020) a Covid-19 é uma doença que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. A OMS (2020) alerta que a maioria dos pacientes com Covid-19 podem ser assintomáticos[5] ou oligossintomáticos[6], e aproximadamente 20% dos casos detectados requerem atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória.

Por ser uma doença de fácil transmissão e contágio, as autoridades de saúde apresentaram uma série de medidas de enfrentamento, dentre elas o isolamento social como um dos principais meios para reduzir a possibilidade de contaminação da Covid-19. Medidas simples como manter a distância mínima de um metro entre pessoas em lugares públicos e de convívio social como bloquear as manifestações de abraços, beijos e apertos de mãos e o cuidado com a higiene tornaram-se essenciais para ajudar a conter a propagação do vírus na sociedade.

Por outro lado, a partir da tomada de atitudes com essas recomendações o número de adoecimento psíquico foi surgindo, de forma que os indivíduos foram afetados pelo fator econômico, pelo distanciamento de parentes e amigos, o que leva a uma reflexão sobre o aparecimento de possíveis transtornos mentais, além de possibilitar a intensificação de adoecimento psíquico já existente e até levar a um grau mais elevado. Desta forma, Nardi, et al. (2020), afirmam que as alterações na rotina, o medo do vírus e as incertezas em relação ao controle da situação podem ter impacto na saúde mental, particularmente nos transtornos de ansiedade e de humor.

 

Saúde mental em meio ao isolamento social

 

Segundo Polanczyk et al. (2020), as medidas de isolamento social podem levar a conflitos familiares, falta de atividade física, alterações da dieta e do padrão de sono. Compartilhando do mesmo pensamento, Nardi et al. (2020), afirmam que uma pessoa pode ser exposta a várias situações ao mesmo tempo, o que eleva o risco para desenvolver ou para agravar transtornos mentais já existentes:

 

O aumento dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais durante a pandemia pode ocorrer por diversas causas. Dentre elas, pode-se destacar a ação direta do vírus no sistema nervoso central, as experiências traumáticas associadas à infecção ou morte de pessoas próximas na pandemia, o estresse induzido pela mudança na rotina devido às medidas de distanciamento social ou pelas conseqüências econômicas, na rotina de trabalho ou nas relações afetivas e, por fim, a interrupção de tratamento por dificuldades de acesso, (NARDI, et al, 2020, p.16).

 

Sobre as implicações da Pandemia para a saúde mental, Nardi, et al. (2020), chamam atenção para o risco de uma epidemia paralela, que segundo eles dá indícios preocupantes: o aumento do sofrimento psicológico, dos sintomas psíquicos e dos transtornos mentais.

Segundo dados da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS, 2005), uma epidemia de grande magnitude implica em uma perturbação psicossocial que ultrapassa a capacidade de enfrentamento da população afetada. O isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo sofrimento causado pela perda de renda e muitas vezes, de emprego (OMS,2020).

Aliado a isso, a Fiocruz, (2020) alerta que fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados à magnitude da epidemia e ao grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento. Embora, para Melo et al (2020) nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças; a maioria será classificada como reações normais diante de uma situação anormal

 

Comportamento Individual e suas ressignificações

 

No contexto pandêmico, as incertezas e preocupações, o medo e a insegurança surgem fazendo com que a perspectiva de vida seja modificada de forma brusca favorecendo possivelmente o aumento do sofrimento psicológico e contribuindo para que a saúde mental das pessoas fique afetada.

Situações igual a esta, segundo Lane (2006), não têm sido um processo linear, mas sim um processo de acertos, erros, reavaliações, e, apesar das determinações institucionais, cujo peso é sentido cotidianamente, para estas pessoas a mudança foi radical.

As mudanças comportamentais são visíveis e podem estar afetando a todos. A partir do confinamento, as pessoas passaram a sair de casa apenas para resolver assuntos essenciais, como ir a supermercados, farmácias ou comprar itens necessários e às vezes atividades que não possam ser adiadas. Muitas pessoas passaram a adotar o trabalho home office e modificar suas rotinas. Nessa perspectiva, Whitaker (2020), diz que sentimos falta de como nossa vida costumava ser. Sentimo- nos solitários devido às regras de distanciamento social.

Como aponta Martin e Pear (2009), a modificação de comportamento enfatiza a demonstração científica de que uma determinada intervenção foi responsável pela mudança de comportamento. Os autores afirmam ainda que assim, a modificação de comportamento envolve a aplicação sistêmica de princípios e técnicas de aprendizagem para avaliar e desenvolver comportamentos privados e públicos dos indivíduos, a fim de ajudá-los a funcionar melhor em sociedade (MARTIN e PEAR, 2009).

Diante disso, a sociedade precisa se preparar para acolher e cuidar dessa imensidão de indivíduos que irão apresentar, pela primeira vez, um transtorno mental, em decorrência da pandemia, assim como daqueles que já sofriam e terão seus transtornos mentais agravados (NARDI et al, 2020).

Mediante o papel exercido pela Psicologia e sua importância para a sociedade, pode apresentar-se neste contexto de pandemia, como um dos pilares fundamentais no que se refere à saúde, sobretudo, no período de isolamento social, considerando que para as atuais gerações é uma situação nova e que chegou inesperadamente na vida das pessoas, impondo mudanças de atitudes.

Sobre isso nos ensina Neiva e Mauro (2011), que as atitudes exercem influência sobre o comportamento e sobre a maneira de ver o mundo. O conhecimento das atitudes de outras pessoas permite saber como elas pensam, sentem ou reagem a certos eventos. Neste sentido, podemos ter atitudes diferentes a respeito de futuros comportamentos para que possam amenizar possíveis conseqüências trazidas.

Assim, as competências socioemocionais se apresentam pela capacidade de expressar emoções e construir relacionamentos. Estas segundo Brasil (2020) são essenciais para a saúde e se desenvolvem nas interações do cotidiano.

É importante mencionar que a maneira pela qual fomos submetidos a este cenário, percebe- se que as pessoas são constantemente desestabilizadas emocionalmente, tendo que aprender a lidar com algumas frustrações e medos, pois há necessidade de vínculo afetivo e também do convívio entre familiares e amigos.

 

Desafios do novo normal e suas implicações

 

O novo normal aqui empregado é para descrever as mudanças de atitudes da população em tempos de Pandemia. A crise que assola numa escala planetária trouxe consigo situações desafiadoras para o indivíduo, como a adaptação a mudanças nos padrões habituais da vida cotidiana.

Sendo um termo que descreve mudança de atitude da população, a expressão vem ganhando destaque devido a Pandemia. Sobre isso, Nardi (2020) ressalta que o primeiro desafio é entender se o “novo normal” é uma mudança temporária ou algo permanente, ou seja, uma mudança necessária de hábito, atitudes e visão de vida.

Desta forma, no momento de transição marcada por incerteza, Nardi et al (2020, p. 129), afirmam que:

 

Esse vácuo de incertezas e o contexto de todas as perdas associadas à pandemia têm o potencial de deixar profundas cicatrizes emocionais, tornando o terreno fértil [...] o impacto avassalador dos problemas de saúde mental na população, decorrentes da pandemia.

 

Amorim (2020) questiona a expressão “novo normal” por entender que a proposta, apesar de apontar rupturas, “já nasce velha, porque está implicada com a patologização do cotidiano da sociedade e das pessoas que habitam o mundo em que vivemos. Segundo o autor, seu questionamento acerca da expressão “novo normal”, é porque ela, invariavelmente, nos remete às velhas antinomias (“normal” versus “anormal”; “eficiente” versus “deficiente”), pares de oposição que, muitas vezes, se reapresentam em nossas falas, das simples as mais complexas (AMORIM, 2020).

Martino (2020) complementa que a expressão “novo normal” também pode ser entendida como uma tentativa de dirigir o olhar para outro lado, talvez distante para o que está acontecendo. À vista disso, o autor questiona: é “normal” que milhares de pessoas percam a vida todos os dias em decorrência de um vírus, quanto outras tantas, estão isoladas em suas casas e outras, ainda, estão expostas ao risco?

Como bem aponta Berkenbrock (2020), infelizmente não experimentamos na vida apenas o que chamaríamos de tempos normais; vez por outra, somos confrontados com tempestades existenciais. Muitas delas derrubam ou fazem grande estrago.

Sobre a dualidade do normal e anormal para Foucault (1975) a análise fenomenológica recusa uma distinção a priori entre o normal e o patológico: A validade das descrições fenomenológicas não está limitada por um julgamento sobre o normal e o anormal.

Outros autores apresentam reflexões acerca do tema, assim como Morin (2020),reflete que:

 

O pós-coronavírus é tão preocupante quanto a própria crise. Poderia tanto ser apocalíptico quanto portador de esperança. Muitos comungam a certeza de que o mundo de amanhã não será o mesmo de ontem. Mas como será? A crise sanitária, econômica, política e social conduzirá ao desmembramento de nossas sociedades? Saberemos extrair lições dessa pandemia que revelou a comunhão de destinos para todos os humanos, em ligação com o destino bioecológico do planeta? E eis que entramos na era das incertezas. (MORIN, 2020, p.22).

 

Diante dos questionamentos dos autores, percebe-se que há uma questão a se refletir sobre o que seria normal e anormal nesse cenário de crise em que ninguém estava preparado.

 

A ressignificação como forma de adaptação

 

Com a chegada da Pandemia, muitas informações foram sendo disseminadas e retidas pela população, requerendo de todos, a adaptação à nova realidade, no sentido de mudar a percepção para enfrentar esta situação atual. Nesse sentido, Lister (2020) aponta mudanças na ordem global, sociedades e economias, empresas e mercados no ambiente familiar e nos indivíduos.

Observamos que ressignificar no cenário pandêmico é aprender a lidar com o novo. Seja adoecendo ou de forma saudável é necessário ressignificar. Assim, como afirma Martino (2020) o isolamento mostrou outros panoramas:

 

Estamos redefinindo a noção de presença. Aprendemos que a curtida não substitui o abraço, e a interação por uma tela não tem quase nada em comum com o ato de compartilhar a presença física, a troca de olhares, a proximidade dos gestos e a variedade das expressões. Talvez, depois de tudo isso, seja possível dar um real valor ao ato de estar junto, aprendendo a deixar o smarphone de lado durante uma conversa e desfrutando da presença do outro (MARTINO, 2020, p.111).

 

Nesta intenção é válido destacar que no processo de adaptação para a ressignificação é importante manter o autocuidado, cuidando das necessidades básicas, descansando, limitar o uso de meios de comunicação, participar de grupos de ajuda on-line, fazer chamada de vídeo para a família e amigos, praticar a auto-observação de emoções e sentimentos bem como manter a interação social, mesmo que de forma virtual.

Sobretudo, Lima et al (2020), orientam que as medidas de isolamento social, embora baseadas em evidências científicas e essenciais para a proteção da saúde da população, podem impactar a saúde mental daqueles que as experienciam. Com as mudanças e rotinas modificadas, observa-se a necessidade das pessoas em se adaptar aos novos modos de viver e agir, tanto no contexto profissional, quanto no social.

 

Normose e sua relação com a normalidade

 

De acordo com Weil, Jean-Ives Leloup e Roberto Crema (2011), a Normose é definida por um conjunto de normas conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por uma maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimentos doenças e morte. Em termos didáticos os autores apresentam ainda a normose como sendo “um conjunto de hábitos considerados normais e que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade e à doença” (WEIL, LELOUP e CREMA, 2016). Os autores afirmam que quando todas as pessoas se colocam de acordo a respeito de uma opinião ou uma atitude e maneira de atuar, manifesta-se um consenso, que dita uma norma.

Foucault (1975), considera que um fato social só pode ser dito normal para uma determinada sociedade em relação a uma fase igualmente determinada do seu desenvolvimento. Assim, o autor completa afirmando que a maior parte de nossos costumes são o resultado de normas que adotamos, mais ou menos conscientemente, mediante a imitação dos atos de nossos pais e educadores.

Nem todas as normas são benevolentes. Ao contrário, algumas são geradoras de sofrimentos e enfermidades, podendo conduzir até mesmo à morte. Como são dotadas de um consenso social, as pessoas não percebem o caráter patogênico. O que se trata de normose a qual consiste em uma normalidade doentia, distinguindo da normalidade saudável, como levantar cedo e caminhar todos os dias. (WEIL, 2016, p.19). Nesta mesma perspectiva, Leloup (2016) entende que a normose está relacionada com a pulsão de morte; é a estagnação do desejo, aquilo que impede o fluxo evolutivo.

Foucault (1975) entende que a contradição patológica não é o conflito normal; este devasta do exterior a vida afetiva do sujeito; suscita nele condutas opostas, o faz oscilar; provocar ações, depois ocasiona o remorso; pode exaltar a contradição até a incoerência. Assim, Weil (2016) assinala que surge uma denúncia lúcida de que certas normas sociais, atuais ou passadas, levam ou levaram ao sofrimento físico e moral de indivíduos, grupos e comunidade global.

Por isso, considerando a situação de crise produzida pela Pandemia a qual proporciona momentos difíceis para a humanidade, é fundamental a necessidade de conscientizar-se de eventuais mudanças de hábitos e possíveis consequências emocionais, e ainda, lidar com a morte, isso nos faz refletir sobre o conceito de normalidade suportado pelo consenso social, diante de tanto sofrimento.

 

Os desafios do professor de Educação Infantil no cenário da Pandemia

 

A Educação Infantil compreende a prática da educação em crianças de 0 a 5 anos de idade, dividido em creche (0 a 3 anos) e pré-escola (4 a 5) no qual tem por finalidade desempenhar o desenvolvimento absoluto da criança através da descoberta de novos valores, sentimentos, costumes, interação com outras pessoas e identidade (PAULA, 2021).

É na infância que ocorre a interação com o meio em que vive ocorrendo uma aprendizagem significativa por meio das brincadeiras e do lúdico no qual estimula criatividade, autonomia, raciocínio lógico, auxiliando na compreensão do universo infantil. Algo inesperado para o mundo foram as medidas governamentais de isolamento social decorrente da Pandemia do COVID-19, com isso o professor de educação infantil precisou se reinventar com práticas alinhadas as possibilidades do momento, as necessidades das crianças e famílias e o uso de tecnologias (OLIVEIRA, NETO, OLIVEIRA, 2020; CASTRO, VASCONCELOS, ALVES, 2020).

Nesse contexto, o professor se viu com o desafio de ressignificar a educação infantil através do meio virtual, pois diferente das outras modalidades de ensino a educação infantil até então não havia experienciado processos híbridos ou remotos, foi necessária uma flexibilização do fazer pedagógico tendo os professores que se atualizarem rapidamente por meio de cursos e formações para se adequarem as novas diretrizes implementadas pelas secretarias de educação (CASTRO, VASCONCELOS, ALVES, 2020; PAULA, 2021).

Contudo, é extremamente desafiadora a mudança de um modelo presencial de educação para um modelo remoto tão repentinamente, os professores precisaram encontrar uma forma de alcançar todas as crianças atendidas pela unidade de educação, até mesmo as famílias que não tem acesso a modalidade remota; outro fator diz respeito a apropriação tecnológica no qual boa parte desses profissionais não contaram com formação apropriada seja na licenciatura ou na formação continuada para o seu uso didático; além disso, a ruptura representada por uma prática docente com toque, cuidado, presença, disponibilidade corporal por propostas audiovisuais online e socialização com as famílias não é um processo de transição fácil (SILVEIRA, 2021).

Souza et al. (2021) descrevem as vivências de sofrimento psíquico de professores após a Pandemia, dentre eles esgotamento mental, nervosismo, ansiedade, irritabilidade, depressão, perturbações do sono, estresse, dentre outros. Assim sendo, é necessário que esses profissionais tenham apoio necessário das políticas públicas para realizarem seu trabalho com acesso a serviços de saúde mental (FERREIRA, 2019).

Diante de todo esse contexto que os professores de educação infantil precisaram se adequar de forma repentina, vale ressaltar que pode ter um reflexo direto na saúde mental desses profissionais, por ser um momento difícil, desgastante e desafiador, é quase impossível a não existência de transtornos, desequilíbrio emocional e ansiedade.

 

Metodologia

A pesquisa caracterizou-se como sendo de abordagem qualitativa e de tipo descritiva como conceitua Minayo (2007, p.21) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares e se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Enquanto a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL. 2008).

A pesquisa foi realizada em campo, a qual se caracteriza como a ida do pesquisador ao local onde o fenômeno pesquisado ocorre para coletar informações a serem documentadas (MARCONI e LAKATOS,2002, p.71).

Os instrumentos de coleta de dados foram a Entrevista Estruturada e um Questionário, tendo como sujeitos de pesquisa seis professores de Educação Infantil do município de Porto Velho, sendo três da rede pública de ensino e três da rede privada, que estão ou estiveram em situação de isolamento social. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) em duas vias.. Foi utilizado como critérios de inclusão dos participantes ser morador da região de Porto Velho; estar atuando na Educação Infantil; estar ou ter estado em situação de isolamento social e ter atuado no ensino remoto durante a pandemia. Como critérios de exclusão foi usada recusa em assinar o TCLE; não ter ficado no ensino remoto durante o ano de 2020.

A análise dos dados foi por meio de análise de conteúdo. Segundo Bardin (2011), esse método tem como finalidade alcançar conhecimentos através de um conjunto de técnicas de análise, assim, a análise do material coletado segue um processo rígido frente às fases, conforme definidas como: Pré-análise, exploração do material e Tratamento dos resultados.

 

Resultados e Discussão

 

Resultados

 

Os dados coletados nas entrevistas e questionário[7] foram categorizados em três categorias seguidos de discussão.

 

O domínio na utilização de tecnologias

 

No questionário aplicado acerca do domínio na utilização de tecnologias entre os professores de escola pública foi observado que possuem boa familiarização com computadores e aplicativos (33% alta e 66% intermediário), assim como também habilidades no uso de celulares, tablets, computadores, notebooks, dentre outros (66% ótima e 33% regular). Enquanto que para os professores de escola privada apresentam menor familiarização com computadores e aplicativos (66% intermediário e 33% pouca) assim como também menor habilidade no uso de celulares, tablets, computadores, notebooks, dentre outros (66% regular e 33% ótima). Todos os entrevistados concordaram que a conexão de Internet em sua casa ou trabalho interfere na utilização de recursos tecnológicos.

Quanto a formação de professores nesse período da Pandemia do COVID-19 todos os professores de escola pública informaram que tiveram a formação, em quanto que todos os professores entrevistados de escola privada informaram que não tiveram a formação, vejamos a seguir os relatos dos professores:

 

Escola pública – professora Maísa: “Nós tivemos algumas oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação. É importante novos conhecimentos, sempre estar aprendendo e as experiências contam bastante”.

Escola pública – professora Rafaela: “Nós tivemos, acho que mais voltado para a rotina escolar, como trabalhar com programas que não conhecia, por exemplo, Podcast e Padlet entre outros. Minha dificuldade é muito grande para trabalhar com recursos tecnológicos”.

Escola privada – professora Catarina: “Não foi oferecida formação pela escola, teve algumas reuniões para o levantamento da moral, algo mais pessoal e não profissionalmente”.

Escola privada – professora Maria: “Eles buscam conversar com a gente, tinha sempre reuniões e os funcionários que tivessem mais conhecimento que pudessem compartilhar com quem tivesse dúvida. Em casa quando eu tinha alguma dúvida era através de mensagem que eu conseguia resolver o problema”.

 

Por meio dos relatos dos professores ficou evidenciado que os primeiros impactos da Pandemia foram em relação as dificuldades com as tecnologias, muitos deles sem nenhuma capacitação para trabalhar com ferramentas novas no contexto didático e ainda, a necessidade de voltar a atenção em especial para o desempenho escolar do aluno, visto que o novo normal trouxe muitas incertezas não somente para os professores, mas também para toda a comunidade escolar.

 

Os impactos da pandemia na vida do professor de educação infantil

 

Foi notável que os professores de escola pública tiveram menos problemas com sono (66% não e 33% sim) quando comparados aos professores de escola privada (100% sim). Em relação a adotar novos hábitos devido a Pandemia somente um professor de escola pública considerou que não mudou muita coisa ao contrário de todos os demais, vejamos a seguir os relatos dos professores sobre quais hábitos foram adquiridos:

 

Escola pública – Professora Margarete: “Com certeza adotei novos hábitos. De estar separando muito bem o trabalho, em relação a família, eu tive que fazer uma rotina”.

Escola privada – Professora Maria: “Passei a ter mais momentos de leitura por estar mais dentro de casa e não a assistir televisão e não ver notícia ruim de vários segmentos. Muitas reuniões por vídeo chamada”.

Escola privada – Professora Rosana: “Referente a higiene. Eu não peguei Covid, minha família toda teve, eu fiz até um exame uma vez e deu negativo, assim, eu fiquei aquela pessoa extremamente chata, eu andava com duas máscaras, andava com álcool o tempo todo”.

 

Todos os professores entrevistados informaram ter feito adaptações nas suas rotinas principalmente relacionadas ao trabalho remoto e ao convívio com a família, conforme os relatos a seguir:

 

Escola pública – Professora Margarete: “separei muito a questão de estar auxiliando as minhas crianças, de estar com a minha filha, também com o meu esposo, em questão profissional que eu cresci bastante, e não tive muito medo de estar fazendo novas atividades”.

Escola pública – Professora Josefina: “Tivemos uma grande mudança, outrora a gente vinha ´para a escola fazer um trabalho com as crianças, e agora não, a gente espera amanhecer o dia, ligar o computador, celular, passar o dia ligada nas informações, e fazer aquela interação com os alunos, com os pais, com a coordenação da escola, então temos um dia bem corrido”.

Escola privada – Professora Rosana: “dentro de casa, porque minha casa virou uma escola, eu tinha, fundos (parede) enfeitados, colocava TNT, figuras, tentava mudar os cenários, então eu tinha um cenário dentro do meu quarto, tinha um na área um na sala”.

 

Em relação a fazer algo para relaxar ou se distrair no contexto da Pandemia somente um professor de escola privada informou não conseguir fazer esse tipo de atividade, sendo relatado principalmente passar mais tempo em família, assistir filmes e séries, ou fazer exercícios em casa.

A Pandemia gerou impacto de diversas formas, segundo os entrevistados a perda de familiares e amigos, o medo e a insegurança devido a essa doença desconhecida, e ainda precisar se reinventar para conseguir atuar no ensino remoto na Educação Infantil, conforme os relatos abaixo:

 

Escola pública – Professora Josefina: “Afetou não somente a mim, mas a muitos, principalmente o psicológico, houve muitas perdas, os prejuízos que a gente acaba sofrendo e tantas outras situações no geral, pois sabemos que afeta principalmente o psicológico, eu fui afetada”.

Escola pública – Professora Rafaela: “Eu como profissional de sala de aula tive dificuldades, não me achei muito na onda de informática, o que mais impactou foi não ter conseguido desenvolver o trabalho do jeito que eu gosto”.

Escola privada – Professora Maria: “Acho que o isolamento social. Fiquei em casa, só saía para necessidades básicas de ir ao mercado, passar por vários dias dentro de casa, quando ligava a TV via as notícias ruins pensava como estava chegando mais próximo, as percas de amigos e parentes, me deixou abalada. Tive Covid e na mesma época a família inteira também pegou e foi muito difícil este momento”.

 

Por fim, quanto a ressignificar o comportamento no contexto da Pandemia, a maioria relata a respeito de passar mais tempo com a família, valorizar, mudar a forma como trata não só familiares, mas todas as pessoas, sobre não colocar o trabalho como prioridade máxima, mas trazer a família para esse lugar.

 

Escola pública – Professora Josefina: “Profissionalmente eu comecei a conhecer melhor os recursos tecnológicos para poder adaptar no meu trabalho, e, emocionalmente eu acredito que estou valorizando muito mais a minha família, pois era uma coisa que a gente dava pouca importância, foi algo que mudou de dentro para fora”.

Escola privada – Professora Catarina: “Até voltar na realidade estar sempre conversando em casa, com os alunos tendo uma visão de adequar na nova realidade. Passei a escutar mais as pessoas ao meu redor. Olho a vida de forma totalmente diferente, peguei Covid duas vezes, a própria vida foi ressignificada. Quero estudar para concurso, conhecer mais, tive que acontecer o despertar da vida não só para mim como para muitas pessoas”.

Escola privada – Professora Maria: “A Pandemia veio para eu dar mais valor às pessoas próximas a mim, antes meu pensamento era de trabalhar muito para ter conforto, depois que veio a Pandemia dou mais valor para estar bem com as pessoas, estar mais junto da minha família e ver eles saudáveis. Passei a perceber o quanto é importante valorizar, pois às vezes você está junto mais não demonstra, não diz um Eu te Amo, que sente saudades. Depois do adoecimento por Covid e as percas estou tendo o hábito de fazer mais isso de reconhecer e valorizar as pessoas próximas”.

 

Além disso também foi relatado a ressignificação como profissional, a valorização do eu, muitos se reinventaram, precisaram se adequar a uma nova realidade e puderem crescer, aprender a usar novas tecnologias que outrora não eram cogitadas na educação infantil.

 

Saúde mental dos professores de educação infantil

 

Essa parte da entrevista foi direcionada de forma que os entrevistados descrevessem com que frequência sentiram algumas características que poderiam influenciar na sua saúde mental sendo elas: sentir-se aborrecido (a), sentimento de incapacidade na vida pessoal, sentir-se nervoso ou estressado, sentir-se confiante, sentiu que as coisas aconteceram de forma inesperada, sentimento de incapacidade no trabalho, bravo (a), sentir que os problemas se acumulavam. A seguir será expresso o perfil de acordo com os professores de escola pública e escola privada conforme Tabela 1.

 

Tabela 1.- Perfil dos Professores de Escola Pública e Privada.

Características

Escola pública

Escola privada

Aborrecido (a)

Poucas vezes

Poucas vezes

Incapacidade navida pessoal

Nunca, poucas vezes, apenas no início da Pandemia

Muitas vezes,poucas vezes.

Nervoso ou estressado

Muitas vezes, poucas vezes, apenas no início da Pandemia

Sempre,algumas vezes.

Confiante

Sempre; poucas vezes.

Sempre, algumas vezes.

Acontecimentos

Nenhuma; as vezes.

Sempre, algumas vezes,

Inesperados

 

apenas no início da Pandemia

Incapacidade quanto ao trabalho

Algumas vezes, muitas vezes.

Algumas vezes, muitas vezes.

Bravo (a)

Muitas vezes, poucas vezes, apenas no início da Pandemia.

Poucas vezes

Problemas acumulados

Poucas vezes.

Muitas vezes, algumas vezes.

Fonte: Organizada pelas autoras através de dados coletados.

 

Por fim, com exceção de um professor de escola pública todos os demais responderam ter tido alguma crise emocional devida o atual cenário pandemico

 

Escola pública – Professora Maísa: “no início da Pandemia fiquei muito apreensiva, ansiosa, com crises de choro na minha casa, mais, por essa questão de tudo, as tragédias, essas coisas que a gente não estava acostumada fiquei assim, no início”.

Escola privada – Professora Catarina: “Fiquei muito neurótica, um período prendi muito a minha filha e fiquei bem presa em casa. Fiquei muito preocupada, pois meu esposo precisava sair de casa para trabalhar. Lavava tudo com água sanitária, se alguém fosse na minha casa eu jogava álcool na pessoa”.

Escola privada – Professora Maria: “percebi que além da insônia que aumentou qualquer coisa eu choro. Se tiver sozinha também choro e sinto muito medo de ficar sozinha, de esquecer algo. Já aconteceu de eu ir à farmácia eu cheguei lá e não lembrei o que fui fazer lá, fiquei em pânico com isso”.

Escola privada – Professora Rosana: “Nesses quase dois anos de Pandemia teve uma vez que eu fui parar na UPA, foi na naquela época de lockdown, era uma coisa bem restrita, deu uma dor no peito então já pensei, é Covid!, então liguei para o meu tio e pedi para ele me levar no hospital, então eu fui só piorando emocionalmente e quando foi por volta de meia noite, achava que meu tio já estava dormindo, liguei para um amigo meu para me levar para a UPA, então assim como estou conversando aqui contigo, falei para o médico, o senhor não vai pedir um exame de Covid? Ele respondeu, que eu estava tendo uma crise de ansiedade, “percebi logo quando você entrou e começou a falar”. Não me recordo se o médico passou algum exame, eu estava em pânico assustada”.

 

Discussão

 

A Pandemia da Covid-19 veio de forma inesperada trazendo consigo o isolamento social, acarretando repercussões de vários aspectos da vida a nível global e diretamente ao processo de escolarização em todos os níveis de educação, com destaque para a Educação Infantil, que sofreu impactos pertinentes tanto para o professor como para os alunos, haja vista que o ensino baseia-se nas interações sociais e ludicidade (CASTRO; VASCONCELOS; ALVES, 2020).

Segundo Oliveira, Neto, Oliveira (2020), existem dois perfis de pessoas, os nativos digitais que são as pessoas que nasceram em um mundo cercado por tecnologia e os imigrantes digitais são as pessoas que não nasceram no mundo digital tendo acesso tardio a tecnologia e consequentemente trazendo consigo uma aprendizagem mais linear, ou seja, ainda procuram aprender o uso das tecnologias em manuais, costumam ligar para as pessoas para pedir ajuda, ou para verificar receberam o e-mail enviado e etc. Neste trabalho os entrevistados se encaixam no perfil dos imigrantes digitais para os dois grupos estudados, embora os professores de escola pública se mostraram ter uma relação melhor com a tecnologia o que pode ser justificado por terem a formação de professores diferente do grupo de escola privada, ambos ainda encontraram dificuldades com o uso da tecnologia no seu dia-a-dia no trabalho.

A Educação infantil no fazer pedagógico não admite educação a distância, conforme a associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) é ilegal a implementação de atividades remotas para crianças pequenas declarando que dependem de condições mínimas de qualidade que não podem ser garantidas através das atividades remotas (ANPED, 2020 p. 1). No entanto, mediante o “novo normal” no contexto da pandemia a Rede Nacional de Primeira Infância (RNPI) em carta direcionada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) possibilita a oferta de Educação Infantil na modalidade remota. Diante disso a construção educativa tem sido um grande desafio, logo, ocorre um reinventar-se das práticas pedagógicas alinhando-se as possibilidades do momento (RNPI, 2020; CASTRO; VASCONCELOS; ALVES, 2020).

Segundo Franco, Nogueira e Prata (2021) as escolas de Educação Infantil não estavam preparadas para essa mudança tão súbita, refletindo diretamente nos professores, que precisaram se adequar a uma nova realidade de trabalhar de forma remota, sem formação específica, fazendo o uso de tecnologias, precisando manter o vinculo escola, professor, aluno e família. Todas essas mudanças e adaptações podem ser consideradas um evento traumático e estão associados a maior prevalência de transtornos mentais como depressão, ansiedade e stress pós-traumático. No caso dos professores mesmo antes da Pandemia já era observado o adoecimento psíquico, ampliando-se de modo significativo na Pandemia, devido por força da urgência, em pequeno espaço de tempo reaprender uma forma de trabalhar e acompanhar de modo mais individual a trajetória de cada aluno (SOUZA et al., 2021).

Desse modo, a vivência de todas essas dificuldades está correlacionada a maiores níveis de ansiedade, estresse e depressão. Em nossa amostra de professores independente do grupo estudado foi relatado todas essas adaptações e desafios, assim como também com frequência sentiu algumas características que se atenuadas podem acarretar no adoecimento psíquico. Segundo Deffaveri, Méa e Ferreira (2020), os professores que trabalham tanto em rede pública como privada apresentaram maiores índices de ansiedade e depressão, embora os professores de escola privada tenham mostrado maior nível de estresse.

 

Conclusões

 

A presente pesquisa teve como objetivo primário investigar a mudança comportamental na adoção de novos hábitos diante do cenário pandêmico e suas implicações psicológicas. Desta forma procuramos perceber como o indivíduo se adapta e ressignifica diante a realidade do cenário pandêmico.

Assim, por meio dos resultados das entrevistas e análises, observamos que as nossas indagações foram respondidas e os objetivos foram alcançados. Nos relatos dos professores, ficou evidenciado que eles têm procurado ressignificar a vida em busca da manutenção do equilíbrio emocional, como por exemplo a valorização dos momentos em família, assim como, mais empatia e amor pelo próximo. Sobretudo, percebe-se que alguns professores têm a percepção de que estar com a família, não é algo que possa ser identificado como relaxamento e sim uma obrigação.

Vale ressaltar que ainda na perspectiva dos objetivos, tivemos a compreensão dos comportamentos adquiridos com a Pandemia após a ressignificação, como o aumento da higiene pessoal e do ambiente cotidiano, algumas vezes de forma excessiva, além do medo da aproximação das pessoas em lugares públicos ou privados.

A reflexão acerca dos efeitos na saúde mental dos indivíduos frente à Pandemia, foi outro ponto destacado pelos entrevistados, e ainda, o quanto foram afetados ao perderem parentes e amigos. O isolamento social repentino, foi um dos causadores de ansiedade, assim como, as inúmeras adaptações feitas para se protegerem de questoes até o momento desconhecidas, foram causadores de insônia, destacada pelos entrevistados.

Ficou evidenciado tanto nas bibliografias quanto nos dados coletados que os efeitos da Pandemia trazem prejuízos e influencia negativa na saúde mental das pessoas, de forma que muitos precisaram ressignificar seus comportamentos diante do novo contexto tenham sido ou não contaminados pelo virus.

 Assim conclui-se que as condições experienciadas pelo professor já traziam preocupações mesmo antes da Pandemia da COVID-19, no entanto, as dificuldades e desafios relacionados às demandas intepestivas da transição do ensino presencial para ensino remoto, somadas as dificuldades desencadeadas geradas pela inseguranças do período pandemico, mostraram-se como fatores desencadeantes de doenças psíquicas. Essa realidade se aplica aos docentes de Educação Infantil tanto da rede pública como daa rede privada. Aprender a lidar com o novo normal e as necessidades de mudanças das atitudes foi e continua sendo desafiador.

A realização deste trabalho nos proporcionou momentos de reflexão e a consciencia do protagonismo docente no periodo de atividades remotas, o qual se demonstrou de grande relevancia social. demandando a reinvenção do proprio papel, de forma inovadora Onde pudemos oferecer escuta da experiencia e aprendizado docente a respeito dos recursos tecnologicos, bem como demonstrar reconhecimento pelo esforço na atuação neste momento singular, onde toda sociedade se viu implicada diante do quadro pandemico.

 

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[1] Juracy Machado Pacífico. Doutora em Educação (UNESP), e Mestre em Psicologia (USP). Atua no Departamento Acadêmico de Ciências da Educação (DACED/UNIR), Professora do PPGEEProf/UNIR e PGEDA/UFOPA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3051710228899281 ORCID: 0000-0003-0486-874X E-mail: juracypacifico@unir.br

 

[2] Diana Campos Fontes Arcanjo, Doutoranda em Educação (PGDA/UFOPA/EDUCANORTE), Mestre em Psicologia (UNIR), Atua como Psicóloga Escolar (SEDUC-RO), Porto Velho-RO. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9285413625064845, ORCID: 0000-0002-3724-6536. E-mail:fontesarcajodiana@gmail.com

 

3 Samara Ferreira da Silva, Mestre em Educação (UTIC), Especialista em Gestão Escolar e LIBRAS e Educação de Surdos, Psicóloga (FIMCA) Pedagoga (FARO). Orientadora Educacional da Rede Municipal de Ensino do Município de Porto Velho. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9554162029260458 bem como do ORCID: 0000-0002-4459-8863 E-mail: samarasfs13@gmail.com

 

4 Maria Antônia do Nascimento Psicóloga (FIMCA) Graduação em Jornalismo (UNIRON). Publicidade e Propaganda (UNIRON) Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Atua como Chefe de Gabinete na Sociedade de Portos e Hidrovias do Governo do Estado de Rondônia. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4337378895929768 ORCID: 0000-0002-9588-4544 E-mail: antonia.nascimento2829@gmail.com

 

[5] Que não expressa sintoma (dor, febre, náuseas etc.) ou não produz os sintomas esperados: doença assintomática.

[6] Que apresentam poucos ou leves sintomas (de determinada doença). [Do grego olígos, ‘pouco, em pequena quantidade’ + sintomático

[7] Os dados referentes ao Questionário foram quantificados em porcentagens e analisados em conjunto com os dados das Entrevistas.

 

Revista Culturas & Fronteiras - Volume 7. Nº 1 - Janeiro/2023

Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR

Disponível em: http://www.periodicos.unir.br/index.php/index/user