Revista Culturas & Fronteiras - Volume 8. Nº 1 - Julho/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
A IMPORTÂNCIA DAS INTERAÇÕES SOCIAIS NA FORMAÇÃO
HUMANA: Uma análise a partir dos mapas mentais
THE IMPORTANCE OF SOCIAL INTERACTIONS IN HUMAN FORMATION: An
analysis from mental maps
Geise Natália Rodrigues de Freitas
1
Resumo
No Brasil, a educação dos cidadãos que não conseguiram completar o ensino básico
em idade adequada, está contemplada na modalidade de ensino denominada
Educação de Jovens e Adultos. Todavia geralmente, tal educação está restrita ao
objetivo de capacitar as pessoas para inserção ao mercado de trabalho. Porém, a
partir da Psicologia Histórico-cultural percebemos que as interações envolvem não
apenas as relações sociais que estabelece com outros indivíduos, mas também as
práticas culturais que lhe são apresentadas. Portanto, este trabalho se estruturou nos
seguintes questionamentos: a) Como a falta de acesso a escola pode afetar a vida do
sujeito? b) Quais os motivos preponderantes que não permitiram o acesso a escola
nas idades adequadas? A presente pesquisa se caracteriza como estudo de caso,
uma vez que analisou o contexto de uma participante de 75 anos de idade, natural do
município de Guajará-Mirim/ RO que não completou a educação básica. Para tanto,
utilizou-se o aporte teórico-metodológico da aplicação de mapas mentais, proposto
pela pesquisadora Dra. Salete Kozel. Por fim, podemos inferir que, o fato de não ter
tido acesso à escola, a Educação não esteve ausente em sua formação, pois
conforme afirmam Rodrigues (2001) e Alves (2016), a educação independe dos
espaços na qual acontece e pode ser exercida por outros membros do meio social em
que o sujeito está inserido. Portando percebemos que, educação não ocorre apenas
nos espaços formais, como das escolas, mais inicia-se dentro do seio familiar e se
estende perante as interações do sujeito com o meio em que está inserido.
Palavras-chave: Educação; Formação humana; Mapas mentais.
Abstract
In Brazil, the education of citizens who were unable to complete basic education at the
appropriate age is covered by the education modality called Youth and Adult
Education. However, generally, such education is restricted to the objective of
qualifying people to enter the labor market. However, based on Historical-Cultural
Psychology, we realize that interactions involve not only the social relationships
established with other individuals, but also the cultural practices presented to them.
Therefore, this work was structured around the following questions: a) How can the
1
Graduada em Pedagogia da Universidade Federal de Rondônia, Campus Jorge Vassilakis. Membro
do GEIFA. e-mail: geisenaty@hotmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1964154768803277
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5325-4296
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lack of access to school affect the subject's life? b) What are the main reasons that did
not allow access to school at the appropriate ages? This research is characterized as
a case study, since it analyzed the context of a 75-year-old participant, born in the
municipality of Guajará-Mirim/RO, who did not complete basic education. For that, the
theoretical-methodological contribution of the application of mental maps, proposed by
the researcher Dr. Salete Kozel. Finally, we can infer that, the fact of not having had
access to school, Education was not absent in his formation, because as stated by
Rodrigues (2001) and Alves (2016), education is independent of the spaces in which
it takes place and can be exercised by other members of the social environment in
which the subject is inserted. Therefore, we perceive that education does not only
occur in formal spaces, such as schools, but it starts within the family and extends to
the subject's interactions with the environment in which he is inserted.
Key words: Education; Human formation; Mental maps.
INTRODUÇÃO
O estudante é, sem dúvida, um sujeito histórico social, que deve ser
compreendido em sua totalidade a partir de sua história, sua cultura e sua realidade
social. Essa compreensão, não deve ser diferente quando nos referimos ao contexto
da Educação de Jovens e Adultos, pelo contrário, deve ser observado que esse
público é composto por sujeitos que carregam em si toda a sua história de vida e
cultura, fruto das relações sociais, políticas e econômicas, estabelecidas ao longo do
tempo.
Dessa forma, compreender as especificidades desses estudantes é
fundamental para uma educação efetiva, que seja capaz de respeitar e valorizar a sua
história, e que, ao mesmo tempo, seja capaz de transformar sua realidade social. É,
portanto, a partir da construção de uma educação emancipatória e transformadora
que se pode transformar a realidade social, garantindo assim um futuro melhor para
toda a sociedade.
No Brasil, a educação dos cidadãos que não conseguiram completar a ensino
básico em idade adequada, está contemplada na modalidade de ensino denominada
Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ainda que a educação seja considerada
fundamental para a emancipação do sujeito e para a transformação social,
geralmente, a EJA está restrita ao objetivo de capacitar as pessoas para inserção ao
mercado de trabalho.
A esse respeito Johnson, Aguiar e Johnson (2022, p. 101) defendem que:
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Para além da preparação para atender às concepções capitalistas,
deve-se considerar que o processo educacional deve estar
comprometido com o pleno desenvolvimento do psiquismo humano,
possibilitando aos educandos reconhecerem-se como sujeitos
históricos e sociais capazes de compreender e transformar as
relações sociais.
Assim, concordamos com os pressupostos da Psicologia Histórico-cultural
que compreende o desenvolvimento humano a partir das interações sociais e culturais
que vivencia. Essas interações envolvem não apenas as relações sociais que
estabelece com outros indivíduos, mas também as práticas culturais, política e
econômicas que lhe são apresentadas. Assim, a educação assume um papel
fundamental na formação desses estudantes, na medida em que oferece não apenas
o saber técnico, mas também a possibilidade de desenvolver um pensamento crítico
e reflexivo sobre a sua realidade.
A partir dessas conjecturas, se constrói as bases epistemológicas que
motivaram a presente pesquisa. Portanto, este trabalho se estruturou nos seguintes
questionamentos: a) Como a falta de acesso a escola pode afetar a vida do sujeito?
b) Quais os motivos preponderantes que não permitiram o acesso a escola nas idades
adequadas? c) como o sujeito que não pode completar a educação básica, percebe a
escola?
Com base nesses questionamentos, definimos como objetivo geral desse
trabalho: conhecer os desafios enfrentados pelo sujeito que não pode concluir a
educação básica na idade adequada. Os seguintes objetivos específicos foram
delineados: a) compreender os fundamentos da educação de jovens e adultos; b)
descrever os desafios e formas de enfrentamento vivenciados por quem não pode
concluir a educação básica na idade adequada c) identificar como esse sujeito
percebe a escola.
A presente pesquisa se caracteriza como estudo de caso, uma vez que
analisou o contexto de uma participante que não completou a educação básica. Para
tanto, utilizou-se o aporte teórico-metodológico da aplicação de mapas mentais,
proposto pela pesquisadora Dra. Salete Kozel (UFPR). Assim, destacaremos
informações e reflexões construídas a partir do mapa mental.
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O trabalho de conclusão de curso estrutura-se em cinco partes,
apresentando-se no primeiro a Educação e Formação Humana, no segundo uma
contextualização da Educação de Jovens e Adultos (EJA) ao longo do tempo, sendo
o terceiro capítulo composto pelos materiais e métodos, o quarto pelos resultados e
discussões e por fim considerações finais.
1 EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA
A Educação é apresentada na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(UNESCO, 1948), como um direito de todos. A Constituição Federal Brasileira (1988)
em consonância com esse documento proclama que a educação visa ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.
De um modo geral, a educação é compreendida como uma prática social a
fim do desenvolvimento do ser humano em suas multiplicidades, estando presente
desde os primórdios em nossa sociedade.
[...] a Educação é necessária para que o Ser Homem seja constituído.
O Homem não se define como tal no próprio ato de seu nascimento,
pois nasce apenas como criatura biológica que carece se transformar,
se re-criar como Ser Humano. Esse ser deverá incorporar uma
natureza em tudo distinta das outras criaturas. Ao nascer não se
encontra equipado nem preparado para orientar-se no processo de
sua própria existência (RODRIGUES, 2001, p. 240)
Nessa perspectiva o autor compreende a Educação como uma totalidade que
abarcará em sua ação formativa a dimensão sica e intelectual, bem como o
crescimento da competência de cada educando para se autogovernar e a formação
moral que o leve a um adequado relacionamento com os outros homens.
Para Alves (2016), a educação independe dos espaços na qual acontece, o
que significa que não devemos associá-la apenas aos espaços formais que se limitam
as escolas e instituições, mais também aos informais como: a família, religião,
associações e todos os espaços onde há vida humana.
Complementando a afirmação acima, Rodrigues (2001, p. 252-253) discorre
sobre àqueles que exercem o papel de educador-formador do sujeito humano
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[...] Tradicionalmente, essa é tarefa inicial da família, a começar dos
pais, passando a outros membros e a todos os adultos que convivem,
desde o início, com as crianças. Em segundo lugar, foi um papel
desempenhado pelas comunidades, pois constituíam um corpo
educativo formado, principalmente, pelos mais idosos, que
preservavam os princípios a serem seguidos por todos os membros
da vida comunitária. A religião também desempenhou um poder
educativo em relação a uma série de valores invocados pelas
comunidades. E, por último, as instituições sociais, como o Estado e
seus aparelhos, a justiça, os partidos políticos, as organizações da
sociedade civil e, do ponto de vista dos conhecimentos e habilidades,
as instituições educacionais.
Ao consideramos outros espaços para a formação do sujeito, somos levados
a indagar que os fins da educação não devem estar restritos à aquisição e o
desenvolvimento de conhecimentos e habilidades. Para o autor a educação deve
acionar os meios intelectuais do sujeito, capacitando-o a assumir o pleno uso de suas
potencialidades físicas, intelectuais e morais para conduzir a continuidade de sua
própria formação. Assim, são destacadas três condições para que seja reconhecido
como sujeito social: autonomia da vontade, autonomia física e autonomia intelectual.
Sendo a autonomia da vontade àquela que expressa a capacidade de
estabelecer relações de equilíbrio racional entre emoções e paixões. A autonomia
física, compreende a responsabilidade pelo próprio corpo e as relações equilibradas
com o mundo natural. E a autonomia intelectual corresponde a determinação e
escolha dos meios e dos objetivos de seu crescimento intelectual e as formas de
inserção no mundo social (RODRIGUES, 2001).
Neste sentido, a Educação é uma das principais ferramentas para a formação
de um ser humano pleno e capaz de enfrentar os desafios da vida. Através da
educação é possível adquirir conhecimentos, habilidades e valores essenciais para a
vida em sociedade. É fundamental que todos tenham acesso à educação de qualidade
desde a infância, pois somente assim poderemos formar cidadãos capacitados e
conscientes de seu papel na sociedade e aptos a fazerem escolhas e tomarem
decisões de forma autônoma, contribuindo assim para o desenvolvimento
socioeconômico do país.
Nesse contexto, pensar em Educação é pensar sim em um processo formativo
do indivíduo, em uma formação humana integral, mas, também é concebê-la como
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àquela que capacita o sujeito para modificar a realidade. Paulo Freire em seu livro
Pedagogia da Autonomia destaca que a:
(...) a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção
que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia
dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória,
não poderia ser a educação só uma ou a outra dessas coisas. Nem
apenas reprodutora nem apenas desmascadora da ideologia
dominante. (FREIRE, 1996, p. 38).
Para ele, a educação é uma prática transformadora, capaz de empoderar as
pessoas e levá-las a participar ativamente da construção de uma sociedade mais justa
e igualitária. Além disso, Freire (1996) defendia que a educação deve ser um processo
de conscientização, no qual o aluno seja estimulado a questionar a sua própria
realidade e desenvolver o senso crítico. É importante que o estudante possa
compreender a realidade em que está inserido, identificando e analisando
historicamente o processo de construção da sociedade na atualidade e as suas
contradições e desigualdades, e buscando formas de transformá-las.
Nesse sentido Saviani (2013, p. 26) alerta que: [...] a educação é um ato
político significa dizer que a educação não está divorciada das características da
sociedade; ao contrário, ela é determinada pela sociedade na qual está inserida.”
Deste modo, percebemos que a Educação é de suma importância para a formação
do sujeito social, não devendo ser assim associada apena a conquista de habilidades
como ler e escrever ou às necessidades impostas pelo capital, sendo tal condição
primordial para entender os processos históricos que impactaram nas situações de
precarizações e vulnerabilidade humanas, mas ser entendida como uma ferramenta
fundamental que promove a cidadania, igualdade social, justiça, desenvolvimento
econômico e a transformação da sociedade no geral.
Alves (2016), destaca que a educação é um processo contínuo que acompanha
o desenvolvimento do homem. Desta forma, quando mais acesso à educação o ser
humano tiver, mais conseguirá se desenvolver e assim ganhar autonomia.
Por fim, é fundamental ressaltar que a formação social dos indivíduos faz parte
dos seus direitos básicos e da capacidade do sistema educacional de promover uma
educação que potencialize suas habilidades e capacidades. Portanto, a função da
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escola é a de formar cidadãos comprometidos com os valores da democracia, do
respeito, da convivência e do bem-estar social, preparando-os para atuarem de forma
consciente do mundo que os cerca. Assim, a formação social que se almeja é a de
cidadãos autônomos e críticos, capazes de refletir sobre sua própria existência e
sobre a existência da sociedade em que vivem.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
Ao refletirmos sobre a importância da educação para a formação humana,
somos levados a indagar sobre o contexto da Educação de Jovens e Adultos, será
que ela caminha na direção de promover uma educação de valorização do sujeito
social? Para pensar tal questionamento, se faz necessário conhecer como essa
modalidade se organiza.
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil inicia-se durante o período colonial
com os Jesuítas que atuavam com o objetivo de alfabetizar povos indígenas para que
assim estes pudessem ser catequizados. Deste modo, ao logo dos tempos
percebemos que tal Educação perpassa por várias políticas públicas as quais em
muitos casos estavam voltadas para a formação e inserção no mercado de trabalho.
De acordo com Ventura e Bomfim (2015), pode-se dizer que a Educação de
Jovens e Adultos (EJA) no país possui várias especificidades, as quais faz-se
necessário analisá-las através da expansão capitalista, a qual as autoras apontam
como sendo dependente, desigual e associada ao capital, ou seja, uma Educação
atrelada a formação com foco no mercado de trabalho. Neste contexto, fica claro que
a EJA surge para atender as necessidades do mercado capitalista, o qual possui foco
apenas nos lucros o que torna o processo educativo mecanizado.
Costa, Tada e Johnson (2020) destacam que o acesso a uma educação de
qualidade que vise a reflexão e formação de sujeitos pensantes o interessa o
sistema e as políticas empregadas, pois quanto menos consciência o trabalhador tiver,
mais seguirá o que está posto, não questionando assim o que está sendo pedido.
Desta forma, a EJA surge no Brasil para atender as necessidades do
mercado, visando a acessão das classes menos favorecidas, ou seja, daqueles que
não possuíram acesso a escola durante o período certo, para assim diminuir o índice
de analfabetismo e assegurar diretos sicos. Com isso, percebemos que o processo
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de consolidação do que conhecemos hoje como Educação de Jovens e Adultos
passou por várias fases e adequações ao longo da história.
Mediante todo o processo de consolidação da Educação de Jovens e Adultos,
um fator que permanece em evidência trata-se da importância que tal educação
possui para assegura as classes menos favorecias que não tiveram a oportunidade
durante a infância e juventude ao acesso a escola, a oportunidade de aprender a
leitura e escrita, tendo assim o direito a dignidade e acesso a uma profissão.
Conforme verificamos no artigo 37 da Lei de Diretrizes e Base da Educação
(LDB, 1996). A Educação de Jovens e Adultos destina-se aqueles que por alguma
razão não possuíram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e
médio na idade própria, assegurando assim a continuidade da educação e a
aprendizagem ao longo da vida de forma gratuita. Sob essa ótica, ganha particular
relevância seu § que aborda sobre a EJA ser articulado preferencialmente com a
educação profissional, na forma regular. A resolução nº. 01/2021 de 25 de maio de
2021 aponta em seu artigo 1º que:
Art. Esta Resolução institui Diretrizes Operacionais para a
Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos aspectos relativos:
VII à flexibilização de oferta, de forma que se compatibilize com a
realidade dos estudantes, e o alinhamento da elevação de
escolaridade com a qualificação profissional, a serem
obrigatoriamente observadas pelos sistemas de ensino, na oferta e na
estrutura dos cursos e exames de Ensino Fundamental e Ensino
Médio, que se desenvolvem em instituições próprias, integrantes dos
Sistemas Públicos de Ensino Federal, Estaduais, Municipais e do
Distrito Federal, como também do Sistema Privado. (BRASIL, 2021)
Ainda de acordo com a resolução nº. 01/2021 que trata sobre as Diretrizes da
Educação de Jovens e Adultos, em seu Art. (figura 1) estabelece as modalidades
de ensino para assim possibilitar a permanência e continuada dos estudos daqueles
que não tiveram a oportunidade de frequenta uma escola ou interromperam por algum
motivo.
Figura 1: Submodalidade da Educação de Jovens e Adultos.
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Fonte: Adaptação BRASIL, 2021.
Segunda as Diretrizes da EJA, atualmente ela encontra-se organizada tanto
na modalidade semestral como na modular, tendo segmentos e etapas o que
possibilita uma maior flexibilidade da carga horaria exigida. Deste modo os segmentos
possuem correspondência nas etapas da Educação Básica tendo assim cargas
horária especificas a seguir:
I Para os anos iniciais do Ensino Fundamental, que tem como
objetivo a alfabetização inicial e uma qualificação profissional inicial, a
carga horária será definida pelos sistemas de ensino, devendo
assegurar pelo menos 150 (cento e cinquenta) horas para contemplar
os componentes essenciais da alfabetização e 150 (cento e cinquenta)
horas para o ensino de noções básicas de matemática;
II Para os anos finais do Ensino Fundamental, que tem como objetivo
o fortalecimento da integração da formação geral com a formação
profissional, carga horária total mínima será de 1.600 (mil e
seiscentas) horas; e
III Para o Ensino médio, que tem como objetivo uma formação geral
básica e profissional mais consolidada, seja com a oferta integrada
com uma qualificação profissional ou mesmo com um curso técnico de
nível médio, carga horária total mínima será de 1.200 (mil e duzentas)
horas. (BRASIL, 2021)
Quanto a articulação da EJA para à Educação Profissional as Diretrizes
definem que estas podem ser ofertadas através das formas:
I - Concomitante, na qual a formação profissional é desenvolvida
paralelamente à formação geral (áreas do conhecimento), podendo
ocorrer, ou não, na mesma unidade escolar;
I Educação de Jovens e Adultos presencial;
II Educação de Jovens e Adultos na modalidade Educação a Distância
(EJA/EaD);
III Educação de Jovens e Adultos articulada à Educação Profissional, em
cursos de qualificação profissional ou de Formação Técnica de Nível
Médio; e
IV Educação de Jovens e Adultos com ênfase na Educação e
Aprendizagem ao Longo da Vida (certificação a partir de um profissional
selecionado).
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II - Concomitante na forma, uma vez que é desenvolvida
simultaneamente em distintas instituições educacionais, mas
integrada no conteúdo, mediante a ação de convênio ou acordo de
intercomplementaridade para a execução de Projeto Político
Pedagógico (PPP) unificado; e
III - Integrada, a qual resulta de um currículo pedagógico que integra
os componentes curriculares da formação geral com os da formação
profissional em uma proposta pedagógica única, com vistas à
formação e à qualificação em diferentes perfis profissionais,
atendendo as possibilidades dos sistemas e singularidades dos
estudantes. (BRASIL, 2021)
Percebemos que segundo as Diretrizes a oferta da EJA articulada a Educação
Profissional pode ocorrer de três formas, das quais duas podem acontecer de modo
concomitante, onde uma ocorre paralela à formação geral e a outra simultaneamente
em mais de uma instituição, porém com um conteúdo integrado. a terceira forma
corre de modo integrado, ou seja, a integração dos componentes curriculares da
formação geral com a formação profissional, sendo aplicados em uma única proposta
pedagógica, o que possibilita a qualificação de diferentes perfis profissionais.
Deste modo, é notório a importância que a EJA possui para a formação
daqueles que por alguma razão não tiveram a oportunidade ou a chance de estudar
ou abandoaram a escola durante a infância e adolescência. Tendo em vista que o
processo de aprendizagem se torna de fundamental importância para a formação do
indivíduo e inserção dele na sociedade de forma digna.
Em resumo, a educação de jovens e adultos, deve ser compreendida como
um processo de transformação e libertação, capaz de empoderar os estudantes e
transformar a realidade em que vivem. É fundamental que a educação seja baseada
no diálogo, na aprendizagem significativa e na conscientização, buscando sempre o
fortalecimento das pessoas e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
De acordo com Kauark, Manhães e Medeiros (2010), a pesquisa científica
configura-se na busca por respostas, ou seja, soluções para possíveis problemas,
sendo deste modo, um caminho para se chegar à ciência. Pois através das escolhas
dos procedimentos que o pesquisador tem a possibilidade de adotar os melhores
métodos a serem aplicados durante o desenvolvimento da pesquisa.
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Para esse trabalho foi adotado a abordagem qualitativa, conforme Kauark;
Manhães; Medeiros (2010), apresenta a seguinte característica: sendo considerada
como uma relação dinâmica entre o sujeito e o ambiente em que está inserido, o qual
possui um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade, não sendo
possível assim ser traduzida em números.
Nessa perspectiva, optou-se pelo Estudo de Caso como estratégia para o
desenvolvimento da presente pesquisa. O qual se caracteriza como “um caso é um
acontecimento ou um fenômeno em estudo. O EC é uma metodologia de estudo de
fenômenos individuais ou, processos sociais.” (PEREIRA; SHITSUKA; PARREIRA;
SHITSUKA. 2018, p 70). Sendo assim, podemos entender o EC como um estudo
aprofundado daquilo que se deseja estudar, através de uma abordagem abrangente,
da coleta de dados e análise.
"A pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço
da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais"
(Kauark; Manhães; Medeiros, 2010, p. 26). Deste modo, utilizou-se como natureza da
pesquisa básica, tendo em vista que a mesma visa a geração de conhecimentos.
Para o melhor desenvolvimento desta pesquisa, observou-se que ela é
classificada como pesquisa Exploratória. Isso devido ao fato do uso de fontes
bibliográficas e descritivas para ser possível descrever todo o processo. Sendo assim
segundo Kauark; Manhães; Medeiros (2010), a pesquisa exploratória busca objetivar
uma maior familiaridade do pesquisador com o problema, possibilitando assim a
construção de hipóteses.
Como instrumento para coleta de dados utilizou-se da elaboração de um mapa
mental desenvolvido pela entrevistada, através do seguinte questionamento: Desenhe
o que representa a escola para você? Seguido por uma entrevista para entender os
motivos que não permitiram que ela frequentasse a escola e o que isto encadeou em
sua vida.
Deste modo podemos entender os mapas mentais como instrumentos afins de
possibilitar a construção de ideias, através da percepção de diversas situações, os
quais utilizam as expressões gráficas, realizando a leitura das imagens como uma
possibilidade de leitura dos valores humanos. Kozel aponta que o “mundo cultural é
considerado não apenas como uma soma de objetos, mas como uma forma de
linguagem referendada no sistema de relações onde estão imbricados valores,
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sentimentos, atitudes e vivências e essas imagens passam a ser entendidas como
mapas mentais.” (KOZEL, 2010 p. 1).
Para a realização da tarefa foram disponibilizados à participante alguns
materiais de desenho, entre os quais: folha de papel A4, pis de cor, canetas
hidrográficas, lápis preto e borracha. O tempo estipulado para a elaboração do mapa
mental foi 20 minutos, a parti do seguinte questionamento: “O que é a escola para
você?”
Kozel (2009) aponta que a interpretação dos mapas mentais possui quatro
fases a serem analisadas, o que permite uma maior compreensão a respeito dos
atores e suas ligações com o espaço vivenciado. Sendo assim, a “Metodologia Kozel”
para análise dos mapas mentas buscar identificar os seguintes quesitos (Figura 2).
Figura 2: Metodologia Kozel
Fonte: Adaptação de KOZEL, 2009.
Desta forma, a metodologia Kozel busca em suas três primeiras fases a
interpretação das figuras contidas nos mapas mentais. Segundo Barroso, Johnson e
Brito (2020), na fase temos a interpretação dos elementos que compõem a
Interpretação
1ª Fase: Representação
dos elementos na imagem
* Ícones diversos;
* Le/tras;
* Mapas;
* Linhas;
* Figuras.
2ª Fase: Distribuição dos
elementos na imagem
* Formas podem aparecer disposta
* Formas podem aparecer horizontalmente;
* Forma isolada, dispostas;
* Quadros em perspectiva.
3ª Fase: Especificidade
dos ícones por
representação dos
elementos
* Da paisagem natural;
* Da paisagem construída;
* Móveis ;
* Humanos.
4ª Fase: Apresentação de outros aspectos ou particularidades
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imagens, a qual buscar observa-se os Ícones que podemos definir com formas de
representação gráficas através de desenhos; Letras que o palavras que servem
para complementar as representações gráficas e Mapas que são forma de
representação cartográfica que evidencia a espacialização do fenômeno
representado. na fase busca-se a intepretação dos aspectos referentes a:
Representação da imagem em perspectiva, da imagem em forma horizontal, da
imagem em forma circular, da imagem de maneira dispersa e de imagens de forma
isoladas. A 3ª fase necessita-se de uma análise mais complexa, tendo em vista que
a interpretação de elementos simbólicos sendo dividida pelos grupos: Elementos
da paisagem natural, elementos da paisagem construída, elementos móveis e
elementos humanos. Quanto a 4ª fase as autoras apontam a necessidade de se fazer
um levantamento e análise das mensagens veiculadas pelos mapas mentais como
textos a serem desvendados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nessa seção apresentaremos uma breve contextualização da história de vida
da participante da pesquisa, seguido da apresentação do que é a escola na percepção
da participante a partir da construção do mapa mental.
4. 1 A participante da pesquisa
A presente pesquisa desenvolve-se a partir de uma entrevista, realizada com
uma mulher de 75 anos de idade, natural do município de Guajará-Mirim/ RO (a qual
chamaremos pelo nome fictício de Rosa). Rosa não teve a oportunidade de frequentar
a escola em detrimento do local onde morava e falta de apoio da família.
A participante da pesquisa relata que nasceu nas margens do Rio Pacaás
Novos em Guajará-Mirim/ RO, sendo a de 11 irmãos, na época da produção de
borracha. Filha de pai Cearense e mãe Natural de Pedras Negras/RO, Rio Guaporé
sendo sua mãe de naturalidade peruana. Viveu nos seringais de Guajará-Mirim com
sua família e aos 14 anos foram morar em São Miguel do Guaporé/RO, no Rio
Caespinas no seringal do finado Arlindo de Freitas. Aos 17 anos foi morar em Limoeiro
o qual hoje encontra-se como sendo reserva legal, e logo em seguida seus pais
mudaram para Porto Mortinho/RO.
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Após se casar voltou a morar em Limoeiro onde teve 9 filhos, dos quais 2 não
chegaram a fase adulta. Em decorrência do local onde moravam está em processo de
transformação para se tornar reversa legal o IBAMA solicitou as terras, e deste modo
mudaram-se para Porto Mortinho/RO e posteriormente foram morar em Costa
Marques/RO. No ano 2006 veio morar em Guajará-Mirim onde residiam grande parte
dos seus filhos e por ser um lugar mais desenvolvido, o qual reside até os dias atuais.
Quando questionada sobre ter frequentado a escola, ela informou que: nunca
frequentou a escola, pois morava com sua família no seringal de Guajará-Mirim e
neste local não havia escola e a realidade da família não a permitia estudar. Todavia
ao se mudarem para o distrito de Porto Mortinho seus irmãos mais novos tiveram
acesso a escola, porém nesta época ela havia completado 18 anos e por este
motivo seu pai não há matriculou.
Segundo a entrevistada, havia um senhor, amigo de seu pai que a ensinou o
básico (aprendizagem das vogais, consoantes, construção de silabas e as noções de
matemática), porém como tinha que trabalhar na roça e no seringal auxiliando seu pai
não conseguia aprender muita coisa, pois as horas de ensino eram curtas e não havia
o incentivo da família para estudos e sim para trabalhar, pois o trabalho garantia uma
renda financeira para a família. Depois de casada se matriculou em uma escola
destinada a pessoas adultas que não sabiam ler e nem escrever, porém novamente
não teve o incentivo por parte do seu marido o que a fez desistir dos estudos para
cuidar dos filhos e afazeres do lar.
Dona Rosa aponta que a maior dificuldade enfrentada por nunca ter
frequentado a escola foi na questão do trabalho, pois a falta de estudo não lhe permitiu
ter um emprego formal. Quando perguntada se gostaria de aprender a ler e escrever,
a resposta foi, “Sim, gostaria de aprender a ler e escrever se tivesse oportunidade,
pois se eu tivesse aprendido quando era mais nova hoje em dia teria um emprego e
teria mais facilidade nas coisas. Se eu tivesse ido à escola seria mais fácil pois, me
possibilitaria ter um emprego e não depender dos outros (marido) para compra minhas
coisas”.
Observamos que, para Rosa, o acesso à Educação representa oportunidades
de acesso ao mercado de trabalho. Notamos que a falta de acesso ao ensino e
aprendizagem acaba por tornar as pessoas dependentes, desta forma Costa, Tada e
Johnson (2020) destacam que “explorado e explorador pertencem a uma sociedade
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de classes, com interesses distintos, onde quanto menos consciência o trabalhador
tiver, mais seguirá o que está posto, por não ter acesso a uma educação de qualidade
para auxiliá-lo na reflexão para além do fazer cotidiano [...]” (COSTA; TADA;
JOHNSON, 2020. p.140).
4. 2 A escola na percepção de ROSA
A partir de agora apresentaremos a análise do mapa mental (figura 3)
construindo por Dona Rosa com base no seguinte questionamento: Desenhe o que
representa a escola para você?
Figura 1: Mapa metal
Fonte: Dados da pesquisa, 2023.
Conforme a Metodologia Kosel, destacamos os elementos contidos no mapa
mental, elaborado por Rosa:
1 Casa;
1 Bandeira;
1 Professora;
1 Filtro;
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2 Copos;
Duas Árvores.
Ao analisarmos o mapa mental notamos a presença de ícone e figuras, que
expressam como Rosa imagina a escola, sendo representada por imagem em
perspectiva, em formatos circulares e de maneira dispersa. Há, ainda a presença de
elementos da paisagem natural e paisagem construída, assim como elementos
humanos.
Percebemos que a concepção que Rosa possui sobre a escola é de um
ambiente onde o conhecimento pode ser aprendido tanto dentro da escola como fora,
pois, segundo ela as duas árvores contidas no mapa mental servem para fazer
sombra na escola, pois a escola é no ar livre”. Outro ponto a ser destacado, refere-se
a bandeira, a qual segundo ela a bandeira porque pertence a escola” o que evidencia
os momentos práticos presentes nas escolas.
A produção de Rosa parece indicar, ainda que a realidade da sua infância se
reflete no desenho quando ela explica que “filtro de água e copo é onde se bebe água”.
Antes de termos os eletrodomésticos que conhecemos como: geladeira, bebedouro e
purificador de água, a realidade das famílias para conservação de água era em filtros
2
feitos de barro ou cerâmica. Temos ainda a representação humana, a qual foi
identificada como sendo da Professora e uma casa que Rosa pontuou como, essa
casa para mim representa a escola”.
Devemos destacar que na construção do mapa mental Rosa não apresentou
elementos característicos da sala de aula, como: mesa, cadeira, quadro, caderno,
canetas, livros, entre outros, assim como não elementos escritos. Tal fator pode
ser interpretado por ela nunca ter vivenciado um ambiente de sala de aula,
demonstrando que o seu conhecimento sobre a escola é de forma superficial pelo que
ela conhecia ao levar seus filhos à escola.
No entanto, apesar de Rosa nunca ter frequentado a escola, as relações
vivenciadas ao longo de sua vida possibilitaram a construção do saber, com o pouco
2
Filtros ou potes de barro são modelos de filtros criados no Brasil no fim do século XX, que tem
chamado bastante atenção no mundo. Isso ocorre pelo fato desses filtros possuírem alta qualidade e
eficácia na purificação de água. Seu corpo é composto por um material poroso que retém sujeira,
detritos, bactérias, protozoários e cistos microbianos da água. Fonte: CCDM. A eflorescência em
filtros de barro, 2020. Disponível em: www.ccdm.ufscar.br/2020/06/06/a-eflorescencia-em-filtros-de-
barro/. Acesso em: 16 abr. 2023.
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que a prendeu durante as horas que o amigo de seu pai lhe ensinava durante a
infância e a vontade de aprender, desenvolveu a habilidade da leitura e intepretações
dos textos bíblicos. E mesmo com dificuldade na escrita em relação a formação das
palavras ela possui conhecimento do alfabeto e das silabas e com ajuda conseguir
escrever textos curtos. Rosa relata que a sua vontade em aprender a ler e
compreender os textos contidos na bíblia a motivaram a desenvolver a capacidade da
leitura a qual ela pratica diariamente, no entanto sua escrita ainda é muito precária
pois conseguir escrever algumas palavras e necessita de apoio para realizar a
transcrição, segundo ela “consigo realizar a leitura de textos com um pouco de
dificuldade, mas só consigo escrever se tiver uma cópia para auxiliar”.
Por fim, podemos inferir que, o fato de Rosa não ter tido acesso à escola, a
Educação não esteve ausente em sua formação, pois conforme afirmam Rodrigues
(2001) e Alves (2016), a educação independe dos espaços na qual acontece e pode
ser exercida por outros membros do meio social em que o sujeito está inserido.
É fato que a restrição no acesso à escola e, consequentemente, ao
conhecimento científico fornecido por essa, podem ter produzidos limitações na
formação de Rosa. No entanto, ao considerarmos as condições descritas por
Rodrigues (2001), podemos perceber que, mesmo com lacunas na autonomia
intelectual, a participante da pesquisa pode desenvolver-se como sujeito social, uma
vez que, sua história de vida demonstra que a mesma adquiriu capacidade para
assumir o pleno uso de suas potencialidades físicas, intelectuais e morais para
conduzir a continuidade de sua própria formação.
Questionamo-nos, então se o atual contexto proposto pela EJA se
apresentaria à Rosa como um caminho para a formação de cidadãos comprometidos
com os valores da democracia, do respeito, da convivência e do bem-estar social,
preparando-os para atuarem de forma consciente do mundo que os cerca. Assim, a
formação social que se almeja é a de cidadãos autônomos e críticos, capazes de
refletir sobre sua própria existência e sobre a existência da sociedade em que vivem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das indagações apresentadas, notamos que o processo de educação
de jovens e adultos torna-se de fundamental importância para que o sujeito que não
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teve acesso à educação possa adquirir conhecimento específicos, possibilitando
assim que este tenha uma vida digna.
Todavia, percebemos que tal educação não ocorre apenas nos espaços
formais, como das escolas, mais inicia-se dentro do seio familiar e se estende perante
as interações do sujeito com o meio em que está inserido. Sendo este processo de
ensino e aprendizagem de forma diferenciada, do que acontecer dentro das
instituições de ensino.
Entendemos assim, que o sujeito pode aprender a leitura e a escrita fora do
ambiente escolar, mais o processo de ensino e aprendizagem deste indivíduo pode
possuir um nível fragmentado de aprendizagem, pois neste contexto pode não ocorrer
uma metodologia adequada para o desenvolvimento amplo da educação. Notamos
assim, que a escola ainda é de extrema importância para o desenvolvimento do ensino
e aprendizagem, pois esta possibilitar uma metodologia adequada para a formação.
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