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AS ARTES DE DIZER DA PESSOA SURDA EM UMA FAMÍLIA DE
OUVINTES
Revista Culturas & Fronteiras - Volume 8. Nº 1 - Julho/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
4 MOTIVAÇÃO E ICONICIDADE
Ferrarezi Jr. (2019) afirma que a Semântica é a subdivisão da linguística que
estuda o significado.
O estudo dos nomes presentes nos léxicos das línguas, sejam próprios ou
comuns, tem uma importância muitas vezes negligenciada. Se as línguas
funcionam como “depósitos” naturais de conhecimento humano – depósitos
de cultura – e se percebemos esses depósitos culturais essencialmente nos
nomes dos referentes, entendemos o porquê dessa afirmação (FERRAREZI
JR., 2019, p. 111).
O autor divide os nomes de uma língua em dois grandes grupos: os nomes cuja
motivação podem ser recuperada e os nomes cuja motivação não pode ser
recuperada. Aqueles que possuem motivação reconhecida, “[...] parecem ter
motivações de duas origens distintas: uma origem extralinguística e mais complexa e
outra meramente linguística, sistêmica e previsível na própria gramática da língua”
(FERRAREZI JR., 2019, p. 112).
Como bem destaca o autor, há nomes que não possuem uma motivação
reconhecida (em português, temos “mesa”, “cadeira”, “touro” etc.; em Libras, temos
os sinais TER e CONVERSAR, por exemplo) e com motivação reconhecida. Nesse
último caso, a motivação pode ser extralinguística (como no caso, em português, das
metáforas: ex: Ele é fogo!; ou, em Libras, o sinal ÁRVORE) ou sistêmica (como ocorre,
em português, com as palavras derivadas “goiabada”, “cocada” – que são formadas
por processos de natureza gramatical; ou, em Libras, com os sinais SENTAR, que é
derivado do sinal CADEIRA).
Ferrarezi Jr. (2019) inclui, entre os nomes formados por natureza
extralinguística aqueles que possuem natureza icônica, “baseada em características
imitáveis dos referentes” (FERRAREZI JR., 2019, p. 112).
A iconicidade, de modo especial, nos interessa para o presente estudo, uma
vez que, como afirma Perniss (2007), a iconicidade participa da estrutura das línguas
de sinais. Sousa (2019; 2022) destaca que, no caso dos nomes próprios, a iconicidade
é muito presente na criação dos sinais em Libras.
Martins (1991) destaca que o nome próprio é mais que um signo linguístico,
“ele é um texto” (MARTINS, 1991, p. 11), o que Ferrerezi Jr. (2019) concorda quando