Revista Culturas & Fronteiras - Volume 8. Nº 1 - Julho/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: CONCEPÇÃO E PRÁTICAS DO
PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO
PEDAGOGICAL MEDIATION: CONCEPTION AND PRACTICES OF THE
EDUCATION PROFESSIONAL
Poliana Montessi Batista
1
Resumo
Ao adentrar a sala de aula, o professor se depara com inúmeras dúvidas e
inseguranças, principalmente àquele iniciante, os desafios parecem maiores quando
nesse cenário estão presentes estudantes com dificuldades de aprendizagem. Não
raro, diante desses casos observa-se a medicalização da educação. Considerando
esse contexto, buscou-se pensar uma alternativa frente às dificuldades que envolvem
o ensino e aprendizagem, a partir da mediação pedagógica. Assim, o presente estudo
teve como objetivo conhecer a concepção de mediação pedagógica de professores
da rede pública de educação que atuam em dois municípios do Estado de Rondônia.
Para tanto, recorremos à abordagem qualitativa, por meio de pesquisa bibliográfica,
subsidiada pelos estudos de Ferreira, Vectore e Dechichi(2012) sobre Feuerstein e a
sua Experiência de Aprendizagem Mediada(EAM), além dos seus critérios para a
EAM, somado as ideias de mediação e aprendizagem de Vygotsky. Foi realizada
ainda, pesquisa de campo com a participação de sete professores, sendo seis de
Nova Mamoré e um de Ariquemes. Os resultados apontam que a mediação
pedagógica é crucial para uma eficaz e eficiente aprendizagem e desenvolvimento do
educando, e que ainda se faz necessário muitos estudos e formações sobre o tema,
uma vez que a concepção apresentada pelos docentes, se mostram muito restritas,
não abordando todas as possibilidades dentro dessa metodologia.
Palavras-chave: Mediação pedagógica. Intencionalidade. Planejamento. Formação
Continuada. Dificuldade de aprendizagem.
ABSTRACT: When entering the classroom, the teacher is faced with numerous
doubts and insecurities, especially to that beginner, the challenges seem greater when
in this scenario are present students with learning difficulties. Considering this context,
we sought to think of an alternative to the difficulties that involve teaching and learning,
based on pedagogical mediation. Thus, the present study aimed to know the
conception of pedagogical mediation of teachers of the public education network who
work in two municipalities of the State of Rondônia. To this end, we resorted to the
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2023). Egressa da
Universidade Federal de Rondônia. Lattes:
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=3B901EE13C8C4694670F86E3B5B422
BF# - Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4186-019X - Email: polianamontessi@gmail.com.
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qualitative approach, through bibliographic research, supported by the studies of
Ferreira, Vectore and Dechichi (2012) on Feuerstein and his Mediated Learning
Experience (EAM), in addition to his criteria for EAM, added to Vygotsky's ideas of
mediation and learning. Field research was also carried out with the participation of
seven professors, six from Nova Mamoré and one from Ariquemes. The results
indicate that pedagogical mediation is crucial for an effective and efficient learning and
development of the learner, and that it is still necessary many studies and training on
the subject, since the conception presented by the professors are very restricted, not
addressing all the possibilities within this methodology.
Keywords: Pedagogical mediation. Intentionality. Planning. Continuing Education.
Learning disability.
Introdução
A temática desse trabalho surgiu através de processos da minha formação
acadêmica, iniciando com o estágio curricular obrigatório, sendo impulsionado pela
experiência de ministrar aulas de reforço que essa autora trabalhou por um mês. Em
ambos os casos ocorreu o contato com alunos que possuem dificuldades de
aprendizagem, alguns casos que estão diagnosticados, outros ainda procurando
laudar, e o aluno de reforço, que se tratou apenas de suspeita, e que no processo
deste artigo estava passando por avaliações.
Após relatar à orientadora deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a Drª.
Luanna, a experiência das aulas de reforço e pelo que os pais do aluno estavam
passando para entender se as dificuldades estavam relacionadas a causas orgânicas
ou apenas se dava pelo contexto, vivência ou metodologia aplicada ao aluno, foi
comentado sobre a problemática da medicalização, sendo apresentada como um
possível caminho de intervenção a mediação pedagógica.
Abrindo um parêntese, Fanizzi (2017, p. 7), em sua tese, comenta que “o
pedagogo ou professor dá um passo para trás e cede espaço a alguém que fala como
especialista: detentores de saberes médicos”. É permitido que apenas esse saber
médico influencie na práxis docente e no “ser” do educando, se tornando como mais
uma barreira para a aprendizagem. Esquece-se que o profissional educador também
possui saber técnico que deve ser levado em consideração nessas situações. É
crucial lembrar que a mediação pedagógica pode e deve ser aplicada não somente a
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quem tem dificuldade de aprendizagem, mas a todo estudante, a quem o agente
mediador quer possibilitar o ato de construção do conhecimento.
A mediação é um conceito chave na teoria de Vygotsky sobre o
desenvolvimento humano. Ele argumenta que a cultura e o ambiente social em que
um indivíduo é criado são fundamentais para a sua formação e aprendizagem. A
mediação é um processo em que adultos ou outras pessoas mais experientes utilizam
artefatos culturais (como a linguagem, tecnologias, símbolos, etc.) para ajudar as
crianças a desenvolver habilidades e conhecimentos (VYGOTSKY, 2007).
O pesquisador elaborou o conceito de Funções Psicológicas Superiores, a
saber: atenção, concentração, memória, abstração, percepção, raciocínio lógico e
pensamento; como estas sendo um objetivo da mediação. Ao discutir sobre
aprendizagem e desenvolvimento, apresentou ainda, a Zona de Desenvolvimento
Real e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ou potencial) que seriam a base para
sua concretização.
Desenvolvimento real, é aquele conhecimento que a criança já possui, e que
deve ser visto como base para o que ela ainda pode conquistar, esse último sendo
o proximal. Vygotsky (2007, p. 98) explica que são “aquelas funções que ainda não
amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que
amadureceram, mas que estão em estado embrionário”. Através da Experiência de
Aprendizagem Mediada, o professor poderá auxiliar o aluno a desenvolver esse
conhecimento, que sozinho o mesmo não saberia como construir, ou nas palavras de
Vygotsky, desenvolver suas funções psicológicas superiores.
Por fim, mediação é um processo fundamental para o desenvolvimento
cognitivo, pois ajuda a criança a compreender o mundo ao seu redor de maneira mais
eficiente e eficaz. Além disso, a mediação também facilita ao educando a desenvolver
habilidades sociais e emocionais, tais como a capacidade de trabalhar em equipe,
resolver conflitos e compreender as emoções dos outros.
Diante desse contexto, meu interesse despertou para estudos e pesquisas que
contribuíssem para compreender melhor a práxis dessa metodologia, delimitando,
então, o objetivo da presente pesquisa: analisar a práxis da mediação pedagógica no
Ensino Fundamental de uma escola pública. Como objetivos específicos foram
delineados:
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- Compreender a fundamentação teórica sobre a mediação pedagógica;
- Identificar a concepção de professores sobre mediação pedagógica;
- Descrever a mediação pedagógica na prática docente.
Para alcançar os objetivos propostos nos subsidiamos pela abordagem
qualitativa, por possibilitar maior flexibilidade para se trabalhar, apoiando-se na
pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica, além da utilização de questionário como
instrumento para obtenção de informações. Participaram da pesquisa, sete
pedagogos, seis de rede pública, no entanto em escolas, modalidades e níveis
diferentes. Uma delas saiu da creche em que lecionava para formação de mestrado,
estando afastada no momento.
Os resultados do estudo estão organizados em sete seções, sendo a
“Introdução”, “Experiência de Aprendizagem mediada (EAM)”, “Professor como
agente mediador”, “A mediação e o aluno com dificuldade de aprendizagem”,
“Metodologia”, “Apresentação e análise dos dados” e “Considerações finais”.
Experência de Aprendizagem mediada (EAM)
Toda aprendizagem ocorre em decorrência das interações e mediações, desde
o primeiro momento de vida até o seu fim, o ser humano aprende conforme intra e
inter relaciona, quando o universo é mediado a ele pelo outro ou até mesmo nas suas
relações diretas com o meio. Sabe-se que a medição é um conceito chave na teoria
de Vygotsky, no entanto, para compreender esse termo, no contexto da prática
pedagógica, recorremos à Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), de
Feuerstein, que enfatiza a mediação intencional, organizada e planejada, que na
prática docente, é a que nos interessa atingir.
Ferreira, Vectore e Dechichi (2012, p.14), apresentam a Experiência de
Aprendizagem Mediada (EAM), de Feuerstein, destacando o papel a ser assumido
pelo professor:
Quando queremos ensinar algo por meio da aprendizagem mediada, isto é,
sendo mediadores (H), devemos nos colocar deliberadamente e de maneira
planejada entre o que deve ser ensinado - estímulo (S) - e o mediado (O).
(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI, 2012, p. 14).
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Logo, percebe-se a importância do mediador, como sendo a ponte entre o
estímulo e o mediado, enfatizando que deve ser de forma planejada. O mediador tem
o papel de escolher os estímulos, filtrar e organizar; além de observar o surgimento
de outros e até mesmo ignorá-los quando necessário. O foco da EAM, é capacitar o
indivíduo a “aprender a aprender”, a criar, identificar e selecionar seus próprios
estímulos. Nesse sentido, subentende-se que o mediado tem igual relevância, em
relação ao mediador, pois sem o interesse do mesmo, não haverá compreensão do
estímulo, ou seja, fala-se de um sistema mediador/mediado, pois sem essa troca
dialética, não será atingido o objetivo principal da EAM. Interessante que quando
falamos de aprender, podemos recorrer a Zanini (2022), quando diz que
“Aprender” significa criar memórias de longa duração, e quanto mais o
educador combinar estratégias pedagógicas e estímulos emocionais aos
registros do processo de aprendizagem, maiores as chances de garantir um
aprendizado efetivo para todas e todos os estudantes, valorizando e
respeitando suas especificidades. (ZANINI, 2022)
Não somente o planejamento e aplicação mecanizada de atividades, mas levar
em consideração estímulos emocionais para que o educando de fato aprenda. Galvão,
ao citar Wallon, explica que
As emoções podem ser consideradas, sem dúvida, como a origem da
consciência, visto que exprimem e fixam para o próprio sujeito, através do
jogo de atitudes determinadas, certas disposições específicas de sua
sensibilidade (WALLON apud GALVÃO, 1995, p. 63).
Ao que tange ao emocional, vale considerar a subjetividade de cada um.
Seguindo a lógica de uma eficaz mediação, além dos pontos abordados até aqui,
existem outros critérios que serão melhor explanados no próximo tópico.
O professor como agente mediador
Quando se frente a uma sala de aula, surge uma enorme incógnita e até
medo, pois como agir? Ainda mais, ao se deparar com alunos com dificuldade de
aprendizagem. Feuerstein (1991), também desenvolveu os critérios para uma
Experiência de Aprendizagem Mediada eficiente. Ele identificou doze, no entanto,
somente três são condicionais para a realização da EAM, e nove são
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complementares. Ferreira et al (2012, p. 22), comenta que “essa sistematização
mostra caminhos para que o mediador consiga chegar ao objetivo de modificabilidade
cognitiva do sujeito ao qual medeia”.
Os três principais são:
1- Intencionalidade e reciprocidade: Essa é a condição principal para a EAM,
pois inclui a intenção consciente do mediador e a verdadeira reciprocidade da criança
em focalizar a atenção no que este quer lhe mostrar. Um exemplo: “Vamos observar
bem este jardim. Quais são as cores das flores?”; “Eu quero que você ouça esta
música, por isso eu aumentei o som” etc”(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI, 2012,
p. 22). A reciprocidade, pode se referir também, a abertura do professor em saber
aceitar e respeitar a resposta do aluno.
2- Expansão ou Transcendência: A ideia que esses termos transmitem, é o
que de fato é. Os autores, explicam que
Quando a interação possibilita ao mediador ampliar a compreensão do
mediado, através da explicação, da comparação, adicionando novas
experiências além das necessárias para o momento que podem ser
generalizadas em outras situações.(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI,
2012, p. 22)
O que querem dizer, é que através de um conhecimento que o aluno já possui,
com um estímulo emitido pelo mediador, que pode ser uma pergunta, imagem etc.
será possível atingir outros, e posteriormente, a criança sozinha, poderá refletir e
recorrer a essa informação para construir um novo conhecimento, isto é, a capacidade
de linkar vários conhecimentos, ampliando-os assim.
3- Mediação do Significado: Esse critério está relacionado a afetividade,
através desse, o mediador demonstra ao mediado a relevância do conhecimento que
está sendo construído para a sociedade e para si. Utiliza-se de expressões, ação
energética e emotiva, podendo apoiar-se em mímicas, observando se o mediado está
de fato sendo estimulado. Interessa saber que mediação do significado "está ligada
às formas culturais de expressão e de transmissão de valores e comportamentos"
(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI, 2012, p. 29).
Os outros nove parâmetros de mediação não são condicionais para a EAM,
mas dois deles são importantes para a construção de conhecimento de educandos
com necessidades educacionais especiais, destacando a (4)Mediação do
Sentimento de Competência e (5)Mediação da Regulação e Controle do
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Comportamento (Autorregulação). O primeiro é a motivação que o mediador irá dar
ao aluno, se mostrar feliz com a evolução do mesmo, explicando o motivo dessa
felicidade e descrevendo o processo e o esforço que este teve para chegar ao
sucesso. O segundo, é o mediador ajudar o mediado a planejar antes de agir, não
responder por impulsividade, mas se concentrar e pensar para elaborar uma resposta
pertinente.
Passando rapidamente sobre os sete critérios restantes, temos o
comportamento de partilha, este objetiva levar a tomada de consciência dos
interesses em comum. O Mediador mostra o “raciocínio lógico como base da troca de
ideias, apesar das diferenças de opinião”(TURRA, 2000, p 9). A individualização e
diferenciação psicológica, busca adquirir consciência das diferenças interpessoais,
reconhecer e dar importância a pontos de vista diferentes, respeitar sua própria
opinião e ter responsabilidade por elas, analisando se são corretas. Conduta de
busca de planificação e realização de objetivos, em resumo, é estimular o mediado
a estabelecer novas metas, sem deixar de valorizar as conquistas que ocorrem.
Desafio: busca pelo novo e complexo: Esse se relaciona com a possibilidade
de evolução pessoal, o mediador inspira o mediado a buscar pelo novo e reconhecer
as possibilidades de mudança, entender o “vir a ser”, a evolução ou transformação.
Esta última se relaciona com a Consciência de modificabilidade humana, que é dar
a consciência de adaptabilidade ao novo, é comparar as conquistas passadas com a
dificuldade atual, é a compreensão de que todos podem aprender. Escolha da
alternativa otimista, é o reconhecimento de que sempre se encontrará dificuldade,
mas o mediador ajudará o aluno/criança a buscar estratégias para vencer, esse busca
trazer uma certa inteligência emocional. Por último
2
, Sentimento de inclusão,
demonstra a importância e enfatiza a pertença ao grupo, é explicitado seu papel para
o desenvolvimento pessoal e do grupo.
Todos esses critérios se somam, para que a mediação possibilite que o
educando consiga autonomia na construção do seu saber, independentemente de ter
dificuldades para tal ou não. É importante que junto da prática o mediador tenha a
consciência de que todos podem se modificar, e inclusive, este ser o primeiro a se
2
É possível compreender que esses critérios se complementam, com exceção dos três primeiros,
somam-se e se intercalam na prática, sendo indiferente a ordem.
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modificar, além de ter a sensibilidade de compreender que está lidando com
indivíduos únicos, onde cada um possui suas particularidades, então os estímulos e a
mediação podem e devem variar, de forma que atenda a todos.
Mediação e o aluno com dificuldade de aprendizagem
Aquela crença de que mediação somente atende ou deve ser para crianças
com dificuldades é mito, pois ela pode ser para todos que se deseje tornar o
aprendizado consistente.
Mas ao se referir às dificuldades de aprendizagem, embasando-se em
Feuerstein, que cria a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural, que
é um pressuposto teórico embasado no conjunto de crenças sobre a
potencialidade da aprendizagem e do desenvolvimento humano que nos
ajuda a compreender esses processos como um sistema contínuo e
multifacetado que se associa diretamente com a construção cultural.
(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI, 2012, p. 11)
O que isso quer dizer? Que qualquer pessoa tem potencial para aprender e se
desenvolver, a área cognitiva está em contínua mudança, basta ter/possibilitar os
estímulos necessários para tal, e mais, esse desenvolvimento está diretamente ligado
ao meio em que se vive. A máxima de que o ser humano é resultado da cultura em
que vive, vale para toda sua potencialidade de aprender mais ou menos. Mais uma
vez, temos a mediação como fator intrínseco à vivência humana.
O que fica claro, é que em suma, mediação pedagógica é entendida como a
relação dialética entre aluno/professor, com o olhar holístico para as várias
possibilidades de aprendizagem dentro de uma atividade, e quando fala-se em
atividade, importante entender que não se restringe àquelas de dentro da sala de
aula,assim, trazendo a formação crítica e reflexiva ao longo de toda vida acadêmica
do aluno e em todas as situações de aprendizagem.
Inclusive é falado do método tradicional, que parafraseando Ferreira et al
(2012, p. 5) quando cita Mizukami (1986), diz que esta é centrada no professor e em
aspectos externos ao aluno, isto é, as "burocracias" do ensino. A prática tema dessa
pesquisa, traz uma práxis contrária a essa metodologia, onde professor e aluno estão
somando forças.
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O professor, além de ter conhecimento dos critérios anteriormente citados,
precisa conhecer seu aluno, entender as necessidades especiais que ele demanda,
reconhecer seu histórico familiar, médico e até de instituições pelas quais já passou,
e se o mesmo fizer acompanhamento na sala de Atendimento Educacional
Especializado(AEE), precisa das informações obtidas. Para melhor exemplificar,
podemos ver os sistema abaixo:
Imagem 1: Elementos para organizar o atendimento educacional
Fonte: Ferreira, Vectore e Dechichi (2012).
Ferreira, Vectore e Dechichi (2012, p. 27), afirmam que, com todos esses
dados, o profissional terá base para planejar sua atuação pedagógica. Reflita que ao
analisar apenas a metodologia, os conteúdos, o laudo, crenças negativas, medos,
preconceitos etc., você permite tornar sem relevância um fator crucial para a
aprendizagem, o sujeito da aprendizagem.
O profissional precisa ter um olhar crítico, ampliado e empático com seu aluno
com necessidades educacionais especiais, de forma a não vitimizá-lo ou inferiorizá-
lo, não boicotar toda sua capacidade de aprendizagem em decorrência de um laudo,
mas olhar além deste. É crucial ter consciência que
Para o professor realizar essa mediação, é necessário que ele busque nas
literaturas atuais (aquelas produzidas nos últimos cinco anos) subsídios para
sua prática, escolhendo estudos que discorram sobre casos similares ou
sobre formas de atuação junto à criança. A constante busca por informação
leva o professor a manter-se atualizado em relação às novas pesquisas, às
novas propostas de trabalho.(FERREIRA, VECTORE, DECHICHI, 2012, p.
28)
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Além das pesquisas e estudos atuais, o AEE, foi citado aqui, não somente “ele”,
mas toda a comunidade escolar (profissionais da escola, alunos, pais e responsáveis)
precisam trabalhar junto ao professor da sala regular para que seja possível atingir o
objetivo principal educacional, a autonomia do indivíduo, uma vez que se aprende
através das diversas interações com o meio em que se vive.
Metodologia
Para alcançar os objetivos propostos nesse estudo, optamos pela abordagem
qualitativa, pois
a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta
como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e
a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos
enfoques. (GODOY, 1995, p. 2)
Partindo para a pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, por meio de
questionário, Gil (2008, p. 44), compartilha que a “pesquisa bibliográfica é
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros
e artigos científicos”. Como sabe-se, a maioria, senão todas as naturezas de estudos
apoiam-se nessa modalidade de pesquisa. a pesquisa de campo veio como opção,
porque
é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a
população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto.
Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou
ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas [...].
(Gonsalves, 2001, p. 67)
A forma de obter essas informações foi através do questionário do Google
forms, essa se tornando uma ótima opção, observando que “o questionário constitui o
meio mais rápido e barato de obtenção de informações, além de não exigir
treinamento de pessoal e garantir o anonimato” (GIL, 2008, p. 115). Através dele
contatou-se professores da rede pública de Nova Mamoré e uma pedagoga da cidade
de Ariquemes, sobre seus conhecimentos sobre mediação pedagógica, além de
entender como vem se dando tal prática.
Os participantes da pesquisa foram seis mulheres e um homem; seis são
funcionários da rede pública; quatro trabalham com atendimento educacional
especializado público; uma ex-funcionária de creche pública, não atuando no
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momento; e um diretor de departamento de educação especial do município. As
etapas de atendimento dos profissionais foram bem seletas, da educação infantil ao
ensino superior. Eles possuem idades entre 20 a 50 anos. Por motivos de legalidade,
a opção foi não trabalhar com identificação dos entrevistados, sendo assim, os
participantes da pesquisa estão identificados como: Professor 1, 2, 3… e assim
seguido as respostas.
Resultados e Discussão
Para analisar os dados obtidos durante nossa pesquisa, organizamos as
seguintes categorias: 1) Concepção docente sobre mediação pedagógica e 2) A
mediação pedagógica na prática docente.
6.1 Concepção docente sobre Mediação Pedagógica
Para conhecer as concepções dos profissionais da educação sobre nossa
temática, solicitamos que explicassem o que entendiam por medicação Pedagógica,
dos sete professores, um alegou não conhecer o termo ou prática. O quadro 1
apresenta as demais respostas.
Quadro 1: Concepção de mediação pedagógica
Professor
Concepção de mediação pedagógica
1
Mediação pedagógica como a própria palavra diz, mediar o processo de
aprendizagem escolar. Fazer do momento em sala de aula uma oportunidade
do aluno ser crítico. Promover discussões no momento de aula, levando o
aluno a procurar soluções e não recebê-las prontas.
2
Vejo como uma troca, onde o aluno e professor constroem o conhecimento
juntos, sendo que o professor assume o papel de mediador.
3
É um processo de interação dialógica, no qual professor e aluno
aprendem e ensinam juntos.
4
Entendo como um caminho onde o professor e o aluno/criança caminham
juntos. Indo em contraproposta aos ideais da Pedagogia tradicional, onde o
professor é o detentor do conhecimento e o aluno é visto como sujeito
passivo.
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5
Não tenho conhecimento sobre o assunto.
6
Quando tanto professor quanto aluno aprendem juntos.
7
É uma troca de ensinar e aprender.
Fonte: Dados da pesquisa
Conforme exposto no quadro, o professor 1, relaciona mediação a promoção
de discussão em sala de aula com a finalidade de levar o aluno a construir seu próprio
conhecimento, formando, então, um aluno crítico. Por sua vez, o professor 3 iniciou
sua resposta destacando a interação dialógica, no entanto, seguindo a mesma direção
dos professores 6 e 7 relaciona a mediação como troca onde professor e aluno
aprendem juntos. Nesse mesmo sentido, respondeu o professor 4, que diz entender
a mediação como um caminho percorrido pelo professor em conjunto com o aluno.
Se falou do diálogo, mas somente este, não traz resultados, dialogar, implica a
importância de uma ação. Lembrando que mediação pedagógica se diferencia da
mediação direta, aquela que nos ocorre desde o nascimento, essa diferença se por
ser intencional, organizada e planejada, não somente a ação em si.
O quadro 2, apresenta as respostas dos professores sobre a aplicação da
mediação na sala de aula.
Quadro 2: Aplicação da mediação pedagógica
Professor
Aplicação da mediação pedagógica
1
Nos momentos de aula ou projetos em que os alunos sejam levados a
solucionar problemas, sendo desafiados a ser críticos e reflexivos na
interação com os conteúdos escolares.
2
Pode ser aplicado no decorrer de todo o processo de ensino-aprendizagem.
3
Sempre que possível o professor deve ser incentivador, instigar seu aluno a
pesquisar, ao debate, a ser um formador de opinião.
4
Sempre! É possível averiguar o conhecimento prévio do aluno/criança acerca
de quaisquer temas, e a partir daí desenvolver os objetivos estipulados.
5
Não tenho conhecimento sobre o assunto.
6
Incentivando e orientando o uso de tecnologias.
7
Em todo o processo de ensino-aprendizagem.
Fonte: Dados da pesquisa
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Todas as práticas explicitadas pelos professores são alguns instrumentos da
mediação. Ao reunir as respostas pode-se ter uma introdução do que é a mediação,
pois estas são as várias formas de instruir o aluno ao seu maior desenvolvimento. As
palavras dos professores, mesmo que de forma superficial, somam à pesquisa
bibliográfica, no momento em que trazem a importância de levantar a reflexão,
pensamento crítico, de validar o conhecimento real do educando, a necessidade do
diálogo, da ludicidade, a sua capacidade de ser utilizada em toda vida acadêmica.
No entanto, ao analisarmos criticamente, observa-se que, algumas respostas
não expressam a complexidade que envolve a mediação, dando ideia de que a
mediação se resume a um único ato. Levanta a importância e necessidade de
aprofundamento sobre o tema, para que se tenha um cabedal de conhecimentos
teóricos e posteriormente práticos. Martins (2013) muito enriquece ao dizer que
A mediação é interposição que provoca transformações, encerra
intencionalidade socialmente construída e promove desenvolvimento, enfim,
uma condição externa que, internaliza, potencializa o ato de trabalho, seja ele
prático ou teórico (MARTINS, 2013, p. 46)”.
Sabendo que o objetivo da educação é a transformação do sujeito e seu
constante desenvolvimento, logo, assevera-se que “a relação dos indivíduos com os
produtos da atividade humana não pode transformar-se se não ocorrer a mesma
transformação da relação entre o sujeito e sua própria atividade” (MARTINS, 2007;
SAVIANI; DUARTE, 2010). Da mesma forma que se transforma a forma de aprender,
se transforma a forma de ensinar, essa é uma via de mão dupla, onde todos aprendem
e ensinam, fato esse que no primeiro quadro, professor 2, 3, 4 e 6 concordam.
Podemos ver, quando os professores 2 e 7, no quadro 2 concordam que a
mediação pedagógica pode ocorrer em “todo” processo de ensino e aprendizagem,
levantando a ideia de que o processo de ensino-aprendizagem formal, é amplo, não
precisando ser restrito a sala de aula, situação que o professor 1, específica no quadro
1, que mediação pedagógica é “Fazer do momento em sala de aula uma oportunidade
do aluno ser crítico”, no entanto, no quadro 2, ele acrescenta, ao dizer que a prática
pode se dar “Nos momentos de aula ou projetos em que os alunos sejam levados a
solucionar problemas”.
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Quando vemos a resposta do professor 6, no quadro 2, ao citar (somente) as
tecnologias, fecha-se a prática de mediação em um único fator. Se olharmos por
Vygotsky (2007), onde ele defende que o “aprendizado do indivíduo não pode ser
dissociado do contexto histórico, social e cultural em que está inserido”, essas
concepções de mediação no ensino-aprendizagem são restritivas.
6.2 A mediação pedagógica na prática docente
Quando indagados se utilizaram a mediação pedagógica na prática, com
exceção do professor 5, os demais disseram que sim, e o professor 1 acrescenta:
Durante anos de carreira no magistério utilizo a prática mediadora,
buscando sempre promover momentos de motivação para que o aluno
seja reflexivo, seja por meio das aulas ou projetos. (professor 1)
No quadro 3, podemos ver o que os alguns dos professores acrescentam sobre
a temática, de forma livre:
Quadro 3: Comentários abertos sobre mediação pedagógica
Professor
Comenta que
1
quero deixar uma citação de Freire que resume a
falta de mediação pedagógica na escola: "Como
aprender a discutir e a debater com uma
educação que impõe? Ditamos ideias. Não
trocamos ideias. Discursamos aulas. Não
debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos
sobre o educando. Não trabalhamos com ele.
Impomos-lhes uma ordem a que ele não adere,
mas se acomoda. Não lhe propiciamos meios
para o pensar autêntico, porque recebendo as
fórmulas que lhe damos, simplesmente as
guarda. Não as incorpora, porque a incorporação
é o resultado de busca de algo que exige, de
quem o tenta, esforço de recriação e de procura.
Exige reinvenção. (FREIRE, 1967, p. 104)
2
Podemos considerar as vivências e
possibilidades do aluno. Na educação infantil, por
exemplo, se o aluno e professor forem participar
de uma brincadeira que envolve acertar uma
argola em um cone, o professor pode, junto com
a criança, fazer observações referente à
distância, altura, localização, entre outros.
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4
Ótimo tema! O campo Educacional necessita de
pesquisadoras que possuam como objetivo dar
luz a uma educação respeitosa.
7
O grande instrumento da mediação é o diálogo.
Fonte: Dados da pesquisa
O que falta nas declarações dos entrevistados, se pudéssemos por em poucas
palavras, seria: intencionalidade e sistematização. Nesse momento, volta-se a
ressaltar a importância da formação docente inicial e continuada, assim como nosso
desenvolvimento pessoal, a formação profissional deve ser até o último dia que
exercermos a mesma, pois quatro anos de curso e algumas formações extras não são
suficientes para fundamentar toda demanda do cotidiano docente. Facci e Lima
(2012), concordam ao dizer que a “prática pedagógica exige do professor estudo
constante, baseados em uma fundamentação teórica consistente, que a ele
condições para pensar e organizar o cotidiano das aulas.” Pensando no papel de
mediador que o professor exerce, essa deveria ser uma das primeiras formações na
lista de cursos ou estudos de continuação.
Analisando ainda que a mediação pode ser aplicada a todos os públicos, mas
ao pensar em crianças ainda não alfabetizadas, com deficiência ou transtorno de
aprendizagem, lembra-se que estão com as funções psicológicas superiores ainda por
formar, muitos outros recursos, que serão selecionados adequadamente, de acordo
com suas necessidades se farão necessários para a mediação de sucesso.
Muito importante quando o professor 1 cita Freire (1967), descrevendo a
educação bancária, modelo esse muito difundido ainda na atualidade, sendo a prática
que devemos nos desvencilhar, pois como bem o autor finaliza, é necessário
reinvenção, o somente por parte dos alunos, mas por parte dos professores, que
necessitam reavaliar sua prática constantemente, pois
Se o professor não realiza um constante processo de estudo das teorias
pedagógicas e dos avanços das várias ciências, se ele não se apropriar
desses conhecimentos, ele terá grande dificuldade em fazer de seu trabalho
docente uma atividade que se diferencie do espontaneísmo que caracteriza
o cotidiano alienado da sociedade capitalista contemporânea. Como exigir do
professor que ele ensine bem, que ele transmita as formas mais
desenvolvidas do saber objetivo, se ele próprio não teve e continua não tendo
acesso a esse tipo de ensino e de saber? (FACCI, 2004, p.244).
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A responsabilidade e as demandas docentes se apresentam de forma muito
ampla, quantos professores devem ter acessado ou foi apresentado a alguma
formação específica sobre como mediar uma aula? As aulas de Metodologia e
Didática se fizeram suficientes? Então, percebe-se que essa temática engloba todas
as disciplinas, todos os níveis e precisa sempre ser abordada.
Não podemos deixar de lembrar da necessidade de constância e repetição que
o ensino exige, inclusive, ao se tratar da mediação pedagógica não fica de lado, tendo
o aluno alguma deficiência, transtorno ou não, os autores complementam aos dizer
que
Os caminhos para o trabalho por meio da mediação da aprendizagem são:
fornecer várias explicações de formas diversas sem demonstrar enfado;
compreender que um mero maior de repetições poderá ser necessário para
a aprendizagem da criança; e, além de tudo isso, estar atento para perceber
o que ela faz melhor. (FERREIRA, VECTORE, DECHICI, 2012, p. 28)
Ponto esse que nenhum dos professores pesquisados enfatizam. Essa
sensibilidade se faz necessária no dia a dia em sala de aula, não basta a correta
mediação, é crucial paciência e confiança no processo.
O professor 2, trouxe um ponto interessante no quadro 3, que poderíamos
relacioná-lo com o segundo critério para mediação, de Feuerstein, Expansão ou
Transcendência, que visa expandir a consciência do mediado ao adicionar novas
experiências dentro de uma única atividade, além de considerar as vivências do aluno,
remetendo- nos, em outras palavras, a Zona de Desenvolvimento Real.
Conclusões
Chegando aqui, compreende-se que todo esse trabalho é uma pequena
introdução a todo potencial e importância da mediação pedagógica, pensando no
trabalho do professor, em todo aluno, com dificuldade de aprendizagem orgânica ou
não, se faz necessário mais estudos e investimento da formação continuada, além da
prática e reflexão dessa. Sabendo que teoria e prática precisam andar juntas, fica o
convite para que tudo trabalhado aqui seja aprofundado teoricamente e fortalecido na
prática por aqueles que lerem esse artigo.
Ainda mais, importa ter a clareza que mesmo seguindo os critérios de
Feuerstein, muitas vezes será exigido repetições, testes, mudanças na forma de
mediar e no estímulo apresentado, é importante que o docente tenha sensibilidade
nesses momentos.
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É necessário o diagnóstico sim, e ainda mais importante que este não sirva
como um decreto de condenação a toda possibilidade de desenvolvimento daquele
ser humano rico de potencial. Sempre que planejada e organizada a mediação
pedagógica, todo organismo pode se desenvolver, mesmo que em um ritmo diferente
dos demais.
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