Revista Culturas & Fronteiras - Volume 5. Nº 9 - Dezembro/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS BOLIVIANOS,
MATRICULADOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, NO
MUNICÍPIO DE GUAJARÁ-MIRIM/RO
PROCESO DE ALFABETIZACIÓN PARA LA MATRÍCULA DE ESTUDIANTES
BOLIVIANOS EN LA EDUCACIÓN DE JÓVENES Y ADULTOS, EN EL MUNICIPIO
DE GUAJARÁ-MIRIM/RO
BRITO, Thaís Alícea
1
GOMES, Ana Ester de Souza
2
JOHNSON, Luanna Freitas
3
RESUMO: Guajará-Mirim, localizada no estado de Rondônia é uma cidade que faz fronteira
com Guayaramerín/Beni-Bolívia, assim, o fluxo de imigrantes bolivianos é diário. Por
consequência, as escolas também possuem bolivianos matriculados, tanto na modalidade
regular, como na EJA. A partir disso pretende-se responder a seguinte indagação: Como ocorre
a alfabetização de alunos bolivianos na EJA, no município de Guajará-Mirim/RO? Para tanto,
objetiva-se: conhecer como os alunos bolivianos são alfabetizados na EJA; compreender como
se o processo de educação na fronteira com Guayaramerín, na modalidade; e entender a
diversidade cultural existente na Educação de Jovens e Adultos, no município. A coleta de
dados será por meio de pesquisa bibliográfica baseada em revistas, periódicos, livros, decretos
e e-books. De abordagem qualitativa apresentam-se análises contundentes à temática abordada.
Através da análise dos dados obtidos, verificou-se que os imigrantes bolivianos ou filhos de
imigrantes, buscam a escola para aprender o idioma para então ler e escrever. E em
consequência disso, se sentirem mais valorizados e incluídos na sociedade local. Contudo, por
meio das informações encontradas a alfabetização de imigrantes bolivianos, na EJA necessita
de ajustes para então tornar-se igualitária, inclusiva e respeitosa. A partir desses resultados é
possível verificar pontos que precisam ser melhorados e refletidos, para então estarem de acordo
com o que os sujeitos almejam para ter qualidade de vida e se sentirem acolhidos e dignos, no
país que escolheram viver.
Palavras-chave: Alfabetização. EJA. Imigrantes Bolivianos.
RESUMEN: Guajará-Mirim, ubicada en el estado de Rondônia, es una ciudad que limita com
Guayaramerín/Beni-Bolivia, por lo tanto, el flujo de inmigrantes bolivianos es diario. Por Como
1
Especialista em Educação de Jovens e Adultos, pelo Instituto Federal de Rondônia. Especialista em Tradução e
Interpretação de Libras/Português, pela Faculdade de Santo André. Graduada em Pedagogia, pela Universidade
Federal de Rondônia, campus de Guajará-Mirim. E-mail: thaisalicea49@gmail.com.
2
Graduanda em Pedagogia, pela Universidade Federal de Rondônia, campus de Guajará-Mirim. E-mail:
anaestergm360@gmail.com.
3
Doutora em Educação (DINTER UEM/UNIR). Departamento Acadêmicos de Ciências da Educação -
Universidade Federal de Rondônia. Membro do Grupo de Estudo Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas.
E-mail: luannajohnson@unir.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1359462097029959 ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-1985-7800
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PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS BOLIVIANOS,
MATRICULADOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, NO
MUNICÍPIO DE GUAJARÁ-MIRIM/RO
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resultado, las escuelas también tienen matriculados bolivianos, tanto en el regular, como en
EJA. A partir de esto pretendemos responder a la siguiente pregunta: ¿Cómo La alfabetización
de estudiantes bolivianos se lleva a cabo en la EJA, en el municipio de Guajará-Mirim/RO?
Para ello, el objetivo es: comprender cómo se alfabetizan los estudiantes bolivianos en la EJA;
comprender cómo se desarrolla el proceso educativo en la frontera com Guayaramerín, em
modalidad; y comprender la diversidad cultural que existe en la Educación de Jóvenes y
Adultos, en Condado. La recolección de datos se realizará mediante investigación bibliográfica
basada en revistas, publicaciones periódicas, libros, decretos y libros electrónicos. Con un
enfoque cualitativo, se analiza incisivo para el tema abordado. Mediante el análisis de los datos
obtenidos, se verificó que la Inmigrantes bolivianos o hijos de inmigrantes, buscan escuelas
para aprender el idioma para luego leer y escribir. Y como resultado, se sienten más valorados
e incluidos en el sociedad local. Sin embargo, a través de la información encontrada, la
alfabetización Inmigrantes bolivianos, EJA necesita ajustes para volverse igualitaria, inclusiva
y respetuoso. A partir de estos resultados es posible verificar puntos que necesitan mejorarse. y
reflejada, para luego estar de acuerdo con lo que los sujetos desean tener calidad de vivir y
sentirse bienvenidos y dignos en el país que eligieron vivir.
Palabras clave: Alfabetización. EJA. Inmigrantes bolivianos.
1 INTRODUÇÃO
O município de Guajará-Mirim/Rondônia, cidade na qual faz fronteira com a
Guayaramerín/Beni-Bolívia, recebe constantemente cidadãos bolivianos. Pessoas estas que são
acolhidas e passam a viver na localidade, frequentando e sendo pertencentes ao mercado de
trabalho, influenciando positivamente na economia da cidade e outros tornam-se alunos nas
escolas, sejam públicas ou privadas.
Consequentemente, alunos bolivianos matriculados na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos. Sendo assim, segue-se a seguinte indagação: Como ocorre a alfabetização
dos alunos bolivianos na Educação de Jovens e Adultos, no município de Guajará-Mirim?
O objetivo geral do estudo é conhecer a forma como os alunos bolivianos são
alfabetizados na modalidade EJA. Objetiva-se também compreender como se dá o processo de
educação na fronteira com Guayaramerín; e entender a diversidade cultural existente na
Educação de Jovens e Adultos, no município. Sendo assim, espera-se responder o problema
acima através de uma pesquisa bibliográfica, utilizando como fonte de pesquisa primária:
dissertação de mestrado e artigos científicos. E fontes secundárias: livros, e-books, sites de
periódicos da Capes e plataforma Scielo. O estudo será de abordagem qualitativa, onde
apresentarão análises conceituais e de ideais.
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Por meio deste material, anseia-se que os sujeitos envolvidos na EJA e demais
interessados, possam refletir sobre suas práticas e verificar se está sendo ofertado uma educação
de qualidade, social e inclusiva. Pois, com estratégias pertinentes e que incluem e que respeitem
a cultura de um povo que busca em outro país melhoria de vida, juntamente com professores
comprometidos em alfabetizar esses alunos com qualidade e eficiência, o município de Guajará-
Mirim/RO poderá se tornar referência estadual e até mesmo nacional em alfabetização de
bolivianos, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
Portanto, articular as ações já desenvolvidas e projetar novas, tende a contribuir para o
fortalecimento da modalidade EJA no município, podendo ser mais atrativo aos moradores
brasileiros e imigrantes bolivianos que necessitam estudar, mas não se sentem atraídos o
suficiente para retornar aos estudos.
2 BREVE REFLEXÃO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO
BRASIL
Depois da Segunda Guerra Mundial, aparece uma instituição chamada UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura, na qual seu objetivo era
compartilhar e impulsionar no mundo todo, uma educação que valorizasse a paz entre os povos
e que, também estimula práticas voltadas a educação de adultos. Devido a educação desse grupo
ser vista como aquela que não proporciona uma visão crítica, era considerada como forma
integral social, mas passiva e instrumental, (AMARO, 2009).
De acordo com a Proposta Curricular do 1º segmento da EJA (2001), no ano de 1947 é
lançado a Campanha Nacional de Alfabetização em massa, onde era previsto a alfabetização
em três meses, no primeiro momento, no segundo com intuito de conclusão após dois
períodos de sete meses, assim, por fim a última etapa de capacitação profissional e
desenvolvimento comunitário.
A partir dessa campanha o campo teórico-pedagógico passou a discutir sobre o
analfabetismo e a educação de adultos no país. Então percebeu-se a visão que era empregada,
de que o adulto analfabeto era incapaz e marginal. A partir dessas reflexões esses pensamentos
foram modificados, e somente assim o adulto analfabeto foi visto como produtivo, como um
ser que raciocina e resolve seus problemas.
Por meio do decreto 50.370, de 21 de março de 1961, houve a concretização do
Movimento de Educação de Base. Nele idealizava-se a instalação de várias escolas
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radiofônicas, nas regiões subdesenvolvidas do Brasil: norte, nordeste, centro-oeste e leste.
Dessa forma, o anseio em enfrentar e combater o subdesenvolvimento os motivava, que na
época era enxergado como uma vergonha para o país.
Já no ano de 1964, com o decreto nº 53.465, de 21 de janeiro de 1964 surge o Programa
Nacional de Alfabetização (PNA), onde o objetivo era instalar no presente ano, 60.870 (sessenta
mil e oitocentos e setenta) círculos de cultura, para assim alfabetizar 1.834.200 (um milhão
oitocentos e trinta e quatro mil e duzentos) adultos. Dessa forma, atingindo 8,9% da população
analfabeta.
A propósito, a criação do programa foi uma tentativa do Ministério da Educação e
Cultura de comandar os movimentos de educação de bases, que se encontravam espalhados
pelo Brasil desde sua instalação, no ano de 1961. Contudo, no dia 01 de abril o programa foi
interrompido e seus organizadores acabaram sendo presos e exilados.
Em 1967, criado pela Lei nº 5.379, de 15 de outubro, o Mobral Movimento Brasileiro
de Alfabetização assume o compromisso de gerenciar as ações nacionais referentes à Educação
e assim extinguir o analfabetismo no Brasil, no prazo de dez anos. Ressaltando que esse
movimento foi implantado no período do Regime Militar, onde a anti-democracia estava
presente em diversos setores, houve professores presos e dispensados, universidades dominadas
e estudantes mortos e outros feridos nos combates.
Por conseguinte, em 1985, fundou-se a Fundação Nacional para Educação de Jovens e
Adultos EDUCAR, com o Decreto 91.980, de 25 de novembro. Onde destinou recursos
necessários para a prática dos programas de alfabetização e educação básica. Assim,
responsabilizando os Estados, Distrito Federal, municípios e territórios pela execução dos
projetos de alfabetização.
Contudo, no ano de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a Educação de
Jovens e Adultos se transformou mais uma vez. Nela uma imposição sobre a retomada do
estigma social colocado sobre o analfabeto, de serem os próprios culpados por não terem
aprendido quando puderam, culpabilizando a instituição escolar e o sistema governamental que
os excluiu.
Através do Programa Brasil Alfabetizado (2003), informa-se que o MEC auxiliará as
instituições públicas municipais, estaduais, órgãos de ensino superior e organizações sem fins
lucrativos, que estivessem desenvolvendo práticas de alfabetização para jovens e adultos.
Contudo, não abrangia somente os alunos, mas também a formação do professor-alfabetizador.
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2.1 BREVE REFLEXÃO SOBRE O MUNICÍPIO DE GUAJARÁ-MIRIM/RO
A cidade de Guajará-Mirim está localizada no estado de Rondônia, na região norte do
Brasil. O nome de origem Tupi-Guarani que significa “Cachoeira pequena”, tem em sua história
a relação direta com a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. No ano de 1903,
quando houve o Tratado de Petrópolis, no qual o Brasil assumia o compromisso de construir a
estrada de ferro, com o objetivo de unir os portos de Santo Antônio do Rio Madeira, localizado
em Porto-Velho, ao porto de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, assim que os produtos bolivianos
escoaram.
Com a construção da Estrada de Ferro o número de pessoas que passaram a residir no
local aumentou, consequentemente a economia caminhou junto. Em 1929 o povoado se torna
município. De acordo com a Lei do Estado do Mato Grosso nº 991 de 12.07.1928, a localidade
é desmembrada do município de Santo Antônio do Rio Madeira.
Em 2001, segundo a divisão territorial, foram constituídos três distritos: Guajará-Mirim,
Iata e Surpresa. Conforme o último censo do IBGE, no município residem 46.174 habitantes.
Também um parque natural chamado Parque Nacional de Pacaás Novos. Em 2009 o
município recebeu o título de Cidade Verde, pois tem 90% de áreas preservadas. A propósito é
possível verificar pessoalmente o encontro das águas Pacaás Novos e Mamoré.
2.2 O IMIGRANTE BOLIVIANO EM GUAJARÁ-MIRIM, FRONTEIRA BRASIL
COM A BOLÍVIA
A partir da criação da área de Livre Comércio no ano de 1991, a anistia de 2009 para os
imigrantes irregulares moradores no Brasil, juntamente com o acordo binacional, de moradia,
estudo e trabalho, ocorrido entre os países Brasil e Bolívia, influenciaram significativamente
no crescimento populacional do município de Guajará-Mirim. Pois, com a área de Livre
Comércio os empresários existentes tanto no próprio Brasil como no exterior passaram a se
interessar pelo município. Neste mesmo ano de 2009, muitos bolivianos que estavam no país
sem regularização, conseguiram a anistia e a permanência no local, (MENDES & SANTOS,
2019).
Segundo os dados fornecidos pela Polícia Federal, entre 2004 a 2013 o número de
imigrantes bolivianos que entraram no Brasil pelo município e que estão legalizados e outros
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em processo de regularização da permanência, estava no total de 1.187 (mil cento e oitenta e
sete) imigrantes.
Em contrapartida, as pesquisadoras Mendes e Santos (2019), investigaram como viviam
os imigrantes bolivianos no município de Guajará-Mirim, para tanto, elas foram em busca de
cada um, batendo de porta em porta, então visitaram 13 bairros da cidade, ficaram dois de fora
do estudo. Participaram da pesquisa 134 imigrantes, mas as informações obtidas envolviam
aspectos da família toda, então, houve casas em que moravam mais de uma família boliviana,
considerando esse fato como parte da dinâmica da rede migratória. Entretanto, a pesquisa relata
que devido não possuir documento de permanência no país, vários imigrantes negavam sua
verdadeira nacionalidade, pois tinham medo de serem identificados pela Polícia Federal e serem
expulsos do Brasil.
Durante a investigação feita por Mendes & Santos (2019), 77 imigrantes dos 134
entrevistados, quando foram questionados sobre o idioma que dominam disseram que falam
espanhol e português. Porém, do quantitativo de falantes do português somente 46 escrevem no
idioma. Alguns afirmaram que é natural para eles solicitarem ajuda dos filhos, que são
matriculados nas escolas do Brasil, para escreverem em português quando é necessário.
Línguas faladas pelos imigrantes
Fonte: MENDES & SANTOS (2019).
No final da pesquisa identificou-se a existência de 738 imigrantes que residem no
município de Guajará-Mirim/RO. Aliás, as autoras tentaram acesso ao quantitativo atual de
imigrantes, porém a Polícia Federal não dispôs dos dados, (MENDES & SANTOS, 2019).
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3 A EDUCAÇÃO NA EJA NA FRONTEIRA GUAYARAMERÍN BENI/BOLÍVIA
Em decorrência da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, o acesso dos povos
bolivianos foi facilitado, onde esses grupos buscavam melhorias em suas vidas juntamente com
todos os seus familiares. Atualmente, ainda ocorre essa inserção dos vizinhos bolivianos no
município de Guajará-Mirim. Sendo assim, o ambiente multicultural também acontece nas salas
de aula das escolas públicas e privadas, e no público da Educação de Jovens e Adultos.
A procura dos imigrantes bolivianos jovens e adultos pela escola, tende a ser devido o
desejo na aprendizagem e domínio da língua portuguesa, idioma utilizado diariamente no local.
Buscar aprender a língua é uma tentativa do boliviano se sentir pertencente a comunidade,
mesmo misturando as variantes linguísticas dos dois idiomas, (AMARO, 2009).
De acordo com Amaro (2009), os jovens e adultos bolivianos esperam que sejam
acolhidos e aceitos no ambiente escolar, mas a escola acaba negando a eles a participação social,
a partir do momento em que não consideram suas experiências e identidade revelada em suas
falas. A autora ainda acrescenta que políticas públicas que frisam a inclusão e pluralidade
cultural, no entanto, através da pesquisa feita pela escritora apontou que no município as escolas
não apresentam em suas práticas adotadas, estudos que estimulem o ensino e aprendizagem da
língua em âmbitos multiculturais e bi/multilíngues.
Portanto, entender e aceitar a diversidade cultural significa que é indispensável que o
docente alfabetizador reconheça as diferentes culturas representadas pelos indivíduos. Assim,
os mesmos métodos de ensino utilizados para ensinar a língua a um estudante brasileiro, não
pode ser empregado a um estrangeiro, que já é conhecedor de dois idiomas, (LANGON, 2003).
A leitura e escrita não são fatores imprescindíveis para a cidadania, também é um
instrumento fundamental para reflexão e discernimento como sujeito atuante na sociedade, para
não se tornar alienado e oprimido, e buscar seus direitos sociais em qualquer classe social que
se esteja, (AMARO, 2009).
3.1 ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS BOLIVIANOS NA EJA
Diante da realidade do município de Guajará-Mirim no que concerne a Educação de
Jovens e Adultos dos alunos bolivianos, a pesquisadora Amaro (2009) aponta em seus estudos
que antes de procurar a escola, os estudantes sejam brasileiros, bolivianos ou filhos de
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bolivianos, sempre por de trás um motivo. Na pesquisa realizada pela autora cinco alunos
bolivianos foram entrevistados e obteve-se em unanimidade que motivação para retornar à
escola está ligado ao fato de ter que aprender a falar, ler e escrever melhor para assim conseguir
um emprego mais digno, ser aceito e respeitado socialmente no local habitado.
Outro fator intrínseco é de que a Delegacia da Polícia Federal em Guajará-Mirim/Ro,
exige como um dos diversos requisitos para a naturalização no Brasil, o domínio da Língua
Portuguesa escrita, no teste a que o estrageiro é submetido.
Neste sentido de aprendizagem da língua portuguesa oral e escrita, que o Referencial
Curricular de Rondônia, para EJA (2013, p.44) diz que: “o ambiente escolar deve propiciar
situações comunicativas que possibilitem aos educandos a ampliação de seus recursos
linguísticos, além da compreensão e domínio dos seus mecanismos e recursos básicos.”.
Portanto, o processo de aprendizagem desses alunos da EJA deve oferecer ambientes
libertadores, para esses sujeitos serem agentes conscientes e criadores da sua própria história.
3.2 DIDÁTICA EMPREGADA
O autor Libâneo (2012, p.2) explica que: “a didática realiza objetivos e modos de
intervenção pedagógicos em situações específicas de ensino e aprendizagem.”. Ela é
fundamental no processo de desenvolvimento, pois é através dela que se estabelece o que se
tratado, como e por que. Assim, se for uma metodologia que não favorece uma aprendizagem
significativa, o resultado tenderá a ser insatisfatório.
No estudo realizado por Amaro (2009) na escola que oferece a modalidade EJA no
primeiro segmento (1º a 5º ano), mostrou a realidade diária dos alunos bolivianos e professores.
Quanto a didática foi recebido como resposta dos entrevistados que não se utilizava cartilhas,
nas quais as palavras estavam soltas e sem contexto. Mas sim, o uso de textos que estimulavam
a leitura e consequentemente, a reflexão e relação dele com a realidade que o adulto vivenciava.
Em concordância à conclusão acima, o Referencial Curricular para EJA do Estado de
Rondônia (2013), cita que o ensino da Língua deve favorecer a inserção desses sujeitos num
contexto globalizado e para assim se tornarem cidadãos críticos e reflexivos, que sejam ativos
e queriam tornar a sociedade mais justa. Portanto, o letramento está estritamente ligado à
alfabetização.
Por outro lado, houve controvérsias quando a pesquisadora esteve no processo de
observação. Na sala de aula utilizava-se textos retirados de livros de alfabetização infantil,
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escrevia no quadro e os alunos copiavam. No entanto, não possibilita aos alunos refletir ou até
mesmo compreender, pois era produzido para a imaginação de crianças. Amaro (2009)
complementa que:
As proposições didáticas encontradas percebem o texto apenas como unidade básica
do ensino da língua, desvinculada de qualquer tentativa de interação entre autor e
leitor, mas vinculada a uma idéia de norma, a exemplo dos exercícios de fonologia e
morfologia em detrimento de qualquer outra tentativa de exploração das funções
sociais da língua. (p.140)
Portanto, percebe-se que o fato de não estimular a crítica e nem a reflexão, dificilmente
a metodologia empregada atingirá o objetivo principal da alfabetização de jovens e adultos e
principalmente, em classes multiculturais, presente em regiões fronteiriças, como é o caso do
município de Guajará-Mirim/RO.
A propósito, outro recurso utilizado em sala de aula da EJA onde há alunos bolivianos
ou filhos de bolivianos, segundo a pesquisa da autora citada acima, é a roda de conversa sobre
algum assunto escolhido pelo docente, após os alunos são convidados a escrever um texto,
relacionado ao que foi debatido. Assim, a professora proporciona a troca de saberes, exercitam
a oralidade, organização do pensamento, pensamento crítico e escrita. Contudo, os alunos
bolivianos não participavam ativamente, preferiam ficar calados, “inibidos de iniciar qualquer
participação oral” (fala da autora). O trabalho em grupo também foi utilizado como metodologia
de ensino, para os alunos bolivianos e brasileiros. Pois, ele proporciona a interação linguística
entre as duas línguas, (AMARO, 2009).
Mais uma ferramenta utilizada é a música nas práticas de sala de aula na EJA, no
município de Guajará-Mirim. Além da música estimular a imaginação, ritmo, percepção
corporal, raciocínio ela também influencia positivamente na melhoria cognitiva e linguística.
De acordo com Weigel (1988) as práticas musicais oferecem desenvolvimento intelectual e
linguístico, no qual ocorre devido as canções representarem o som das palavras, sendo assim,
precisam ser pronunciadas de forma correta, sempre respeitando sua língua original. Logo,
determina um conhecimento gramatical e do idioma envolvido.
Então a música, na pesquisa feita do Amaro (2009) aparece sendo utilizada como
recurso para o ensino da gramática normativa, tais como: divisão silábica, encontros
consonantais e acentuação gráfica. Assim, nota-se que não foi considerado na análise a função
exploratória didática do texto musical para seu uso social na língua. Não houve análise crítica
e muito menos reflexiva.
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Ademais, para o ensino da língua portuguesa para os estudantes imigrantes bolivianos
ou filhos deles foi utilizado em sala de aula diferentes gêneros textuais: livro didático,
formulários e questionários, revistas, cartazes, receitas culinárias, jornais, cartas, folhetos
informativos, textos musicais e poéticos, (AMARO, 2009).
3.3 O LETRAMENTO COMO PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL
A leitura e escrita são indispensáveis para cada cidadão, no entanto não somente essas
habilidades são necessárias, o letramento, que é a capacidade que o sujeito possui de ler e
escrever e usar esse conhecimento para aprimorar suas tarefas diárias na sociedade, também é
muito importante.
O termo “letramento” é recém utilizado no vocabulário da Educação e das Ciências
Linguísticas, pois somente em meados de 1980 que a palavra surge nos discursos dos
pesquisadores da área. Segundo a autora Magda Soares (2010), a diferença entre alfabetização
e letramento é de que:
O indivíduo alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever, entretanto, não é
necessariamente um indivíduo letrado. Já o indivíduo letrado não é só aquele que sabe
ler e escrever, mas que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita,
responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita. (p. 28)
Assim, ao compreender o que se lê e escreve, o sujeito se transforma em um ser que é
capaz de opinar e refletir, sobre o que acontece em sua vida particular e também na sociedade
na qual se está inserido. Por isso, através da educação é que se pode intervir no mundo.
Intervenção essa que vai além do conhecimento de conteúdos, sejam eles bem ou mal-ensinados
ou aprendidos, resulta tanto no incentivo a reprodução de alguma ideologia dominante ou na
tentativa de exclusão dela, (FREIRE, 1967).
Falar, ouvir, opinar, compreender, consentir, escrever, repetir e reter informações são
características do letramento. Dessa maneira, a língua é indispensável, que o sujeito a usa
para se comunicar e expressar. O ensino da língua portuguesa tende a ser construído de modo
autônomo para o homem, pois assim ele estará participando socialmente de maneira
responsável. A leitura não é somente a habilidade de reconhecer as letras, sílabas, frases e
orações, mas sim a interpretação de diferentes códigos existentes atualmente, implica também
na aprendizagem e na construção de conhecimentos, (NASCIMENTO, 2018).
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3.4 ALFABETIZAÇÃO X DIVERSIDADE CULTURAL
Na área fronteiriça, município de Guajará-Mirim, a diversidade cultural está presente em
todos os lugares: igrejas, associações, comércios, praças, lanchonetes, restaurantes, farmácias,
escolas e entre outros. O costume do povo do país vizinho, Bolívia, se une com os do Brasil,
então essa comunidade passa a compartilhar diariamente experiências de vida e conhecimentos
científicos.
Na escola não deve ser diferente, especificamente com o público EJA. No ambiente
educacional, é preciso o acolhimento e respeito com a multiculturalidade existente no
município. Garcia & Silva (2018, p.78) diz em seus escritos que: “Reconhecer as diferenças
não é descrever o exótico, ou caracterizar o que me separa do outro, mas compreender uma
dimensão coletiva e social de nossa realidade, que nos produz enquanto humanos.”. Entretanto,
esse processo afeta a segurança pessoal(autoestima) e muitas vezes faz o imigrante boliviano
sofrer preconceito.
Atrelado a isto, o ensino de língua portuguesa que deveria atingir a todos os alunos da
clientela EJA, acaba privilegiando aquelas que têm o português como língua materna, e o
programa da educação de jovens e adultos de Guajará-Mirim é centrado no ensino da língua
portuguesa, como se todos a tivessem como língua principal, materna. Ocasionando
indiretamente no silenciamento dos imigrantes bolivianos, que não dominam a língua. Este fato
constatado na pesquisa, corrobora para o preconceito silencioso que esse povo é vítima, e
fortalece, infelizmente, para a projeção de uma imagem do boliviano inferior, que aceita
qualquer atendimento e tipos de trabalho, (AMARO, 2009).
A autora completa que na sala de aula o aluno imigrante boliviano ou filho do imigrante
está em busca de aprimoramento para assim ser aceito e respeitado. Mas por outro lado, a escola
acaba levando-os a deixar de lado suas características identitárias e culturais, a partir do
momento que considera somente os saberes sociolinguísticos e culturais do brasileiro, e
desconsidera a do imigrante. Freire (1967) aponta que:
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode
dar. Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino
índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso
evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de
cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto superior ao diferente,
não importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a
merecer respeito é um isto ou aquilo, destratável ou desprezível.(p. 120-121).
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Desse modo, dispor-se a ouvir e entender o que o sujeito tem a dizer é evidentemente a
maneira de respeitá-lo e priorizar sua identidade e voz como cidadão, seja ele de nacionalidade
brasileira ou boliviana.
3.5 A PRÁTICA PEDAGÓGICA DOCENTE NA EJA
As práticas pedagógicas são as formas como o professor realiza suas atividades dentro
de sala de aula. Por isso, o docente necessita ser criativo, se reinventar todos os dias e procurar
selecionar sempre as ferramentas didáticas, que estejam de acordo com a realidade vivenciada
por ele e seus alunos. Assim como diz Freire (2003) que: “Ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”.
Portanto, o professor precisa considerar as experiências, opiniões que cada aluno carrega
consigo.
É por meio da prática pedagógica do docente, que deixará as concepções sobre educação
do educador, de experiências acerca do mundo e a forma de relação interpessoal com os alunos,
de forma mais clara e coesa. Consequentemente, a práxis pedagógica é essencial para o
ensino/aprendizagem na modalidade, pois é uma ação que facilita saberes, interações e
experiências de vida, (LIRA, ET.AL, 2015).
Como descrito por Eusébio (2021), a prática da “língua de acolhimento” solicita trocas
no paradigma de ensino e na postura pedagógica, através da inclusão de ações interculturais e
interdisciplinares. Possibilitando assim, a socialização, interação e estímulos da habilidade de
oralidade entre os sujeitos.
Tratando-se de uma ação em área multicultural, o professor precisa estar comprometido
com a transformação da sociedade, e sua prática pedagógica possibilita que o aluno supere as
condições de alienação ao que ele está inserido. Também é necessário ensinar o uso da língua
para diferentes situações reais de interação na sociedade. Pois alicerçada no entendimento da
língua como requisito para interação, assume o caráter ideológico da língua, e em consequência
disso, desenvolve a consciência crítica, (AMARO, 2009).
Na mesma pesquisa citada anteriormente, apontou que são incipientes as ações
pedagógicas direcionadas a multiculturalidade, para então proporcionar aos jovens e adultos o
reconhecimento das diferenças e evitar estigmas e preconceitos, que se encontram na
localidade de Guajará-Mirim. Tendencialmente, se a formação de identidades dependerem do
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desenvolvimento da socialização e do ensino aprendizagem, haverá evolução nas características
físicas, cognitivas, culturais e étnicas (AMARO, 2009).
A autora ainda complementa:
O preconceito étnico, de classe e de condições presentes no seio da sociedade
guajaramirense, é resultante de uma educação que não reconhece a existência do
outro, ou que exprime em seu currículo, um falso reconhecimento, através de um
discurso libertador, mas concretizados numa prática opressora. (p. 157)
Portanto, as práticas pedagógicas do docente no município de Guajará-Mirim, ainda
precisam ser analisadas e refletidas, voltando-se o olhar ao imigrante boliviano ou filho do
imigrante, para somente então, talvez, formar alunos alfabetizados, críticos e ativos em suas
vidas pessoais e sociais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da pesquisa apresentada até aqui pode-se notar a importância da análise das
práticas empregadas na Educação de Jovens e Adultos EJA, especialmente a alunos
imigrantes de nacionalidade boliviana. Procurar, acolher, ouvir, respeitar e compreender as
necessidades do sujeito da EJA, poderá proporcionar a ele o sentimento de pertencimento (no
qual é essencial para a permanência na escola) e para os docentes influenciará na avaliação da
forma como ele exerce sua função, de professor-formador.
O processo de entendimento quanto a multiculturalidade existente na cidade de Guajará-
Mirim/RO, tende a auxiliar melhor nas ações docentes, pois sabendo da existência, torna ele
mais atento às diferenças linguísticas, culturais e sociais. Podendo talvez, tentar atrair todas
essas distinções e uni-las para dispor à clientela EJA uma educação que esteja de acordo com a
realidade vivida por eles, tornando o ensino e aprendizagem mais concreto.
Referente ao processo de educação na área fronteiriça, percebeu-se que os imigrantes
bolivianos estão em busca da escola para aprender verdadeiramente. Porque essa escolha, para
eles, é a esperança de serem mais acolhidos, respeitados e inseridos socialmente, já que a parte
da população local os inferioriza e tem preconceitos para com eles.
A forma como a alfabetização na EJA para alunos bolivianos ainda precisa ser revisada,
pois, apesar do município de Guajará-Mirim possuir apenas duas escolas que oferecem o
segmento da EJA ( ao ano), pode ainda se tornar referência de ensino no Estado todo.
Transformar as estratégias que reforçam o ensino tradicional, de apenas copiar do quadro textos
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sem conexão real alguma ou aprender gramática, em planos e práticas dialógicas, que
oportunize a fala, a expressão comunicativa, a imaginação, a criatividade e o desejo de querer
lutar pelos seus direitos e ir contra toda desigualdade que sofria em silêncio.
Enfim, essa pesquisa limitou-se principalmente a uma dissertação de mestrado, pois
escassez em estudos publicados sobre a área no município. Pretende-se que esse material possa
também auxiliar mais estudantes e/ou professores que precisem de informações sobre a
temática. Dessa forma, deseja-se que por meio dos resultados aqui apresentados, possam haver
mudanças nas práticas pedagógicas escolares e dos docentes, para que, finalmente, a educação
seja de qualidade, igualitária e para todos os indivíduos.
5 REFERÊNCIAS
AMARO, Mírian Cruz. Educação em ambientes de fronteira: Um estudo das práticas de
alfabetização e letramento no 1º segmento da EJA nas escolas da rede oficial no município de
Guajará Mirim, Rondônia. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem, área de
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