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PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS BOLIVIANOS,
MATRICULADOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, NO
MUNICÍPIO DE GUAJARÁ-MIRIM/RO
Revista Culturas & Fronteiras - Volume 5. Nº 9 - Dezembro/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
3.4 ALFABETIZAÇÃO X DIVERSIDADE CULTURAL
Na área fronteiriça, município de Guajará-Mirim, a diversidade cultural está presente em
todos os lugares: igrejas, associações, comércios, praças, lanchonetes, restaurantes, farmácias,
escolas e entre outros. O costume do povo do país vizinho, Bolívia, se une com os do Brasil,
então essa comunidade passa a compartilhar diariamente experiências de vida e conhecimentos
científicos.
Na escola não deve ser diferente, especificamente com o público EJA. No ambiente
educacional, é preciso o acolhimento e respeito com a multiculturalidade existente no
município. Garcia & Silva (2018, p.78) diz em seus escritos que: “Reconhecer as diferenças
não é descrever o exótico, ou caracterizar o que me separa do outro, mas compreender uma
dimensão coletiva e social de nossa realidade, que nos produz enquanto humanos.”. Entretanto,
esse processo afeta a segurança pessoal(autoestima) e muitas vezes faz o imigrante boliviano
sofrer preconceito.
Atrelado a isto, o ensino de língua portuguesa que deveria atingir a todos os alunos da
clientela EJA, acaba privilegiando aquelas que têm o português como língua materna, e o
programa da educação de jovens e adultos de Guajará-Mirim é centrado no ensino da língua
portuguesa, como se todos a tivessem como língua principal, materna. Ocasionando
indiretamente no silenciamento dos imigrantes bolivianos, que não dominam a língua. Este fato
constatado na pesquisa, corrobora para o preconceito silencioso que esse povo é vítima, e só
fortalece, infelizmente, para a projeção de uma imagem do boliviano inferior, que aceita
qualquer atendimento e tipos de trabalho, (AMARO, 2009).
A autora completa que na sala de aula o aluno imigrante boliviano ou filho do imigrante
está em busca de aprimoramento para assim ser aceito e respeitado. Mas por outro lado, a escola
acaba levando-os a deixar de lado suas características identitárias e culturais, a partir do
momento que considera somente os saberes sociolinguísticos e culturais do brasileiro, e
desconsidera a do imigrante. Freire (1967) aponta que:
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode
dar. Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino
índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso
evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de
cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se me sinto superior ao diferente,
não importa quem seja, recuso-me escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a
merecer respeito é um isto ou aquilo, destratável ou desprezível.(p. 120-121).