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TERRITORIALIDADES KAXARARI E SUAS CONSTRUÇÕES
IDENTITÁRIAS
Revista Culturas & Fronteiras - Volume 5. Nº 9 - Dezembro/2023
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
nesta parte a entrevistada foi firme em defender a simbologia/imagem de Deus, aqui há o
entendimento que o amor do sagrado é incondicional e acessível a todos.
Munduruku (2009, p. 20) evidencia essa relação contrastante entre o modo ocidental de
compreender a vida e o modo dos povos indígenas, destacando que “talvez nada disso faça
sentido para o ocidental acostumado com o pensamento linear, quadrado, senhorial e
possessivo. Não importa. Nunca fomos entendidos mesmo. E ainda assim sobrevivemos”. Na
contemporaneidade, a desigualdade marca o desequilíbrio nas relações sociais, na utilização
dos recursos naturais e culturais. Ora, o modelo de progresso apresenta duas grandes
consequências: uma de tratar os recursos da Terra como inesgotáveis e a outra de que apenas
uma pequena parcela da humanidade acumule bens produzidos com o sofrimento e a morte e a
exploração de pessoas e da natureza.
Na fala da nossa entrevistada evidenciamos que a exploração da natureza, das águas, do
desmatamento influencia, principalmente, a vida dos povos indígenas. Maria destaca as
mudanças na natureza nos últimos anos: “sim, muita chuva, muito sol e pouco vento. Pouca
caça e pouco peixe”. Nesse sentido, a insegurança alimentar é um dos problemas que vem junto
com a não preservação da floresta, assim como as mudanças climáticas, e se faz necessário
combater as injustiças, os privilégios e os mecanismos que geram a desigualdade, provocados
por um sistema econômico que se apropria da vida em todas as escalas. Na visão cosmológica
indígena o que prevalece é a vida e os povos entendem a necessidade da auto realização da
natureza. O que interessa é o equilíbrio e isso intriga a visão materialista da cultura ocidental
(Baniwa, 2016).
Após a entrevista com a Sra. Maria, fizemos algumas perguntas ao seu filho Galdino
(15 anos de idade). Primeiro perguntamos qual sua expectativa para o futuro. Ele nos respondeu:
“Parei de estudar, não tem ensino médio aqui. Quero ser professor”. Neste momento, vimos que
ele entende a necessidade da educação para realizar o sonho de lecionar, uma vez que garante
aos indígenas e suas comunidades reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização de
suas línguas, bem como o acesso às informações e conhecimentos das mais diversas áreas.
Quando perguntado sobre as dificuldades na aldeia, nos respondeu: “Estrada ruim, não
tem professor na escola, falta um posto de saúde na aldeia”. Desse modo, é possível perceber
que ocorre uma negligência por parte do Estado em suas esferas de poderes, no cumprimento
dos Direitos básicos como direito de ir e vir, saúde e educação. A falta da garantia de direitos
dos povos indígenas em seus territórios remete aos tempos da colonização com o projeto de
aniquilação das etnias e apesar dos avanços na conquista de direitos, ainda existe uma tentativa