¹Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Rondônia, Campus
Jorge Vassilakis. Departamento Acadêmico de Ciências da Educação, e-mail:
anaestergm360@gmail.com
²Doutora em Geografia pela UFPR, professora adjunta do Departamento de Ciências da Educação da
Universidade Federal de Rondônia - UNIR, pesquisadora do Grupo de Estudos Interdisciplinares das
fronteiras Amazônicas - GEIFA/UNIR e-mail: zuilagc@gmail.br
³Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia na Universidade Federal de Rondônia, Campus
Jorge Vassilakis. Departamento Acadêmico de Ciências da Educação, email: wanilzape@gmail.com
Revista Culturas & Fronteiras - Volume 10. Nº 1 - Julho/2024
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
O PROJETO MOINHO CULTURAL: DANÇA, MÚSICA E LETRAMENTO NA
FRONTEIRA
Ana Ester de Souza Gomes¹
Drª Zuila Guimarães Cova dos Santos²
Wanilza Pereira de Souza³
Resumo: O presente estudo traz em seu contexto a história do Instituto Moinho
Cultural - Sul Americano. Localizado na fronteira de Corumbá com a Bolívia, o instituto
promove ações sociais e culturais voltadas para a comunidade local e adjacentes,
realizando projetos sociais, culturais e artísticos com crianças e adolescente da
comunidade do município de Corumbá, Ladário/MS e também das cidades vizinhas
situadas na fronteira do Brasil com a Bolívia: Puerto Suarez e Puerto Quijarro /BO. A
pesquisa trouxe enriquecimento cultural, social e humano, na perspectiva de
oportunidades para jovens e crianças de conhecerem e aprenderem um pouco mais
sobre a interculturalidade, relações sociais, ações educativas de aprendizagens de
arte e cultura, que serão de muita relevância para suas vidas. O objetivo da pesquisa
era conhecer o Instituto Moinho Cultural, sua finalidade e os impactos que ele causa
na sociedade. Para esse estudo foi realizada pesquisa bibliográfica e a pesquisa de
campo. Os resultados indicam que o instituto é agente transformador de vidas, pois
acolhe e inclui crianças e jovens em estado de vulnerabilidade social, dando-lhes
oportunidades singulares de aprendizagens e conhecimentos nos campos culturais,
interculturais, artísticos e sociais nessa região de fronteira.
Palavras-chave: Cultura; Vulnerabilidade Social; Fronteira.
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Introdução
O Instituto Moinho Cultural Sul Americano, é um lugar de inclusão social,
respeito à vida, ao ser humano e a interculturalidade. Seu objetivo está voltado para
as ações sociais que envolvem práticas educativas de arte, cultura e tecnologia para
crianças, adolescentes da comunidade local e residentes bolivianos que moram no
município de Corumbá, Ladário e cidades da fronteira boliviana como Puerto Suarez
e Puerto Quijarro. Localizado em Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia, 18
anos o Instituto Moinho Cultural Sul Americano transforma vidas. Nesse período, mais
de 23 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social foram
beneficiadas diretamente com atividades oferecidas diariamente em período
contraturno da Escola Regular e 60 mil indiretamente. São ofertadas aulas de Ballet e
Música Clássica, Dança Contemporânea, Informática, Apoio Escolar, Grupo de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos, entre outras. O Moinho também beneficia
crianças e jovens do município de Ladário e das cidades bolivianas Puerto Suarez e
Puerto Quijarro, possibilitando um importante intercâmbio cultural. O Instituto Moinho
Cultural Sul-Americano é uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, que
tem como missão a diminuição da vulnerabilidade de crianças e adolescentes em
região de fronteira através do acesso a bens culturais e conhecimento tecnológico.
Metodologia
O presente estudo buscou compreender os impactos sociais e a importância
das intervenções educacionais e culturais feitas pelo Instituto Moinho Cultural Sul-
Americano em Corumbá/MS, através de fundamentação em pesquisas bibliográficas
e observação na visita ao local para a pesquisa de campo.
[...] pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir
informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual
procuramos uma resposta, ou de uma hipótese, que queiramos comprovar,
ou ainda, descobrir novos fenômenos ou relações entre ela. Consiste na
observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na
coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que presumimos
relevantes, para analisá-los. (Padranov e Freitas, 2013, p. 59)
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A observação integrada nos proporcionou melhor entendimento da
funcionalidade cotidiana do instituto, atuando na integração social das crianças e
adolescentes brasileiras e bolivianas em vulnerabilidade econômica-social.
Resultados e Discussão
A visita foi intermediada pela conselheira do Moinho Cultural e professora da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Suzana Mancilla. Fomos recepcionadas
pelas pela psicóloga e assistente social do Instituto. Elas esclareceram brevemente
sobre o funcionamento, atendimento e ações da instituição. Conforme nos
apresentavam o espaço, nos explicaram com mais detalhes o desenvolvimento e a
operacionalidade do IMC. Depois da área de recepção, passa-se para um espaço
amplo ornado com obras de artes dos artistas plásticos Marlene Mourão e José
Enrique. Haviam placas de vidro com os nomes dos países da América do Sul, assim
como suas bandeiras penduradas acima, organizadas em fileira na lateral do pátio,
que segundo relatado, são usadas para as aulas das crianças. Isso mostra a
preocupação da instituição de reafirmar a identidade sul-americana. Trabalhar
identidade na educação se faz importante, pois a identidade “[...] pode vir a ser negada
por questões de não compreensão, ou de negação do que essa identidade represente,
ou até mesmo por não aceitar os valores que orbitam esse conceito” (Alves, 2011, p.
25). Portanto, essa intervenção reforça às crianças a ideia de um coletivo territorial e
cultural com suas individualidades e pluralidades, possibilitando o reconhecimento,
aceitação e o orgulho de pertencer.
Nesta perspectiva, Macedo; Tavares; Lourenço (2023), ressaltam que
[...] privilegiar um olhar para o sul global evoca não apenas reconhecer
a diversidade de construções sociais dos diferentes sujeitos marcados
por sua classe social, raça,etnia, gênero, idade e contexto geográfico,
superando as representações coloniais, patriarcais, adultocêntricas e
universalizantes, mas nos afeta em problematizarmos como estamos
acolhendo na escola pública esses diferentes sujeitos e quais direções
perseguem as pedagogias que vêm sendo instituídas em diferentes
espaços de cuidado e educação nestes territórios.
Mais a frente, um varal de exposição de atividades, e ao lado um espaço em
madeira com arquibancadas e uma televisão, chamado “Vagão da Alegria”, onde
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atividades e apresentações culturais são desenvolvidas. À direita, o refeitório, e à
frente uma escadaria que levam às salas de aula, as paredes tinham muitos quadros
de marcos e representações culturais e de pessoas importantes para o Moinho. A
historicidade do lugar é viva e salta aos olhos. professores do Moinho que foram
parte dos primeiros alunos do projeto, tiveram as vidas transformadas e hoje fazem
parte da transformação de novas vidas, através da educação, arte e cultura. Ali essas
crianças têm oportunidade de driblar muitos dos impactos da vulnerabilidade social e
econômica, lá podem sonhar com perspectivas de futuros brilhantes, pois
[...] a cultura, no sentido mais restrito do termo, quando na condição
de meio e instrumento para o desenvolvimento, exerce um papel
importante que não se restringe ou se limita, necessariamente, à
dimensão econômica, pois seu principal fim é construir ou reconstruir
identidades, elevar a auto-estima individual e coletiva, adicionar valor
ao patrimônio existencial humano, enriquecendo substantivamente o
homem e a sociedade. (Knopp, 2008, p.12,13)
Primeiramente encontramos a turma de canto. As crianças estavam em uma
sala com portas de vidro que permitia que as observássemos de fora. Ao notarem
nossa presença, a professora conduziu no piano uma música para que nos
apresentassem. As outras salas de música eram nomeadas com nomes de notas
musicais. Apreciamos também em suas respectivas salas no andar da música, as
aulas de instrumentos de orquestra que estavam acontecendo no dia, a de violino e a
de trompete. Subindo mais um andar, conhecemos o espaço da Educação. A
recepção cheia de livros e materiais didáticos do local nos preparava para o mais
importante, a Biblioteca Augusto César Proença, financiada pelo Criança Esperança,
uma iniciativa da Rede Globo em parceria com a UNESCO. Livros, gibis, brinquedos
e um espaço lindo de contação de histórias compunham o lugar encantador. No
mesmo espaço, a biblioteca se fazia sala de aula, um lugar onde o letramento e
alfabetização em português e espanhol estava a acontecer de forma acolhedora e
humanizada. A professora ao ensinar as características sonoras distintas que o
Espanhol tem da Língua Portuguesa, deu a oportunidade a um aluno boliviano para
dizer palavras em sua língua enquanto os alunos brasileiros tentavam acertar a forma
correta de escrita. O momento gerou diversão e interações respeitosas entre as
crianças. Sabendo que o aluno fronteiriço é imerso ao multiculturalismo é necessário
que as interações sejam mediadas em torno do respeito e aceitação para que suas
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leituras de mundo sigam raigadas no que preserva e respeita às diferenças.
Conhecemos também as salas de danças, com ballet e dança contemporânea.
Presenciamos as crianças em aula de digitação, transcrevendo literaturas infantis para
o computador na sala de informática. Ao voltarmos ao rreo nos deparamos com uma
professora conduzindo a brincadeira de “Vivo ou Morto” com as crianças. O ato de
brincar vai além da diversão quando falamos em desenvolvimento, visto que “[...] à
medida que a criança é estimulada, ela desenvolve suas competências motoras,
emocionais, afetivas, cognitivas e sociais, as quais são importantes para a interação
em sociedade.” (Oliveira; Santos, 2021, p. 64,65) Fora do prédio principal, acontecia
a aula de percussão. Os instrumentos em sua maioria eram feitos com materiais
reciclados. Ao desenvolverem essa atividade é trabalhado consequentemente nas
crianças a percepção sonora, noção de tempo e habilidades motoras. Nesta aula,
fomos convidados para participar. Ao fim da visita, trocamos agradecimentos e
contatos. Saímos esperançosos, gratos e desafiados a sairmos da zona de conforto.
Conclusões
Compreendemos que o Moinho Cultural é um instituto de acolhimento e
inclusão social, cultural e humano. Proporciona oportunidades iguais para adolescente
e crianças, brasileiros e bolivianos em estado de vulnerabilidade, impactando
positivamente em suas vidas. Fica evidente que a interculturalidade está presente em
suas práticas educativas, e abraça a todos independente de sua cultura e
nacionalidade. A educação ultrapassa as fronteiras que separam os dois lados: Brasil
e Bolívia. Portanto, o Instituto Moinho Cultural consegue atingir seus objetivos na
perspectiva da inclusiva de jovens e crianças com diversidades culturais e fragilidades
sociais, a fim de promover a diminuição da defasagem educacional por suas
condições. Consideramos que através da pesquisa de campo foi possível identificar o
impacto benéfico das atividades ofertadas no IMC. A Arte e a Educação, juntas
atuando para formação humana, para que sejam sujeitos capazes de fazer leitura de
mundo e seguros de suas identidades.
A criança através de suas relações e práticas cotidiana constrói sua
identidade. É importante promover o desenvolvimento das habilidades
sociais necessárias para sua vivência, estimulando o desenvolvimento
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de infinitas formas, como por exemplo: através da experimentação, da
dança, da música, pintura entre outras atividades. (Oliveira; Santos,
2021, p. 64)
Portanto, o trabalho do Moinho colabora não apenas na situação presente das
crianças e adolescestes, mas para construção da cidadania dos tais, refletindo em
futuros sujeitos transformadores da sociedade.
Referências
ALVES, Thamar Kalil de Campos. Identidade(s) latino americana(s) no ensino de
História: um estudo em escolas de ensino médio Belo Horizonte, MG, Brasil. 2011.
Dissertação (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Uberlândia.
MACEDO, Nayra Alves; TAVARES, Maria Tereza Goudard; LOURENÇO, Florentino
Maria. LUTAR, RESISTIR E ESPERANÇAR: O PENSAMENTO FREIRIANO NO
BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA BRASILEIRA. Revista Enfil. v. 1 n. 16 (10):
Dossiê Educação na Pandemia, p. 121-136, Abril, 2023.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho
científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho
acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
O INSTITUTO. Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, 2020. Disponível em:
https://moinhocultural.org.br/o-instituto/ Acesso: 10 de novembro de 2023.
OLIVEIRA, Jucilene Gonçalves de; SANTOS, Zuila Guimarães Cova dos.
EDUCAÇÃO INFANTIL, AFETIVIDADE E LUDICIDADE: ESTRATÉGIAS
PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
SOCIOEMOCIONAIS NO PERÍODO DE ISOLAMENTO SOCIAL. Revista Culturas
& Fronteiras - Volume 5. 1 - DEZEMBRO/2021 Grupo de Estudos
Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR. Disponível em:
http://www.periodicos.unir.br/index.php/index/user