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AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
EMOCIONAIS DE ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS
Revista Culturas & Fronteiras – Volume 12 Nº 1- Outubro/2025
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
porque emergem da interação entre indivíduos que compartilham o mesmo mundo,
servindo de apoio mútuo para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo – seja de
forma convergente ou conflituosa.
Para discutir as vivências, trazemos Evaristo (2020, pg. 38), que reflete: “Como
pensar a escrevivência em sua autonomia e em sua relação com os modelos de
escrita do eu, auto ficção, escrita memorialística.” Acreditamos que o ato de escrever
a própria história permite aos alunos expressarem suas vivências e exporem suas
realidades. Dessa forma, com base nas vivências desses estudantes brasileiros e
bolivianos ao escreverem cartas com a narrando suas histórias de vida cotidiana,
percebemos as emoções que trazem em suas escritas e memória.
Para analisar as cartas, utilizamos o método da análise de discurso de Orlandi
(2007, pg. 26,27), que destaca:
A análise de discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico
produz, como ele está investido de significância para e por sujeito. Essa
compreensão, por sua vez, implica em explicar como o texto organiza os
gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido.
Segundo Orlandi, a análise não é feita somente a partir do que está escrito ou
falado, mas também por pequenos gestos que muitas vezes passam despercebidos.
Dentre esses gestos, podemos considerar que sentimentos e atitudes podem ser
detectados por meio da fala ou até mesmo da forma de se comunicar.
Segundo Wallon, (2008, pg. 165), “[...] sendo de origem social, a linguagem
impõe aos dados da consciência os quadros de convenções ou de experiências
tradicionais que dependem do grupo e de sua vida coletiva”. Portanto, ao
internalizarmos a linguagem, internalizamos também as formas de pensar, valores e
compreensões compartilhadas por nossa comunidade. Esses "quadros" linguísticos
atuam como filtros e organizadores dos dados sensoriais e das experiências,
influenciando a maneira como atribuímos significado ao que nos cerca. Assim, ao
analisarmos as cartas escritas pelos alunos, percebemos diferenças significativas na
forma como se expressam. As cartas refletem não apenas a passagem do tempo, mas
também a evolução das relações interpessoais e na consciência que internalizam no
seu grupo de vida social.