Cemitério dos vivos: representações do autoritarismo

Resumo

Neste artigo pretendo criar um diálogo entre o escritor Lima Barreto e o tema “literatura e autoritarismo”, demonstrando como o escritor transporta para seu texto o autoritarismo presente em sua época, vislumbrando o manicômio como um dos lugares de manifestação deste autoritarismo. Para tanto utilizarei como ponto de partida e referência a obra da escritora Daniela Arbex, Holocausto brasileiro (2013) e como corpus literário utilizarei a obra póstuma e inacabada Cemitério dos vivos (1957), de Lima Barreto. Politicamente é o local utilizado pelas autoridades para calar os indesejados, separá-los da sociedade considerada sã e ideal para formar aquilo que Miskolci chama de “o desejo da nação” (2012). O manicômio é o local das vozes dissonantes. É uma das únicas possibilidades de existência contraditória dentro de um sistema repressivo. Não apenas livres de encararem uma sociedade real, mestiça, pobre, não europeia, que não se desejava, mas livres da manifestação de ideias que iam contra seu projeto de nação futura. Resta aos indesejados - como Lima Barreto -, a condenação ao silêncio intelectual, mas este tenta, por meio da literatura, explicar a sociedade na qual está inserido. É a visão do silenciado e contingenciado que procuramos destacar neste trabalho.