A mulher duplamente subversiva em Outros Cantos, de Maria Valéria Rezende

Abstract

Em Outros Cantos, de Maria Valéria Rezende, acompanhamos a personagem Maria, que em uma viagem de ônibus sertão nordestino adentro, mergulha em suas recordações de viagens que fizera outrora, especialmente aquela que fez à Olho D’Água, vilarejo do mesmo sertão que cruza agora e que esteve hospedada quarenta anos antes. A protagonista viajou à Olho d’Água disfarçada de professora do Mobral, ndécada de 70, quando na verdade era uma militante comunista que tem como missão articular um levante popular, misturando-se e conscientizando os sertanejos dos desmandos de quem estava no poder, em plena ditadura militar. A intenção verdadeira da personagem é realizar um ensino às avessas, subversivo. A partir dessa narrativa memorialística, este artigo teve como objetivo refletir a respeito da representação da mulher militante nesta obra contemporânea, discutindo sobre o protagonismo da mulher subversiva durante a ditadura militar brasileira que, no caso de Maria, atua na militância de maneira descentralizada, no meio rural. Foram utilizadas teóricas e teóricos que estão relacionados aos Estudos Culturais, sendo feita uma revisitação histórica-teórica da Crítica Feminista, que buscou desvelar as vozes que sofrem sistematicamente com apagamentos históricos, como a feminina.  A investigação foi realizada com recortes de poções narrativas significantes da obra a respeito da categoria analítica escolhida, entrecruzados com os dados teóricos levantados. Concluiu-se que obras como a da autora, aparecem como ricas narrativas onde é possível traçar perspectivas a respeito da desconstrução do lugar simbólico imposto à mulher pelo patriarcalismo e a atuação política feminina.

PALAVRAS-CHAVE: Mulher militante; Crítica literária feminista; Ditadura militar brasileira.