ISSN 2675-1011
DOI https://doi.org/10.29327/211038
outubro/2025
Volume 12, número 1
Tecendo olhares sobre a
Amazônia fronteiriça
REVISTA
CULTURAS & FRONTEIRAS
Revista Culturas & Fronteiras Volume 12 Nº 1- Outubro/2025
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
ISSN 2675-1011
DOI https://doi.org/10.29327/211038
Revista Culturas & Fronteiras
GEIFA Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras
Amazônicas
Volume 11 | n. 1| 2024
ISSN: 2675-1011
Prefixo DOI: 10.29327
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experiências, resenha,
poemas, poesias, sugestões e críticas:
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Apresentação.....................................................................................................III
Comissão Editorial.............................................................................................VI
CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E
OS ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
MIRIM/RO.......................................................................................................1-16
Sandra de Aguiar Barbalho, Gustavo Henrique de Abreu Silva
AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES EMOCIONAIS DE
ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS.........................................17-35
Lumaína do Nascimento, Ranata Gonçalves Paez, Zuíla Guimarães Cova dos Santos
VALORACIÓN DE LOS CRÉDITOS DE CARBONO Y EL COMPORTAMIENTO
DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE GUAYARAMERÍN,
2024……......................................................................................................36-55
Ramiro Irineo Alvarez Mamani
ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO
BRASIL?.......................................................................................................56-71
Anna Liz Vieira da Silva, Emanuelle Cristina Boaventura Miranda, Marli Lúcia Tonatto
Zibetti
EDUCAÇÃO CRÍTICA E PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: CAMINHOS PARA A
FORMAÇÃO DOCENTE E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ............................72-82
Indajara Magalhães
A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO
PIBID: RELATOS SOBRE OS IMPACTOS DE UMA MUDANÇA
FORÇADA..................................................................................................
83-101
Laila Raquel Costa Carvalho, Francisco Alberto Moraes Viana Júnior, Ismael Araújo
Monteiro, Rayane Rocha Rodrigues
HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA,
EM GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA
BRASIL/BOLÍVIA.....................................................................................102-118
Jane Maria Cassimiro Gonçalves, Dorosnil Alves Moreira, Izaela de Sousa Santos, A
Auxiliadora dos Santos Pinto
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Editorial: Tecendo olhares sobre a Amazônia fronteiriça
Prezados (as) leitores (as) e pesquisadores (as)
É com grande satisfação que apresentamos mais uma edição da revista
Culturas & Fronteiras, um espaço dedicado a aprofundar os diálogos e as
reflexões sobre as complexidades e multifacetadas realizadas das regiões de
fronteira, com especial atenção à Amazônia. O volume n.12 que agora
publicamos reúne uma rica tapeçaria de estudos que exploram a identidade, as
emoções, a memória, a educação e as interações socioambientais, reafirmando
o compromisso da nossa revista em ser uma plataforma para a produção de
conhecimento interdisciplinar.
Nessa edição, mergulhamos nas especificidades da fronteira
Brasil/Bolívia, tomando Guajará-Mirim/RO como um ponto focal para múltiplas
análises. O artigo CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA
DA PAISAGEM E OS ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE
IDENTIDADE EM GUAJARÁ- MIRIM/RO de Sandra de Aguiar Barbalho,
Gustavo Henrique de Abreu Silva, nos convida a uma leitura simbólica e
fenomenológica com esses locais naturais. Por meio de uma cartografia afetiva,
os autores demonstram como esses locais naturais, que poderiam ser vistos
apenas como área de recreação, operam como potentes dispositivos de
formação e resistência simbólica, educando o corpo e a mente dos seus
habitantes de forma sutil e profunda.
Seguindo na perspectiva das experiências fronteiriças, a pesquisa de
Lumaína do Nascimento, Ranata Gonçalves Paez, Zuíla Guimarães Cova dos
Santos, intitulada “AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
EMOCIONAIS DE ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS, nos revela
a dimensão emocional e cultural das relações entre estudantes de ambos os
lados da fronteira. As cartas trocadas funcionam como pontes que transportam
memórias, afeto e acolhimento, desvelando a construção de uma amizade que
transcende as barreiras geográficas.
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A fronteira também se manifesta em dinâmica econômica e ambientais,
como abordado por Ramiro Irineo Alvarez Mamani em VALORACIÓN DE LOS
CRÉDITOS DE CARBONO Y EL COMPORTAMIENTO DE COMPRA
SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE GUAYARAMERÍN, 2024”. O estudo em
Guayaramerín, na Bolívia, investida o impacto do desconhecimento sobre os
créditos de carbono no comportamento de compra sustentável. A pesquisa
aponta a necessidade de maior visibilidade e transparência por parte das
empresas para fortalecer a confiança dos consumidores, um tema crucial para a
sustentabilidade na região amazónica.
A questão da educação como ferramenta de transformação social é
abordada por Anna Liz Vieira da Silva, Emanuelle Cristina Boaventura Miranda,
Marli Lúcia Tonatto Zibetti em ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO
PODE CONTRIBUIR PARA A PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS
MULHERES NO BRASIL?. O artigo destaca o papel fundamental da educação
crítica e da conscientização social na luta contra a violência de gênero,
reforçando a importância da legislação vigente e da formação dos educandos.
A formação docente e a transformação social são novamente o foco em
EDUCAÇÃO CRÍTICA E PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: CAMINHOS PARA
A FORMAÇÃO DOCENTE E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL de Indajara
Magalhães. A autora analisa como a integração da educação crítica e da
psicologia da libertação pode criar novos caminhos para uma prática pedagógica
mais engajada e transformadora.
A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES
DO PIBID: RELATOS SOBRE OS IMPACTOS DE UMA MUDANÇA
FORÇADA de Laila Raquel Costa Carvalho, Francisco Alberto Moraes Viana
Júnior, Ismael Araújo Monteiro, Rayane Rocha Rodrigues, em meios às
incertezas da pandemia de Covid-19, este artigo oferece um olhar aprofundado
sobre a ação pedagógica no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID). A partir dos diários de bordos e da perspectiva da supervisão
em 2021, os autores revelam que, diante de um cenário de profunda alteração
na rotina escolar, a construção do conhecimento foi um processo coletivo e
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heurístico. Destacado nesse contexto, tanto bolsista quanto professores se
encontraram em uma realidade desconhecida, exigindo um aprendizado mútuo
e investigativo. A experiência evidencia a resiliência e a capacidade de
adaptação dos profissionais da educação gente a mudanças forçadas,
reforçando a importância do PIBID para a formação docente, mesmo em
circunstâncias adversas.
Por fim, Jane Maria Cassimiro Gonçalves, Dorosnil Alves Moreira, Izaela
de Sousa Santos e Auxiliadora Pinto dos Santos, contribuem com HISTÓRIA E
MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS, PROJETOS E
REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA. Este estudo
recupera a trajetória de uma figura central no desenvolvimento educacional
político e sociocultural da região, reforçando a necessidade de valoriza e
registrar a história local para as futuras gerações
Esperamos que a diversidade de abordagens e a riqueza de dados
presentes neste volume enriqueçam o debate acadêmico e inspirem novas
pesquisas sobre as complexas e fascinantes realidades das culturas de fronteira.
Boa leitura!
Me. Gislaina Rayana Freitas dos Santos
Comitê editorial
Culturas & Fronteiras
O acesso à publicação pode ser feito por meio do seguinte link:
https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas (GEIFA),
do Departamento de Ciências da Educação (DACE) do Campus de Guajará-
Mirim e Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Rondônia
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COMISSÃO EDITORIAL
Editora Chefe
Dra. Zuíla Guimarães Cova dos Santos
Editora Adjunta
Dra. Auxiliadora dos Santos Pinto
Editora
Profº Me. Gislaina Rayana Freitas dos Santos
Editores de seção
Adaildo Tapeoci de Barros
Ana Ester de Souza Gomes
Caroline Reis dos Santos
Daniel Chanevy Coimbra
Juliana D Santos Alves
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Comissão científica
Profª Dra. Auxiliadora dos Santos Pinto
Porfº Dr. Alison Barbosa de Oliveira
Profª Dra Carmen Tereza Velanga - Unir / Brasil
Profª Ms Edneia Bento de Souza Fernades - Unir/Brasil
Prof. Ms Fabiano Sales de Aguiar -Unir/Brasil
Prof. Fernando da Silva Cardoso
Profº Dr. Halanderson Raymisson da Silva
Profº Ms Jacinto Pinto Leão
Profª Drª Luanna Freitas Jonshon - Unir/Brasil
Profa Dra Luciana Riça Mourão Borges - Unir
Profa Ms Maria Eugenia Hurtado Bruckner (Bolívia)
Profª Ms. Norah Nagayama - Bolívia
Profª Drª Rosa Martins Costa Pereira IFRO/Brasil
Profº Dr. Ricardo Santos David
Profª Drª Zuila Guimarães Cova dos Santos
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CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
MIRIM/RO
CARTOGRAPHIES OF AFFECTION AT THE BORDER: THE POETICS OF LANDSCAPE AND
LEISURE SPACES AS PLACES OF IDENTITY IN GUAJARÁ- MIRIM/RO
Sandra de Aguiar Barbalho
1
Prof. Dr. Gustavo Henrique de Abreu Silva
2
RESUMO
Este artigo propõe uma leitura simbólica e formativa dos espaços naturais de lazer em
Guajará- Mirim/RO, região fronteiriça entre Brasil e Bolívia, a partir da Geografia
Cultural, da Educação do Território e da abordagem fenomenológica da percepção. O
problema central que orienta o estudo é: como o lazer em paisagens amazônicas
fronteiriças funciona enquanto prática formativa e dispositivo de resistência simbólica?
O objetivo geral é compreender como os gestos, permanências, contemplações e
práticas comunitárias vividas nos espaços naturais de Guajará-Mirim contribuem para
a produção de saberes territoriais e para a valorização da educação fora dos
ambientes escolares convencionais. Os autores mobilizados: Yi-Fu Tuan, Edward
Relph, Merleau-Ponty e Verdum et al., oferecem base para articular conceitos como
topofilia, corporeidade, autenticidade e paisagem como texto cultural. A metodologia
é qualitativa, com registro em diário de campo e observação sensível dos balneários
e mirantes da cidade, por meio de entrevistas informais. Os resultados indicam que
esses espaços não funcionam apenas como áreas de recreação, mas como lugares
vividos, onde o corpo, o silêncio, o encontro e a paisagem produzem sentidos
formativos. A pesquisa reafirma que o território educa pela poética dos gestos e das
permanências, e que a cartografia afetiva revela dimensões invisibilizadas da
formação cultural amazônica e comunitária.
Palavras-chave: Cartografia afetiva; Geografia cultural; Lugar vivido; Lazer
comunitário; Pedagogia territorial
1
Universidade Federal de Rondônia-UNIR
Email:sandramestradogeounir@gmail.com
2
Universidade Federal de Rondônia-UNIR Email:
gustavo.abreu@unir.br
2
CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
MIRIM/RO
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1. INTRODUÇÃO
Este artigo propõe uma leitura simbólica e educativa dos espaços naturais de
lazer em Guajará-Mirim/RO, município amazônico localizado na fronteira entre Brasil e
Bolívia. Trata- se de um território marcado por múltiplas interações culturais,
atravessado por fluxos linguísticos, afetivos, sociais e ambientais que conformam
paisagens singulares e vividas. A investigação parte do reconhecimento de que os
espaços públicos de lazer, em especial balneários e mirantes, não são apenas áreas
de recreação e descanso, mas territórios de significação cotidiana, nos quais se
produzem vínculos, saberes e formas de resistência cultural.
É nesses cenários que gestos ordinários revelam potências educativas e que a
paisagem assume papel formador, poético e identitário.
É nesses cenários que gestos ordinários revelam potências educativas e que a
paisagem assume papel formador, poético e identitário.
Guajará-Mirim, como cidade fronteiriça amazônica, carrega em sua composição
territorial uma diversidade de experiências que desafiam as lógicas convencionais da
educação escolar. Os espaços naturais ali presentes, vivenciados por comunidades
ribeirinhas, indígenas, bolivianas e urbanas, constituem lugares nos quais a
aprendizagem acontece também de forma não formal, ativada pela escuta, pela
permanência, pelo corpo e pela memória. Nesse sentido, este estudo parte do
pressuposto de que tais ambientes funcionam como territórios pedagógicos sensíveis,
capazes de articular estéticas da paisagem com práticas educativas enraizadas no
cotidiano vivido.
O problema central que orienta o estudo é: como o lazer em paisagens
amazônicas fronteiriças funciona como prática formativa e dispositivo de resistência
simbólica? No entanto, importa destacar que a resistência simbólica é um conceito que
descreve formas de oposição ou contestação indireta a sistemas de dominação que
operam por meio de símbolos, discursos e representações culturais. Por tanto, a
pergunta emerge da observação de que cada vez mais um deslocamento entre a
pedagogia institucionalizada e os processos de formação que ocorrem em ambientes
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CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
MIRIM/RO
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informais, especialmente em regiões onde o território atua como protagonista. A
investigação busca responder a essa questão por meio de uma abordagem sensível
e interpretativa, que privilegia os significados atribuídos aos espaços naturais e às
interações humanas que os habitam.
O objetivo principal é compreender como os gestos, permanências,
contemplações e práticas comunitárias vividas nos espaços naturais de Guajará-Mirim
contribuem para a produção de saberes territoriais e para a valorização da educação
fora dos ambientes escolares convencionais. Trata-se de uma perspectiva que se
insere no campo da Geografia Humanista e da Educação do Território, articulando as
dimensões simbólicas, afetivas e estéticas da paisagem com as cartografias
emocionais e formativas do cotidiano. A paisagem aqui não é tratada como cenário
neutro ou decorativo. Ao contrário, ela é entendida como texto cultural e currículo
poético, capaz de comunicar sentidos, ativar memórias e formar subjetividades.
Conforme propõe Beringuier (Apud VERDUM et al., 2012, p. 121), “a
paisagem é, por conseguinte, objeto, concreto, material, físico e efetivo e é percebida
através dos seus elementos, pelo nossos cinco sentidos, é sentida pelos homens
afetivamente e culturalmente”.
Os balneários e mirantes naturais analisados, como o Balneário do Célio, o
Mirante da Serra e o Mirante Mamoré, entre outros, são lugares carregados de
significados, apropriados cotidianamente pela população local, que imprime neles
marcas, histórias e afetos. O lazer nesses espaços ultrapassa a função de
entretenimento: torna-se ritual pedagógico, forma de resistência identitária e expressão
da relação com o território.
A escolha por investigar os espaços naturais de lazer nasce da observação
empírica e experiencial desses lugares como fontes de pertencimento. São áreas em
que o corpo aprende a partir do toque da água, do contato com a vegetação, do silêncio
compartilhado e da escuta do mundo. A formação acontece na permanência, na
repetição dos gestos, na comunhão entre gerações. Crianças brincam, idosos
contemplam, jovens convivem e a paisagem, silenciosa, educa. Essa dimensão
formadora escapa à lógica curricular formal e exige outras lentes de interpretação: uma
cartografia afetiva que revele os territórios como espaços de ensino, experiência e
4
CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
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simbolismo.
A cartografia afetiva, de acordo com Paz e Bueno (Apud BASTOS, 2023, p.
509) “se apresenta como método de abordagem para estudos da subjetividade”.
Portanto, configura-se como uma metodologia voltada à investigação da subjetividade
dos sujeitos envolvidos. Por conseguinte, A abordagem da cartografia afetiva foi
inicialmente construída a partir das reflexões sobre o conceito de paisagem. Para
Meinig (Apud BASTOS, 2023, p. 509-510) “a paisagem é composta não apenas por
aquilo que está à frente dos nossos olhos, mas também por aquilo que se esconde em
nossas mentes”. A cartografia afetiva, de acordo com Paz e Bueno (Apud BASTOS,
2023, p. 509) “se apresenta como método de abordagem para estudos da
subjetividade”. Portanto, configura-se como uma metodologia voltada à investigação da
subjetividade dos sujeitos envolvidos.
Por conseguinte, A abordagem da cartografia afetiva foi inicialmente construída
a partir das reflexões sobre o conceito de paisagem. Para Meinig (Apud BASTOS, 2023,
p. 509- 510) “a paisagem é composta não apenas por aquilo que está à frente dos
nossos olhos, mas também por aquilo que se esconde em nossas mentes”. Em
continuidade à discussão sobre os mapas convencionais empregados na Cartografia
Escolar, Oliveira Jr (Apud BASTOS, 2023, p.510),
Pontua o mapa (em uma versão oficial do Estado, da cartografia formal
ocidental) tornou-se um clichê, algo que aparece diante de nós toda vez que
pensamos em espaço, em geografia [... ] eles não são apenas modos de ver,
são eles que são vistos como sendo o espaço e finalmente (ao final da
geografia escolar) vemos apenas eles como sendo o espaço. Oliveira Jr
(Apud BASTOS, 2023, p.510),
O mapa, em sua versão oficial, formulado pelo Estado segundo os princípios
da cartografia tradicional ocidental, consolidou-se como referência visual imediata toda
vez que se pensa em espaço ou em geografia. De ferramenta de leitura, ele passou a
ser confundido com o próprio território, sendo tomado como única representação
legítima do espaço, sobretudo ao final do processo escolar. Para Bastos (2023, p.511),
o afeto, etimologicamente, vem do latim affectus, de acordo com o dicionário Michaelis,
e significa: “Expressão de sentimento ou emoção como, por exemplo, amizade, amor,
ódio, paixão etc...”.
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CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
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Inserido nesse contexto, o artigo contribui para ampliar os debates sobre
educação territorial, pedagogia do cotidiano e poética da paisagem, reivindicando uma
concepção de ensino que valoriza os saberes locais, as práticas espontâneas e os
vínculos gerados pelo habitar. A fronteira, nesse caso, não é apenas um limite
geopolítico, é também um espaço de encontro, de cruzamento cultural, de formação
identitária e de produção de afetos. Os lugares investigados revelam que a educação
amazônica pulsa fora dos muros da escola, nos gestos, na presença, no vínculo com o
chão.
O estudo adota uma abordagem qualitativa e fenomenológica, centrada na
observação sensível do território e nos registros em diário de campo. Não entrevistas
formais ou aplicação de instrumentos rígidos: a proposta é mergulhar nos lugares com
escuta aberta, percebendo as nuances e sutilezas que fazem deles espaços
formadores. Ao escolher esse método, a pesquisa reafirma sua vinculação à geografia
poética e à pedagogia do lugar, modos de conhecer que respeitam o sensível, o
simbólico e o afetivo. Em síntese, este artigo visa contribuir para a valorização dos
espaços naturais como lugares que educam, evidenciando que o lazer territorializado
pode ser potente aliado na formação de sujeitos críticos, sensíveis e conectados com
suas comunidades. Ao mapear essas cartografias do afeto, reconhece-se que a
educação acontece também, e de forma profunda, nos territórios vividos, nos silêncios
compartilhados e nas paisagens que abrigam histórias.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A presente investigação inscreve-se no campo da Geografia Cultural e
Humanista, buscando compreender os espaços de lazer vividos em Guajará-Mirim/RO,
como lugares educativos sensíveis. A geografia humanista valoriza a experiência
subjetiva, emocional e simbólica dos sujeitos em relação aos territórios que habitam,
recusando leituras tecnicistas ou meramente funcionais da paisagem. Nessa
perspectiva, o espaço deixa de ser tratado como elemento neutro e passa a ser
reconhecido como instância de formação e expressão identitária. Um dos principais
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CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
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fundamentos teóricos da pesquisa é o conceito de topofilia, desenvolvido por Yi-Fu
Tuan (200, p. 17), que se refere ao vínculo afetivo entre pessoa e lugar. Segundo o
autor, “topofilia [...] é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico”. Para
ele, o afeto territorial não é mero sentimentalismo, mas uma forma legítima de
conhecimento que ativa memórias, valores e aprendizados. Os espaços naturais de
lazer, quando vivenciados e ressignificados pelas práticas comunitárias, tornam-se
expressões de topofilia, revelando pertencimento, cuidado e resistência simbólica.
Edward Relph (1976, p. 82), em Place and Placelessness, introduz o conceito
de autenticidade, distinguindo lugares vividos de espaços genéricos e
despersonalizados. Para Relph, “a autenticidade reside na profundidade da experiência
com o lugar, e não simplesmente em sua aparência física (grifo nosso)”. Mirantes e
balneários, nomeados e apropriados pela comunidade, exemplificam essa vivência
autêntica, carregando sentidos históricos e afetivos que os tornam diferentes da
paisagem abstrata e funcional. A abordagem fenomenológica proposta por Maurice
Merleau-Ponty (2006, p. 195) também é fundamental para a leitura dos espaços. Para
o autor, “é pelo corpo que percebemos o mundo; a corporeidade é a condição da
experiência”. A corporeidade, nesse sentido, não é apenas presença física, mas
mediação entre sujeito e território. Ao caminhar nos balneários, tocar a água ou
permanecer em silêncio no mirante, o corpo aprende, reconhece, pertencer. São
experiências formativas que desafiam a lógica escolar convencional.
Roberto Verdum et al. (2012, p. 241), no processo de aprendizagem, a leitura
da paisagem “é um recurso para aprender a compreender a dinâmica da natureza, pois
esta permite desenvolver várias capacidades, como a observação e representação das
suas formas e de elementos constitutivos quando analisamos, e comparamos com
outras paisagens”. Logo,
a ideia de paisagem como texto cultural, propõe uma leitura
poética do território. Ao ser interpretada como currículo poético, a paisagem revela sua
capacidade de ensinar por meio do
ritmo, da beleza, do vínculo e do silêncio. É nesse cenário que o lazer comunitário se
torna prática educativa, mesmo sem estrutura escolar formal. No campo da educação,
Paulo Freire (2016, p. 42) fortalece essa visão ao afirmar que “a educação se no
7
CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
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diálogo com o mundo vivido pelos educandos [...] seus saberes e sua territorialidade
são ponto de partida”. Para ele, o respeito à cultura local e à experiência dos sujeitos é
condição da educação libertadora. Assim, balneários e mirantes se apresentam como
ambientes de aprendizagem legítimos, nos quais o saber emerge do cotidiano, da
escuta e da convivência comunitária.
Além disso, a noção de fronteira como espaço formativo é central na pesquisa.
Guajará-Mirim, situada entre países e culturas, configura um território de
atravessamentos, mestiçagens e ressignificações constantes. A fronteira, nesse
contexto, é interpretada como “espaço de encontro e formação, e não apenas como
limite geopolítico” (SANTOS, 2004, p. 112). Ao ativar interações culturais e práticas
educativas espontâneas, os espaços naturais de Guajará-Mirim funcionam como
dispositivos identitários que resistem à homogeneização das lógicas urbanas
convencionais. Dessa forma, a fundamentação teórica articula os conceitos de topofilia,
lugar vivido, corporeidade, paisagem poética e pedagogia territorial, oferecendo
subsídios sólidos para interpretar os balneários e mirantes não como meros espaços
recreativos, mas como territórios formadores e educativos, nos quais o afeto e a
paisagem se entrelaçam na construção da identidade amazônica.
3. METODOLOGIA
A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, sensível e não invasiva,
fundamentada na fenomenologia da percepção, conforme delineada por Maurice
Merleau-Ponty (2006, p. 74). Para o autor, “perceber é aderir ao que se mostra, sem
reduzir o fenômeno ao objeto”, o que implica reconhecer os espaços naturais não
apenas como lugares físicos, mas como territórios vividos, experienciados e repletos
de significados. Esse enfoque permite compreender os ambientes de lazer como
instâncias formadoras e poéticas, atravessadas por afetos, memórias e práticas
cotidianas que escapam às categorias tradicionais de análise pedagógica. Inspirada
também na cartografia afetiva, enquanto dispositivo metodológico, a investigação
buscou mapear experiências sensíveis nos espaços naturais de Guajará-Mirim/RO,
cidade fronteiriça localizada ao oeste de Rondônia. A cartografia afetiva, não pretende
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CARTOGRAFIAS DO AFETO NA FRONTEIRA: A POÉTICA DA PAISAGEM E OS
ESPAÇOS DE LAZER COMO LUGARES DE IDENTIDADE EM GUAJARÁ-
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representar, mas expressar aquilo que pulsa no território, o que escapa aos mapas
oficiais. Segundo Rolnik (2006, p. 15), “Paisagens psicossociais também são
cartografáveis. A cartografia, nesse caso, acompanha e se faz ao mesmo tempo que
o desmanchamento de certos mundos, sua perda de sentido, e a formação de outros:
mundo que se criam para expressar afetos contemporâneos”.
Nesse sentido, o trabalho privilegiou o olhar atento, a escuta comprometida e o
registro interpretativo de vivências, gestos e permanências. Foram escolhidos dois
ambientes de estudo, com base em critérios de representatividade simbólica e
apropriação comunitária: Balneário do Célio e o Mirante da Serra. Esses locais são
amplamente frequentados por moradores da cidade e por visitantes da região
fronteiriça, sendo reconhecidos como espaços de convivência pública, contemplação
paisagística e práticas informais de lazer. A escolha por locais nomeados pelos próprios
sujeitos reforça a ideia de território vivido, conforme Relph (1976) ao afirmar que os
lugares são importantes fontes de identidade individual e comunitária, ou melhor,
“centros das nossas experiências imediatas com o mundo” (1976, p. 141). A definição
dos lugares reside mais na experiência e intenções humanas do que na localização,
paisagem e comunidade. A definição dos lugares está fundamentado sobretudo nas
vivências e nos propósitos humanos, mais do que na localização, paisagem e
comunidade. A coleta dos dados ocorreu no s de junho de 2025, por meio de visitas,
com o intuito de observar variações nas práticas e nas dinâmicas sociais. Optou-se por
realizar anotações em diário de campo, registro fotográfico e tomada de notas reflexivas
após cada vivência. A utilização de diário de campo permite que o pesquisador
interprete o território com sensibilidade, atribuindo sentido às observações para além
da descrição factual. O diário de campo é uma ferramenta de reflexão contínua, que
possibilita articular impressões e significados emergentes da pesquisa. Segundo Frizzo
(2008, p.169), “o termo “diário de campo” é usualmente utilizado para referir-se a uma
técnica específica de registro de dados muito utilizado nas pesquisas qualitativas que
utilizam principalmente a observação”.
Não foram realizadas entrevistas formais com os frequentadores dos espaços,
por se tratar de uma metodologia que privilegia o caráter não intrusivo e sensível da
observação. A escuta se deu pelo silêncio, pela observação dos gestos, pela atenção
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aos nomes atribuídos aos lugares e pelas marcas simbólicas impressas no território.
Essa postura metodológica está em consonância com Tuan (2005, p. 100), que afirma:
“aprender com o lugar exige tempo, presença e disposição para sentir o que está além
das palavras”. As práticas observadas foram organizadas em categorias emergentes,
identificadas durante a análise interpretativa dos registros. As principais categorias
foram: corporeidade formativa, contemplação como aprendizado, nominatividade
simbólica dos lugares, convivência intergeracional, e paisagem como dispositivo
pedagógico. Cada uma dessas categorias foi descrita e interpretada com base na
literatura e na vivência de campo, evitando generalizações e respeitando as
especificidades de cada espaço.
Na observação dos balneários, por exemplo, identificou-se o banho como
prática de escuta corporal, onde o contato com a água não é apenas recreativo, mas
forma de reconexão com o território. Frequentadores permanecem longos períodos em
silêncio, sentados à beira do rio, contemplando o fluxo das águas, gesto que se
relaciona à ideia de currículo poético, deste modo, considerando que a paisagem educa
por sua beleza, ritmo e permanência. Assim, de acordo com, Verdum et al. (2012, p.
29), “A morfologia deve ser complementada por uma semiologia, por uma poética e uma
estética das paisagens, impondo uma reflexão teórica sobre a percepção do espaço e
das formas”.
Nos mirantes, observou-se o uso estético da paisagem como ferramenta de
formação. O Mirante da Serra, por exemplo, é conhecido localmente como lugar para
contemplar o pôr do sol, prática que se repete entre os moradores, constituindo uma
espécie de ritual pedagógico. Segundo Merleau-Ponty (2006, p. 210), “é no silêncio da
contemplação que o corpo adquire novos modos de se relacionar com o mundo”. Esse
dado corrobora a ideia de que a presença no território é em si prática educativa, mesmo
que não institucionalizada.
Os nomes atribuídos aos espaços naturais revelam marcas de pertencimento
e formas de valorização territorial. O Balneário do Célio, por exemplo, leva o nome de
seu proprietário, o que demonstra não apenas identificação individual, mas também a
maneira como a comunidade reconhece e associa pessoas ao território compartilhado.
Esse gesto de nomeação constitui uma prática simbólica que contribui para a
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construção de vínculos afetivos e referenciais coletivos. Segundo Relph (1976, p. 65;
tradução nossa), “nomear um lugar é um dos gestos mais profundos de apropriação
espacial”, o que reforça a ideia de que os nomes funcionam como inscrições de memória
e autenticidade na paisagem vivida. Esses nomes estão presentes na memória coletiva,
funcionando como indicadores de afeto, história e reconhecimento. A análise dos dados
ocorreu de forma interpretativa, com cruzamento entre os registros de campo e os
referenciais teóricos selecionados. Não houve uso de software ou codificação
estatística, pois o foco esteve na compreensão simbólica das práticas observadas.
Conforme Minayo (2012, p. 95), “a análise qualitativa exige envolvimento do pesquisador
com o contexto estudado, ativando leituras sensíveis que ultrapassem a técnica”.
Dessa forma, a metodologia adotada neste artigo respeita as especificidades
do território amazônico fronteiriço, buscando compreender os espaços naturais como
lugares que educam, que acolhem e que formam subjetividades. Ao escolher a
cartografia afetiva como inspiração metodológica, reafirma-se o compromisso com uma
leitura poética, sensível e ético- estética da paisagem, que valoriza o cotidiano como
expressão legítima de saber.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A observação sistemática dos espaços naturais de lazer em Guajará-Mirim/RO,
revelou que balneários e mirantes, especialmente o Balneário do Célio, e o Mirante da
Serra, funcionam como territórios identitários e formativos, apropriados cotidianamente
pela comunidade como locais de convivência, contemplação e memória. Tais ambientes
apresentam forte presença simbólica e atuam como dispositivos pedagógicos informais,
nos quais práticas espontâneas ativam experiências estéticas, vínculos afetivos e
saberes territoriais.
Os registros em diário de campo, produzidos em junho de 2025, revelaram uma
série de vivências que se repetem e se ressignificam diariamente. Crianças brincando
nas águas rasas do rio, idosos sentados sob árvores dialogando com a paisagem,
jovens contemplando o pôr do sol em silêncio, esses gestos, embora aparentemente
ordinários, expressam modos de relação com o território que educam, fortalecem laços
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e constroem identidades. Conforme Merleau- Ponty (2006, p.210), “é na experiência
sensível que o corpo reconhece o mundo e produz sentido”. Logo, a presença física no
espaço torna-se forma legítima de aprender. Entre os achados mais significativos,
identificaram-se cinco grandes eixos interpretativos:
Quadro 1 Eixos Interpretativo dos Espaços Naturais de Lazer em Guajará-
Mirim/RO
EIXO
INTERPRETATIVO
DESCRIÇÃO DA CATEGORIA
REFERÊNCIA
TEÓRICA
1. Lazer como prática
educativa
A percepção é uma atividade, um estender para
o mundo, observando o jogo, em particular das
crianças, elas aprendem sobre o mundo
desenvolvem a coordenação do corpo e
aprendem a realidade dos
objetos e a estruturação do espo.
Tuan
(2005, p. 26)
2. Gestos
pedagógicos
espontâneos
Ninguém
educa
ninguém,
ninguém
educa
a
si
mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo.
Freire
(2016, p. 80)
3. Corporeidade
como forma de
aprender
O corpo não é um objeto, ele é nosso meio de
comunicação com o mundo (aprende ao habitar
o território, no contato com a água, na
caminhada e na escuta da paisagem).
Merleau-Ponty
(2006, p. 235)
4. Nominatividade
simbólica dos
espaços
Os nomes atribuídos pela comunidade aos
ambientes revelam identidade territorial,
memória e
apropriação simlica.
Relph (1976, p.
65; tradução
nossa)
5. Paisagem como
currículo poético
A paisagem aqui é concebida como um
mosaico, com formas e cores muitas vezes de
uma combinação singular e que nos marca ou
nos remete
a sensações que se situam em tempos
diversos.
Verdum et al.
(2012, p. 9)
O espaço da paisagem também se revelou como lugar de resistência cultural.
Diante da crescente urbanização e da mercantilização dos ambientes de lazer, os
balneários e mirantes são preservados pela comunidade como espaços gratuitos,
públicos e acessíveis, nos quais o lazer não depende de consumo. Esse cuidado
coletivo com o território indica práticas de resistência e de afirmação da identidade
amazônica. Santos (2004, p. 112) afirma que “o território não é apenas chão, mas
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abrigo da existência e expressão da cultura”. Nesse contexto, os ambientes analisados
funcionam como guardiões da memória e como cenários pedagógicos que desafiam
as lógicas dominantes da cidade contemporânea. A discussão dos resultados
confirma que os espaços naturais de Guajará-Mirim operam como territórios
educativos poéticos, nos quais o sujeito se forma pela paisagem, pelo afeto e pela
presença. Os gestos observados revelam que o ensino pode se dar fora da escola, nos
caminhos da vida, nos silêncios compartilhados e nas experiências sensíveis do
território. Tais achados dialogam diretamente com a proposta teórica da pesquisa,
reafirmando que o espaço vivido é instância legítima de formação.
Por fim, os dados sugerem que a cartografia do afeto construída neste
trabalho contribui para reconhecer os ambientes naturais como lugares que educam,
resistem e acolhem. São espaços onde a cultura amazônica se renova, onde a
paisagem se transforma em texto formativo, e onde a educação pulsa no cotidiano, na
escuta do rio, na sombra da árvore, no nome do lugar.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada em espaços naturais de lazer no município de Guajará-
Mirim/RO, permitiu reconhecer que balneários e mirantes funcionam como territórios
educativos poéticos e identitários, nos quais práticas cotidianas comunitárias ativam
experiências formativas profundas, mesmo fora dos ambientes escolares
convencionais. Os resultados obtidos por meio da cartografia afetiva indicam que o
corpo, a paisagem, a memória e a vivência produzem saberes legítimos e enraizados
nas relações entre sujeitos e território. A aproximação sensível aos balneários e
mirantes, por meio da observação interpretativa, revelou que o
lazer comunitário
não se limita ao entretenimento, mas se manifesta como expressão de pertencimento,
ritualidade e resistência simbólica. Banhos silenciosos, permanências contemplativas,
escutas da paisagem e convivência intergeracional foram interpretadas como formas
de ensino não institucionalizado, que ativam valores ético-estéticos e contribuem para
a formação de subjetividades amazônicas. Conforme Freire (2016, p.47), “ensinar não
é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou construção”.
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Nesse sentido, os espaços naturais funcionam como cenários propícios à invenção de
sentidos e à emergência de saberes vinculados ao lugar.
A vivência corporal nos territórios observados tornou-se central na
compreensão da experiência pedagógica fora da escola. O repouso sob a vegetação e
a escuta dos sons da paisagem são práticas que educam pela corporeidade, como
destaca Merleau-Ponty (2006, p. 195), “o corpo é nossa forma de habitar o mundo [...]
e de conhecer sem recorrer à abstração”. Ao reconhecer esses gestos como
experiências formativas, a pesquisa reafirma que o saber também pulsa no silêncio, na
contemplação e na presença física no território. A nomeação dos espaços, como
Balneário do Célio, Mirante da Serra, Mirante do Nilton e o Mirante Mamoré”, revelam
outros aspectos fundamentais para a construção de identidades territoriais. Tais nomes,
atribuídos pela comunidade, são carregados de memória e afeto, funcionando como
marcas de reconhecimento coletivo e valorização simbólica. Para Relph (1976, p. 65),
“dar nome ao lugar é um dos gestos mais profundos de apropriação espacial”. Ao
nomear, o sujeito inscreve história, sentimento e ancestralidade na paisagem,
transformando o espaço físico em lugar vivido.
A paisagem, por sua vez, revelou-se como currículo poético, expressão cultural
e recurso formativo. A observação dos movimentos da água, das montanhas no
horizonte, da vegetação nativa e da luz que atravessa os mirantes durante o pôr do sol
ativou sensibilidades que educam pelo encantamento, pelo vínculo e pela estética. De
acordo com Verdum et al. (2012, p. 31),
“Percebe-se que existem diferentes modos de
ler o espaço a partir da paisagem”.
Deste modo, a paisagem é uma ferramenta
pedagógica importante, uma vez que estimula a observação crítica, conecta teoria e
prática, desenvolve o pensamento geográfico, valoriza o saber local e promove
interdisciplinaridade.
Assim, a paisagem amazônica, especialmente em contextos fronteiriços, torna-
se fonte pedagógica e símbolo de resistência frente à homogeneização urbana. Outro
resultado expressivo
da pesquisa foi o reconhecimento dos
espaços
naturais
como ambientes intergeracionais, nos quais diferentes faixas etárias compartilham
práticas, saberes e afetos. Crianças brincando com idosos, jovens ajudando moradores
mais velhos a atravessar trilhas, famílias reunidas em rituais de contemplação, esses
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encontros foram observados com frequência nos ambientes estudados. Tuan (2005, p.
113) destaca que “o lugar habitado por gerações torna-se fonte de continuidade e
identidade”, revelando que a convivência territorial alimenta vínculos entre pessoas e
entre tempos.
Além disso, os dados indicaram que os espaços naturais de lazer funcionam
como ambientes de resistência cultural e proteção simbólica, especialmente frente aos
processos de urbanização acelerada e desconfiguração da paisagem. As comunidades
locais assumem papel ativo na preservação desses lugares, seja por meio da coleta
voluntária de lixo, da manutenção de trilhas ou da realização de atividades coletivas.
Como aponta Santos (2004, p. 112), “o território é também abrigo e expressão de
cultura [...] onde o cotidiano se faz resistência”. O cuidado com os espaços evidencia
sua importância não apenas ambiental, mas educativa e identitária. Essas constatações
colocam em xeque a visão reducionista de que a educação acontece apenas na sala
de aula ou nos ambientes escolarizados. Ao contrário, os achados reforçam que a
formação do sujeito pode se dar no contato com a paisagem, nas interações
comunitárias e nas experiências sensíveis do cotidiano. A educação territorial que
emerge das práticas de lazer vivenciadas em Guajará-Mirim configura-se como
pedagogia situada, ética e estética, profundamente vinculada ao chão amazônico.
Dessa forma, as cartografias do afeto reveladas neste estudo oferecem
contribuição relevante para os campos da geografia humanista, da educação ambiental
crítica e da pedagogia do cotidiano. Ao mapear os gestos silenciosos, os vínculos
geracionais e os rituais espontâneos, reconhece-se que a paisagem forma, ensina e
transforma. Como afirma Tuan (2005, p. 108), “aprender com o lugar é abrir-se à sua
linguagem, à sua temporalidade e à sua presença”. O sujeito que habita com atenção
aprende a partir do território, construindo saberes que não se encontram em manuais,
mas no chão vivido. As considerações finais desta pesquisa também sinalizam
caminhos para investigações futuras. Recomenda-se o aprofundamento sobre o papel
das juventudes amazônicas na ressignificação dos espaços naturais, bem como a
relação dos territórios indígenas com a educação territorial. Além disso, sugere-se o
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desenvolvimento de projetos interdisciplinares que integrem escola, comunidade e
paisagem, promovendo ações educativas que respeitem a especificidade cultural de
cada território.
Em termos práticos, os resultados indicam a necessidade de que as políticas
públicas educacionais reconheçam os espaços naturais de lazer como ambientes
formadores, potencializando ações de extensão universitária, educação ambiental
crítica e práticas curriculares que valorizem o território como lugar de ensino. A
incorporação da paisagem aos projetos pedagógicos pode gerar práticas mais
contextualizadas, sensíveis e comprometidas com a realidade local. Por fim, reafirma-
se que os balneários e mirantes em Guajará-Mirim são lugares que educam, mesmo
sem paredes ou lousas. São cenários onde a pedagogia emerge da escuta da água,
da permanência sob a sombra, da conversa entre gerações. A fronteira, nesse
contexto, não separa, ela conecta saberes, culturas e afetos. A paisagem, em sua
poética silenciosa, comunica, acolhe e transforma. Conclui-se, portanto, que o
território amazônico fronteiriço é fonte legítima de formação, de resistência e de
aprendizagem situada. Os gestos cotidianos ali vivenciados constituem um currículo
invisível, mas profundamente presente, que educa pela sensibilidade, pelo afeto e pelo
vínculo com o lugar. Que se reconheça, cada vez mais, que educar também é habitar,
e que o chão amazônico pulsa como potência formadora.
REFERÊNCIAS
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para escola com alunos do EJA. In: ENCONTRO REGIONAL DE ENSINO DE
GEOGRAFIA, 8., 2023, Campinas. Anais... Campinas: Universidade Estadual de
Campinas, 2023
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 60. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
FRIZZO, Kátia Regina. Diário de campo: reflexões epistemológicas e
metodológicas. In: Enrique Saforcada; Jorge Castellá Sarriera. (Org.). Enfoques
Conceptuales y Técnicos en Psicología Comunitaria. 1aed.Buenos Aires: Editorial
Paidós, 2008.
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MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins
Fontes, 2006.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa
qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2012.
RELPH, Edward. Place and Placelessness. Londres: Pion Limited, 1976.
ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo.
In: ROLNIK, Suely. Cartografias do desejo: clínica e cultura contemporânea. São
Paulo: Estação Liberdade, 2006. p. 1334.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à
consciência universal. 12. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio
ambiente. Londrina: Eduel, 2005.
VERDUM, ROBERTO [et al.]. Paisagem: leituras, significados e transformação.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012.
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AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
EMOCIONAIS DE ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS
LAS CARTAS DE FRONTERA Y LAS REPRESENTACIONES EMOCIONALES DE
ESTUDIANTES BRASILEÑOS Y BOLIVIANOS
Lumaína do Nascimento
1
Renata Gonçalves Paez
2
Zuíla Guimarães Cova dos Santos
3
Resumo: Este artigo investiga as representações emocionais presentes em cartas
escritas por estudantes brasileiros e bolivianos, o projeto envolveu de professores,
alunos, pais, acadêmicas e pesquisadoras. A partir dessa experiência surgiu nosso
problema de pesquisa: Quais são as experiências emocionais representadas nas
cartas fronteiriças escritas por estudantes brasileiros e bolivianos? O objetivo geral foi
buscar identificar as representações emocionais e culturais presentes nos textos
escritos pelos estudantes participantes. A metodologia da pesquisa-ação garantiu um
percurso investigativo no qual os pesquisadores e os participantes estão envolvidos
de modo cooperativo em processo de ação e reflexão. Os textos das cartas trazem
representações das memórias afetivas de lugares, relações e práticas, mas também,
expõem as relações de acolhimento e afeto a partir da amizade construída através
das cartas.
Palavras-chave: Escrita bilíngue; Afetividade; Cultura.
Resumen: Este artículo investiga las representaciones emocionales presentes en
cartas escritas por estudiantes brasileños y bolivianos. El proyecto involucró a
docentes, estudiantes, padres, académicos e investigadores. De esta experiencia,
surgió nuestra pregunta de investigación: ¿Cuáles son las experiencias emocionales
representadas en las cartas fronterizas escritas por estudiantes brasileños y
bolivianos? El objetivo general fue identificar las representaciones emocionales y
culturales presentes en los textos escritos por los estudiantes participantes. La
metodología de investigación-acción garantizó un proceso de investigación en el que
1
Graduada em Pedagogia. Universidade Federal de Rondônia-UNIR. ORCID
https://orcid.org/0009-0002-4475-4034 . E-mail: lumaina99@gmail.com
2
Graduada em Pedagogia. Universidade Federal de Rondônia-UNIR. ORCID (obrigatório). E-mail:
rg003paez@gmail.com
3
Doutora. Universidade Federal do Paraná - UFPR. ORCID.
https://orcid.org/0000-0002-4631-4772
E-mail: zuilagc@unir.br
18
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investigadores y participantes participaron cooperativamente en un proceso de acción
y reflexión. Los textos de las cartas transmiten representaciones de recuerdos
afectivos de lugares, relaciones y prácticas, pero también exponen las relaciones de
aceptación y afecto construidas a través de la amistad que se forja a través de ellas.
Palabras clave: Escritura bilingüe; Afectividad; Cultura.
Introdução
O curso de Pedagogia nos oportunizou a diversas experiências práticas, que
se somaram aos fundamentos teóricos estudados e discutidos ao longo do processo
de formação. Como o Campus Jorge Vassilakis/UNIR, onde estudamos, está
localizado na zona urbana do município de Guajará-Mirim/RO, cidade que faz fronteira
com a cidade boliviana de Guayaramerín/BO departamento do Beni na Bolívia. Nossa
cidade apresenta uma intensa diversidade cultural, não apenas pela presença de
bolivianos e seus descendentes brasileiros, mas também pelas comunidades
indígenas situadas no entorno do município, nas áreas de reserva legal, além de
descendentes de quilombolas e migrantes nacionais vindos de todas as regiões do
país.
Esse cenário pluricultural também se manifesta nas escolas, espaço onde
realizamos muitas atividades de extensão e práticas de estágio. As experiências
nesse ambiente foram essenciais
para conhecermos as relações vividas no cotidiano
escolar, onde pudemos observar as dificuldades que estudantes imigrantes e
professores têm em compreender a escrita e a fala do outro. Essa dificuldade gera o
isolamento de estudantes, que, por vergonha de se comunicar, acabam se
silenciando, o que traz consequências para o processo de ensino e aprendizagem.
Neste sentido, destacamos as relações vividas pelas populações fronteiriças
das cidades - gêmeas
4
, conhecidas popularmente como cidades irmãs. Segundo
Martins (1997):
4
As cidades gêmeas são pontos estratégicos da soberania nacional, mas essas cidades
dificilmente podem ser vistas dentro de uma perspectiva apenas nacional ou internacional,
pois se configuram como ponto de encontro de construções histórico-sociais, que não se
limitam às fronteiras oficiais fundadas pela soberania nacional de cada país. (SANTOS, 2016,
p.41).
19
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[...] fronteira de modo algum se reduz e se resume à fronteira geográfica. Ela
é fronteira de muitas e diferentes coisas: fronteira da civilização (demarcada
pela barbárie que nela se oculta), fronteira espacial, fronteira de culturas e
visões de mundo, fronteira de etnias, fronteira da História e da historicidade
do homem. E, sobretudo, na fronteira do humano (p. 13).
A fronteira que abordaremos neste estudo perde sua característica de limite
territorial e de separação. No dia a dia esse limite parece desaparecer devido ao
número de pessoas que se deslocam entre as duas cidades. O rio Mamoré, que limita
os territórios brasileiro e boliviano, não impede o constante contato social entre os
povos, tendo como principal meio de transporte o fluvial.
As voadeiras (lanchas) são responsáveis por realizar as travessias diárias,
tanto de bolivianos para o lado brasileiro quanto de brasileiros para o lado boliviano.
É cobrada uma taxa de embarque, que atualmente custa R$13,00 (treze reais) para
brasileiros na ida, enquanto a volta é em pesos bolivianos, conforme o câmbio oficial
do dia. Contudo, há transportes mais baratos, como os “peque-peque”, que são
canoas de madeira com motores tipo “rabêta”, utilizados para transportar mercadoria.
Por terem um custo menor, algumas pessoas optam por esse meio para se deslocar
entre os dois países, sendo os bolivianos os que mais utilizam essa alternativa.
No que se refere ao deslocamento para estudo, há brasileiros que estudam na
Bolívia e bolivianos que estudam no Brasil. A maioria dos brasileiros, que opta por
estudar na Bolívia busca a formação superior na área da medicina, tendo em vista que
a mensalidade é bem menor se comparada à de uma Universidade privada no Brasil.
No entanto, também estudantes brasileiros na educação básica boliviana, filhos de
migrantes brasileiros.
A comunicação é um grande desafio para esses estudantes que migram para
outro país ou apenas se deslocam para estudar. Apesar de muitos residirem na
fronteira há bastante tempo, não adquiriram as habilidades e competência linguística
necessárias às interações dialógicas nos espaços formativos do país onde estudam.
Essa situação gera lacunas no processo de aprendizagem e compromete a inclusão
desses estudantes no ambiente escolar.
Apesar da proximidade entre as duas populações e da interação cotidiana, a
língua muitas vezes se torna a principal barreira para um verdadeiro acolhimento e
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aproximação das pessoas nessa região fronteiriça. Tendo em vista que: - Se não
consigo entender o que o outro fala e expressa, como posso conhecer sua história,
suas necessidades, suas habilidades e construir relações mais humanizadas e
abertas às vozes da fronteira?
Nessa linha de raciocínio, Weissmann (2020, p. 63), nos ajuda a entender a
importância das práticas interculturais: “A interculturalidade não pode propor que uma
cultura seja superior à outra, apenas diferente, em diálogo e em situação.” Ou seja,
os valores que defendemos, o contexto histórico-cultural no qual estamos inseridos,
nosso idioma, nossas práticas de trabalho entre outros aspectos, formam nossa
identidade e, portanto, devem ser respeitados
Compreendemos que entender o espaço intercultural da fronteira, significa
pensar em possibilidades de práticas e estratégias que estimulem as interações
linguísticas entre brasileiros e bolivianos, a partir de uma consciência e respeito à
cultura do outro. Foi nesse caminho que conhecemos o projeto de Iniciação Científica
-PIBIC “Fronteirizar: as vivências da fronteira representadas em cartas escritas por
estudantes brasileiros e bolivianos”, coordenado pela Prof.ª Dr Zuila Guimarães
Cova dos Santos, professora do Departamento de Ciências da Educação-UNIR.
Passamos a atuar como pesquisadoras voluntárias no projeto e, nesse percurso,
surgiu nossa problemática de pesquisa: Quais são as experiências emocionais
representadas nas cartas fronteiriças escritas por estudantes brasileiros e bolivianos?
Para responder nossa questão problematizadora foi necessário o
desdobramento de outras subquestões: a) como é o processo de interação entre
estudantes brasileiros e bolivianos? b) O que a troca de cartas proporcionou aos
estudantes brasileiros e bolivianos? c) Quais interações emocionais representadas
nas cartas?
Nessa perspectiva, nossa investigação foi pautada nos fundamentos da
pesquisa-ação.
Thiollent (1988, p.14) define a pesquisa-ação como:
Um tipo de investigação social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo.
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A escolha da metodologia está alinhada às nossas ideias, fundamentada de
uma visão cooperativa e participativa, na qual os envolvidos podem compartilhar suas
vivências e experiências para que os problemas sejam compreendidos e, então,
solucionados de forma colaborativa.
Na sequência, descreveremos o campo onde a pesquisa ocorreu,
aprofundando nossas discussões acerca de conceitos que nos auxiliaram na
compreensão dessa realidade. Apresentaremos nosso percurso investigativo e os
resultados alcançados.
AS CARTAS: FRONTEIRA, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO
EMOCIONAL
As cartas no projeto aqui apresentado foram ponto de estudo central para todo
o trabalho que estamos desenvolvendo, tendo em vista que a escrita de cartas foi, por
décadas, uma das principais formas de comunicação. Antes do avanço tecnológico e
da popularização de meios digitais, como e-mails, mensagens de texto e aplicativos
de conversa, as cartas eram a única maneira de trocar informações à distância. Mais
do que transmitir mensagens, elas permitiam a expressão de sentimentos e emoções
de forma pessoal e significativa. Assim como proposto por Foucault (1992, p. 145), “a
carta enviada age sobre aquele que a envia em virtude do próprio gesto da escrita
e também atua, pela leitura e releitura, sobre aquele que a recebe”.
Neste sentido, ao realizarmos o projeto tivemos a oportunidade de resgatar o
valor da comunicação por cartas, por meio da troca de correspondências entre alunos
fronteiriços. Esse processo destacou suas identidades culturais, tanto individuais
quanto compartilhadas, além de possibilitar reflexões sobre a importância dessas
interações para o desenvolvimento emocional. Portanto, as cartas foram objeto de
estudo na nossa pesquisa, tendo em vista que as trocas ocorriam quinzenalmente e,
ao escrevê-las, os alunos expressavam seus discursos sobre sua vida cotidiana.
Este trabalho enfatiza a importância de trazer à tona as experiências de vida
dos nossos estudantes, revelando as Representações Sociais construídas a partir do
seu cotidiano na fronteira. Segundo Jodelet (2001), essas representações são sociais
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porque emergem da interação entre indivíduos que compartilham o mesmo mundo,
servindo de apoio mútuo para compreendê-lo, administrá-lo ou enfrentá-lo seja de
forma convergente ou conflituosa.
Para discutir as vivências, trazemos Evaristo (2020, pg. 38), que reflete: “Como
pensar a escrevivência em sua autonomia e em sua relação com os modelos de
escrita do eu, auto ficção, escrita memorialística.” Acreditamos que o ato de escrever
a própria história permite aos alunos expressarem suas vivências e exporem suas
realidades. Dessa forma, com base nas vivências desses estudantes brasileiros e
bolivianos ao escreverem cartas com a narrando suas histórias de vida cotidiana,
percebemos as emoções que trazem em suas escritas e memória.
Para analisar as cartas, utilizamos o método da análise de discurso de Orlandi
(2007, pg. 26,27), que destaca:
A análise de discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico
produz, como ele está investido de significância para e por sujeito. Essa
compreensão, por sua vez, implica em explicar como o texto organiza os
gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido.
Segundo Orlandi, a análise não é feita somente a partir do que está escrito ou
falado, mas também por pequenos gestos que muitas vezes passam despercebidos.
Dentre esses gestos, podemos considerar que sentimentos e atitudes podem ser
detectados por meio da fala ou até mesmo da forma de se comunicar.
Segundo Wallon, (2008, pg. 165), “[...] sendo de origem social, a linguagem
impõe aos dados da consciência os quadros de convenções ou de experiências
tradicionais que dependem do grupo e de sua vida coletiva”.
Portanto, ao
internalizarmos a linguagem, internalizamos também as formas de pensar, valores e
compreensões compartilhadas por nossa comunidade. Esses "quadros" linguísticos
atuam como filtros e organizadores dos dados sensoriais e das experiências,
influenciando a maneira como atribuímos significado ao que nos cerca. Assim, ao
analisarmos as cartas escritas pelos alunos, percebemos diferenças significativas na
forma como se expressam. As cartas refletem não apenas a passagem do tempo, mas
também a evolução das relações interpessoais e na consciência que internalizam no
seu grupo de vida social.
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Para discutir a questão das fronteiras, especialmente das cidades gêmeas, é
imprescindível referenciar Santos (2019, p. 07), que afirma:
A fronteira é um limite territorial submetido a um ordenamento nacional, mas
também um espaço de interação, onde as relações nem sempre são
pacíficas. A instabilidade característica dessas regiões reflete o convívio de
populações distintas, com valores sociais, culturais e políticos muitas vezes
divergentes.
Essa perspectiva se aproxima da realidade observada em nossa pesquisa de
campo. Ao visitarmos o país vizinho, fomos calorosamente recebidos por professores,
pais e estudantes, o que nos permitiu vivenciar de perto seus valores e sua cultura.
Com base nessa experiência, identificamos Marcilha (2017, p.88) para
defender a ideia de que,
[...] quando transitamos em um espaço fronteiriço são acionados alguns
mecanismos de “saber estar”, saber viver” e “saber transitar” por essa região.
O anonimato mistura-se à necessidade de caracterizar o interlocutor [...]. A
fronteira é, quiçá, o lugar de excelência em que pertence a um lado ou outro
é evidentemente explícito nas relações que lá se estabelecem.
Por meio dessa pesquisa, identificamos a importância da fronteira e de sua
cultura local, pois tivemos a oportunidade de interagir e conhecer o “outro”, seu
idioma e seu modo de vida, não apenas pela análise das cartas, mas também pela
experiência de visitar e transitar pelo país vizinho.
Vygotsky, com sua teoria histórico-cultural, ressalta a importância do espaço
social e das condições de vida no desenvolvimento da criança. Wallon, por sua vez,
contribuiu significativamente para a compreensão do desenvolvimento emocional,
focando na educação e nas relações sociais. Esses conceitos, o estudo evidencia a
relevância da troca de cartas para o desenvolvimento emocional e cultural dos alunos,
pois elas se mostraram uma ferramenta eficaz para a expressão de sentimentos e a
reflexão sobre a identidade cultural. Diante disso, prosseguiremos com o relato do
desenvolvimento da pesquisa.
TRAJETÓRIA DA PESQUISA
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A experiência com a fronteira está diretamente relacionada ao nosso cotidiano,
abrangendo a família, o trabalho e as atividades educacionais. O curso de Pedagogia,
por meio de projetos de extensão e das práticas de estágios, permitiu um
conhecimento mais aprofundado sobre a realidade escolar na região fronteiriça.
Embora residamos em uma região de fronteira com a Bolívia, percebemos que
a maioria das pessoas que vivem nas cidades limítrofes apresentam dificuldades para
falar e compreender a língua do país vizinho. O domínio restringe-se, em geral, a um
conjunto básico de palavras utilizadas para compras e lazer, especialmente em
espaços comerciais e restaurantes. Assim, a língua se torna uma barreira para
diálogos mais profundos, e para obtenção de informações mais detalhadas sobre
determinados assuntos.
Dentro do ambiente escolar essa realidade se torna ainda mais desafiadora.
Nas atividades práticas de formação, frequentemente nos deparamos com alunos
bolivianos que permanecem quietos e calados, muitas das vezes sentados no fundo
da sala. Portanto, se o professor não intervir com estratégias linguísticas para incluir
o estudante no processo de aprendizagem da língua portuguesa, é provável que o
aluno enfrente dificuldades em seu desenvolvimento escolar.
A presente pesquisa tem como base as atividades de escritas realizadas por
meio do Projeto de Iniciação Científica PIBIC “Fronteirizar: as vivências da Fronteira
representadas em cartas escritas por estudantes brasileiros e bolivianos”. O estudo
nasceu a partir da análise das cartas produzidas por estudantes brasileiros e
bolivianos. Como objetivo da pesquisa, buscamos identificar e analisar escritas
emocionais representadas nas cartas.
O Projeto de Iniciação Científica foi coordenado pela Profa. Dra. Zuila
Guimarães Cova dos Santos e envolveu quatro professoras brasileiras e quatro
professoras bolivianas, responsáveis por mediar o processo de escrita dos estudantes
e o envio das cartas às escolas parceiras. Na cidade de Guajará-Mirim
(Rondônia/Brasil), participaram quatro escolas: Escola Municipal de Ensino infantil
e Fundamental Cândida Maria Moura de Paula, Escola Municipal de Ensino
infantil e Ensino Fundamental Professor Salomão Silva, Centro Educacional
Novo Milênio e Instituto Estadual Paulo Saldanha, e em Guayramerín
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(Beni/Bolívia) tivemos a participação de três escolas: Unidad Educativa San José Fe
y Alegría, Unidad Educativa Miguel Antelo Antelo e Unidad Educativa Nacional
de Guayaramerín.
A metodologia de pesquisa foi baseada nos estudos qualitativos, que segundo
GIBBS, (2009, p. 17):
[...] os dados qualitativos são essencialmente significativos, mas, mais
do que isso, mostram grande diversidade. Eles não incluem contagens
e medidas, mas sim praticamente qualquer forma de comunicação
humana escrita, auditiva ou visual; por comportamento, simbolismos
ou artefatos culturais [...].
Nesse sentido, os dados da pesquisa qualitativa são considerados valiosos,
pois seus significados e contextos são capturados de um entendimento mais profundo,
incluindo diversas formas de comunicação humana.
Deste modo, optou-se por seguir os fundamentos da pesquisa-ação para
acompanhar todo o processo de produção das cartas e as interações entre os
participantes, garantindo os ciclos de escrita, leitura, pesquisa do vocabulário e envio
ao país vizinho, além da entrega aos respectivos destinatários. Thiollent, (1947),
destaca a importância das etapas de avaliação ao longo do processo de pesquisa
para solucionar problemas que possam surgir. Algumas ações foram replanejadas
para atender a demandas imprevistas, como a ausência de estudante por motivo de
doença ou viagem, que dificultam o cumprimento do fluxo de leitura, interpretação e
escrita das cartas dentro do prazo de envio. Para solucionar essa situação, foi
necessário reorganizar datas para atender os alunos e encaminhar suas cartas.
Ao longo do projeto, foram realizadas reuniões para avaliar o processo de
pesquisa e reorganizar o planejamento conforme as necessidades identificadas.
Sendo necessária a criação de arquivo virtual contendo as cartas produzidas pelos
estudantes, imagens dos momentos de interação e os documentos de autorização
dos responsáveis para participação no projeto.
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Além disso, foram produzidos materiais digitais e impressos, realização de
entrevistas semiestruturadas com pais e professores e organização de grupo local
com os responsáveis.
Outro momento importante a ser citado, refere-se ao encontro presencial
ocorrido na Bolívia, no qual pode ser aprender e conhecer mais sobre a cultura do
país vizinho.
Além dos encontros presenciais, também foram realizadas atividades virtuais,
nas quais ocorreram a apresentação dos estudantes, atrás da plataforma Google
Meet.
A escrita das cartas ocorreu no período de agosto a dezembro de 2024, o
processo de escrita era feito em horário contrário ao de matrícula dos estudantes,
geralmente nas escolas.
As professoras participantes do projeto orientavam no processo de leitura das
cartas recebidas, pesquisa das palavras desconhecidas em dicionários, para facilitar
o entendimento do texto e a aprendizagem de novas palavras do idioma novo.
Em um segundo momento era feita a escrita da nova carta, na primeira parte
do texto o estudante tinha liberdade de escrever, sobre o assunto que quisesse e na
segunda parte, sempre havia um tema para ser apresentado a partir da experiência
pessoal de cada estudante. Os temas eram direcionados pela nossa equipe de
pesquisa, eles escreveram sobre a alimentação, lazer, brincadeira, música, dança,
trabalho (casa e economia), livros e filmes. Conforme imagem 5. A escrita da nova
carta levava, em média, 15 dias, conforme o fluxo representado no próximo tópico.
Resultados e Discussão
Participaram do projeto de escrita das cartas fronteiriças 20 estudantes de
escolas blicas e privadas: 10 estudantes brasileiros e 10 estudantes bolivianos.
Como critério de participação, os estudantes precisavam gostar de escrever e ler. Eles
estavam matriculados no 4º e 5º ano do Ensino Fundamental I, com idade entre 10 e
11 anos. Também participaram estudantes do e ano do Ensino Fundamental II
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com idade entre 15 e 16 anos. Quanto aos participantes bolivianos, o grupo possuía
idades semelhantes e cursava etapas de ensino equivalente ao sistema brasileiro.
Ao longo de quase um semestre, esses estudantes se comunicaram por meio
de cartas escritas manualmente na língua do seu país de origem, ou seja, os
brasileiros escreveram em português e os bolivianos escreveram em espanhol. Ao
todo, foram produzidas 120 cartas. Esse processo de escrita representou uma valiosa
oportunidade de imersão cultural e linguística, permitindo um contato mais amplo com
as culturas e as vivências dos países vizinhos, Guayaramerín (Beni/BO) e Guajará-
Mirim (RO/BR). Além disso, possibilitou que alguns estudantes tivessem seu primeiro
contato com um novo idioma e um sistema de escrita diferente do seu.
No contexto da aprendizagem de línguas, é natural que os estudantes passem
pelo estágio da interlíngua, ou seja, antes de atingirem a proficiência na língua-alvo,
percorrem diferentes etapas no processo de aquisição linguística. Para García (2017),
os falantes bilíngues possuem um único repertório linguístico composto por diversos
elementos, como sons, palavras, expressões e gestos, entre outros. Ou seja, não se
trata de duas línguas que são acessadas separadamente, mas sim de repertório
integrado, utilizado de acordo com o interlocutor e a situação da fala.
Portanto, vale destacar que a escrita das cartas fronteiriças contribuiu para a
ampliação do conhecimento de novas palavras no idioma do país vizinho, além de
proporcionar uma experiência significativa de escrita manual. Em uma sociedade
digital cada vez mais distante de práticas como essa, a escrita a mão ganhou
relevância especial.
Os textos produzidos pelos vinte participantes geraram informações
importantes e, a partir deles, foi possível analisar as representações emocionais
presentes nos documentos, as quais serão apresentadas e analisadas a seguir.
Aspectos emocionais representados nos textos das cartas
Para identificar os aspectos emocionais representados nas cartas, optamos por
analisar os textos de seis estudantes - três brasileiros e três bolivianos -, que serão
identificados com nomes fictícios, conforme a tabela 1.
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Tabela 1:Informações dos alunos selecionados
NOME
NACIONALIDADE
IDADE
ESCOLA
ANO
RESPON-
SÁVEL
María
Boliviana
9 anos
San José Fe y
Alegría
4to - Primaria
Mãe
João
Brasileiro
9 anos
EMEIEF Prof
Salomão Silva
3° ano -
Fundamental I
Mãe
Kelly
Boliviana
15 anos
Dr. Elmer
Bosttford
Cadeb
4to -
Secundaria
Pai
Ana
Brasileira
9 anos
EMEIEF Prof
Salomão Silva
3° ano -
Fundamental I
Mãe
Glenda
Brasileira
14 anos
Paulo
Saldanha
9º ano -
Fundamental II
Mãe
Karen
Boliviana
10 anos
Nacional de
Guayaramerín
5ºto - Primaria
Mãe
Fonte: Elaboração própria, 2025.
Os alunos mencionados acima aceitaram participar do projeto Cartas
Fronteiriças, engajando-se ativamente na escrita com entusiasmo. Dessa forma,
estabeleceram laços de amizade e compartilham de experiências.
Dentre as cartas produzidas pelos estudantes apresentados na tabela 1,
identificamos trechos significativos para uma análise do discurso baseado nos estudos
de Orlandi (2007). Buscamos compreender o conhecimento socialmente construído e
como essas experiências estão representadas no texto. A autora destaca o conceito
de interdiscurso, considerando que o efeito ou sentido não está apenas no texto
escrito, mas também que não é explicitamente dito.
A análise de dados foi fundamentada na escrita das cartas e nas entrevistas
realizadas com os responsáveis. Retiramos um recorte das entrevistas e o
transcrevemos para facilitar a compreensão. Para identificar as representações
emocionais expressas nas cartas, destacamos palavras e expressões recorrentes nos
textos dos estudantes e nos relatos dos pais, que evidenciam tais emoções.
Destacamos a importância da comunicação na manifestação de sentimentos e
emoções, o que nos permitiu categorizar diferentes aspectos a serem analisados.
Essas categorias serão exploradas a partir das produções escritas dos alunos e das
falas dos responsáveis. Entre os principais temas identificados nas cartas, destacam-
se: laços afetivos e valorização da cultura.
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Laços afetivos
Durante a leitura das cartas, um ponto que nos chamou a atenção foi a forma
de escrita dos estudantes, que sempre buscavam um tom carinhoso ao se comunicar
com os amigos. Segundo Vygotsky, “A linguagem origina-se, em primeiro lugar, como
meio de comunicação entre a criança e as pessoas que a rodeiam”. Nesse sentido, a
linguagem transforma-se em uma forma de organização da consciência humana. Para
Wallon (1942), trata-se de uma nova forma de experiência emocional.
Podemos identificar, no texto de alguns estudantes, palavras carinhosas
direcionadas aos colegas de fronteira:
“Olá meu amigo, tudo bem? Estou muito feliz por estar fazendo essas cartas.’’
“Abraços amigo, até logo!!” (Ana, menina brasileira).
“Minha querida amiga amei sua carta e percebi que temos muita coisa em
comum” (Glenda, menina brasileira).
“Me siento muy alegre de poder te responder nuevamente tucarta”. “Me despido
con un fuerte abrazo y un beso” (Maria, menina boliviana).
No início da troca de cartas, os alunos se comunicavam de forma mais formal.
Porém, à medida que a escrita avançava, os laços afetivos começaram a surgir, e o
desejo de conhecer melhor o novo amigo ou amiga tornou-se mais evidente na
redação das cartas.
A linguagem entre os alunos passou a se diferenciar: as palavras adquiriram
um tom carinhoso, e as perguntas refletiam curiosidade. As cartinhas continham
adesivos, desenhos afetuosos, e até pequenas lembrancinhas enviadas por alguns
estudantes.
Ao analisar um trecho da carta de Ana (menina brasileira), o uso de expressões
como "Olá, meu amigo" e "Abraços, amigo" indica o quanto a estudante está feliz por
conhecer e se comunicar com seu novo amigo, construindo assim uma grande
amizade. A cada carta trocada, eles se aproximam mais e buscam se conhecer,
demonstrando um sentimento de alegria e prazer.
No final de cada carta, os estudantes escolhem uma palavra carinhosa para se
despedir de seu amigo. Além disso, a frase "Estou muito feliz por estar fazendo essas
cartas" evidencia a gratidão da estudante pela oportunidade de se comunicar com
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alguém de outro país, com um idioma diferente do seu. A felicidade também pode ser
observada na escrita da estudante, que a troca de cartas como algo prazeroso,
ressaltando o quanto essa experiência é significativa para ela.
Percebemos que as cartas não se limitavam à escrita, mas representavam uma
vivência nova para esses. As relações sociais construídas a partir desse intercâmbio
foram fundamentais para o desenvolvimento emocional, pois, por meio dessas
interações, uma grande amizade pode surgir. Segundo Luria (2010), "Escrever é uma
das funções culturais típicas do comportamento humano". Vygotsky (2010)
complementa ao destacar que "[...] escrever significa, na realidade, estabelecer um
certo número de hábitos que, por si sós, não alteram absolutamente as características
psicointelectuais do homem [...]".
Podemos observar na fala da mãe de Ana, o impacto positivo que essa
interação teve na vida da estudante. O relato a seguir ilustra essa transformação:
“No começo ela ficou um pouco confusa, com a linguagem, pois era algo novo
para ela. Mas, conforme as cartas foram sendo trocadas, ela começou a gostar. Sua
curiosidade e interesse em conhecer a história do amiguinho eram perceptíveis. Cada
dia em que deveria escrever uma carta, ela ficava entusiasmada, e falava: - Mãe,
hoje é dia de escrever! Já chegou à cartinha do meu amiguinho! E assim, entre cartas
trocadas, eles construíram uma grande amizade”.
A mãe destacou em seu relato que o idioma não foi obstáculo para a filha, pelo
contrário, despertou ainda mais sua curiosidade. À medida que escrevia e recebia a
carta do amigo, Ana se sentia mais feliz, pois sabia que a troca de correspondências
traria novas palavras para ela aprender e ajudar na comunicação com seu colega
boliviano. Assim, os laços afetivos foram fortalecidos por meio dessas experiências.
4.4 Valorização da cultura
O respeito à cultura é um processo que busca reconhecer, preservar e divulgar
as tradições, costumes, manifestações artísticas e patrimônios culturais de uma
determinada região ou comunidade. Segundo Santos (2006, p. 44-45):
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“Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não
diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções. [...] Cultura é um produto
coletivo da vida humana.”
Nesse sentido, trouxemos o recorte de três textos que representam o
conhecimento que os estudantes tinham da própria cultura local e que compartilharam
por meio das cartas com o colega de escrita.
“Quando escuto a consagração do estandarte do Boi Malhadinho
5
eu
simplesmente preciso dançar! É como se o ritmo me puxasse para a pista. Dançar é
uma forma de me expressar, e cada movimento parece contar uma história” (Glenda,
menina brasileira, 14 anos)
“Mi danza qué me gusta bailar taquirari acá en Guayaramerin comúnmente se
bailar los toritos se disfrasan de toro en mi colégio...” (Karen, menina boliviana, 10
años)
“Hoy te queria contar acerca de las danzas y musicas que son mis favoritas
como la danza de los caporales...” (Kelli, menina boliviana, 15 años)
Glenda, a aluna brasileira, ao evidenciar sua paixão pela tradição de dançar em
um grupo folclórico de sua cidade, revela sua alegria ao ouvir o toque dos tambores
do boi. Seus sentimentos se tornam evidentes quando ela afirma: “Quando estou
dançando, estou realmente livre”. Essa frase demonstra o amor que sente pela sua
cultura, especialmente pelo o Boi Malhadinho. A dança transmite sensação de
liberdade e felicidade tornando-se presente uma importante forma de expressão
cultural.
Segundo a mãe de Glenda, as cartas que a filha recebeu estimularam seu
interesse pela música da Bolívia e pela língua espanhola. Ela relata:
"Depois do projeto, ela passou a se interessar mais pelo espanhol, tanto que
eu gosto das músicas bolivianas e ela não gostava, porque não entendia nada e pedia
para eu desligar. Agora, ela já começa a ouvir e fazer perguntas. Isso trouxe para ela
o interesse pela cultura de lá, pela qual antes não se interessava." (mãe, brasileira).
5
O Boi Malhadinho é uma figura emblemática do "Duelo da Fronteira”, festival folclórico que coloca
em disputa o Boi Malhadinho e o Boi Flor do Campo, representando uma importante manifestação
cultural na cidade de Guajará-Mirim, Rondônia, localizada na fronteira com a Bolívia.
32
AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
EMOCIONAIS DE ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS
Revista Culturas & Fronteiras Volume 12 Nº 1- Outubro/2025
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Além disso, mãe e filha passaram a compartilhar os mesmos gostos musicais. A
alegria de ver a filha interagindo com a cultura da amiga fortaleceu significativamente
o vínculo entre elas.
Segundo Hall, (2016, p.18), “A linguagem é um dos meios pelos quais
pensamentos, ideias e sentimentos são representados em uma cultura”. Assim, as
representações emocionais presentes nas cartas dos estudantes manifestam-se tanto
por meio das palavras escritas quanto nas entrelinhas, revelando sentimentos ditos e
não ditos, influenciados pela linguagem de sua cultura. Por fim, concluiremos com
nossas reflexões sobre as concepções extraídas dessas cartas.
Conclusão
Este estudo dedicou-se a identificar as representações sociais nos textos das
cartas fronteiriças escritas por estudantes brasileiros e bolivianos. Nossa análise
procurou responder às questões problematizadoras: Quais são as experiências
emocionais representadas nas cartas fronteiriças escritas por estudantes brasileiros e
bolivianos?
Ao longo deste estudo, a análise detalhada das cartas revelou as emoções
vivenciadas pelos participantes, bem como a dinâmica do enriquecedor intercâmbio
cultural e linguístico fomentado pelo projeto. Constatou-se que, apesar das diferenças
idiomáticas, os estudantes conseguiram estabelecer uma comunicação eficaz,
contribuindo para a construção de laços afetivos e a aquisição de conhecimentos
sobre as experiências.
Contudo, a troca de correspondências não facilitou o aprendizado de uma
nova língua e um pouco de conhecimento sobre o modo de vida no país vizinho, mas
também, criou laços de amizade significativos. As professoras responsáveis
observaram que, à medida que o projeto avançava, os alunos se mostravam mais
confortáveis e confiantes em suas habilidades de escrita e comunicação.
Destacamos a participação dos pais e responsáveis, os relatos pessoais
retrataram o compromisso dos estudantes, a ansiedade em conhecer alguém do país
vizinho, os desafios vencidos e as novas aprendizagens.
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AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
EMOCIONAIS DE ESTUDANTES BRASILEIROS E BOLIVIANOS
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A experiência da escrita de cartas proporcionou aos estudantes um novo meio
de comunicação, resgatando uma prática comunicativa menos comum no contexto
atual, onde as interações à distância se processam de forma virtual.
Para a educação, essa iniciativa se mostra extremamente valiosa ao contribuir
para a formação de sujeitos integrais, respeitando suas particularidades e seu
pertencimento coletivo, alinhando-se ao princípio da transversalidade do ensino,
especialmente em um contexto fronteiriço.
Dessa forma, esta pesquisa contribuiu significativamente para a compreensão
da realidade vivenciada pelos estudantes, tanto no Brasil quanto na Bolívia. A partir
dessa análise, foi possível identificar a necessidade de promover interações mais
integradas entre alunos bolivianos e brasileiros, incorporando ao cotidiano escolar
experiências semelhantes às proporcionadas pelo projeto.
Essa necessidade revela-se especialmente relevante, considerando a
presença de estudantes bolivianos em escolas brasileiras de Guajará-Mirim, bem
como a de estudantes brasileiros em instituições de ensino em Guayaramerín. Nesse
contexto, o estudo abriu um leque de novas possibilidades a serem exploradas nesses
ambientes educacionais, como a continuidade das interações e o fortalecimento de
encontros presenciais mediados com fins pedagógicos, visando ao enriquecimento
cultural dos sujeitos fronteiriços.
Diante dos resultados alcançados, sugere-se que futuras investigações
expandem este estudo para abranger outras faixas etárias e diferentes contextos
culturais, buscando ampliar a compreensão sobre o impacto da comunicação epistolar
em processos interculturais e emocionais.
Além disso, recomenda-se também a continuidade do projeto, considerando
os feedbacks positivos dos participantes e o interesse demonstrado por outros alunos
e professores. Ao tomarem conhecimento da iniciativa, muitos passaram a perguntar
sobre futuras edições do projeto, demonstrando o desejo de participar. Atendendo a
essa demanda, a coordenadora do projeto, em conjunto com os pesquisadores,
decidiu dar continuidade ao Projeto Cartas Fronteiriças.
Referências
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AS CARTAS FRONTEIRIÇAS E AS REPRESENTAÇÕES
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VALORACIÓN DE LOS CRÉDITOS DE CARBONO Y EL
COMPORTAMIENTO DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE
GUAYARAMERÍN, 2024
Valoração de créditos de carbono e comportamento de compra sustentável no
mercado de Guayaramerín, 2024
Ramiro Irineo Alvarez Mamani
1
RESUMEN
La presente investigación analizó el comportamiento de compra sostenible de
los consumidores del mercado central de Guayaramerín frente a los créditos de
carbono, con el objetivo de identificar la influencia de sus conocimientos,
percepciones y niveles de confianza en estas iniciativas. Se aplicó un enfoque
cuantitativo, de tipo descriptivo y correlacional, mediante una encuesta
estructurada a una muestra representativa de consumidores. Los resultados
revelaron niveles bajos de conocimiento sobre los créditos de carbono, aunque
se perciben como una herramienta ambientalmente efectiva. No obstante, los
consumidores tienen dificultades para reconocer estos créditos en productos o
servicios disponibles y muestran una confianza moderada hacia las empresas
que los aplican. Las correlaciones obtenidas demuestran que, a mayor
percepción de efectividad ambiental, reconocimiento y confianza, mayor es la
tendencia hacia un comportamiento de compra sostenible. Se concluye que el
conocimiento limitado y la baja visibilidad de los créditos de carbono dificultan su
influencia en las decisiones de compra. Sin embargo, cuando los consumidores
confían en las empresas que los implementan y perciben resultados positivos en
el entorno, se fortalece su disposición a apoyar prácticas sostenibles mediante
sus elecciones de consumo. Se recomienda a las empresas aumentar la
1
Docente Investigador de la Universidad Autónoma de Beni José Ballivián, Instituto de Investigación de
la Carrera Administración de Empresas Sede Guayaramerín e-mail: rialvarezm@uabjb.edu.bo
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VALORACIÓN DE LOS CRÉDITOS DE CARBONO Y EL
COMPORTAMIENTO DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE
GUAYARAMERÍN, 2024
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transparencia y visibilidad de sus acciones climáticas para potenciar su impacto
en el consumidor.
Palabras clave: Créditos de carbono, comportamiento de compra sostenible,
percepción ambiental, conocimiento del consumidor, confianza empresarial,
Guayaramerín
RESUMO
Esta pesquisa analisou o comportamento de compra sustentável dos
consumidores do mercado central de Guayaramerín em relação aos créditos de
carbono, com o objetivo de identificar a influência de seus conhecimentos,
percepções e níveis de confiança nessas iniciativas. Uma abordagem
quantitativa, descritiva e correlacional foi aplicada por meio de uma pesquisa
estruturada com uma amostra representativa de consumidores. Os resultados
revelaram baixos níveis de conscientização sobre os créditos de carbono,
embora sejam percebidos como uma ferramenta ambientalmente eficaz. No
entanto, os consumidores têm dificuldade em reconhecer esses créditos em
produtos ou serviços disponíveis e demonstram confiança moderada nas
empresas que os implementam. As correlações obtidas mostram que quanto
maior a percepção de eficácia ambiental, reconhecimento e confiança, maior a
tendência ao comportamento de compra sustentável. Conclui-se que o
conhecimento limitado e a baixa visibilidade dos créditos de carbono dificultam
sua influência nas decisões de compra. No entanto, quando os consumidores
confiam nas empresas que os implementam e percebem resultados positivos no
meio ambiente, sua disposição para apoiar práticas sustentáveis por meio de
suas escolhas de consumo é fortalecida. As empresas são incentivadas a
aumentar a transparência e a visibilidade de suas ações climáticas para
potencializar seu impacto sobre os consumidores.
Palavras-chave: Créditos de carbono, comportamento de compra sustentável,
percepção ambiental, conhecimento do consumidor, confiança empresarial,
Guayaramerín.
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VALORACIÓN DE LOS CRÉDITOS DE CARBONO Y EL
COMPORTAMIENTO DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE
GUAYARAMERÍN, 2024
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1. INTRODUCCIÓN
El cambio climático ha impulsado una transformación en las dinámicas
económicas globales, posicionando la sostenibilidad como un principio
fundamental tanto en la producción como en el consumo. En este contexto, los
créditos de carbono emergen como un instrumento clave para mitigar las
emisiones de gases de efecto invernadero y fomentar prácticas empresariales
más responsables. Estos créditos representan una unidad de compensación
que permite a las organizaciones reducir su huella ambiental mediante la
inversión en proyectos de absorción o reducción de emisiones. Sin embargo, el
grado en que los consumidores valoran la incorporación de estos mecanismos
en los procesos productivos aún es incierto en muchos mercados locales. Tal
es el caso del mercado central de Guayaramerín, donde se desconoce si esta
valoración incide en el comportamiento de compra sostenible.
A pesar del creciente interés internacional por los créditos de carbono,
en Guayaramerín persiste una limitada comprensión de su importancia por
parte de los consumidores. Esta situación representa un problema, ya que
restringe la efectividad de estrategias comerciales sostenibles, debilita la
diferenciación de empresas comprometidas con el medio ambiente y ralentiza
el tránsito hacia una economía más consciente del impacto ambiental. La
escasa valorización local de estos mecanismos obstaculiza, además, la
adopción de hábitos de consumo responsables, afectando tanto a empresas
productoras como a los propios consumidores y al entorno natural. Comprender
esta dinámica es esencial para promover una cultura de sostenibilidad basada
en decisiones de compra informadas.
Este desafío no es exclusivo del contexto boliviano. Diversas
investigaciones han documentado dificultades similares en otros países de
América Latina. Por ejemplo, Bodnar y Valencia (2022) analizaron el marco
regulatorio del mercado de créditos de carbono en Brasil y Colombia, y
concluyeron que la falta de criterios estandarizados y los vacíos normativos
limitan la eficacia del sistema. Estos hallazgos subrayan la importancia de
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COMPORTAMIENTO DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE
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contar con mecanismos claros que permitan a los consumidores comprender y
valorar estos instrumentos como parte de su decisión de compra. Su estudio es
pertinente para el contexto de Guayaramerín, al mostrar cómo la gobernanza
débil puede afectar el impacto real de los créditos de carbono en la conducta de
los actores del mercado.
De la Rosa Calderón (2022), por su parte, examinó el funcionamiento
del mercado de carbono en Colombia como estrategia de mitigación climática.
Entre sus principales hallazgos destacan las dificultades en la generación y
certificación de créditos, y la baja penetración en el mercado interno. Este
antecedente aporta a la comprensión del fenómeno en Guayaramerín, al
evidenciar cómo barreras estructurales y de comunicación pueden influir en la
escasa percepción de valor ambiental entre los consumidores.
Días et al. (2023) realizaron un análisis bibliométrico sobre la
producción científica en torno a los créditos de carbono entre 2012 y 2021,
destacando un aumento sostenido de publicaciones, especialmente en Estados
Unidos, China, India y Brasil. Este interés académico revela la relevancia
creciente del tema, aportando una base conceptual sólida que justifica su
estudio en contextos menos explorados como el mercado boliviano. En esa
misma línea, Santos y Braga (2022) propusieron un sistema de soporte para la
generación de créditos en propiedades rurales brasileñas, integrando datos
mediante ontologías y plataformas MRV. Su aporte técnico demuestra cómo la
trazabilidad y el monitoreo influyen en la percepción pública de prácticas
sostenibles, reforzando la necesidad de vincular tecnología, información y
comportamiento del consumidor.
Desde una perspectiva empresarial, Montoya (2023) analizó la gestión
de créditos de carbono en el marco de la sostenibilidad organizacional,
señalando la importancia de sistemas normativos robustos para el reporte y
medición de emisiones. Este trabajo evidencia que el contexto regulatorio no
solo afecta a las empresas emisoras, sino también a los consumidores, quienes
construyen su percepción a partir de la disponibilidad y transparencia de la
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información climática.
De forma complementaria, Pardo, Andrade y Orjuela (2022)
identificaron la relación entre huella de carbono y rentabilidad en sistemas
ganaderos colombianos. Sus resultados muestran cómo prácticas productivas
bajas en carbono pueden fortalecer la percepción ambiental del consumidor.
Plua y León (2023), por su parte, estudiaron modelos de sostenibilidad en
PyMEs agrícolas, resaltando la integración de dimensiones sociales,
ambientales y económicas como clave para evaluar impactos. Ambos estudios
sustentan la importancia de valorar los esfuerzos empresariales en
sostenibilidad como factor decisivo en la compra responsable.
A partir de estos antecedentes, se plantea la siguiente pregunta de
investigación: ¿Qué relación existe entre la valoración de los créditos de
carbono por parte de los consumidores y su comportamiento de compra
sostenible en el mercado central de Guayaramerín, durante el año 2024? Para
responderla, este estudio tiene como objetivo general Analizar la valoración
de los créditos de carbono por parte de los consumidores y su relación con el
comportamiento de compra sostenible en el mercado central de Guayaramerín,
durante el año 2024.
En este estudio, se entiende la valoración de los créditos de carbono
como el grado de importancia que los consumidores otorgan al uso de estos
mecanismos en procesos productivos (Arias-Correa & Vergara-Montoya, 2022,
p. 52), influida por su conocimiento sobre prácticas empresariales responsables
(López-Medina & García, 2021, p. 87). Por otro lado, el comportamiento de
compra sostenible se refiere a decisiones de consumo que priorizan productos
con menor impacto ambiental, incluso si ello implica mayores costos (Peattie &
Belz, 2010, p. 59), y que se ven motivadas por valores personales y creencias
ecológicas (Morales-Vargas & Andrade-Romero, 2023, p. 107).
En suma, esta investigación busca contribuir al entendimiento de cómo los
consumidores en un contexto urbano de frontera como Guayaramerín perciben
y valoran la sostenibilidad empresarial, y si esta percepción se traduce en
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decisiones de compra responsables. Sus resultados ofrecerán insumos
relevantes para empresas, formuladores de políticas públicas y organismos
ambientales interesados en promover el consumo consciente como pilar de
desarrollo sostenible local.
2. METODOLOGÍA
La presente investigación se abordó desde una perspectiva
epistemológica positivista, adoptando un enfoque cuantitativo, dado que se
buscó medir y analizar de forma objetiva la relación entre la valoración de los
créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible en el mercado de
Guayaramerín. El tipo de estudio fue descriptivo, ya que se caracterizaron las
variables mediante datos observables, y el diseño de investigación fue no
experimental, de corte correlacional y transversal, dado que no se manipularon
las variables y la recolección de datos se realizó en un solo momento del tiempo.
La población estuvo conformada por los 7.932 hogares consumidores de la
ciudad de Guayaramerín, según datos del Censo INE Bolivia (2024). La muestra
se constituyó por 148 hogares, seleccionados mediante muestreo aleatorio
simple, lo cual garantizó que cada hogar tuviera la misma probabilidad de ser
seleccionado, favoreciendo la representatividad y reduciendo el sesgo muestral.
La medición se realizó el 21 de noviembre de 2024 con la colaboración de
estudiantes del último año de la carrera de Administración de Empresas, quienes
aplicaron una encuesta estructurada como técnica principal de recolección de
datos. El instrumento utilizado fue un cuestionario con preguntas cerradas y
escala de Likert de cinco puntos, aplicado directamente a los consumidores en
el mercado central de la ciudad de Guayaramerín. El procesamiento de la
información se realizó utilizando el programa SPSS, mediante análisis
descriptivo para identificar tendencias generales y análisis correlacional para
evaluar la relación entre las variables principales. Finalmente, se respetaron los
principios éticos fundamentales, tales como el consentimiento informado, el
anonimato de los participantes, la confidencialidad de la información y el uso
exclusivo de los datos con fines académicos, garantizando así la integridad y
transparencia del estudio.
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3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN
Para responder al objetivo del estudio y dar paso al análisis cuantitativo,
se presentan a continuación los resultados obtenidos sobre las dos variables
principales: la valoración de los créditos de carbono y el comportamiento de
compra sostenible en los hogares consumidores de la ciudad de Guayaramerín.
Cada una de estas variables fue abordada desde distintas dimensiones que
permitieron desagregar y comprender con mayor profundidad las percepciones
y comportamientos de los participantes. La primera variable, valoración de los
créditos de carbono, fue analizada mediante cuatro dimensiones: (1) el
conocimiento básico sobre los créditos de carbono, que permitió identificar el
grado de familiaridad de los consumidores con este concepto; (2) la percepción
de efectividad ambiental, que exploró cómo valoran los beneficios ambientales
percibidos; (3) el reconocimiento en productos o servicios, que midió si los
consumidores identifican señales o certificaciones relacionadas con créditos de
carbono en sus decisiones de compra, y (4) la confianza en las empresas que
los aplican, evaluando el nivel de credibilidad que otorgan a dichas
organizaciones. Por su parte, la segunda variable, comportamiento de compra
sostenible, se estructuró en cuatro dimensiones también: (1) las actitudes hacia
el consumo sostenible, relacionadas con creencias, valores y disposición general
hacia prácticas responsables; (2) el comportamiento de compra de productos
ecológicos, que observó la práctica real de preferencia por productos amigables
con el ambiente; (3) la disposición a pagar por productos sostenibles, reflejando
el compromiso económico por este tipo de consumo, y (4) la frecuencia de
compra de productos con créditos de carbono, que permitió medir el nivel de
acción repetida en este tipo de decisiones. La descripción de estos resultados
permite una aproximación al grado de conciencia, valoración y compromiso que
los consumidores manifiestan frente a prácticas sostenibles en su vida cotidiana.
Para responder al objetivo del estudio, se presentan los resultados de
las dos variables principales: valoración de los créditos de carbono y
comportamiento de compra sostenible en hogares consumidores de
Guayaramerín. La valoración de los créditos de carbono se desglosó en cuatro
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dimensiones: conocimiento básico, percepción de efectividad ambiental,
reconocimiento en productos o servicios, y confianza en las empresas que los
aplican. Estas dimensiones permitieron evaluar desde la familiaridad con el
concepto hasta la credibilidad otorgada a las organizaciones que implementan
estos créditos. Por otro lado, el comportamiento de compra sostenible se
estructuró en cuatro aspectos: actitudes hacia el consumo responsable, compra
real de productos ecológicos, disposición a pagar por sostenibilidad y frecuencia
de compra de productos con créditos de carbono.
3.1 Valoración de los créditos de carbono y Comportamiento de Compra
Sostenible
Tabla 1 Correlación entre valoración de los créditos de carbono y
comportamiento de compra sostenible
Valoración de
los créditos de
carbono
Comportamient
o de Compra
Sostenible
Rho de
Spearman
Valoración de los créditos
de carbono
Coeficiente de correlación
1.000
.686
**
Sig. (bilateral)
.
.000
N
148
148
Comportamiento de
Compra Sostenible
Coeficiente de correlación
.686
**
1.000
Sig. (bilateral)
.000
.
N
148
148
**. La correlación es significativa en el nivel 0,01 (bilateral).
Fuente: Datos elaborados por el autor a partir del análisis estadístico realizado
en el software SPSS.
Los resultados obtenidos revelan una correlación positiva alta y
estadísticamente significativa (r = .686, p < .001) entre la valoración de los
créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible en los hogares
de Guayaramerín. Este hallazgo indica que a mayor nivel de conocimiento,
percepción y confianza en los créditos de carbono, mayor es la probabilidad de
que los consumidores adopten prácticas de compra responsables con el medio
ambiente. El coeficiente confirma una asociación lida entre ambas variables,
demostrando que la conciencia ambiental influye directamente en las decisiones
de consumo sostenible, cumpliendo así el objetivo del estudio y validando la
hipótesis planteada.
Los resultados obtenidos en Guayaramerín sobre la relación entre la
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valoración de los créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible
muestran una tendencia consistente con los hallazgos de otros estudios
internacionales y regionales, aunque también revelan particularidades locales.
La investigación de Bodnar y Valencia (2022) y De la Rosa Calderón (2022)
subraya la existencia de barreras normativas y de gobernanza que limitan la
efectividad del mercado de carbono en América Latina. Estos hallazgos son
coherentes con la percepción local observada en Guayaramerín, donde la
valoración de los créditos aún se ve afectada por la falta de información técnica
y regulatoria clara. En contraste, estudios como el de Luiz Santos et al. (2022)
ofrecen una perspectiva más cnica al mostrar cómo herramientas como los
sistemas MRV pueden fortalecer la toma de decisiones sostenibles, lo cual
puede servir como base para mejorar la percepción y aceptación local de los
créditos de carbono como instrumentos de sostenibilidad. A nivel global, Días et
al. (2023) destacan el creciente interés científico por los créditos de carbono, lo
cual refuerza la importancia del tema en mercados emergentes como
Guayaramerín. Asimismo, investigaciones como la de Montoya (2023) y Pardo
et al. (2022) vinculan la regulación climática con decisiones de sostenibilidad
empresarial y consumo responsable, mostrando similitudes con los resultados
del presente estudio, que revelan un incipiente pero significativo interés por
prácticas sostenibles. Finalmente, el aporte de Plua y León (2023) refuerza el
enfoque multidimensional de la sostenibilidad, resaltando la necesidad de
integrar criterios económicos, sociales y ambientales, elemento también
presente en los patrones de comportamiento de compra sostenible observados
en la región.
Los resultados obtenidos en la investigación revelan una correlación
positiva alta y significativa (r = .686, p < .001) entre la valoración de los créditos
de carbono y el comportamiento de compra sostenible en los hogares de
Guayaramerín. Este resultado está en consonancia con lo encontrado por
Valencia Hernández y Bodnar (2022), quienes evidenciaron que el conocimiento
y la percepción de efectividad ambiental influyen directamente en la elección de
productos sostenibles. Asimismo, De la Rosa Calderón (2022) señala que
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cuando los consumidores comprenden el impacto de los créditos de carbono y
confían en su efectividad, son más propensos a integrarlos como criterio de
decisión de compra. Esta similitud sugiere que, incluso en contextos locales
como Guayaramerín, la conciencia ambiental está emergiendo como un factor
clave en las decisiones de consumo.
Además, los resultados reflejan que las dimensiones de percepción de
efectividad y confianza en las empresas que aplican créditos de carbono
fortalecen el compromiso de los consumidores con prácticas sostenibles. Esta
conclusión es consistente con lo planteado por Vistin-Guamantaqui et al. (2024),
quienes encontraron que la percepción positiva sobre la responsabilidad
ambiental empresarial aumenta la intención de compra verde. De igual manera,
Henao Ramírez et al. (2023) destacan que una ciudadanía informada sobre
mecanismos de mitigación ambiental, como los créditos de carbono, adopta
comportamientos de compra más responsables. En este estudio, se confirma
que el conocimiento y la confianza son catalizadores de decisiones sostenibles,
consolidando así una nueva cultura de consumo ecológico en mercados
intermedios como el de Guayaramerín.
Para dar inicio a la presentación de los resultados correspondientes a
los objetivos específicos del estudio, se establece una relación analítica entre el
Comportamiento de Compra Sostenible y sus principales dimensiones
asociadas: Conocimiento básico sobre créditos de carbono, Percepción de
efectividad ambiental, Reconocimiento en productos o servicios y Confianza en
las empresas que los aplican. Estas dimensiones permiten comprender cómo se
construyen las decisiones de compra responsable en el contexto local de
Guayaramerín. A través de los datos recolectados se busca evidenciar en qué
medida el nivel de información, la percepción del impacto ambiental, la
identificación de atributos sostenibles en la oferta y la credibilidad hacia las
empresas inciden directamente en la disposición de los consumidores a adoptar
prácticas de consumo más sostenibles.
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COMPORTAMIENTO DE COMPRA SOSTENIBLE EN EL MERCADO DE
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3.2 Conocimiento básico sobre créditos de carbono y Comportamiento de
Compra Sostenible
Tabla 2 Correlación entre conocimiento básico sobre créditos de carbono
y comportamiento de compra sostenible
Conocimiento
básico sobre
créditos de
carbono
Comportamient
o de Compra
Sostenible
Rho de
Spearman
Conocimiento básico sobre
créditos de carbono
Coeficiente de correlación
1.000
.635
**
Sig. (bilateral)
.
.000
N
148
148
Comportamiento de
Compra Sostenible
Coeficiente de correlación
.635
**
1.000
Sig. (bilateral)
.000
.
N
148
148
**. La correlación es significativa en el nivel 0,01 (bilateral).
Fuente: Datos elaborados por el autor a partir del análisis estadístico realizado en el software
SPSS.
Los resultados revelan una correlación positiva alta y estadísticamente
significativa (Rho de Spearman = 0,635**, p = 0,000) entre el conocimiento básico
sobre créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible en los
hogares de Guayaramerín. Este hallazgo indica que, a medida que los consumidores
poseen mayor información y comprensión sobre los créditos de carbono, también se
incrementa su disposición a adquirir productos o servicios que favorecen el cuidado
ambiental. La relación estrecha entre ambas variables demuestra que el conocimiento
ambiental no solo es un valor añadido, sino un factor clave en las decisiones de compra
consciente. Así, se confirma que fomentar el conocimiento en la población sobre los
créditos de carbono puede incentivar prácticas de consumo responsable, alineadas con
el objetivo del estudio y el problema identificado.
Los resultados obtenidos en el presente estudio, orientado a analizar el nivel
de conocimiento básico sobre los créditos de carbono en los consumidores del mercado
central de Guayaramerín, revelan un conocimiento incipiente en la mayoría de los
encuestados, lo cual limita su capacidad de tomar decisiones de compra basadas en
criterios de sostenibilidad. Al comparar estos hallazgos con la investigación de Vistin-
Guamantaqui et al. (2024), se identifica una coincidencia en cuanto a la necesidad de
fortalecer los mecanismos de educación y divulgación sobre los beneficios de los
créditos de carbono, especialmente en contextos locales donde estos aún no se
comprenden del todo. Mientras su estudio destaca el potencial económico y ambiental
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de los ecosistemas de páramo como proveedores de créditos de carbono, también
subraya la urgencia de establecer metodologías claras y confiables, aspecto que
refuerza el vacío de información y comprensión por parte del consumidor común, como
se evidencia en Guayaramerín. Por otro lado, Valencia Hernández y Bodnar (2022)
aportan una visión crítica desde la gobernanza climática, señalando que los mercados
de carbono han sido más exitosos en lo financiero que en la reducción efectiva de gases
de efecto invernadero. Además, alertan sobre la falta de normativas estandarizadas y el
impacto desigual en países en desarrollo, lo que sugiere que la baja comprensión
pública sobre estos mecanismos, como se encontró en este estudio, puede ser
consecuencia no solo de factores educativos sino también estructurales. En conjunto,
estos estudios evidencian que existe un vacío tanto en la educación ambiental como en
la estructura regulatoria que impide una participación ciudadana más activa y consciente
en torno al mercado de créditos de carbono.
3.3 Percepción de efectividad ambiental y Comportamiento de Compra
Sostenible
Tabla 3 Correlación entre percepción de efectividad ambiental y
comportamiento de compra sostenible
Percepción de
efectividad
ambiental
Comportamient
o de Compra
Sostenible
Rho de
Spearman
Percepción de efectividad
ambiental
Coeficiente de correlación
1.000
.585
**
Sig. (bilateral)
.
.000
N
148
148
Comportamiento de
Compra Sostenible
Coeficiente de correlación
.585
**
1.000
Sig. (bilateral)
.000
.
N
148
148
**. La correlación es significativa en el nivel 0,01 (bilateral).
Fuente: Datos elaborados por el autor a partir del análisis estadístico realizado en el software
SPSS.
Los resultados obtenidos muestran una correlación positiva moderada y
estadísticamente significativa (Rho de Spearman = 0,585**, p = 0,000) entre la
percepción de efectividad ambiental y el comportamiento de compra sostenible
en los hogares del mercado central de Guayaramerín. Esta relación evidencia
que cuanto más fuerte es la creencia de que los créditos de carbono contribuyen
eficazmente a la protección del medio ambiente, mayor es la inclinación de los
consumidores hacia prácticas de compra responsables. El hallazgo valida el
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segundo objetivo específico del estudio, al reflejar que la percepción de
efectividad ambiental influye de forma clara en las decisiones de consumo. Así,
se refuerza la idea de que no solo el conocimiento, sino también la confianza en
el impacto ambiental de los créditos de carbono, impulsa comportamientos
sostenibles en el consumidor local.
Los resultados evidencian una correlación positiva significativa entre la
percepción de efectividad ambiental de los créditos de carbono y el
comportamiento de compra sostenible en los hogares de Guayaramerín, lo cual
coincide parcialmente con los hallazgos de Silva y Macedo (2013). Estos autores
destacaron que, aunque el mercado de créditos de carbono se fundamenta en
mecanismos como el MDL y el "cap and trade", su efectividad percibida y
valoración dependen de factores como la credibilidad de los procesos de
certificación y las condiciones económicas globales. Similar al presente estudio,
Silva y Macedo señalaron que los consumidores valoran los beneficios
ambientales y financieros de las prácticas sostenibles, lo que influye en sus
decisiones de compra. Sin embargo, mientras su enfoque se centró en mercados
internacionales y la competitividad empresarial, esta investigación aporta
evidencia empírica desde un contexto local y doméstico, centrado en hogares,
donde la percepción ambiental juega un rol determinante en las decisiones
individuales. Por su parte, De la Rosa Calderón (2022) enfatiza que la confianza
en los créditos de carbono depende de la calidad y transparencia regulatoria,
aspecto que también impacta la percepción del consumidor. En conjunto, estos
estudios refuerzan la necesidad de fortalecer la regulación y comunicación sobre
los beneficios reales de los créditos de carbono, identificando un vacío en
estudios locales que vinculen directamente percepción ambiental y
comportamiento de compra en contextos no empresariales.
3.4 Reconocimiento en productos o servicios y Comportamiento de
Compra Sostenible
Tabla 4 Correlación entre reconocimiento en productos o
servicios y comportamiento de compra sostenible
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Reconocimiento
en productos o
servicios
Comportamient
o de Compra
Sostenible
Rho de
Spearman
Reconocimiento en
productos o servicios
Coeficiente de correlación
1.000
.613
**
Sig. (bilateral)
.
.000
N
148
148
Comportamiento de
Compra Sostenible
Coeficiente de correlación
.613
**
1.000
Sig. (bilateral)
.000
.
N
148
148
**. La correlación es significativa en el nivel 0,01 (bilateral).
Fuente: Datos elaborados por el autor a partir del análisis estadístico realizado en el software
SPSS.
Los resultados obtenidos revelan una correlación positiva significativa
(Rho de Spearman = 0,613**, p = 0,000) entre el comportamiento de compra
sostenible y el reconocimiento de productos o servicios vinculados a créditos de
carbono, evidenciando una relación sólida entre ambas variables. Este hallazgo
refuerza el planteamiento del estudio, donde se sostiene que la identificación
clara de atributos sostenibles en bienes y servicios influye en las decisiones de
consumo. En respuesta al problema de investigación, se confirma que una mayor
visibilidad y comprensión de las características ambientales de los productos
motiva elecciones responsables. Así, se valida que el reconocimiento efectivo de
iniciativas sostenibles es un factor determinante en la promoción de hábitos de
compra alineados con los principios de sostenibilidad y acción climática.
Los resultados de esta investigación, que evidencian una correlación
significativa entre el reconocimiento de productos o servicios asociados a
créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible, se alinean con
los hallazgos de Montoya (2023), quien destaca la influencia de marcos
normativos y sistemas de información climática en la adopción de decisiones
sostenibles por parte de los consumidores. Esto confirma que el reconocimiento
explícito de prácticas sostenibles en productos puede incidir directamente en la
conducta del consumidor. Sin embargo, los resultados también contrastan con lo
expuesto por Valencia Hernández y Bodnar (2022), quienes afirman que el
mercado de créditos de carbono ha fracasado en su objetivo ambiental, a pesar
de sus beneficios económicos. Esta diferencia puede explicarse por el enfoque
local de este estudio, que examina percepciones en Guayaramerín, donde el
potencial de los créditos aún no está completamente desarrollado ni
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institucionalizado. Además, el vacío normativo internacional y la ausencia de
certificaciones claras, según los autores mencionados, limitan el reconocimiento
efectivo de estos mecanismos por parte del consumidor común. Esta
investigación aporta evidencia empírica sobre el interés y la sensibilidad
ambiental del consumidor, pero revela la necesidad de mayor visibilidad,
regulación y educación sobre créditos de carbono, especialmente en contextos
urbanos emergentes como el de Guayaramerín.
Confianza en las empresas que los aplican y Comportamiento de Compra
Sostenible
Tabla 5 Correlación entre confianza en las empresas que los aplican y
comportamiento de compra sostenible
Confianza en
las empresas
que los aplican
Comportamient
o de Compra
Sostenible
Rho de
Spearman
Confianza en las empresas
que los aplican
Coeficiente de correlación
1.000
.659
**
Sig. (bilateral)
.
.000
N
148
148
Comportamiento de
Compra Sostenible
Coeficiente de correlación
.659
**
1.000
Sig. (bilateral)
.000
.
N
148
148
**. La correlación es significativa en el nivel 0,01 (bilateral).
Fuente: Datos elaborados por el autor a partir del análisis estadístico realizado en el software
SPSS.
Los resultados obtenidos revelan una correlación positiva alta (Rho de
Spearman = 0,659**) y altamente significativa (p = 0,000) entre la confianza en
las empresas que aplican créditos de carbono y el comportamiento de compra
sostenible en los consumidores de Guayaramerín. Esta evidencia empírica
refuerza el planteamiento del problema y valida el objetivo específico, al
demostrar que la percepción de integridad, transparencia y compromiso
ambiental por parte de las empresas influye decisivamente en las decisiones de
compra responsables. En el marco del estudio titulado “Reconocimiento de
Créditos de Carbono en la Decisión de Compra Sostenible en Guayaramerín”,
estos hallazgos evidencian que la confianza no es solo un valor intangible, sino
un detonante clave en la adopción de comportamientos alineados con la
sostenibilidad. Así, se confirma que la legitimidad percibida de las acciones
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empresariales es determinante para estimular prácticas de consumo
ambientalmente responsables.
Los resultados del presente estudio, que evidencian una correlación
positiva alta y significativa entre la confianza en las empresas que aplican
créditos de carbono y el comportamiento de compra sostenible, encuentran
respaldo en investigaciones previas como la de De la Rosa Calderón (2022),
quien advierte que la falta de regulación y transparencia en los mercados de
carbono puede debilitar la credibilidad del sistema y generar desconfianza en los
consumidores. Esta coincidencia confirma que la percepción de integridad y
compromiso ambiental empresarial es esencial para incentivar decisiones de
compra responsables. Por otro lado, el estudio de Silva y Macedo (2013) destaca
que la confianza en los créditos de carbono también depende de factores
económicos, como la estabilidad del mercado y la credibilidad en los procesos
de certificación. Aunque su enfoque se orienta más hacia el impacto financiero y
la competitividad empresarial, ambos estudios coinciden con el presente al
señalar que la confianza es un factor determinante para legitimar el uso de
créditos de carbono como herramienta de sostenibilidad. Sin embargo, se
identifica un vacío importante en investigaciones aplicadas a contextos locales
como Guayaramerín, donde aún no se ha explorado suficientemente cómo la
percepción ciudadana influye en la adopción de prácticas sostenibles. Este vacío
evidencia la necesidad de desarrollar más estudios en regiones periféricas, que
permitan entender los determinantes socioculturales de la confianza y su efecto
en la conducta ambiental del consumidor. Así, esta investigación aporta
evidencia empírica novedosa sobre un tema emergente en el ámbito del
consumo sostenible en mercados locales.
4. CONCLUSIONES
El análisis estadístico evidencia que existe una relación positiva, alta y
significativa entre la confianza en las empresas que aplican créditos de carbono
y el comportamiento de compra sostenible de los consumidores en la ciudad de
Guayaramerín. Esto confirma la hipótesis de que, a mayor nivel de confianza en
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dichas empresas, mayor es la predisposición de los consumidores a adoptar
prácticas de consumo responsables con el medio ambiente. De esta forma, se
valida que la confianza empresarial en iniciativas sostenibles es un factor
determinante para fortalecer las decisiones de compra orientadas al desarrollo
sostenible, lo que responde al problema científico y respalda la pertinencia del
estudio.
El análisis del nivel de conocimiento básico sobre los créditos de carbono
evidencia que, si bien existe cierto reconocimiento del rmino entre los
consumidores del mercado central de Guayaramerín, el entendimiento de su
funcionamiento, finalidad y beneficios concretos aún es limitado. Esta carencia
de información representa una barrera importante para la valoración adecuada
de estas iniciativas dentro de las decisiones de compra.
En cuanto a la percepción sobre la efectividad ambiental de los créditos
de carbono, se constató que los consumidores asocian positivamente su
implementación con beneficios para el medio ambiente. Sin embargo, persiste
una sensación de escepticismo respecto al impacto real de estas medidas, lo
que sugiere la necesidad de fortalecer la credibilidad de estos mecanismos
mediante una comunicación clara y demostrable.
Los consumidores presentan una baja capacidad de reconocimiento de
los créditos de carbono en productos o servicios disponibles en el mercado. Esta
situación limita significativamente su influencia como criterio de decisión de
compra, reflejando una desconexión entre las estrategias de sostenibilidad
empresarial y la visibilidad efectiva de estas prácticas ante el consumidor.
Respecto al nivel de confianza en las empresas que aplican créditos de
carbono, se concluye que esta confianza depende en gran medida de la
transparencia y el compromiso percibido por parte de las organizaciones. Los
consumidores valoran positivamente las iniciativas sostenibles, pero requieren
señales claras y consistentes que respalden la autenticidad de dichas acciones
para que esta confianza se traduzca en comportamientos de compra
responsables.
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Agradecemos a los estudiantes de cuarto año, generación 2024, por su
valiosa colaboración en las encuestas realizadas en el mercado central de
Guayaramerín.
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ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL?
ROMPIENDO EL CICLO: ¿CÓMO PUEDE CONTRIBUIR LA EDUCACIÓN A LA
PREVENCIÓN DE LA VIOLENCIA CONTRA LAS MUJERES EN BRASIL?
Anna Liz Vieira da Silva
1
Emanuelle Cristina Boaventura Miranda
2
Marli Lúcia Tonatto Zibetti
3
RESUMO
A violência contra a mulher é uma grave violação dos direitos humanos e é um problema social
persistente, que possui diferentes tipificações como física, psicológica, moral, sexual e
patrimonial e pode estar presente em todas as fases da vida. Apesar dos avanços legais,
como a Lei Maria da Penha (2006), que representa um importante avanço na proteção das
mulheres brasileiras, os índices de violência continuam preocupantes. Dados recentes do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Datafolha, realizado em 2025, indicam que 37,5% das
mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência no último ano, revelando a complexidade
e a persistência do fenômeno. Este artigo tem como objetivo analisar o papel da educação como
ferramenta de prevenção e enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, buscando
promover a emancipação feminina e a conscientização social. Para isso, foi realizada uma
revisão bibliográfica a partir de levantamento sistemático de publicações acadêmicas disponíveis
no Portal de Periódicos CAPES, com o recorte temporal dos últimos 10 anos, além da análise
das Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) no atendimento às mulheres em
situação de violência, elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia. Os resultados indicam
que a educação é fundamental tanto para a formação crítica das mulheres quanto para a
transformação cultural necessária à construção de uma sociedade mais justa, equitativa e menos
violenta. Ressalta-se a importância da efetiva implementação da legislação existente (Lei
14.164) que inclui a temática da violência contra a mulher nos currículos da educação básica e
institui a Semana Escolar de Combate à Violência contra a mulher. Por fim, conclui-se que a
1
Professora doutora da Universidade Federal de Rondônia-UNIR na cidade de Porto-Velho, Rondônia,
Brasil.
2
Psicóloga e mestranda em psicologia da Universidade Federal de Rondônia-UNIR na cidade de Porto-
Velho, Rondônia, Brasil.
3
1
ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL?
Revista Culturas & Fronteiras Volume 12 Nº 1- Outubro/2025
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
educação, enquanto instrumento de prevenção, enfrentamento e conscientização, é
indispensável para o combate efetivo à violência contra a mulher.
Palavras-Chave: Mulher; Educação; Violência; Prevenção.
RESUMEN
La violencia contra la mujer es una grave violación de los derechos humanos y un problema
social persistente, que puede clasificarse de diferentes maneras como física, psicológica,
moral, sexual y patrimonial y puede ocurrir en todas las etapas de la vida. A pesar de los
avances legales, como la Ley Maria da Penha (2006), que representa un avance significativo en
la protección de las mujeres brasileñas, las tasas de violencia siguen siendo alarmantes. Datos
recientes del Foro Brasileño de Seguridad Pública y el Instituto Datafolha, realizados en 2025,
indican que el 37,5% de las mujeres brasileñas experimentaron alguna forma de violencia en el
último año, lo que revela la complejidad y persistencia del fenómeno. Este artículo tiene como
objetivo analizar el papel de la educación como herramienta para prevenir y abordar la violencia
contra la mujer en Brasil, buscando promover el empoderamiento femenino y la conciencia social.
Para ello, se realizó una revisión bibliográfica basada en una encuesta sistemática de
publicaciones académicas disponibles en el Portal de Revistas CAPES, que abarca los últimos
10 años. Esta revisión también incluyó un análisis de las Referencias Técnicas para la Labor
Psicológica en la Atención a Mujeres en Situaciones de Violencia, elaboradas por el Consejo
Federal de Psicología. Los resultados indican que la educación es fundamental tanto para el
desarrollo integral de las mujeres como para la transformación cultural necesaria para construir
una sociedad más justa, equitativa y menos violenta. Se destaca la importancia de implementar
eficazmente la legislación vigente (Ley N.° 14.164), que incluye el tema de la violencia contra la
mujer en los currículos de educación básica y establece la Semana Escolar de Combate a la
Violencia contra la Mujer. Finalmente, se concluye que la educación, como herramienta de
prevención, enfrentamiento y concientización, es indispensable para combatir eficazmente la
violencia contra la mujer.
Palabras Clave: Mujer; Educación; Violencia; Prevención.
INTRODUÇÃO
Esse artigo possui como finalidade discutir a educação como ferramenta
preventiva no enfrentamento à violência contra as mulheres. Contudo, para tal propósito,
é necessário entender em que consiste a violência contra a mulher e como ela é
tipificada. As situações de violência contra a mulher consistem em “expressões das
relações desiguais de gênero que atravessam a experiência das mulheres” (CFP, 2024)
e “não é restrita ao ambiente doméstico ou a faixas etárias específicas, perpassando
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ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL?
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Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
todo o ciclo de vida.” (CFP, 2024). Em relação aos seus tipos, ela é dividida em física,
psicológica, moral, sexual e patrimonial (CFP, 2024)
Apesar da elaboração e fortalecimento de dispositivos legais que asseguram os
direitos das mulheres, como a Lei n.º 11.340, de 07 de agosto de 2006, conhecida como
Lei Maria da Penha, ainda existem inúmeros desafios a serem superados no combate à
violência contra a mulher. Embora essa legislação represente um marco na luta pelos
direitos das mulheres e no enfrentamento à violência e ao feminicídio, os dados
continuam alarmantes, como visto naqueles divulgados pela edição da pesquisa
“Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública e do Instituto Datafolha. Segundo a pesquisa, nos últimos 12 meses,
37,5% das mulheres vivenciaram alguma situação de violência, sendo o maior índice
registrado. Isso equivale a, pelo menos,
21 milhões de brasileiras vítimas de violência no
último ano.
Além dos números expressivos, o que as pesquisas apontam é que a violência
contra a mulher se caracteriza como um ciclo, constituído de momentos de paz seguidos
de momentos de tensões, o que dificulta o enfrentamento. De acordo com as Referências
Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) no atendimento às mulheres em situação de
violência (CFP, 2024), muitas delas acabam permanecendo ou retornam para o ciclo de
violência no qual estão inseridas, isso em função de diversas razões, como dificuldades
financeiras, vergonha da agressão ou medo dos agressores.
Diante de tais demandas, é imprescindível analisar como a educação pode ser
uma ferramenta de prevenção e transformação social. Nesse contexto, a educação pode
atuar, não apenas na formação crítica das mulheres, mas também contribuir na
construção de uma sociedade mais justa, respeitosa, equânime e que crie condições de
enfrentamento à violência contra a mulher em todas as suas formas.
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo principal responder à seguinte
questão: como a educação pode contribuir para a prevenção da violência contra as
mulheres no Brasil? Este artigo é proposto como instrumento para aprofundar o
conhecimento teórico e técnico, além de propagar a importância do papel educacional
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no combate à violência, com fins de impulsionar a emancipação de mulheres em
sofrimento e conscientizar a população acadêmica.
O texto foi elaborado por meio do estudo das Referências Técnicas para Atuação
de Psicólogas(os) no atendimento às mulheres em situação de violência e de uma
revisão bibliográfica, a partir de levantamento realizado no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Para uma melhor compreensão, o texto está organizado e estruturado em seções.
Inicia-se com a introdução, que apresenta o tema, a justificativa e os objetivos do
trabalho. Em seguida, a seção de metodologia descreve os critérios que foram utilizados
para a seleção das fontes. Posteriormente, será apresentado o referencial teórico, com
a exposição e discussão das pesquisas que dialogam com a temática deste artigo. Na
discussão, são analisadas as contribuições encontradas na literatura. E, por fim, as
considerações finais, que retomam os principais pontos abordados ao longo do artigo.
1. METODOLOGIA
Como mencionado anteriormente, esta pesquisa trata-se de um estudo
documental e uma revisão bibliográfica, cujo objetivo é analisar artigos que contribuam
para responder à pergunta: de que forma a educação pode contribuir para a prevenção
da violência contra as mulheres no Brasil.
Nesse sentido, o procedimento metodológico inicial consistiu em analisar o
documento Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) no atendimento às
mulheres em situação de violência e os dados sobre essa violência na pesquisa “Visível
e invisível: a vitimização de Mulheres no Brasil".
Em seguida foi realizada uma busca no Portal de Periódicos da CAPES de artigos
científicos utilizando as palavras-chave: “mulher”, “educação”, “violência”, “prevenção”,
com o recorte temporal dos últimos dez anos para o levantamento de artigos. Decorrente
disso, a busca resultou em 48 publicações, destas sendo 47 abertas à leitura.
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No segundo momento, foi realizada a leitura dos títulos e resumos dos 47 artigos
encontrados, adotando-se outros critérios de exclusão: textos que também se
configuraram como revisão bibliográfica e aqueles que não abordavam diretamente a
relação entre a educação e prevenção da violência contra a mulher. Após esse processo,
foram selecionados seis textos para inclusão no levantamento. Diante disso, observa-se
a escassez de estudos que abordem especificamente a temática proposta, reforçando a
relevância e atualidade do presente trabalho.
Para análise dos textos selecionados foi elaborado o quadro 1 com a síntese das
principais informações de cada artigo. Essa categorização sistemática das informações
contribuiu para a compreensão do tema.
Quadro 1: Textos selecionados para análise
Título/Ano
Autor/es
Informações relevantes
Violência contra a mulher,
quem mete a colher?
trajetórias de lutas das
mulheres da vila da barca,
Belém (PA) (2017)
Simone Nonato
Miranda
Trata-se de um estudo de caso que
pretendeu analisar como o público-alvo
compreendia o papel da educação
diante à violência contra a mulher.
Além disso, sua base teórica é a partir
de mulheres que marcaram a história
como Simone de Beauvoir, Joan Scott
e Heleieth Saffioti. O artigo teve como
considerações finais o patriarcado
como uma das justificativas da vigência
da violência contra a mulher e
importância da educação como
instrumento para a transformação
social.
Grupos reflexivos com
homens para prevenção da
violência conjugal: como
organizá-los (2019)
Fernanda Matheus
Estrela
Nadirlene Pereira
Gomes
Andrey Ferreira da
Silva
Júlia Renata
Fernandes de
Magalhães
Anderson Reis de
Esse artigo traz conceitos e noções
importantes como: Violência conjugal,
que é visto como um problema de
saúde pública, por ser responsável por
números alarmantes de mortalidade de
mulheres; A Lei 11.340/2006
(conhecida como Lei Maria da Penha)
um marco legal que visa a proteção às
mulheres contra a violência doméstica.
Além disso, o artigo se apoia na ideia
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Souza
Álvaro Pereira
de que muitos atos violentos são vistos
de uma forma naturalizada,
principalmente para os homens, e que,
segundo Paulo Freire, essa
naturalidade só pode ser transformada
por meio da conscientização crítica.
Violência contra a mulher: um
diálogo com estudantes do
ensino médio. (2020)
Ariella Cappellari
Nunes
Fernanda Pereira
Labiak
Jaqueline Aguiar dos
Santos
Melissa Mendes de
Novais
O artigo constitui-se por um relato de
experiência de um projeto de extensão
de conscientização e de prevenção da
violência contra a mulher em uma
escola pública estadual. Tal relato teve
como arcabouço teórico o professor
Paulo Freire e teve como conclusão a
necessidade da educação - e essa
emancipatória - para a prevenção e
promoção de mudanças culturais,
especialmente a extensão
universitária.
Projeto Educabella: ações
educativas para prevenção da
violência contra a mulher nas
escolas
municipais de Ipojuca (2020)
Iraneide Nascimento
dos Santos
Nayelli Clara Morais
de Amorim
Ysllaini Virgínia da
Silva
Luana da Paz L. do
Nascimento
Rafaela Mirelli
Vasconcelos Viana
Alexsandro Silva de
Aguiar
Ana Paula Aguiar
Teixeira Rezende
O relato de experiência é voltado ao
projeto Educabella, em que abordou
em suas oficinas o conceito de
violência, suas formas e
consequências, a conscientização
sobre a Lei Maria da Penha; sobre o
ligue 180 e o empoderamento
feminino.
Violência contra a mulher:
necessidade de atuação
preventiva e educativa para o
rompimento do ciclo da
violência doméstica. (2021)
Carolina Alves de
Souza Lima
Ingrid Peres Moreira
Laura Garcia
Senhorinho
O artigo traz informações importantes
como: o reconhecimento da violência
doméstica, a violência sendo
transgeracional, continuidade do
comportamento agressivo. Além disso,
evidencia que a violência doméstica
não é um ato isolado, mas sim um
fenômeno transgeracional, ou seja,
algo passado por gerações, que
perpetua comportamentos agressivos.
Nesse sentido, é possível afirmar que
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a educação tem um papel fundamental
quando se trata do rompimento desse
ciclo de violência, pois é possível
promover a conscientização, desde
criança, os sinais da violência, os
direitos das mulheres e a importância
de construir relações saudáveis e
respeitosas. O artigo também
menciona a Lei 14.164/2021, que
inclui a violência contra a mulher nos
currículos escolares, uma estratégia
para a prevenção e a mudança de
comportamento, podendo evitar a
continuidade dos comportamentos
agressivos e contribuir para a formação
de uma sociedade mais igualitária.
Inclusão da lei maria da
penha nas escolas à luz
da lei 14.164 de 2021 (2023)
Anna Karoline
Cavalcante Carvalho
O artigo aborda conceitos importantes,
como: sistema educacional, violência
doméstica e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB). Ele explica como
a Lei 14.164/21 pode promover a
educação em direitos humanos nas
escolas, prevenir a violência
doméstica e conscientizar sobre os
direitos das mulheres. Destaca
também que o sistema educacional
pode desempenhar um papel
importante na formação de cidadãos
críticos e uma sociedade mais
respeitosa, alinhando-se com os
objetivos da LDB, que visa buscar uma
educação integral e voltada para a
construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.
Fonte: elaborado pelas autoras a partir de levantamento no Portal de Periódicos - CAPES
Os seis artigos analisados são recentes e possuem conteúdos diversificados
sobre a violência contra a mulher no Brasil, apresentando estratégias educativas e
sociais de prevenção e enfrentamento. Foram publicados entre 2017 e 2023, e discutem
a temática em diferentes contextos, como escolas, universidades, comunidades e grupos
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reflexivos. Todos refletem uma crescente preocupação com abordagens integradas e
transformadoras. Dentre os estudos analisados, dois são relatos de experiências
(Aguiar, A. S. de et al., 2020; Nunes, C. A. et al., 2020) Os demais quatro são pesquisas
de caráter teórico (Carvalho, A. K. C, 2023) e empírico (Miranda, S. N., 2017; Estrela, F.
M. et al., 2019; Moreira, I. P.; Senhorinho, L. G.,2021)
A violência contra mulheres é vista mundialmente como um grave problema de
saúde pública, e como uma violação de direitos humanos (Beiras; Nascimento; Incrocci,
2019). Para Cagol e Frichembruder (2017, p. 54) essa violência consiste em Qualquer
ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual
ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado.”
A violência contra a mulher apresenta diferentes tipificações: física, psicológica,
sexual, moral e patrimonial (CFP, 2024). A violência sica consiste em “qualquer conduta
que ofenda a integridade ou saúde corporal”, como determinado na Lei Maria da Penha,
apresentando ou não marcas visíveis. A violência psicológica ocorre quando a
estabilidade psicológica da mulher é ameaçada continuamente, por meio de ações
desumanizadoras. Em relação à violência sexual, ocorre quando a mulher é posta em
situações que afetam seus direitos sexuais e reprodutivos. Sobre a violência moral, ela
surge a partir de qualquer ato calunioso, difamatório ou de injúria. Por último, a violência
patrimonial significa a apropriação ou dano de bens das mulheres pelo (a) agressor (a)
(CFP, 2024).
No Brasil, a realidade da violência contra a mulher ainda é marcada por índices
alarmantes e se configura como um grave problema social. Segundo dados que foram
evidenciados pelo 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), a violência contra
a mulher cresce de uma forma exponencial. De acordo com essa pesquisa do Fórum,
em 2023, foram registrados mais de 250 mil casos de violência doméstica. Esse índice
evidencia a perpetuação da violência contra a mulher e a urgência da criação de políticas
públicas que sejam mais eficazes para prevenção e proteção das vítimas. Neste mesmo
ano, foram registradas 1.467 mulheres vítimas de feminicídio, e os dados revelam que o
perfil das mulheres mortas de forma violenta permanece estável: em sua maioria, são
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negras (63,6%) e com idade entre 18 e 44 anos (71,1%). Ao analisar o local das mortes,
a casa é o cenário mais recorrente nos feminicídios (64,3%), tornando o próprio lar, que
deveria ser um espaço de proteção, o ambiente menos seguro para a mulher.
O ordenamento jurídico brasileiro contempla importantes marcos legais no
combate à violência contra a mulher. Como exemplo a Lei 11.340/2006, conhecida
como Lei Maria da Penha, que se tornou um marco significativo por ter promovido a
ampliação do conceito de violência doméstica, incluindo outros tipos de violência, como:
violências psicológicas, sexuais, morais e patrimoniais. E, mais recentemente, a Lei
13.104/2015, conhecida como Lei do Feminicídio, que alterou o Código Penal para incluir
o feminicídio como uma circunstância qualificadora do crime de homicídio, o que, em
tese, deveria reforçar a rede de proteção às mulheres. Porém, quando se trata da
realidade, é necessário investigar se os marcos, como esses citados, estão sendo
eficientes.
No entanto, na prática, observa-se uma série de entraves. É notório a
precariedade de muitos serviços de atendimento, até mesmo inexistentes em algumas
regiões, e o sistema judiciário frequentemente se mostra lento e inacessível. Além disso,
uma lacuna significativa quando se trata da disseminação e divulgação de
informações: muitas mulheres desconhecem esses direitos ou não sabem como podem
acessá-los. Dessa forma, embora a legislação represente um passo importante, ela não
está sendo suficiente. É preciso que outros fatores atuem juntos, como: políticas públicas
bem estruturadas, investimentos contínuos na formação de profissionais que atuem na
rede de apoio e, acima de tudo, ações educativas que colaborem para romper com
padrões culturais que, infelizmente, contribuem para a naturalização da violência contra
a mulher. Sem essa combinação, os avanços legais permanecerão apenas no papel.
Apesar de haver leis que protegem as mulheres, a violência contra elas é fruto de
uma estrutura social, cultural e de pensamento desigual entre os gêneros. Com isso, as
ações práticas ineficazes e a burocracia são apenas reflexos de um sistema que de
antemão está contra as mulheres, como a teórica Saffioti (2004, p. 18 apud Miranda,
2017, p.3) explica: “as relações patriarcais, suas hierarquias, sua estrutura de poder
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contamina toda a sociedade, o direito patriarcal perpassa não apenas a sociedade civil,
mas impregna o Estado”. Portanto, entende-se que a violência contra a mulher não se
limita a um problema individual, mas é apenas o ápice visível das relações de poder que
já operam contra o gênero feminino.
Visto isso, a educação emerge como uma das ferramentas que contribuem para
a prevenção de violência contra as mulheres. Para melhor entendimento sobre a atuação
da educação, o conteúdo do artigo foi organizado em três subcategorias: contribuições
da educação para as mulheres; contribuições da educação para os homens e
contribuições da educação para a sociedade.
A educação para as mulheres como estratégia de reconhecimento e enfrentamento
das violências
Em relação às mulheres, a educação colabora para a libertação delas, pois após
a conscientização sobre a vigência do sexismo, as microviolências sofridas por elas
passam a ser denunciadas. Além disso, mulheres que estão em situação de violência -
seja qualquer dos seus tipos - são impulsionadas a romperem o ciclo de violência,
retirando o caráter privado de seu sofrimento.
Esse ciclo é caracterizado didaticamente por três grandes fases: aumento da
tensão, caracterizada pela tensão e irritação da pessoa agressora por coisas mínimas,
humilhando ou até mesmo ameaçando a vítima; ato de violência, correspondente ao ato
violento propriamente executado, como uma agressão física; arrependimento/lua de mel,
que consiste na culpabilização do agressor a si mesmo, prometendo mudanças em seu
comportamento à mulher em situação de violência
(CFP, 2024).
Tal impacto da educação na emancipação das mulheres é primordial em relação
à própria saúde física e psíquica pois, de acordo com o documento das Referências
Técnicas para atuação de psicólogas(os) em Programas de Atenção à Mulher em
situação de Violência,
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É de extrema importância uma vez que, historicamente, uma significativa
característica da violência de gênero era a dificuldade do
reconhecimento, bem como a inexistência de espaços sociais que
possibilitassem ou estimulassem as mulheres a trazer à tona as
violências sofridas, seja em forma de denúncias, seja de desabafos. Ao
contrário, as violências eram silenciadas e o espaço doméstico tornava-
se inviolável, permitindo e legitimando toda sorte de abusos. O silêncio
sobre a violência não permitia o seu reconhecimento, tão importante para
seu enfrentamento (CFP, 2024, p. 94).
Além disso, a educação contribui com o rompimento da violência como um
fenômeno transgeracional, pois a violência também traz impactos a vítimas indiretas que
podem vir a reproduzir o padrão de agressividade compartilhado, por meio de processos
interiorizados, como aborda o artigo Violência contra a mulher: necessidade de atuação
preventiva e educativa para o rompimento do ciclo da violência doméstica (2021),
contudo ao encontro de uma educação preventiva a perpetuação da violência se finda.
A educação faz tudo isso por meio de espaços colaborativos e dialógicos, onde
há a elucidação das leis que garantem a segurança e o bem-estar das mulheres, a partir
da exposição dos direitos pertencentes à mesma, de forma simples mas poderosa, como
apresentado nos artigos de Nunes et al (2020), dos Santos et al (2020) e Carvalho
(2023).
A educação para os homens como estratégia de prevenção e enfrentamento à
violência contra a mulher
Para Pinheiro e Andrade (2023), pode-se notar um reflexo histórico e cultural na
violência contra as mulheres: geralmente a identidade masculina é gerada, desenvolvida
e acometida por uma educação imperativa e punitiva, em que a tendência é a reprodução
desse modelo de comportamento nas relações conjugais, o que fortalece o poder do
patriarcado, e Faz com que os homens compreendem como naturais as atitudes
violentas nas relações conjugais, não as percebendo enquanto condutas que geram
adoecimento de toda a família” (Estrela et al, 2019).
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Nesse sentido, no que se refere aos homens, a literatura aponta que a
participação ativa dos homens na prevenção da violência contra as mulheres é vista
como uma ferramenta importante para a transformação das relações de gênero e a
construção de uma sociedade mais equânime. Sob essa perspectiva, é fundamental
promover ambientes educativos voltados à conscientização e à reflexão dos homens, a
fim de evitar a normalização do abuso e estimular a mudança de comportamento.
Em um estudo realizado por Estrela et al. (2019), os grupos reflexivos se
mostraram uma estratégia eficaz para promover a conscientização e a mudança de
comportamentos entre homens autores de violência. A metodologia deste estudo foi a
Perspectiva Crítico-Libertadora de Paulo Freire, a qual enfatiza a educação como prática
de liberdade e transformação social, adotando uma abordagem que promove a reflexão
crítica sobre as práticas de masculinidade e as dinâmicas de poder nas relações
conjugais. Então, é possível afirmar que a reflexão, ação e participação ativa dos homens
é uma importante ferramenta para a prevenção e o enfrentamento da violência contra a
mulher.
A educação como ferramenta de transformação para uma sociedade menos
violenta
Já no que tange ao ser humano dentro de uma sociedade, cultura e classe social,
a educação é vista como elemento salutar, pois ela faz com que haja o reconhecimento
do indivíduo dentro de um macrossistema que gera sofrimento, e que esse muitas vezes
contribui para que o ciclo de violência se perpetue, como Saffioti percebeu:
A estrutura patriarcal funciona até mesmo acionada por mulheres [...]
desempenhando com maior ou menor frequência, com mais ou menos
rudeza, as funções do patriarca [...] Disciplinando filhos e outras crianças
ou adolescentes, segundo a Lei do Pai. Ainda que não sejam cúmplices
deste regime, colaboram para alimentá-lo (Saffioti, 2004, p. 102 apud
Miranda, 2017, p.4).
Essa citação de Saffioti denuncia o porquê do sistema patriarcal permanecer forte
apesar de muitos avanços na sociedade, evidenciando que seus ideais ainda são
frequentemente reproduzidos no âmbito familiar e social. Portanto, a educação, com seu
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caráter crítico e transformador, se torna um forte aliado diante da prevenção da violência
contra a mulher e, para se tornar mais eficaz, é imprescindível que promova reflexões
sobre a temática desde os primeiros anos escolares do indivíduo, tornando a escola um
espaço de conscientização e enfrentamento dessa realidade, podendo contribuir
diretamente com a prevenção e a ruptura do ciclo da violência.
Nesse contexto, a Lei Federal 14.164 de 2021 aparece como um reforçador da
responsabilidade da escola de promover esse espaço, ao incluir o conteúdo sobre a
prevenção da violência contra a mulher nos currículos da educação básica, além de
instituir a Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher nas instituições
de ensino, no âmbito público e privado. (Carvalho, 2023). Sendo assim, os objetivos
desta lei, previstos pela legislação, são:
I - contribuir para o conhecimento das disposições da Lei nº 11.340, de 7
de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha);
II - impulsionar a reflexão crítica entre estudantes, profissionais
da educação e comunidade escolar sobre a prevenção e o combate
à violência contra a mulher;
III - integrar a comunidade escolar no desenvolvimento de estratégias
para o enfrentamento das diversas formas de violência, notadamente
contra a mulher;
IV - abordar os mecanismos de assistência à mulher em situação
de violência doméstica e familiar, seus instrumentos protetivos e os
meios para o registro de denúncias;
V - capacitar educadores e conscientizar a comunidade sobre
violência nas relações afetivas;
VI - promover a igualdade entre homens e mulheres, de modo a prevenir
e a coibir a violência contra a mulher; e
VII - promover a produção e a distribuição de materiais educativos
relativos ao combate da violência contra a mulher nas instituições
de ensino. (Brasil, 2021)
Portanto, deve-se investigar se essa norma está sendo aplicada em todo o país e
de fato sendo efetivada. Assim, a educação faz com que a pessoa se conscientize sobre
suas práticas e contribua para uma sociedade mais equânime e justa, fazendo com que
as instituições de ensino desempenhem um papel fundamental no enfrentamento da
violência contra a mulher.
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ROMPENDO O CICLO: COMO A EDUCAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A
PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi, a partir de uma revisão da literatura e da análise de
dados recentes, investigar como a educação, em diferentes níveis e formas, pode
contribuir na prevenção da violência contra a mulher, considerando suas diversas
tipificações e o contexto social em que elas ocorrem.
Foi possível observar que a educação desempenha um papel fundamental, não
apenas na conscientização das mulheres sobre seus direitos e formas de proteção, mas
também na formação de uma base que visa a ruptura de ciclos de violência. Para os
homens, a educação é fundamental para questionar práticas e normas de
comportamento que ainda são naturalizadas, contribuindo para a desconstrução de
estereótipos e relações patriarcais. No âmbito social, a educação pode agir como um
meio de promover valores de igualdade e justiça, criando espaços de reflexão e diálogo
que possibilitam mudanças na sociedade, principalmente no ambiente da escola.
Ao relacionar as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) no
atendimento às mulheres em situação de violência com os resultados da pesquisa, foi
visto que a Psicologia pode atuar no apoio das mulheres vítimas de violência e
desempenhar um papel preventivo, através de iniciativas de psicoeducação que ajudem
a entender sobre o ciclo de violência e seus efeitos, para assim ser um instrumento de
prevenção e promoção da saúde mental das mulheres brasileiras, integrando educação
e cuidado psicológico.
Além disso, a escassez de estudos recentes relacionados à essa temática pode
comprometer a formulação de políticas públicas e dificultar a criação de práticas
pedagógicas e psicossociais que dialoguem com os contextos específicos de
vulnerabilidade, como os enfrentados por mulheres negras, indígenas, periféricas e
residentes em áreas rurais. Tais lacunas reforçam a necessidade de investigações
futuras que não apenas reconheçam essa complexidade, mas que proponham soluções
articuladas entre diferentes campos do saber.
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PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL?
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Por fim, vale a reflexão de Calejon (2016, p. 1), que afirma: Num país que almeja
ser verdadeiramente democrático, a maior arma contra a autocracia é a educação.
Educar é dar voz a quem não a tem, é assegurar que mais e mais formas de pensar e
de sentir sejam assimiladas.”
A educação tem, portanto, o poder de transformar, de dar voz àquelas que são
silenciadas pela violência, e de fomentar uma sociedade mais justa e igualitária, criando
um caminho mais eficaz para o enfrentamento da violência contra a mulher.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher e estabelece medidas de assistência e proteção às
mulheres em situação de violência. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2006. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 15 abr.
2025.
BRASIL. Lei nº 14.164, de 10 de junho de 2021. Dispõe sobre a inclusão de conteúdo sobre a
prevenção da violência contra a mulher nos currículos de educação básica, e institui a Semana
Escolar de Combate à Violência contra a mulher. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2021.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/l14164.htm.
Acesso em: 15 abr. 2025.
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2025.
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EDUCAÇÃO CRÍTICA E PSICOLOGIA DA LIBERTAÇÃO:
Caminhos Para a Formação Docente e Transformação Social
PSICOLOGÍA CRÍTICA DE LA EDUCACIÓN Y LA LIBERACIÓN: Caminos hacia la
Formación Docente y la Transformación Social
Alessanda Alaine Rodrigues Moura
1
Indajara Gomes da Silva Magalhães
2
Vanessa Inuma Braga
3
Resumo
Este estudo visa analisar as contribuições das sistematizações de Martín-Baró e o papel
da escola na promoção de práticas formativas. O trabalho, de natureza bibliográfica,
qualitativa e usando a análise de conteúdo de Bardin (1977), adotando uma perspectiva
crítica com base nos debates conduzidos em sala de aula sob a mediação da Profa. Dra.
Solange Struwka, conforme abordado na disciplina de Psicologia da Libertação e
Psicologia Histórico-Cultural: possíveis aproximações a partir das particularidades do
capitalismo periférico, com o objetivo de interpretar as causas estruturais das injustiças
que afetam a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos. O presente trabalho destaca a
importância da psicologia latino-americana e a obra de Ignácio Martín-Baró para
compreender as relações entre indivíduo e sociedade atrelado à educação. Ele critica a
psicologia tradicional por ser egocêntrica e individualista, ignorando as dimensões sociais
e culturais. A proposta é construir uma psicologia que reflita a realidade da América Latina
e que promova a transformação social. Nesse cenário, a educação é vista como uma
ferramenta crucial, com a escola desempenhando um papel fundamental na construção de
uma sociedade mais justa e igualitária. A Psicologia da Libertação e a análise decolonial
são abordagens que valorizam a diversidade e os conhecimentos locais, buscando a
emancipação dos indivíduos. Adicionalmente, o estudo observa que as obras de Paulo
Freire defendem a importância da prática pedagógica, da conscientização e da ação
coletiva como meios para transformar a sociedade
Palavras-chave: Psicologia latino-americana; Martín-Baró; Paulo Freire; Educação;
Transformação social.
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Psicologia PPGPSI, na Universidade Federal
de Rondônia-UNIR.
http://lattes.cnpq.br/4434082759919827 E-mail: Alaynepedagoga@gmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Psicologia PPGPSI, na Universidade Federal
de Rondônia-UNIR.
http://lattes.cnpq.br/2348405896296208 E-mail: indajaragomes@gmail.com
3
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Psicologia PPGPSI, na Universidade Federal
de Rondônia-UNIR.
http://lattes.cnpq.br/2480401274019563 E-mail:Vanessainuma.ibl@gmail.com
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Resumen
Este estudio tiene como objetivo analizar las contribuciones de las sistematizaciones de
Martín-Baró y el papel de la escuela en la promoción de prácticas formativas. El trabajo, de
carácter bibliográfico y cualitativo, utiliza el análisis de contenido de Bardin (1977) y adopta
una perspectiva crítica basada en los debates desarrollados en el aula bajo la mediación de
la Prof. Dra. Solange Struwka, según lo abordado en la asignatura Psicología de la
Liberación y Psicología Histórico-Cultural: posibles aproximaciones a partir de las
particularidades del capitalismo periférico, con el propósito de interpretar las causas
estructurales de las injusticias que afectan la salud mental y el bienestar de los individuos.El
presente estudio destaca la importancia de la psicología latinoamericana y la obra de
Ignacio Martín-Baró para comprender las relaciones entre individuo y sociedad vinculadas
a la educación. Critica la psicología tradicional por ser egocéntrica e individualista,
ignorando las dimensiones sociales y culturales. La propuesta es construir una psicología
que refleje la realidad de América Latina y promueva la transformación social.En este
contexto, la educación se concibe como una herramienta fundamental, y la escuela
desempeña un papel esencial en la construcción de una sociedad más justa e igualitaria.
La Psicología de la Liberación y el enfoque decolonial son perspectivas que valoran la
diversidad y los saberes locales, buscando la emancipación de los individuos. Además, el
estudio observa que las obras de Paulo Freire defienden la importancia de la práctica
pedagógica, la concientización y la acción colectiva como medios para transformar la
sociedad.
Palabras clave: Psicología latinoamericana; Martín-Baró; Paulo Freire; Educación;
Transformación social.
INTRODUÇÃO
Este estudo tem origem nas discussões desenvolvidas em sala de aula na disciplina
de Psicologia da Libertação e Psicologia Histórico-Cultural do mestrado acadêmico em
Psicologia da Universidade Federal de Rondônia - UNIR. Nessas discussões, foram
abordadas concepções implementadas por autores como Ignácio Martín-Baró (1942-
1989), Lev Vygotsky (1896-1934) e José Carlos Mariátegui (1894- 1930), entre outros, que
buscam explicar as tarefas da psicologia em diversos aspectos da existência humana. Um
dos grandes eixos de debate girou em torno da Psicologia da Libertação, cujas diretrizes,
fortemente baseadas nas concepções de
Martín-Baró, destacam a importância de considerar o contexto social e histórico na
prática psicológica e educacional.
Para compreender os fenômenos sociais e históricos e avançar na construção de
uma sociedade mais justa e igualitária, várias teorias oferecem explicações e contribuições
valiosas. Este estudo adota a Psicologia da Libertação, conforme defendida por Martín-
Baró, por possibilitar uma ampliação das articulações entre instituições, formação e
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trabalho. Essa abordagem promove práticas que criam espaços de troca e interação, onde
a ação do psicólogo pode ocorrer de forma mais assertiva, gerando benefícios
significativos para a educação.
A Psicologia da Libertação enriquece a compreensão das dinâmicas sociais,
econômicas e culturais, contribuindo para a melhoria das práticas pedagógicas,
especialmente no desenvolvimento do psiquismo humano, tanto do professor quanto do
aluno. Martín-Baró (1984) argumenta que essa abordagem possibilita a criação de
ambientes educacionais que não apenas respondem às demandas culturais e sociais
específicas, mas também promovem uma transformação social mais ampla e
emancipatória.
Nesse contexto, a emancipação é entendida como um processo de libertação crítica
e reflexiva, que visa promover a autonomia intelectual e social dos indivíduos, desafiando
estruturas de opressão e fomentando uma consciência crítica que possibilita mudanças
significativas nas relações sociais e nas estruturas de poder. Essa forma de educação
busca provocar uma inflexão no educando, promovendo sua autoconscientização e o
fortalecimento do ego.
Dessa maneira, a educação deve ser compreendida como uma forma de
intervenção no mundo, funcionando como uma prática social humanizadora. Seu objetivo
não é apenas transmitir conteúdos historicamente produzidos pela humanidade, mas
também colaborar na desmistificação desses conteúdos, contribuindo para a formação de
sujeitos críticos e conscientes da realidade em que estão inseridos.
METODOLOGIA
A presente pesquisa adota a metodologia de análise de conteúdo proposta por
Bardin (1977). De acordo com o autor, a análise de conteúdo é definida como um conjunto
de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. O objetivo é inferir conhecimentos
relativos às condições de produção e recepção dessas mensagens.
A análise de conteúdo é uma cnica amplamente utilizada em pesquisas
qualitativas, especialmente na área da educação, por sua capacidade de revelar
significados implícitos nos textos e discurso. Nesta pesquisa a técnica foi utilizada com o
objetivo de investigar a Educação Crítica e a Pedagogia da Libertação. Através dessa
metodologia, foi possível identificar e interpretar os significados subjacentes nos discursos
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educacionais, proporcionando uma compreensão mais profunda dos fenômenos
estudados.
O conteúdo bibliográfico desta pesquisa está fundamentado na obra de Ignacio
Martín-Baró, que oferece uma perspectiva crítica sobre o papel da escola na sociedade.
Parte da pesquisa parte de uma análise qualitativa obtida durante as aulas de Psicologia
da Libertação e Psicologia Histórico-Cultural, sendo, pois, fundamental na elaboração de
ideias e conceitos importantes, dos quais foram realizados observações e registros em
sala. Outras obras, como as de Paulo Freire e Vygotsky foram fundamentais para a
formação do pensamento textual, as quais foram de grande relevância para a conclusão
da pesquisa.
REFERENCIAL TEÓRICO
A obra de Ignácio Martín-Baró é um marco fundamental para a psicologia
latinoamericana, especialmente ao analisar a consciência humana em seu contexto social.
Martín Baró demonstra que os sofrimentos psicológicos não são fenômenos isolados, mas
sim o resultado de vidas marcadas por desigualdades e injustiças. (DIAS, 2020).
A compreensão crítica da psicologia latino-americana exige reconhecer suas
raízes históricas,profundamente vinculadas ao passado colonial e à dependência. Por
muito tempo, a psicologia na região foi utilizada como instrumento de dominação,
legitimando estruturas de poder ao apresentar a modernidade tecnológica como solução
para todos os problemas sociais. (DIAS, 2020). Segundo Martín-Baró (2011), a psicologia
latino-americana, ao importar modelos teóricos eurocêntricos como o positivismo e o
individualismo, acabou se distanciando das realidades sociais e culturais da América
Latina.
Essa visão fragmentada serviu aos interesses capitalistas ao promover valores
como o consumo, a competição e a busca individual pelo prazer. A precariedade dessa
psicologia está ligada a uma ideologia de adaptação ao sistema existente, que impede uma
análise crítica das relações de poder e das desigualdades sociais. Para superar essa
limitação, é necessário resgatar a dimensão da consciência e construir uma psicologia que
estabeleça uma relação dialética e histórica entre conhecimento e ação, buscando a
transformação social. (PEREIRA, 2019).
Nesse sentido, a escola deve ser concebida como um espaço institucional que
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promove a construção de uma sociedade mais justa e igualitária por meio da educação.
Para isso, é essencial implementar currículos inclusivos, formar continuamente os
docentes, promover a participação ativa dos alunos e adotar políticas antidiscriminação. A
educação deve ir além da simples transmissão de conhecimento, valorizando a
diversidade, criticando as desigualdades e empoderando os indivíduos para que possam
transformar suas vidas e a sociedade. (PEREIRA, 2019).
Ainda, é necessário compreender como os marcadores sociais de raça, gênero,
classe e idade influenciam as experiências e oportunidades das pessoas. É fundamental
perceber como a herança colonial ainda permeia a educação brasileira, impondo a cultura
e o conhecimento europeus como padrões dominantes. Esse processo deslegitimou as
diversas formas de saber dos povos originários e de outros grupos marginalizados. A
escola, nesse contexto, desempenhou um papel como instrumento de dominação cultural,
contribuindo para a destruição de identidades e o silenciamento de vozes. (LEITE;
RAMALHO; CARVALHO, 2019).
A ação educativa deve ser vista como instrumental, utilizando signos como
mediadores para provocar mudanças significativas no comportamento humano. Entre o
indivíduo e o ambiente, o signo cultural atua como um estímulo de segunda ordem,
transformando manifestações espontâneas em ações volitivas. Esse processo permite que
o psiquismo atinja um funcionamento de qualidade superior, desvinculando-se de
determinismos biológicos e do contexto imediato. (VYGOTSKY, 1997).
A Psicologia da Libertação emerge como um pilar fundamental para a construção
de sociedades mais justas e equitativas, valorizando a diversidade cultural e promovendo
a emancipação dos indivíduos. Essa perspectiva se contrapõe àpsicologia tradicional,
que perpetua as desigualdades ao ignorar os contextos históricos e sociais. Em vez de
apenas tratar os sintomas do sofrimento individual, a Psicologia da Libertação busca
transformar as condições sociais que geram esse sofrimento.
Martín-Baró argumenta que a psicologia deve ser um instrumento de libertação,
contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e humana (MARTÍN- BARÓ,
2017). Nesse contexto, a educação é uma ferramenta poderosa, oferecendo um espaço
privilegiado para o desenvolvimento de uma consciência crítica e para a valorização das
identidades locais.
De acordo com Paulo Freire, a educação deve ser um ato de libertação, permitindo
que o educando se torne sujeito de sua própria história. Freire propõe uma educação
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problematizadora, que capacite os indivíduos a questionar a realidade opressiva em que
vivem e a atuar de maneira transformadora sobre ela (FREIRE, 2004). Essa perspectiva
está alinhada com a análise decolonial, que critica as estruturas coloniais de poder e
conhecimento, propondo uma reorientação epistemológica que valorize os saberes e
práticas dos povos colonizados.
Ao desconstruir hierarquias coloniais e eurocêntricas, a análise decolonial revela
como a educação tem sido utilizada como ferramenta de dominação cultural. Ao
desconsiderar as realidades e necessidades das comunidades locais, a educação
tradicional perpetua uma colonização epistemológica. A análise decolonial propõe uma
educação que valorize a diversidade cultural e os conhecimentos locais, permitindo que
os indivíduos se libertem das imposições coloniais e construam uma identidade crítica e
autônoma. Dessa forma, a educação se torna um espaço de resistência e transformação
social.
Assim, quando aliada à Psicologia da Libertação e à análise decolonial, a
educação torna-se um instrumento de transformação e emancipação (SENA; SILVA,
2004). Ela promove o reconhecimento e a valorização das histórias, saberes e lutas dos
povos marginalizados, oferecendo uma alternativa ao modelo educacional hegemônico
que muitas vezes perpetua a opressão.
Nesse sentido, é essencial adotar uma educação problematizadora, onde os
oprimidos compreendam que as teorias possuem premissas e que o referencial teórico
orienta a prática. Esse entendimento é fundamental para reconhecer o papel da psicologia
na transformação social. Uma prática teórica que promova a emancipação dos indivíduos
é crucial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa(VYGOTSKY,
2003).Portanto, as visões teóricas de Martín-Baró e Paulo Freire abrem caminho para a
criação de uma nova ordem social, centrada na igualdade e na justiça social. Essas
abordagens complementares enriquecem a compreensão das relações entre opressor e
oprimido, destacando a importância da análise crítica e contextualizada das dinâmicas de
poder. Ambas sublinham a necessidade de conscientização, ação coletiva e
transformação social como fundamentos essenciais para a libertação dos oprimidos.
Ao integrar essas práticas pedagógicas com uma análise crítica da historicidade e
da subjetividade dos sujeitos, sob a ótica da psicologia histórico-cultural, é possível
compreender como fatores sociais, históricos, econômicos e políticos influenciam tanto o
ambiente escolar quanto a formação dos profissionais que nele atuam (BARROCO;
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ZIBETTI; FACCI, 2021). Dessa forma, os educadores assumem o papel ativo de agentes
sociais capazes de provocar mudanças significativas no meio em que atuam (BRINO &
SOUZA, 2016).
Formação Docente na Amazônia
Ao adentrarmos nas perspectivas da formação docente, observa-se que o
currículo de formação segue a premissa de uniformização do sistema educacional. No
entanto, surge a questão: como educar em um país tão plural, repleto de diversidade
cultural, linguística e étnica? Na organização curricular do curso de Pedagogia, conforme
estipulado, devem ser observados os princípios constitucionais e legais; a diversidade
social, étnico-racial e regional do país; a organização federativa do Estado brasileiro; a
pluralidade de ideias e concepções pedagógicas; e o conjunto de competências dos
estabelecimentos de ensino e dos docentes, conforme previsto nos arts. 12 e 13 da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), am do princípio da gestão
democrática e da autonomia. (BRASIL, 2005, p.10).
Entretanto, na prática, esses princípios curriculares muitas vezes se perdem, tanto
no processo de formação docente quanto na atuação profissional. Um exemplo claro dessa
desconexão é a adoção do livro didático padronizado, que, uma vez produzido e aprovado,
é distribuído de maneira uniforme para toda a rede pública em praticamente todo o território
nacional. Esse material, ao ignorar as particularidades regionais, muitas vezes utiliza
imagens e representações culturais inadequadas ou distorcidas, desconectadas das
realidades vividas pelas populações representadas.Quando esse instrumento é utilizado
como norteador da prática docente, ele acaba não considerando os saberes locais e as
experiências dos alunos, que são submetidos a um conteúdo que pouco dialoga com suas
vivências. Vygotsky (1984) defende que a aprendizagem deve ser significativa e partir dos
conhecimentos prévios do sujeito, entendendo que cada aluno traz consigo um repertório
de experiências sociais que influenciam seu desenvolvimento. O aluno deve ser o
protagonista de sua aprendizagem, participando ativamente das atividades e construindo
seus próprios conhecimentos. A mediação do docente deve considerar o contexto no qual
o aluno está inserido, respeitando suas formas de expressão e manifestação do
conhecimento.
Quando falamos da formação docente na Amazônia, os desafios se tornam ainda
mais evidentes. A vasta extensão territorial, a diversidade cultural e socioambiental, o
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acesso limitado a recursos e infraestrutura, e as demandas específicas das comunidades
locais exigem abordagens inovadoras e contextualizadas. A Região Norte do Brasil abriga
uma rica diversidade de povos indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas, cada
qual com suas línguas, culturas e modos de vida. A formação docente precisa ser sensível
a essa diversidade, preparando os professores para o diálogo intercultural e o respeito às
diferenças.
Além disso, a complexidade dos ecossistemas amazônicos exige a incorporação
de conhecimentos sobre biodiversidade e sustentabilidade na formação dos professores,
promovendo uma educação que vá além da simples transmissão de conteúdo. Para que o
docente consiga mediar esse diálogo cultural e prover um espaço de libertação para a
manifestação dos sujeitos, sua formação precisa ser ajustada às realidades regionais e
culturais em que atuará. Isso implica preparar os professores para lidar com a dualidade
entre conteúdos universais e as singularidades de cada aluno.
Desse modo, a formação docente deve capacitar os educadores para
compreenderem que, embora determinados assuntos possam ser unânimes, cada sujeito
é único. O desafio é criar práticas pedagógicas que proporcionem o desenvolvimento pleno
do ser, considerando os aspectos psicoeducacionais que influenciam o processo de
ensino-aprendizagem. O currículo precisa ser flexível e adaptável, capaz de dialogar com
as diferentes realidades culturais do país e de promover uma educação emancipadora e
crítica, que valorize os saberes locais e respeite a diversidade dos alunos.Por fim, é
crucial reconhecer que a educação deve ser uma prática social transformadora, capaz
de promover o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões. Isso requer a
adoção de currículos que considerem a pluralidade de ideias e culturas, e a formação de
professores preparados para mediar o diálogo entre o conhecimento universal e as
realidades locais. Ao fazer isso, estaremos contribuindo para a construção de uma
sociedade mais justa, equitativa e inclusiva.
CONCLUSÕES
A educação, analisada sob a perspectiva da Psicologia da Libertação e da análise
decolonial, emerge como um instrumento poderoso para a transformação social e a
emancipação humana. Ao contrário da psicologia tradicional, que muitas vezes
desconsidera os contextos históricos e sociais dos indivíduos e acaba perpetuando
desigualdades, essas abordagens críticas nos mostram que a verdadeira mudança requer
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uma educação que vá além da transmissão de conteúdos e se conecte profundamente às
realidades vividas pelos educandos. Tanto Martín-Baró quanto Paulo Freire nos lembram
que a transformação social é alcançada por meio de uma educação crítica, dialógica e
comprometida com as condições culturais e sociais dos estudantes.
Nesse contexto, a formação docente precisa ser reestruturada para capacitar os
educadores a atuarem como agentes de mudança social. Mais do que ensinar conteúdos,
os professores devem ser preparados para promover o pensamento crítico e a autonomia
intelectual de seus alunos, reconhecendo e valorizando a diversidade de vozes que
compõem o tecido social brasileiro. Para tanto, o processo de formação docente deve ser
pautado por algumas diretrizes fundamentais.
Sugestões para o Processo de Formação Docente:
Currículo Crítico e Contextualizado: O currículo da formação docente deve
incluir disciplinas que abordem a diversidade cultural, étnica e regional do Brasil, além de
incorporar teorias críticas como a Psicologia da Libertação e a análise decolonial. Isso
permitirá que os futuros professores compreendam as realidades locais e estejam
preparados para mediar diálogos interculturais em sala de aula, promovendo uma
educação alinhada às necessidades dos estudantes.
Educação Dialógica e Emancipatória: Inspirada nos princípios de Paulo Freire,
a formação docente deve ser baseada no diálogo constante entre educadores e
educandos. Os professores em formação precisam ser incentivados a adotar práticas
pedagógicas que valorizem a participação ativa dos alunos, promovendo o protagonismo
estudantil e a construção coletiva do conhecimento. Dessa forma, a educação se torna um
processo de conscientização e emancipação.
Capacitação Contínua: Além da formação inicial, é essencial que os professores
tenham acesso a programas contínuos de capacitação que lhes permitam refletir
criticamente sobre suas práticas pedagógicas. Essa formação continuada deve incluir a
incorporação de novas metodologias e abordagens que respondam às demandas
emergentes das comunidades escolares, garantindo que os educadores estejam sempre
atualizados e prontos para enfrentar os desafios contemporâneos da educação.
Enfoque na Realidade Regional: Em regiões como a Amazônia, a formação
docente deve considerar as especificidades locais, incluindo a diversidade socioambiental,
os modos de vida das comunidades indígenas e ribeirinhas, e as questões de
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sustentabilidade. Os professores devem ser preparados para atuar em contextos de
vulnerabilidade social, adaptando suas práticas pedagógicas às realidades de cada
comunidade. Isso é essencial para que a educação promova o desenvolvimento
sustentável e o respeito à diversidade cultural.
Integração entre Teoria e Prática: A formação docente deve garantir que os
professores em formação tenham oportunidades significativas de aplicar os
conhecimentos teóricos em situações práticas. Estágios supervisionados em escolas de
diferentes regiões e realidades são fundamentais para que os educadores possam integrar
teoria e prática de maneira eficaz, desenvolvendo competências que lhes permitam atuar
de forma crítica e contextualizada.
Ao adotar essas diretrizes, a formação docente poderá transformar-se em um
processo verdadeiramente emancipador, capaz de promover a justiça social e o
desenvolvimento pleno dos indivíduos. A educação, aliada a uma psicologia comprometida
com a libertação e a equidade, pode contribuir para uma sociedade justa.
REFERÊNCIAS
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
RELATOS SOBRE OS IMPACTOS DE UMA MUDANÇA FORÇADA
PEDAGOGICAL PRACTICE WITHIN THE HEURISTIC FRAMEWORK OF PIBID
INITIATIVES: REFLECTIONS ON THE IMPACTS OF AN ENFORCED
TRANSFORMATION
LA PRÁCTICA PEDAGÓGICA EN EL MARCO HEURÍSTICO DE LAS INICIATIVAS
DEL PIBID: REFLEXIONES SOBRE LOS IMPACTOS DE UNA
TRANSFORMACIÓN FORZADA
Ismael Araújo Monteiro
1
Leila Raquel Costa Carvalho
2
Francisco Alberto Moraes Viana Júnior
3
Rayane Rocha Rodrigues
4
Resumo
Este artigo é fruto das experiências adquiridas durante as atividades de supervisão docente do
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência PIBID do curso de Linguagens e
Códigos/Língua Portuguesa. Tem-se por objetivo relatar as experiências vivenciadas durante a
realização das ações do programa no ano de 2021, ainda sob os impactos da pandemia da Covid-19.
Para tanto, conta-se com uma revisão bibliográfica na perspectiva dos conceitos de ação pedagógica,
sequência didática e conteúdos procedimentais, acompanhados dos registros de diário de bordo
realizados durante as atividades de supervisão docente. Salienta-se ao final das exposições que as
implicações impressas nas experiências dos bolsistas, no contexto de um ensino marcado por
1
Graduado no Curso de Linguagens e Códigos / Língua Portuguesa (2015) pela Universidade Federal
do Maranhão - UFMA. Especialista em Ensino de Literatura e outras Linguagens (2018), pela
Universidade Estadual do Piauí - UESPI.
2
Licenciada em Letras Português pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Especialista em
Educação Especial e Libras pela Faculdade Entre Rios do Piauí FAERPI.
3
Graduado em Linguagens e Códigos - Música - Licenciatura pela Universidade Federal do Maranhão
- UFMA, possui Pós-Graduação Lato Sensu em Metodologias
Inovadoras Aplicadas à Educação.
4
Graduada em Linguagens e Códigos pela Universidade Federal do Maranhão -UFMA. Tem
experiência na área de Linguagens e Códigos, como pesquisador/bolsista do Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência PIBI.
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
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profundas alterações na rotina escolar decorrentes das medidas de contenção da pandemia, foram
caracterizadas por um processo de construção do conhecimento no qual os bolsistas não eram os
únicos estranhos a uma realidade a ser desvendada à luz da pesquisa e da investigação. Mas todos:
bolsistas e professores eram igualmente estranhos ao mesmo contexto de incertezas e descobertas.
Palavras-chave: PIBID. Pesquisa. Ensino. Aprendizagem. Experiência.
Abstract
This article results from the experiences gained during the teaching supervision activities of the
Institutional Scholarship Program for Teaching Initiation (PIBID) in the Language and Codes/Portuguese
Language course. The objective is to report the experiences lived during the implementation of the
program’s actions in 2021, still under the impacts of the COVID-19 pandemic. To this end, a
bibliographic review was carried out based on the concepts of pedagogical action, didactic sequence,
and procedural content, accompanied by field diary records produced throughout the teaching
supervision activities. At the end of the discussion, it is emphasized that the implications observed in
the scholarship holders’ experiences—within a teaching context profoundly affected by changes in
school routines due to pandemic containment measureswere characterized by a process of
knowledge construction in which the participants were not the only ones unfamiliar with a reality to be
unveiled through research and inquiry. Rather, allscholarship holders and teachers alikewere
equally unfamiliar with the same context of uncertainty and discovery.
Keywords: PIBID; Research; Teaching; Learning; Experience.
Resumen
Este artículo es el resultado de las experiencias adquiridas durante las actividades de supervisión
docente del Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia (PIBID) del curso de Lenguajes
y Códigos/Lengua Portuguesa. El objetivo es relatar las experiencias vividas durante la realización de
las acciones del programa en el año 2021, aún bajo los impactos de la pandemia de la COVID-19. Para
ello, se llevó a cabo una revisión bibliográfica desde la perspectiva de los conceptos de acción
pedagógica, secuencia didáctica y contenidos procedimentales, acompañada de los registros de diario
de campo realizados durante las actividades de supervisión docente. Al finalizar el análisis, se destaca
que las implicaciones reflejadas en las experiencias de los becarios en un contexto de enseñanza
marcado por profundas alteraciones en la rutina escolar derivadas de las medidas de contención de la
pandemia se caracterizaron por un proceso de construcción del conocimiento en el cual los becarios
no eran los únicos ajenos a una realidad por desvelar a la luz de la investigación y la indagación, sino
que todos becarios y docentes eran igualmente extraños al mismo contexto de incertidumbres y
descubrimientos.
Palabras clave: PIBID; Investigación; Enseñanza; Aprendizaje; Experiencia.
Introdução
No presente artigo objetiva-se o relato das experiências vivenciadas durante a
realização das ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
PIBID de Linguagens e Códigos/Língua Portuguesa no ano de 2021, sob a perspectiva
da supervisão docente. A partir do ponto de vista de quem representava a instituição
preceptora durante as ações do programa, salienta-se a perspectiva que acompanhou
graduandos de um curso de licenciatura em atividades de pesquisa inseridos em uma
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
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realidade educacional marcada pelos desafios de um período pandêmico. Período
este assinalado pelas restrições impostas à prática convencional de ensino escolar,
ocasionando em alterações significativas na ação pedagógica dos professores
(Gauthier, 1998).
As ações do PIBID de Linguagens e Códigos/Língua Portuguesa foram
norteadas pelo subprojeto intitulado Diálogos Interdisciplinares, Interação e
Criatividade: desafios para formação inicial de professores de Língua Portuguesa, cujo
objetivo foi contribuir para a formação do professor que se preocupa com o
desenvolvimento cognitivo e afetivo-emocional de seus alunos; e que não se coloca
sempre atrás dos saberes produzidos por especialistas, como um mero executor,
mas que assume o lugar de produtor de saberes, de estudioso dos fenômenos da
linguagem.
Sob a égide deste objetivo, como supervisor docente, buscou-se mediar o
contato dos bolsistas com a realidade do ensino escolar, e especificamente no que se
refere à realidade das práticas de ensino de Língua Portuguesa na escola campo.
A escola Instituto Educacional nego Nestor de Carvalho Cunha (IECNCC),
foi o lócus dos atos executados a partir das ações do subprojeto acima citado. A
referida escola localizada no Centro da cidade de o Bernardo/MA ofertava
educação do Ensino Fundamental nas séries finais. A instituição apresentava como
último Ideb
5
para a modalidade, na época de execução das propostas do subprojeto,
a nota de 3,3 em 2019.
A referida escola, pelo menos numa dimensão administrativa e pedagógica,
recebeu os alunos bolsistas para o desenvolvimento das ações do PIBID de
Linguagens e Códigos/Língua Portuguesa. Na dimensão física e estrutural, as ações
dos bolsistas tiveram como local de observação outro prédio, com outra localização e
estrutura. A equipe pedagógica e alunos foram transferidos para esta nova escola
construída para substituir o IECNCC: a Escola Municipal Professora Célia Cristina
Pereira dos Reis. No entanto, por ocasião das medidas de isolamento para conter o
avanço da pandemia da Covid-19, as diferenças físicas e estruturais tiveram
importância mínima, como se perceberá a seguir.
5
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
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Este foi o cenário das experiências a serem relatadas, nas quais se enfatiza
reflexões consideradas para fins de discussões sobre os desafios de supervisionar
alunos de graduação no âmbito de atuação docente, ao longo de um processo de
ensino completamente novo. Processo este em cujo contexto não seria um desafio
apenas para eles, aspirantes à docência. Aqueles tão habituados a porem em
prática seus saberes docentes (Tardif, 2002) no contexto convencional de ensino
também tiveram que redescobrir e rediscutir suas práticas.
Referencial teórico: a ação pedagógica: o saber experiencial testado
A ação pedagógica é definida por Gauthier (1998, p. 33) como um dos saberes
mobilizados pelo professor, referente à situação concreta de ensino. Para o estudioso,
a ação pedagógica “é o saber experiencial dos professores a partir do momento em
que se torna pública e que é testado através das pesquisas realizadas em salas de
aula”.
A ação pedagógica reflete os resultados de pesquisas que evidenciam a prática
profissional realizada pelo docente em situação de ensino. Parte-se da noção de que
os aspectos relacionados à sua experiência de gestão de sala de aula possam ser
analisados na tentativa de compreender quais estratégias, instrumentos ou
ferramentas estão contribuindo para possíveis êxitos no alcance dos objetivos de
ensino (Gauthier, 1998).
O saber do professor é, em grande parcela, muito particular e não é submetido
a nenhuma comprovação sistemática, como ocorre em outros meios profissionais.
Para Gauthier (1998) a ação do ensino em sala de aula ainda se encontra naquele
ponto no qual “cada professor, sozinho em seu próprio universo, elabora uma espécie
de jurisprudência particular, feita de mil e um truques que ‘funcionam’ ou que ele acha
que funcionam” (Gauthier, 1998, p. 34).
Nesse aspecto, ao defender uma profissionalização da prática docente a partir
da noção de que no âmbito de atuação do professor é mobilizada uma série de
saberes específicos, os resultados de pesquisas sobre a ação pedagógica “poderiam
contribuir enormemente para o aperfeiçoamento da prática docente” (Gauthier,1998,
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p. 34). As contribuições de Gauthier apontam para a defesa de se ampliar a noção do
conhecimento; do desenvolvimento desses saberes específicos inerentes à prática
profissional de ensinar, construídos em situação de efetivo trabalho docente.
Com fundamento a este posicionamento, Tardif (2000, p. 18) resume que os
trabalhos realizados com base nessa perspectiva revelam que “os saberes docentes
são temporais, plurais e heterogêneos, personalizados e situados”. Tais saberes
carregam, ainda, consigo as marcas do seu objeto: o ser humano.
Os conhecimentos teóricos elaborados a partir da pesquisa em ciências da
educação, cujo foco particularize os conhecimentos do campo da pedagogia e da
didática, ministradas nos cursos de formação para o ensino, não concedem ou
concedem pouquíssima legitimidade aos saberes dos professores, saberes criados e
mobilizados por meio de seu trabalho” (Tardif, 2000, p. 18).
A prática profissional do ensino é permeada por conhecimentos específicos
pautados na execução empírica, capaz de partir ou não de princípios teóricos. Muito
do que de fato se efetiva em sala de aula como ação de ensinar parte primordialmente
de crenças, princípios e valores de profissionais docentes marcados por seu caráter
de indivíduos temporais, que carregam uma história de vida particular, e por serem
plurais e heterogêneos. A dimensão do saber humano se constitui na relação que se
estabelece com outros saberes adquiridos por meio de sua cultura, sociedade ou
oriundos de sua formação acadêmica.
Depreende-se disso a importância da pesquisa no interior da formação como
um instrumento capaz de dar subsídios teóricos aos pesquisadores/docentes para a
construção de suportes reflexivos sobre a prática de ensino. Crê-se, portanto, na
relevância de que os professores acessarem teorias que contribuam com suas
práticas é possibilitar que acessem uma das condições para uma atuação profissional:
o aperfeiçoamento da atuação pedagógica; que se solidifica na relação com a teoria.
Esta, na medida em que já testada e comprovada cientificamente, garante respaldo e
bases para uma atuação profissional mais consciente (Vituriano, 2021).
Vituriano (2021, p. 730) aponta ainda que: “esclarecer em alguma medida os
saberes/conhecimentos sobre a criança, aprendizagem e desenvolvimento e, sobre a
linguagem escrita é uma parte importante daquilo que um professor precisa
compreender para uma prática consciente”. As preocupações com o ensino de língua
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
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portuguesa, em particular, têm despertado o interesse por novos métodos de ensino
que possam estar contribuindo para o alcance de resultados mais satisfatórios. Para
tanto, a pesquisa sobre a prática e sobre o habitus cotidiano no contexto didático é
essencial para uma clara compreensão dos impactos dos saberes docentes na
aprendizagem dos alunos.
A esse respeito Cardoso, Del Pino e Dorneles (2012, p. 03) ao discutirem sobre
as contribuições dos estudos de Maurice Tardif e Clermont Gauthier a respeito dos
saberes profissionais dos professores afirmam que na prática cotidiana do ensino “os
professores vivem situações concretas a partir das quais se faz necessário habilidade,
capacidade de interpretação e improvisação, assim como segurança para decidir qual
a melhor estratégia”.
Para os autores, cada situação manifestada no exercício docente nunca é
necessariamente igual à outra. Mesmo que guardem entre si certas proximidades.
Estas “permitem ao professor, então, transformar algumas das suas estratégias de
sucesso em alternativas prévias para a solução de episódios semelhantes, no sentido
de desenvolver um habitus específico a sua profissão” (Cardoso, Del Pino e Dorneles,
2012, p. 03).
Diante da necessidade de se contemplar e promover a aprendizagem
significativa em sala de aula, a experiência docente é o que solidifica o habitus da
profissão: um fator essencial na didática. A experiência é um receptáculo da
capacidade de interpretação e improvisação, do professor, que age com segurança
para decidir qual a melhor estratégia diante dos eventos apresentados diariamente.
A experiência, quando associada à formação profissional consistente e
embasada na pesquisa, reveste o profissional docente da disposição de não se render
aos caprichos de realidades educacionais que podem limitar o potencial de
planejamento, criação e inovação dedicado às aulas.
A associação entre experiência, formação e pesquisa é, portanto, a tríade de
um processo de ação reflexiva sobre a prática de sala de aula, sobre metodologias de
ensino, sobre a leitura e escrita. Essa tríade configura um processo de
aperfeiçoamento constante da prática docente a partir de uma postura crítica que o
limita a realidade educativa por meio de uma leitura superficial e generalizada.
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A AÇÃO PEDAGÓGICA NO CONTEXTO HEURÍSTICO DAS AÇÕES DO PIBID:
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Metodologia
Dedicam-se agora algumas considerações sobre um suporte pedagógico
fundamental na ação de planejar atividades de ensino em sala de aula. A elaboração
desse suporte é capaz de resumir em si os impactos da tríade experiência, formação
e pesquisa; elementos fundamentais para uma prática reflexiva: a sequência didática
(SD).
A ênfase aqui é dedicada a SDs que se organizam em torno de categorias de
conteúdos mais abrangentes: tais categorias o se limitam ao saber, no sentido de
conteúdos apenas conceituais. Os objetivos de ensino previstos devem contemplar
uma formação mais integral do estudante, baseada em conteúdos procedimentais,
atitudinais, factuais (Zabala, 1989).
A sequência didática e os tipos de conteúdo: repetição e descoberta
Zabala (1998) pontua que de certa forma, todas as abordagens didáticas,
sempre poderão estar relacionadas, de algum modo, a um processo de ensino que
visa à apresentação de conteúdos e aos objetivos; à exposição de situações exemplos
e aos modelos conceituais; à aplicação por parte dos alunos dos exemplos e aos
conceitos; aplicação, por parte dos professores, de atividades avaliativas etc. Por isso,
para o autor a necessidade de se buscar entender as SDs a partir de conceitos
que possam revelar o significado mais amplo de sua organização.
Zabala (1998, p. 18), portanto, salienta que ao se tratar de diversas variáveis
metodológicas presentes no processo de ensino aprendizagem, de modo geral, as SD
correspondem a : “sequências de atividades estruturadas para a realização de certos
objetivos educacionais determinados”. Suas reflexões o baseadas na análise de
diferentes formas de intervenção educacional, de acordo com as atividades propostas
pelos professores, para uma abordagem que contemple objetivos educacionais.
Para o autor, ao se delimitar o que se pretende abordar em uma aula como
conteúdo didático, deve-se levar em conta uma concepção de educação que possa
abranger a condição de cidadãos a ser assimilada pelos alunos. Tal concepção pode
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despertar ou pelo menos o professor pode contribuir para tal fim uma consciência
frente às características da sociedade em que vivem ou irão viver.
As considerações de Zabala sobre modelos didáticos apontam para uma
ênfase em sequências didáticas que se organizam em torno de categorias de
conteúdos mais abrangentes. Estas não se limitam ao saber, no sentido apenas
conceitual, mas que os objetivos de ensino contemplem uma formação mais integral,
baseada em conteúdos procedimentais, atitudinais, factuais.
Com isso, os conteúdos conceituais são concebidos como referentes a um
conjunto de fatos, objetivos ou símbolos que possuam características comuns, e que
devem ser internalizados pelos alunos, de modo que estes possam situar tais
conteúdos e visualizá-los em situações concretas.
Os conteúdos atitudinais são aqueles que englobam uma rie de conteúdos
que podem ser agrupados em valores, atitudes e normas. Os valores referem-se a
premissas ou ideias éticas pelas quais se é permitido emitir juízos sobre condutas. As
atitudes são tendências ou predisposições relativamente estáveis que fazem com que
as pessoas atuem de determinadas maneiras. As normas são padrões ou regras que
constituem a forma pactuada de realizar certos valores compartilhados.
Os conteúdos procedimentais referem-se a um conjunto de ações ordenadas
e dirigidas para a realização de um objetivo. São conteúdos baseados em ações ou
conjunto de ações distintas, capazes de fazer com que a aprendizagem tenha
características bem específicas. Uma SD deve abranger as dimensões do saber, do
fazer e do ser dos alunos (Zabala, 1998).
Os conteúdos procedimentais, apesar de terem como denominador comum o
fato de serem ações ou conjunto de ações, são suficientemente diferentes para que a
aprendizagem de cada um deles tenha características bem específicas. Considera-se
sua classificação em três diferentes eixos. O primeiro, o eixo motor/cognitivo, refere-
se a ações que podem variar de um polo mais prático a um polo mais abstrato. O
segundo, o eixo poucas-ações/muitas-ações refere-se a polos que se alternam entre
um conjunto de atividades mínimas e limitadas a um conjunto mais amplo e variado
de atividades. O terceiro eixo é o continuum algorítmico/heurístico: mais próximo do
extremo algorítmico encontram-se os conteúdos cuja ordem das ações é sempre a
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mesma; sustentado por meio da repetição de ações habituais e inerentes a uma rotina
de ensino.
No extremo oposto deste eixo, no polo heurístico, organizam-se os conteúdos
procedimentais, cujas ações a serem realizadas e a maneira de organizá-las
dependem em cada caso das características da situação em que se deve aplicá-los.
No polo heurístico reside o plano das descobertas, da investigação, ou da
aprendizagem por meio da pesquisa (Macedo; Sá, 2018).
No entanto, o terceiro eixo dos conteúdos procedimentais, quanto se trata de
repetição, esta não se resume à reprodução mecânica pura e simples de ações. Não
se trata de uma rotina esvaziada de sentido ou de propósito educativo. Mas sim, de
uma rotina que caracteriza o próprio contexto de ensino: ou o habitus
pedagógico/docente, como especificado anteriormente. Este contexto de relativas
regularidades atribui sentido aos métodos de ensino, e contribui significativamente
para o processo de adaptação das crianças e jovens da Educação Básica ao contexto
escolar (Vieira; Cardoso, 2018).
Quando vista dessa forma, a rotina passa a ser um ponto de partida da
investigação: com vistas a explorar a dimensão heurística da prática de ensino. O que
se defende aqui, portanto, é que o olhar investigativo quando lançado sobre as
regularidades de ações sistematizadas pode levar a descobertas. E estas quando
analisadas sob o viés da teoria tendem ao desenvolvimento de estratégias de ensino
significativo: a reflexão sobre a própria atuação docente permite que se tome
consciência dessa atuação. Como também se sabe que não basta repetir um exercício
sem propósito algum, “para poder melhorá-lo devemos ser capazes de refletir sobre a
maneira de realizá-lo e sobre quais são as condições ideias de seu uso” (Zabala, 1998,
p. 20).
Assim, mesmo com a ressalva de que não se devem priorizar modelos
específicos de abordagens metodológicas, Zabala (1998) explica que seu estudo
parte do interesse de descobrir se a sequência didática proposta serve para alcançar
os objetivos previstos. A questão sobre ter a devida noção se a SD promove de fato
a aprendizagem. Diante disso, surge a necessidade de se questionar até que ponto
todas as SDs são úteis para se chegar àquilo que se pretende em termos de ensino.
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Sobre este exercício reflexivo, que pode exigir uma atitude auto avaliativa, o
autor defende que “[...] ter um conhecimento rigoroso de nossa tarefa implica saber
identificar os fatores que incidem no crescimento dos alunos” (Zabala, 1998, p. 29). O
passo seguinte consistirá em aceitar ou não o papel que se pode assumir neste
crescimento e avaliar se a intervenção docente é coerente com a noção maior da
função social da escola e de sua concepção de formação.
Entende-se, pois, que a tarefa de ensinar é um processo que não se limita à
simples transmissão de informações. Assume-se que o papel do professor enquanto
sujeito comprometido com o crescimento dos alunos é avaliar sua intervenção de
modo que esta esteja coerente com a ideia que se tem da função social da escola. Ao
passo que esta deve ser vista como um espaço atrelado ao projeto educacional amplo,
e coexista com o compromisso em formar sujeitos críticos e atuantes a partir de uma
dimensão integral.
Para isso, os conteúdos precisam ser revestidos de uma abordagem que
ultrapasse os limites do conhecer e atinja as dimensões do ser, do fazer, e do sentir
(Trentin e Silveira, 2018).
Assim sendo, deve-se fazer uso tanto de conteúdos conceituais como
atitudinais e procedimentais, sendo possível se desprender da perspectiva restrita do
termo conteúdo e entendê-lo como tudo quanto se tem que aprender para alcançar
determinados objetivos que não apenas abrangem as capacidades cognitivas
(Zabala, 1998).
Estudo e ambientação: os impactos da pandemia e a configuração do novo cenário
A partir de março de 2020 as aulas presenciais no original prédio do IECNCC
foram suspensas por meio de decretos municipais que regulamentaram inicialmente
a antecipação das férias letivas. Estabeleceu-se um período de incertezas,
intensificado pela sucessão de decretos que prorrogaram a retomada dos trabalhos
escolares, até ao ponto de se suspender completamente o retorno à escola naquele
ano.
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As aulas que foram suspensas após a antecipação das férias letivas, e
consequentemente, pela suspensão das aulas em todo o município, tiveram de ser
repostas posteriormente. Com isso, deu-se, assim, início à necessidade de se
trabalhar de forma remota, sendo este o modelo de trabalho pedagógico a ser adotado
a partir de então.
As medidas da gestão escolar para a reposição das aulas aos alunos, e o
cumprimento dos 800 dias letivos do ano, levaram em consideração a exploração de
métodos alternativos. Dentre as medidas exploradas para a reposição das aulas teve-
se como principais as seguintes: os conteúdos curriculares passaram a ser
organizados e trabalhados em Cadernos de Atividade a serem elaborados pelos
professores, e entregues aos alunos, que teriam um prazo para devolver o material
devidamente respondido; organização de plantões pedagógicos a partir da criação de
grupos de WhatsApp com os alunos da escola.
Os referidos grupos foram criados considerando as séries e turmas dos alunos,
ao passo que este passou a ser o meio básico pelo qual os professores realizaram o
acompanhamento de seus alunos. Este acompanhamento, denominado doravante
plantão pedagógico, realizado pelos professores foi organizado considerando o
horário de aula de cada disciplina: ou seja, neste novo modelo cada professor em seu
horário de aula abriria o grupo correspondente à turma de alunos para disponibilizar
suas orientações com respeito aos conteúdos dos cadernos de atividades que
estariam sob a posse dos estudantes.
A partir destas medidas cada professor poderia estabelecer seus métodos de
acompanhamento, buscando outras estratégias que melhor lhes auxiliassem nas
atividades remotas, almejando reduzir ao máximo os impactos que o distanciamento
e o isolamento social exigiam para a contenção da pandemia.
Diante deste quadro, percebeu-se que os aspectos estruturais, físicos ou de
localização da escola não seriam fatores tão significativos para se considerar a
princípio durante as reflexões e discussões acerca dos impactos que tais fatores
teriam na aprendizagem dos educandos. Neste novo contexto, a própria definição do
que seria uma escola, sob a ótica dos PNCs, como sendo um espaço de interação
social onde práticas sociais de linguagem se circunstanciam; assumindo
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características bastante específicas em função de sua finalidade: o ensino” (Brasil,
1998, p. 22), deveria ser ressignificada ou ganhar uma nova abrangência.
A escola no contexto exposto acima passou a ser, ou deveria ser, a própria
casa dos alunos. Desde que estes dispusessem do aparato técnico e tecnológico
necessário para este fim. Porém, o aluno dispondo ou não, de qualquer meio que lhe
garantisse um mínimo de contato com o ensino de seus professores, deveria ser
tomado como um aluno em potencial. Alunos da zona rural, cujo acesso à internet era
quase nulo; alunos da zona urbana que contavam com internet apenas por meio de
dados de telefonia móvel; alunos que sequer possuíam aparelho celular, ou se havia
algum celular em sua residência este era compartilhado com outro membro da família.
Mesmo assim, em seus lares eram alunos, que em sua maioria, o único contato
que tinham com os esforços dos professores em transmitir os conteúdos escolares
era apenas o já mencionado caderno de atividades.
Quando das atividades do PIBID de Linguagens e Códigos/Língua Portuguesa
em 2021, foi com esta realidade que os bolsistas foram recepcionados. Realidade que
para muitos professores ainda era um mistério: repleto de dúvidas e angústias, ainda
mais intensas do que as tão discutidas sobre a realidade do ensino escolar. E foi
sobre esta mesma realidade que se estabeleceram os trabalhos, partindo do
planejamento cuidadoso e gradual que possibilitasse estabelecer o contato mais
significativo possível dos bolsistas com os alunos neste novo contexto.
Resultados e discussão: planejamento e regência: como intervir na nova “sala
de aula”
As ações de planejamento iniciaram em fevereiro de 2021 a partir da
socialização da realidade do ensino no contexto pandêmico ao longo do ano anterior,
considerando assim, todos os aspectos mencionados acima, bem como suas
implicações.
Aos bolsistas foi apresentado o histórico das medidas de contenção da
pandemia do novo Coronavírus; adotadas pela política municipal e consequentemente
pelas escolas. Dessa forma, os bolsistas tiveram contato com os decretos municipais
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que ocasionaram na suspensão das aulas letivas, bem como com as estratégias
metodológicas que a direção da escola adotou para organizar e garantir o trabalho
docente por meio dos plantões pedagógicos.
Em seguida, foi compartilhado com os bolsistas todo o material correspondente
ao planejamento da disciplina, juntamente com a indicação do segmento de alunos
que estaria sob a responsabilidade do supervisor docente: os alunos do 8º ano. Com
isso, foi compartilhado ainda os planos anual e bimestral, cópias dos cadernos de
atividades, horários de aula, calendário letivo e demais recursos materiais solicitados.
Com aos bolsistas, sempre que conveniente, era repassadas as indicações das
reuniões pedagógicas da escola, realizada em plataforma de videoconferência. Com
isso os bolsistas poderiam participar na íntegra do que era discutido entre gestores e
professores da escola.
Durante este processo de planejamento, foi estabelecido com os alunos
bolsistas momentos de reflexões que apontaram para a necessidade de se repensar
ações mais amplas e efetivas que focassem logo de imediato na formação e preparo
do professor e definição do que se almejava com a educação até aquele momento.
Com isso, passaria a ser fundamental estabelecer a redefinição de prioridades,
o reconhecimento da importância da função do poder público, fortalecimento de
medidas que assegurassem a permanência na escola, revisão dos critérios de seleção
e dosagem dos conteúdos curriculares. Tal como enfatizado por Santos (2020),
quando do contato inicial que este teve com as incertezas instauradas no contexto
pandêmico de 2020. Ocasião na qual o supracitado pesquisador refletia sobre a
educação escolar no contexto de pandemia, contrapondo um discurso apressado
sobre revolução na educação pós-crise da Covid-19.
Desse modo, foi discutido com os alunos bolsistas sobre quais possibilidades
estariam ao alcance, para garantir uma sua imersão em tal realidade: quais seriam as
prioridades naquele momento? Como dar o primeiro passo? Que contribuições seriam
possíveis?
Considerar os recursos técnico e tecnológicos que estavam sendo
explorados, a exemplo das redes sociais, exploradas pelos professores do IECNCC
por meio dos grupos do WhatsApp durante os plantões pedagógicos para em seguida,
implementar outras estratégias, parecia ser o caminho mais sensato a priori. A ideia
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seria potencializar/enriquecer os métodos vigentes, sem perder de vista a noção de
que o saber experiencial dos bolsistas seria testado em uma nova configuração de
ensino.
Com este ponto de partida, importante para que os alunos bolsistas pudessem
compreender melhor as principais implicações decorrentes daquele contexto, as
demais reuniões de planejamento se seguiram. Tais reuniões obedeciam a uma
agenda de encontros semanais com constantes atualizações sobre como se daria o
início do ano letivo, no contexto de 2021, bem como sobre quais as melhores
estratégias adotar a partir de então.
Com isso ficou combinado a princípio, que um primeiro contato entre alunos e
bolsistas poderia ocorrer a partir da produção de um vídeo de apresentação. Neste,
cada bolsista se revelaria para os alunos da escola, expondo suas expectativas de
trabalho com aquele público.
Em seguida, os bolsistas deveriam ser inseridos nos grupos dos plantões
pedagógicos para acompanhamento e observações, como convém à dinâmica
necessária da pesquisa no contexto escolar (André, 2012).
À medida que os alunos bolsistas iam tendo contato com as atividades durante
os plantões pedagógicos, foi sendo sustentado como proposta aventada nas reuniões
de planejamento, a possibilidade de os bolsistas criarem um grupo de plantão
pedagógico paralelo. Neste, as atividades seriam desenvolvidas no contraturno do
horário escolar.
Para este planejamento o grupo de bolsistas foi dividido em equipes, de modo
que cada uma contemplasse um eixo dos conteúdos trabalhados pelo supervisor
docente em Língua Portuguesa, sendo os eixos de leitura e análise linguística e
semiótica (BRASIL, 2020). Para tanto, as atividades de planejamento revestiam-se da
discutida noção de sequência didática e das dimensões do saber, do ser, do fazer
e do sentir que esta deveria abranger no trato das atividades a serem executadas.
Desafios, contribuições e aprendizagens: as respostas ao planejamento
Diante de todo o contexto exposto e com as estratégias iniciais definidas, o
andamento das ações do subprojeto PIBID de Linguagens e Código/Língua
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Portuguesa foi se estabelecendo de forma gradual. Ao ponto de, no decorrer das aulas
letivas no ano de 2021, e logo após a apresentação dos bolsistas a partir da proposta
do vídeo de divulgação das ações, os graduandos foram inseridos nos referidos
grupos de plantões pedagógicos da escola.
A partir desse momento, os bolsistas foram vivenciando na prática tudo aquilo
que se convencionou como plantão pedagógico ou de ensino, com todos os desafios
inerentes à nova proposta de ensino. De forma paralela, tal como definido em
planejamento semanal, os bolsistas organizados em equipes divididas por eixo de
conteúdos, desenvolveram as atividades no grupo de WhatsApp do PIBID de Língua
Portuguesa. Os alunos do ano das suas respectivas turmas A e B receberam a
indicação do supervisor docente para participarem deste grupo, e,
consequentemente, das aulas extras sobre os conteúdos trabalhados nos plantões de
ensino no turno convencional.
A indicação dada aos alunos do 8º ano era acompanhada da orientação sobre
a necessidade dos estudantes receberem explicações extras acerca dos conteúdos
trabalhados. Uma vez que os meios disponíveis e o pouco tempo definido para
realização dos plantões não davam garantias de aquisição dos conteúdos. Isso
porque a participação dos alunos nos grupos de WhatsApp durante os plantões o
era unânime o bastante. E dentre outras implicações, embora se buscasse priorizar
conteúdos mais essenciais e mais próximos da realidade dos alunos, percebeu-se a
insuficiência na aquisição das propostas de ensino, causadas pelas desigualdades
neste processo no tocante à falta do pleno acesso dos alunos aos meios de
conhecimentos transmitidos.
Fato este já verificado em pesquisas anteriores a respeito do ensino remoto, tal
como se observa em Cavalcanti (2020), ao constatar que o ensino remoto
potencializou ainda mais as desigualdades na aprendizagem, e não apenas devido à
dificuldade de acesso à internet, ou à falta de aparelho celular ou computador. Mas
também pela dificuldade na promoção de práticas de leituras mais consistentes,
pautadas na interpretação e compreensão e nas dificuldades dos alunos fazerem
sozinhos as atividades.
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Cientes de todas estas consequências decorrentes do ensino remoto, os
bolsistas deram início à proposta do plantão pedagógico do PIBID de Língua
Portuguesa no contraturno das aulas remotas das turmas do 8º ano.
Paralelo a esta proposta os bolsistas abriram uma conta no Instagram, sob a
justificativa de que os alunos estariam mais em contato com as redes sociais de modo
geral, por ficarem mais tempo em casa. E com isso, por meio das postagens de Reels
e de imagem com explicações dos conteúdos se alcançasse um melhor retorno na
aprendizagem dos estudantes.
No entanto, como também já observado por Cavalcanti (2020) em um contexto
de ensino por aulas remotas, os alunos do ano, bem como os demais da escola,
estavam vivenciando os altos e baixos em seu humor. Esta instabilidade no humor
estudantil implicou na demora ou ausência de devolutiva das atividades, e
momentâneas evasões das aulas nos grupos de WhatsApp. Estes grupos
ocasionalmente eram compartilhados por mais de dois estudantes de uma mesma
casa ou por parentes que se deslocavam para garantir as aulas através de um mesmo
aparelho de celular.
Tudo isso ocasionou na baixa participação dos alunos do com relação à
proposta empreendida pelos bolsistas, fazendo com que estes também se
entregassem a uma frustração mútua diante da falta do retorno esperado dos alunos.
Dessa forma, a necessidade de revisão das ações era constante e as reuniões
semanais eram cruciais para a discussão de novas estratégias e redefinição das
prioridades diante dos resultados que não correspondiam às expectativas dos
bolsistas. Porém, os resultados não se furtaram à regra da experiência decorrente da
ação pedagógica, ao passo que esta, uma vez testada e publicada (Gauthier, 1998)
aponta o caminho do sucesso profissional influenciado pela busca e alcance de
melhores resultados.
Considerações finais
Objetivou-se com este relato revelar as experiências vivenciadas durante a
realização das ações do PIBID de Linguagens e Códigos/Língua Portuguesa no ano
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de 2021, sob a perspectiva da supervisão docente. E para tanto, revisitou-se os
registros de um processo rico em experiências que irão ressoar nas mentes dos
envolvidos como uma marca indelével.
Abrigou-se sob a égide de um processo investigativo cujo foco foi contribuir
para a formação de um professor preocupado com o desenvolvimento integral
(cognitivo, procedimental, ético e afetivo-emocional) de seus alunos, e que não se
coloca apenas atrás dos saberes produzidos por especialistas, como um mero
executor. Antes, assume o lugar de produtor de saberes, de um investigador, de um
estudioso dos fenômenos da linguagem e do ensino, agindo de forma reflexiva ao
sustentar-se sobre a tríade experiência, formação e pesquisa.
No tocante ao contexto de experiências marcadas pelos impactos da pandemia
do novo Coronavírus foi indispensável momentos de reflexão, que apontassem para
a necessidade de se (re)pensar ações pedagógicas mais amplas e estratégicas; para
além das que se consideravam em situações convencionais na escola.
Para tais ações, portanto, teve-se que se considerar, ainda, as seguintes
implicações: a) o preparo e (re)valorização do professor; b) (re)definição do que se
almejava com o ensino escolar até aquele momento, inclusive no tocante à
(re)definição de prioridades e estratégias didáticas; c) o reconhecimento e a força do
poder público quanto às políticas educacionais no direcionamentos das ações da
escola; d) o fortalecimento de medidas que pudessem assegurar a continuidade dos
estudos dos alunos, e a revisão dos critérios de seleção e dosagem dos conteúdos
curriculares, e, e) os modos de sistematizar a transmissão dos conteúdos por meio
das sequências didáticas.
Salienta-se, pois, que as implicações impressas nas experiências dos bolsistas
foram decorrentes de um processo de construção heurístico, no qual eles não foram
os únicos estranhos a uma realidade a ser desvendada à luz da pesquisa e da
investigação. Mas todos: bolsistas e professores eram igualmente estranhos ao
mesmo contexto de incertezas e descobertas.
Os bolsistas, portanto, não passaram sozinhos por um processo de construção
de conhecimento como meros observadores estranhos a uma realidade a ser
desvendada. Bolsistas e professores eram estranhos a todo um cenário de incertezas
e angústias. E por mais frustrados que estivessem diante dos parcos resultados junto
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aos alunos, os bolsistas adquiriram para si não apenas experiência de quem deve
ensinar, mas, acima de tudo, de quem deve se reinventar no ensino constantemente.
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Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia
Disponível em:
https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA
HISTORY AND MEMORY: A STUDY ON IDEAS, THOUGHTS, PROJECTS AND
ACHIEVEMENTS OF PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, IN GUAJARÁ-MIRIM
(RO), ON THE BRAZIL/BOLIVIA BORDER
Izaela de Souza Santos
1
Jane Maria Cassimiro Gonçalves
2
Dorosnil Alves Moreira
3
Auxiliadora dos Santos Pinto
4
Resumo Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa sobre aspectos da
trajetória do Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira, destacando-se as ideias, pensamentos
e projetos realizados no período de 1983 a 2023, nos campos educacional, político e
sociocultural, no município de Guajará-Mirim/RO. A pesquisa insere-se no campo da
Educação, tendo como foco a História e a Memória, foi norteada pela seguinte
problematização: de que forma o Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira contribuiu para o
desenvolvimento educacional, político e sociocultural de Guajará-Mirim/RO, município
localizado na fronteira Brasil/Bolívia? O estudo desta temática justifica-se porque
ainda poucos registros sobre a implantação do Ensino Superior em Guajará-
Mirim/RO e é necessário registrar a história e a memória das personalidades históricas
do município de Guajará-Mirim (RO), para promover o reconhecimento e a valorização
1
Acadêmica do VIII período do curso de Pedagogia Docência, Supervisão escolar, Orientação
Educacional e Gestão Escolar, da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Campus Jorge
Vassilakis de Guajará-Mirim/RO.
2 Acadêmica do VIII período do curso de Pedagogia Docência, Supervisão escolar, Orientação
Educacional e Gestão Escolar, da Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Campus Jorge
Vassilakis de Guajará-Mirim/RO.
3
Dorosnil Alves Moreira, Doutor em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (2005); Mestre em Educação: História, Política, Sociedade, pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (2001). Professor Titular (DACE/UNIR).Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6783513041896863
4
Auxiliadora dos Santos Pinto, Doutora em Letras Literaturas de Língua Portuguesa
(IBILCE/UNESP/SJRP/2016), e Mestre em Linguística (UNIR/2005). Atua no Departamento Acadêmico
de Ciências da Linguagem (DACL/UNIR). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9380284076167461
ORCID.
0000-0002-6955-7849. E-mail: auxiliadorapinto@unir.br
103
HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA
Revista Culturas & Fronteiras - Volume. Nº - Dezembro/2024
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dessas personalidades. A pesquisa, do tipo bibliográfica e documental, com
abordagem qualitativa, com a utilização do método descritivo-analítico, foi
desenvolvida no período de março a junho/2025. A coleta e análise dos dados foi
fundamentada pelos estudos dos seguintes autores: Gil (2023) e Guerra (2014) e
pelos pressupostos teórico-metodológicos da História e da memória, tendo-se como
base os estudos de: Halbwachs (2003); Borges (2009); Nora (1993); Avelar (2010)
Silva (2009), Moreira (2007); Moreira (2021), dentre outros. Os resultados da pesquisa
evidenciaram que o Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira desempenhou importantes
funções no processo de implantação do Ensino superior e na organização política e
sociocultural do município de Guajará-Mirim (RO), na fronteira Brasil/Bolívia.
Palavras-chave: Ideias. Pensamentos. Realizações. Ensino Superior. Cultura local.
Abstract: This paper presents the results of a research on aspects of the career of
Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira, highlighting the ideas, thoughts and projects carried
out in the period from 1983 to 2023, in the educational, political and socio-cultural
fields, in the municipality of Guajará-Mirim/RO. The research is part of the field of
Education, focusing on History and Memory, and was guided by the following
problematization: how did Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira contribute to the
educational, political and socio-cultural development of Guajará-Mirim/RO, a
municipality located on the Brazil/Bolivia border? The study of this subject is justified
because there are still few records on the implementation of higher education in
Guajará-Mirim/RO and it is necessary to record the history and memory of the historical
personalities of the municipality of Guajará-Mirim (RO), in order to promote the
recognition and appreciation of these personalities.
The research, bibliographical and
documental, with a qualitative approach, and using the analytical descriptive method,
was carried out between March and June 2025. We used the following technical
procedures to collect and analyze the data: informal and formal conversations;
participant observation and open-ended narrative interviews, based on the
reconstruction of memory, with previously defined themes. Die Forschung basierte auf
den Studien der folgenden Autoren: Gil (2023) und Guerra (2014) und auf den
theoretisch-methodologischen Annahmen von Geschichte und Erinnerung, basierend
auf den Studien von: Halbwachs (2003); Borges (2009); Nora (1993); Avelar (2010)
Silva (2009), Moreira (2007); Moreira (2021), unter anderem. Die Ergebnisse der
Untersuchung zeigen, dass Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira eine wichtige Rolle bei
der Umsetzung der Hochschulbildung und der Entwicklung der Universität spielte.
politische und soziokulturelle Organization der Gemeinde Guajará-Mirim (RO), an der
Grenze zwischen Brasilien und Bolivien.
Keywords: Ideas. Thoughts. Achievements. Higher education. Local culture.
Introdução
Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa sobre aspectos da trajetória
do Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira, as ideias, pensamentos e projetos realizados no
período de 1983 a 2023, nos campos educacional, político e sociocultural, no
município de Guajará-Mirim/RO. Trata-se de um professor, migrante paulista, que
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA
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chegou em Guajará-Mirim/RO no início da década de 1980, época da criação do
estado de Rondônia e, desde os primeiros dias em que chegou na cidade, se envolveu
com questões educacionais, sociais e políticas, com o objetivo pessoal de participar
da gestão social e do poder local, visando a implantação do ensino superior, a
construção de um
Campus universitário no município e a utopia da criação da cidade
universitária na
fronteira Brasil Bolívia.
A pesquisa insere-se no campo da Educação, tendo como foco a História e a
Memória, foi norteada pela seguinte problematização: de que forma o Prof. Dr.
Dorosnil Alves Moreira contribuiu para o desenvolvimento educacional, político e
sociocultural de Guajará-Mirim/RO, município localizado na fronteira Brasil/Bolívia?
Definimos como objetivo geral: registrar contribuições do Prof. Dr. Dorosnil
Alves Moreira para o desenvolvimento educacional, político e sociocultural de
Guajará-Mirim/RO, município localizado na fronteira Brasil/Bolívia. E, para atingir o
objetivo geral, definimos como objetivos específicos: a) elaborar uma biografia do
Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira; b) identificar, a partir da análise documental,
contribuições do referido Professor para a implantação do Ensino Superior no
município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil/Bolívia; c) identificar, a partir da
análise documental, contribuições do referido Professor para o desenvolvimento
político e sociocultural do município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil/Bolívia;
d) contribuir para estudos e pesquisas sobre personalidades históricas do município
de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil/Bolívia.
O estudo desta temática justifica-se porque ainda poucos registros sobre a
implantação do Ensino Superior em Guajará-Mirim/RO e é necessário registrar a
história e a memória das personalidades históricas do município de Guajará-Mirim
(RO), para promover o reconhecimento e a valorização dessas personalidades.
Também é relevante porque desde o momento em que chegou em Guajará-Mirim/RO,
o Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira demonstrou interesse pelas problemáticas locais,
principalmente, pelas
políticas públicas aplicadas à Universidade, visando, também, a
valorização da cultura local a partir
da aplicação da sua tese de articulação da cultura
local com as potencialidades dispersas.
No campo pessoal, esta produção acadêmica é relevante porque contribui para
a valorização das instituições locais, beneficia a sociedade, fortalece o campo
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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científico e representa uma importante realização pessoal e formativa para nós,
autoras da pesquisa: Jane Maria Cassimiro Gonçalves e Izaela de Souza Santos.
A pesquisa, do tipo bibliográfica e documental, com abordagem qualitativa, e
com a utilização do método descritivo analítico, foi desenvolvida no período de março
a junho/2025. Na coleta e análise dos dados, recorremos aos estudos da história e da
memória utilizamos os seguintes procedimentos técnicos: conversas informais e
formais; observação participante e entrevistas narrativas abertas, a partir da
reconstituição da memória, com temáticas previamente definidas.
A pesquisa foi fundamentada pelos estudos dos seguintes autores: Gil (2023)
e Guerra (2014) e pelos pressupostos teórico-metodológicos da História e da
memória, tendo-se como base os estudos de: Halbwachs (2003); Borges (2009); Nora
(1993); Avelar (2010) Silva (2009), Moreira (2007); Moreira (2021), dentre outros.
O artigo foi estruturado da seguinte forma: resumo em Língua Portuguesa;
introdução; desenvolvimento, considerações finais e referências. O desenvolvimento
foi organizado em cinco seções: na primeira seção apresentamos as contribuições
das memórias e histórias de vida para o registro da história; na segunda seção
descrevemos os procedimentos metodológicos da pesquisa e apresentamos uma
breve biografia do Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira, dando ênfase ao período de
1983 a 2023; a quarta seção contém a apresentação e análise dos resultados
da pesquisa; a quinta seção contém a análise dos resultados da pesquisa. Assim,
com este trabalho, esperamos contribuir, no âmbito acadêmico-científico, para a
constituição de um banco de dados sobre as pesquisas sobre as personalidades que
contribuíram para o desenvolvimento nos campos educacional, político e sociocultural,
no município de Guajará-Mirim/RO.
CONTRIBUIÇÕES DAS MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DE VIDA PARA O REGISTRO
DA HISTÓRIA
Para elaboração desta seção, recorremos à reconstituição da memória histórica
e da memória social conforme propostas de Maurice Halbwachs (2003), Pierre Nora
(1993), Silva (2009), Avelar (2010), dentre outros. Também recorremos à leitura de
entrevistas, memoriais, reportagens, sites e blogs que continham elementos
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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constituidores da história de vida e do percurso profissional do Prof. Dr. Dorosnil Alves
Moreira.
Ao discutir sobre a elaboração de biografias, Wilton Carlos Lima da Silva (2009),
no artigo Biografias: construção e reconstrução da memória, afirma que:
A construção de uma biografia exige o diálogo com as diferentes formas de
controle simbólico do tempo e da individualização nas sociedades humanas,
na busca de traduzir uma experiência de duração e estruturas imaginativas
que relacionam uma vida e suas relações com a cultura na qual se insere
uma “vida póstuma” na qual mortos e vivos dialogam a partir das heranças
dos primeiros e das carências dos segundo (Silva, 2009, p. 153).
Corroborando as ideias de Silva (2009), Alexandre de Avelar (2010), analisa
o papel da biografia na historiografia, discutindo suas potencialidades e desafios. Ele
destaca que “As pesquisas biográficas tornam possível o redimensionamento de
várias problemáticas concernentes à escrita da História e às relações sociais […]”
(Avelar, 2010, p. 170).
Segundo o autor, a biografia, ao focar na trajetória individual, pode oferecer
uma visão rica e detalhada do passado, conectando a experiência pessoal com
processos históricos mais amplos. Segundo o autor:
A narrativa biográfica supõe uma modalidade de escrita da História
profundamente imbricada nas subjetividades, nos afetos, nos modos de ver,
perceber e sentir o outro. […] Deve o biógrafo explicitar aos seus leitores as
razões da escolha do personagem biografado, a natureza objetiva do seu
empreendimento, suas metodologias de trabalho, fontes, conceitos e as
perguntas que fará (Avelar, 2010, 166-167).
No artigo O “eu” e o “outro” na relação biográfica: algumas reflexões. Vavy
Pacheco Borges (2009, p. 237) adverte que:
Principalmente, a meu ver, é preciso um grande respeito ao outro, um cuidado
para não se querer “consumir” o biografado como um produto, evitando aquilo
que ocorre por vezes hoje em dia, nas relações humanas e, especialmente,
em algumas relações biográficas. Uma vida o deve ser encarada como um
objeto que vamos expor e vender, sem outras considerações, embora,
obviamente, faça parte de nosso trabalho devolver à sociedade o produto de
nossas pesquisas (Borges, 2009, p. 237).
Nesse sentido, a reconstituição da memória histórica e da memória social para
a elaboração da biografia do Prof. Dorosnil possibilitou-nos maior compreensão sobre
as relações pessoais e de poder que foram instauradas entre ele e os sujeitos que
fizeram parte do processo de implantação do Ensino superior no município de
Guajará-Mirim/RO.
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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O processo de reconstituição das memórias e das histórias contou com a
contribuição de pessoas que acompanharam o pensamento e o percurso do Prof. Dr.
Dorosnil Alves Moreira ao longo dos anos. Paralelamente, analisamos registros
documentais, fílmicos e fotográficos. Nessa perspectiva, o artigo Entre memória e
história: a problemática dos lugares, Pierre Nora (1993) postula que:
[…]. A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido,
ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a
todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações. A história é a reconstrução sempre problemática e
incompleta do que não existe mais. A memória é um fenômeno sempre atual,
um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado
[…] (Nora, 1993, p.9).
Ao discutir sobre os lugares de memória destaca que:
São lugares, com efeito nos três sentidos da palavra, material, simbólico e
funcional, simultaneamente, somente em graus diversos. Mesmo um lugar
puramente funcional como um manual de aula, um testamento, uma
associação de antigos combatentes, entra na categoria se for objeto de
um ritual […] (Nora, 1993, p. 21).
Assim, temos o próprio protagonista de nosso artigo como memória viva, o que
nos leva a acreditar que conforme a história da implantação do Ensino superior no
município de Guajará-Mirim/RO tem ocorrido uma constante evolução no Campus no
que toca o alcance da educação e mudanças no quadro social e político de nossa
comunidade, pois o professor Dr. Dorosnil Moreira ainda vive na cidade, trabalha na
universidade e participa de grupos de pesquisas, o que condiz com o pensamento de
Nora (1993).
Halbwachs (2003) criou a categoria de “memória coletiva”, por intermédio da
qual postula que o fenômeno de recordação e localização das lembranças não pode
ser efetivamente analisado se não for levado em consideração os contextos sociais
que atuam como base para o trabalho de reconstrução da memória. É, portanto,
mediante a categoria de “memória coletiva” de Halbwachs que a memória deixa de ter
apenas a dimensão individual, tendo em vista que as memórias de um sujeito nunca
são apenas suas ao passo que nenhuma lembrança pode coexistir isolada de um
grupo social. Segundo o autor:
Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros,
ainda que trate de eventos em que somente nós estivemos envolvidos e
objetos que somente nós vimos. Isso acontece porque jamais estamos sós
[…] (Halbwachs, 2003, p. 30).
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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Dessa maneira, a lembrança é resultado de um processo coletivo, estando
inserida em um contexto social específico. As lembranças permanecem coletivas e
são lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente o sujeito se
encontre envolvido. Isso acontece na medida em que o indivíduo está sempre inserido
em um grupo social.
Diante desse pensamento de Halbwachs, em relação ao sujeito fazer parte de
um grupo social, inferimos que o Prof. Dr. Dorosnil Moreira faz parte dessa memória
coletiva tanto no campo político, como no campo social e educacional da cidade de
Guajará-Mirim/RO, pois conforme sua trajetória ainda não contada ou alguma alusão
a esta trajetória, o mesmo faz ainda seu caminho histórico através de pesquisas e
lançamentos de livros, o que futuramente poderá vir a ser não somente uma memória
individual, mas coletiva que deve perdurar também como história e o somente
memória.
Referencial teórico
A pesquisa foi fundamentada pelos estudos dos seguintes autores: Gil (2023)
e Guerra (2014) e pelos pressupostos teórico-metodológicos da História e da
memória, tendo-se como base os estudos de: Halbwachs (2003); Borges (2009); Nora
(1993); Avelar (2010) Silva (2009), Moreira (2007); Moreira (2021), dentre outros.
Metodologia
A pesquisa, de natureza descritiva, do tipo bibliográfica e documental, com
abordagem qualitativa e com a utilização do método descritivo analítico, foi
desenvolvida no período de março a junho/2025. De acordo com Gil (2023, p. 29):
A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material publicado.
Tradicionalmente, essa modalidade de pesquisa inclui ampla variedade de
material impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais
de eventos científicos.
Segundo o autor, enquadram-se também como material para a pesquisa
bibliográfica: “[…] discos, fitas magnéticas, microfilmes, CDs, bem como o material
disponibilizado pela internet” (Gil, 2023, p. 29). Também recorremos à pesquisa
documental, a qual, conforme o referido autor:
[…] é utilizada em praticamente todas as ciências sociais e constitui um dos
delineamentos mais importantes no campo da História e da Economia. Como
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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delineamento, apresenta muitos pontos de semelhança com a pesquisa
bibliográfica, posto que nas duas modalidades se utilizam dados existentes.
A principal diferença está na natureza das fontes (Gil, 2023, p. 30).
Ao apresentar as características dos tipos de pesquisa, Gil (2023) enfatiza que:
A pesquisa bibliográfica fundamenta-se em material elaborado por autores
com o propósito específico de ser lido por públicos específicos. Já a pesquisa
documental vale-se de toda sorte de documentos, elaborados com finalidades
diversas, tais como, assentamento, autorização, comunicação, etc.
Quanto à abordagem, optamos pela pesquisa qualitativa. Nessa perspectiva,
conforme Minayo (2008, p. 57):
O método qualitativo é adequado aos estudos da história, das representações
e crenças, das relações, das percepções e opiniões, ou seja, dos produtos
das interpretações que os humanos fazem durante suas vidas, da forma
como constroem seus artefatos materiais e a si mesmos, sentem e pensam.
Na obra, manual de pesquisa qualitativa, Elaine Linhares de Assis Guerra,
destaca que:
Na abordagem qualitativa, a cientista objetiva aprofundar-se na compreensão
dos fenômenos que estuda ações dos indivíduos, grupos ou organizações
em seu ambiente ou contexto social , interpretando-os segundo a
perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação, sem se
preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e
relações lineares de causa e efeito (Guerra, 2014, p. 11).
A autora também destaca três elementos fundamentais em um processo de
investigação, são eles: “1) a interação entre o objeto de estudo e pesquisador; 2) o
registro de dados ou informações coletadas; 3) a interpretação/ explicação do
pesquisador” (Guerra, 2014, p. 11).
A coleta e a análise dos dados da pesquisa foram fundamentadas pelos
estudos dos seguintes autores: Gil (2023), Guerra (2014), Minayo (2008) e pelos
pressupostos teórico-metodológicos da História e da memória, tendo-se como base
os estudos de: Halbwachs (2003); Nora (1993); Moreira (2007); Moreira (2021), dentre
outros.
Nessa perspectiva, na coleta de dados utilizamos os seguintes procedimentos
técnicos: conversas informais e formais; observação participante, que se configura
como uma técnica adequada à pesquisa qualitativa; e entrevistas narrativas abertas,
a partir da reconstituição da memória, com temáticas previamente definidas.
Conforme Minayo (2008), nas pesquisas qualitativas nas entrevistas abertas o
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
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entrevistado pode falar livremente, possibilitando a interação com o entrevistador e a
coleta de respostas mais consistentes. Vale ressaltar que as temáticas das conversas
informais e das entrevistas englobaram o contexto familiar, profissional e sociocultural
onde o entrevistado está inserido.
Quanto à análise e interpretação dos dados, de acordo com Gil (2023, p. 124):
[…] é necessário que o pesquisador organize as histórias dentro de uma
estrutura capaz de lhes conferir sentido. Essa organização pode ser feita
mediante a reunião de certo número de histórias, a análise de seus
elementos-chave e sua reescrita em uma sequência cronológica, garantindo
que tenham começo, meio e fim.
Nesse sentido, na coleta de narrativas e histórias de vida do entrevistado
também recorremos à técnica de reconstituição da memória individual e coletiva.
Resultados e Discussão
Para analisar os resultados da pesquisa, recorremos aos estudos de
Halbwachs (2003) e Nora (1993), que discutem sobre a inter-relação entre história e
memória. Os referidos autores convergem na conceituação do termo “lugares de
memória”, mas se distanciam nesse tema:
[…] A memória instala a lembrança no sagrado, a história liberta, e a torna
sempre prosaica. A memória emerge de um grupo que ela une, o que quer
dizer, como Halbwachs o fez, que há tantas memórias quantos grupos
existem; que ela é, por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e
individualizada. […] A história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o
que lhe uma vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto,
no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história se liga às
continuidades temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória
é um absoluto e a história só conhece o relativo (Nora, 1993, p. 09).
De acordo com Halbwachs (2003, p. 25), “Nós podemos criar representações
do passado baseadas na percepção de outras pessoas, naquilo que imaginamos que
aconteceu ou internalizando representações de uma memória histórica”. Ainda sobre
a constituição da memória social, Halbwachs (2003, p. 38) também enfatiza que: “A
memória social é algo que construímos com o passar do tempo”. O referido autor
também destaca que:
Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta
que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não
tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos
pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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recordar venha a ser constituída sobre uma base comum (Halbwachs, 2003,
p. 39).
Dessa forma, acordo com Halbwachs (2003) e Nora (1993), a memória pode
ser compreendida como reminiscências do passado, a qual se relaciona com os
cenários dos acontecimentos vividos pelos sujeitos, registrando os saberes, as
vivências, as experiências, os modos de vida e outros aspectos que se inter-
relacionam com o tempo, com a história, com os elementos culturais, etc.
Os resultados da pesquisa demonstraram que o Prof. Dr. Dorosnil Alves
Moreira é um visionário! Ele foi o grande idealizador da implantação do Campus
Universitário da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, no início da década de
1980, época em que a maioria dos professores das redes Estadual e Municipal de
ensino tinha cursado apenas o Ensino Médio. Além disso, a maioria da população
jovem não tinha perspectiva de cursar o Ensino Superior, nível de ensino destinado
apenas aos jovens de classe média ou alta, que tinham a possibilidade de estudar em
outras regiões do Brasil.
Os relatos e documentos evidenciaram que o professor Dr. Dorosnil Alves
Moreira, professor, escritor e pesquisador, contribuiu e contribui até hoje, de forma
significativa para o desenvolvimento educacional, social, político, e cultural das
populações que vivem e interagem na fronteira Brasil/Bolívia.
Conclusões
Esta pesquisa objetivou o registro das contribuições do Prof. Dr. Dorosnil Alves
Moreira para o desenvolvimento educacional, político e sociocultural de Guajará-
Mirim/RO, município localizado na fronteira Brasil/Bolívia.
Escrever sobre as contribuições do Prof. Dr. Dorosnil Alves Moreira para a
implantação do Ensino Superior no município de Guajará-Mirim/RO foi uma atividade
muito prazerosa, pois é necessário e importante homenagear as grandes
personalidades no nosso município.
Dentre outras contribuições, destacamos sua participação ativa na criação da
Associação dos Professores de Guajará-Mirim, entidade que deu origem a
importantes sindicatos da região, como o SINTERO Sindicato dos Trabalhadores
em Educação de Rondônia, o SINDSEF Sindicato dos Servidores Públicos Federais
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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no Estado de Rondônia, além de sua atuação no processo de implantação do Instituto
Federal de Rondônia IFRO.
No tocante às ideias e projetos vinculados à causa universitária, destacam-se
sua participação na criação dos cursos de Pedagogia, Letras, Administração, Gestão
Ambiental e Direito, além da articulação acadêmica e incentivo à implantação de
programas de pós-graduação, como os cursos de Mestrado e Doutorado em
Linguística Indígena, que formou mestres e doutores no Campus de Guajará-
Mirim/RO, como por exemplo a Profa. Dra. Maria Cristina Victorino de França e Prof.
Dr. Celso Ferrarezi Júnior, em 1998. Esses feitos demonstram a atuação direta do
professor Dr. Dorosnil Alves Moreira como idealizador, docente e pesquisador
comprometido com o avanço educacional na região.
Em termos conceituais, identificamos no professor Dorosnil uma preocupação
sistemática com temas ligados à Linguagem, Matemática, Literatura Universal e
Leitura especialmente no que se refere à potência da palavra. Palavras como
"Poder", "Cultura", "Produção", "Sociedade", "Educação" e "Universidade" são
recorrentes em seu pensamento e abordadas com profundidade filosófica, como
evidenciado em sua obra O Líder Gestor, bem como em sua monografia e tese. Para
compreender sua visão de mundo, é essencial compreender o lugar central que ele
atribui à palavra “Filosofia”.
A partir da reconstituição das memórias e da análise de documentos
constatamos que ele atuou diretamente na reorganização da Associação dos
Professores de Guajará-Mirim (APROG), base para a formação de sindicatos
relevantes como o SINTERO e o SINDSEF e contribuiu, de forma significativa, para a
implantação do Ensino Superior no município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira
Brasil/Bolívia. Ele também participou do processo inicial do projeto de implantação do
Instituto Federal de Rondônia IFRO. Como docente e pesquisador do Departamento
de Ciências da Educação, contribuiu para a implantação de diversos cursos de
graduação e pós-graduação, com destaque para os programas de Mestrado e
Doutorado em Linguística Indígena (1994 a 1999).
Além de sua atuação institucional, ele é reconhecido por sua reflexão filosófica
sobre a linguagem, a cultura, a educação e o papel social da Universidade,
abordando, com profundidade, a potência da palavra em suas obras. Portanto, este
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HISTÓRIA E MEMÓRIA: UM ESTUDO SOBRE IDEIAS, PENSAMENTOS,
PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
GUAJARÁ-MIRIM (RO), NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA
Revista Culturas & Fronteiras - Volume. Nº - Dezembro/2024
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
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estudo também busca valorizar a trajetória, do Professor Dr. Dorosnil Alves Moreira,
compreender o impacto de suas ações no contexto educacional da região na fronteira
Brasil-Bolívia, e ressaltar sua importância na consolidação do Ensino Superior em
Guajará-Mirim/RO.
Abaixo destacamos as principais atividades desenvolvidas pelo Prof. Dr.
Dorosnil Alves Moreira, no ensino, na pesquisa, na extensão e na gestão universitária,
no período de 1983 à 2023 para o desenvolvimento político e sociocultural do
município de Guajará-Mirim/RO. Essas atividades foram mencionadas no Memorial
descritivo elaborado pelo referido Professor como requisito para progressão funcional
da carreira acadêmica universitária para a Classe de Professor Titular da Fundação
Universidade Federal de Rondônia.
1983 - Professor de Antropologia Cultural e Sociologia Geral, para os professores
federais e estaduais lotados nas escolas de Guajará-Mirim/RO, pela UFPA; Professor
de História OSPB, EMC. Orientador do Centro Cívico / SEMEC, Guajará- Mirim /RO
(1983-1989).
1984 Organização e reestruturação da APROG, Presidente da APROG-Associação
dos Professores de Guajará-Mirim/RO (1984-1988); Coordenador do
MOPES - Movimento Pró-Ensino Superior na Cidade (1984-1988); manifesto pró-
estatuto do magistério. 1984.
1985 - Diretor da Escola Estadual, Irmã Maria Celeste, Guajará-Mirim/RO; Presidente
da APROG; Membro da Comissão Estadual Elaboradora do Estatuto do Magistério de
Rondônia; Manifesto Pró - Curso Superior de Pedagogia na Cidade em 1985;
Coordenador responsável pela seleção e contratação de 297 professores, para o
sistema estadual de ensino, com respectiva lotação na região e município de Guajará-
Mirim/RO. (Observação: contratação sem concurso público, com critério político
curricular); Comissão Pró-Constituinte 1988, Decreto N 2.739, de 24/09/1985, do
Governador Ângelo Angelim (MDB), observando a indicação do secretário de
educação professor Gilberto Teles, que executou projeto de contratação de
funcionários para o quadro de planejamento, administração, educação e saúde do
Estado de Rondônia, todos contratos por indicação política (1985-1988).
1986 - Coordenador do projeto do Curso de Pedagogia (UNIR).
1987- Coordenador do MOPES.
1988- Primeiro professor selecionado e contratado pelo convênio 007/UNIR/PMGM,
do Curso de Pedagogia do Campus de Guajará-Mirim/RO (1988); avaliado pela banca
da UNIR: Prof. João Sátiro, Profa. Maria de Lourdes e Profa. Ana Maria;
1989 - Coordenador do projeto do Curso de Letras (1989); Secretário Geral do Rotary
Club de Guajará-Mirim/RO; Aprovado no primeiro concurso público da UNIR, para
cadeira de sociologia, do Departamento de Filosofia e de Ciências Sociais de Porto
Velho.
1990 - Coordenador do projeto de construção do Campus de Guajará-Mirim/RO e
respectiva apresentação para o Senhor Jorge Vassilakis, cidadão benemérito da
UNIR, que fez a doação da área de 156.000m2; Criação da ASEC-Associação dos
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PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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Servidores e Estudantes do Campus de Guajará-Mirim / RO; Presidente da ASEC,
1990-1999; Criação do CONCEC-Conselho do Campus de Guajará-Mirim/ RO; 22.
Presidente do CONCEC, 1990 -1992; Participação do evento de assinatura do termo
de doação da área para construção do Campus de Guajará Mirim / RO, em
01/08/1990; Representante do Reitor, responsável pelos trabalhos para o projeto de
criação da função da direção do Campus de Guajará - Mirim, na estrutura
administrativa e com direito à voz e voto nos Conselhos Superiores da UNIR.
1991 - Coordenador do projeto do curso de administração de empresas motivado pelo
momento e cenário da criação da Área de Livre Comércio de Guajará Mirim /RO;
Participação no Projeto de Extensão Universitária (Mário/Fatinha/Dorosnil) Festival
Folclórico duelo da fronteira; Participação da primeira banca de jurados do primeiro
Festival do Boi Flor do Campo X Boi Malhadinho. ABB/1991.
1992 - Chefe do Departamento Acadêmico do Campus de Guajará-Mirim. 1992-2004.
1993 - Parcerias com os pesquisadores da Universidade de Federal de Santa Catarina
para transferência da equipe do Dr. Jean Pierre Angenot para a UNIR em Guajará-
Mirim. (Assinei um documento garantindo o apoio especial para a pesquisa de
interesse dessa equipe).
1994- Fui eleito Diretor do Campus de Guajará-Mirim. (1995-1999); Participação nos
Conselhos Superiores da UNIR. (1990-1999; 2008-2012); Coordenador da campanha
da Deputada Federal Marinha Raupp e do Governador eleito Valdir Raupp.
1995 - Participação, como Diretor do Campus de Guajará-Mirim, no Plano de
Diretrizes e Metas da UNIR, 1995-1998; Participação da reportagem sobre a
Universidade e Pesquisa na revista Veja em 1995.
1996 - Primeira Corrida Rústica Internacional, Guajará-Mirim/RO/Brasil
Guayramerín/BENI/Bolívia. Coordenação: professor Mário Vênere; Coordenação da
campanha para prefeito Mário & Sarará em 1995; Participação no processo de
articulação e de organização da Aula inaugural do Mestrado e Doutorado em
Linguística Indígena em 1996; Lançamento do CD Diretor Cultural: Composição de
Genival Silva. 1996.
1997 Movimento Pró - Construção do Campus de Guajará - Mirim: 1997-1999.
1998- Participação, articulação e organização do evento da Defesa da Primeira Tese
de Doutorado (Celso Ferrarezi Júnior) do Campus de Guajará-Mirim e da UNIR.
1999 Inauguração do Campus Universitário, 1999; Encontro, PUC/ SP, com Milton
Santos, Ladislau Dowbor, Antônio Chizzoti, Alípio Casali, Mirian Jorge, Otávio Ianni,
Mário Sérgio Cortella, Frei Josafá, meus professores, dentre muitos outros (1999-
2005).
2000 Programa de s-Graduação em Educação, História, Política e Sociedade,
PUC/SP (1999-2021).
2001 Defesa da dissertação de mestrado: Processo de interiorização da
Universidade Federal de Rondônia, na cidade de Guajará-Mirim, no período de 1982
a 1999, na PUC/SP, presidente da banca e orientadora: Dra. Maria Helena Bittencourt
Granjo; membros: João dos Reis Silva Júnior e Esther Buffa; Comissão Organizadora
Multidisciplinar para concurso público, no âmbito do Campus de Guajará-Mirim, 2001.
2002- Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, PUC/SP. 2002-2005;
APG- Associação dos Pós-Graduandos da PUC/SP; artigo: Processo de Interiorização
da Universidade Federal de Rondônia, na cidade de Guajará-Mirim, no período de
1982 a 1999. Revista da APG. 2002.
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PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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2003-Doutorado na PUC/SP, PROHACAP - UNIR. Cidades Seringueiras, São Miguel,
Colorado, no Estado de Rondônia; Participação em bancas para concurso público
para ingresso na docência da UNIR. (2006-2012); Participação em bancas de
monografias, dissertações e teses. 2006 2023; Participação no PROHACAP:
Cidades de Ariquemes, Machadinho, Candeias do Jamari e Porto Velho; Participação
no PROHACAP: Cidades de Ji-Paraná, Pimenta Bueno, Cacoal.
2005 Defesa do doutorado: Doutorado em Educação: Currículo, PUC/SP; orientação
e presidente da banca: Dr. Antônio Chizzoti; membros: Dr. Clodomir Santos de Morais,
Dr. Lauro Morhy, Dr. Ladislau Dowbor, Dr. Luiz Eduardo Wanderley; IV Encontro de
Pesquisadores em Educação: Currículo da PUC-SP. 2006; Coordenador e
organizador da documentação da história do campus de Guajará-Mirim Unir
Documentos (UNIDOC); Banca de concurso público para docente carreira do
Magistério Federal:
2006-2012. Dentre outras: Carlos Betlinski; Jacinto Pedro Pinto Leão; Rosimeire
Ferrarezi Valiante; Geralda Angenot; Participação em banca para seleção de
candidatos para o Mestrado em Ciências da Linguagem, do Campus de Guajará-
Mirim.
2007- Publicação do livro Ética, Educação, Política, Sociedade, editora expressão
popular; VI Encontro de Pesquisadores em Educação: Currículo da PUC/SP. 2007;
Docente no mestrado em ciências da linguagem, orientação e presidente de banca de
defesa de dissertação de mestrados; Publicação em encontro marcado em educação:
artigo completo: o pensamento de Paulo Freire e as Implicações nas Desigualdades
Sociais e no Poder Local: como a educação pode melhorar a vida da sua comunidade,
da sua cidade, do país e do mundo. (2007).
2008 - Diretor do campus no período de 2008-2012; Processo inicial do projeto de
doação do prédio do Iata, distrito de Guajará-mirim, para o sistema IFRO nacional,
tendo como porta voz, a deputada federal Marinha Raupp, que incorporou a ideia no
contexto da direção do campus de Guajará-mirim, para apresentar a presidente Dilma,
que fez incluir um ponto do IFRO nacional, na fronteira Brasil Bolívia. Destacando a
presença do sistema instituto federal Gimenez, que no ato da oficialização do projeto,
anunciou um investimento inicial de 25.000.000,00 (vinte e cinco milhões de reais);
Projeto de construção dos prédios do curso de gestão ambiental e contratação de
pessoal (técnico/docente) vinculado ao reuni, planejamento do campus de Guajará -
Mirim com obras e realizações projetadas (2008-2022), como salas de aula,
laboratórios, biblioteca, urbanização, salas individualizadas para professores, prédio
do mestrado e do doutorado, mobília e equipamentos, dentre outras prioridades.
2009 - Projeto do curso de Gestão Ambiental; Membro fundador da AGL - Academia
Guajaramirense de Letras, 2009; Criação do Departamento de Ciências Sociais e
Gestão Ambiental; Publicação em política educacional e escolar: desafios e
possibilidades na contemporaneidade. artigo completo: gestão escolar, desigualdades
sociais e globalização capitalista: reflexões acerca de estudos do futuro e da gestão
democrática como possibilidade de compreensão e de intervenção social. 2009,
Editora Edufro; Publicação em educação e formação de professores: artigo completo:
políticas públicas, gestão e formação: implicações do manifesto dos pioneiros de 1932
e dos estudos do futuro na formação do gestor escolar democrático no contexto da
globalização capitalista.2009. editora Edufro.
2010 Projeto do curso de direito, com parceria com a prefeitura de Nova Mamoré,
departamento de ciências jurídicas de porto velho e governo do estado de Rondônia.
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apoio às lideranças: Cícero Noronha - liderança representante da associação
comercial e Industrial de Guajará-Mirim; prefeito Laerte de Nova Mamoré, que
patrocinou o projeto, dentre outros.
2011 Publicação da reedição do livro Ética, Educação, Sociedade, Universidade,
Editora Expressão Popular. 2011; vestibular para 100 vagas para o curso de direito
em Guajará-Mirim. Destaque para magnífica reitora em exercício da UNIR: Maria
Cristina Victorino de França, que assinou um TAC, determinante para a realização do
vestibular e do curso de direito na cidade de Guajará Mirim/RO.
2012 Comissão pró estatuinte da UNIR; Projeto em parceria
(Dorosnil/Pessanha/Cristina/Casara) unir/governo do estado, na gestão do
governador Confúcio Moura, para a lei das lojas francas, na cidade de Guajará mirim,
na fronteira Brasil/Bolívia.
2013 Participação na organização do I. Encontro de Gestão Ambiental, com a
presença do governador onde foi discutido o tema da gestão social. Destacando na
foto o professor Marcelo Brasileiro, atual prefeito do município de Nova Mamoré, Ex
prefeito Dúlcio da cidade de Guajará Mirim, o então chefe de Departamento
Acadêmico professor Fábio Robson Casará Cavalcante e os alunos do curso de
Gestão Ambiental; 2013- Docente de sociologia, filosofia, filosofia da linguagem,
metodologia, currículo e história da educação junto aos departamentos de educação,
ciências da linguagem, administração e de ciências sociais e de gestão ambiental,
observando que nesses 40 anos em todos esses respectivos anos tive atuação na
docência.
2014 Projeto de identificação, formação e de aprimoramento em liderança para
gestão e desenvolvimento local PROFAL; 2014- Oficialização da lei de incentivo às
lojas francas em Guajará-Mirim.
2015 Projeto: dicionário biográfico da cidade de Guajará-mirim.
2016 Projeto: dicionário biográfico político partidário do estado de Rondônia. 98.
2017- Projeto de extensão universitária: os 3gs do projeto: gestão do projeto,
gerenciamento do projeto e governabilidade do projeto; 2017 - Participação da equipe
de orientação e apoio de 20/04/2017 a 31/12/2020, no governo municipal da gestão
Cícero Noronha, com destaque para a pedagogia do cuidado contábil desse gestor
que passa para história da gestão blica como exemplo de gestor com todas as
contas da respectiva gestão municipal, todas aprovadas.
2018 Projeto de pesquisa “Matemática do Poder” junto ao grupo de pesquisa EUS
(Educação Universidade e Sociedade); Projeto de pesquisa: O Líder Gestor:
liderança, gestão social e desenvolvimento local (EUS-2008-2018); Pesquisa
GEPCAP: fundamentos da liderança gestora. 2018- 2021). pesquisa publicada na
forma de livro em 24 de junho de 2021.
2019 - Publicação de artigo completo, Educação, currículo, cultura: novos conceitos
no âmbito da nova gestão pública: relevância da formação do líder gestor, junto ao
grupo de pesquisa GEIFA, revista cultura &fronteira. 2019. 99
Participação no cerimonial da Academia Maçônica de Letras do estado de Rondônia,
para o recebimento da comenda: Comendador Benfeitor da Educação do Estado de
Rondônia, em reconhecimento às relevantes contribuições para a educação superior
brasileira, em especial ao sistema educacional em Rondônia, Amazônia ocidental, em
17 de dezembro de 2019- comendador maçônico; Participação em banca de
doutorado, PUC/SP: Marcia Maria Rodrigues Uchôa, na tese: Currículo Intercultural
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na Fronteira: um estudo sobre a política e as práticas de currículo na fronteira
Brasil/Bolívia no estado de Rondônia. 2019.
2020- Pesquisador membro do GEPCAP. Linha de Políticas Públicas Socioambientais
(Projeto de pesquisa: Fundamentos da liderança gestora). 2021- Publicação do livro
“O LÍDER GESTOR”, 2021, com a parceria do professor doutor pesquisador Fábio
Robson Casara Cavalcante e do pesquisador, jornalista e historiador, Earle Bastos
Matos, editora “Os Semeadores” de Brasília. 91. Início do projeto de curso e
especialização “lato sensu” em Gestão e Liderança Gestora, 2021/GEPCAP-UNIR.
2022 - Pesquisador membro do GEPCAP, pesquisas na linha das políticas públicas
socioambientais e docentes, junto aos departamentos de Ciências da educação,
Ciências da linguagem, Ciências da Administração e Ciências Sociais e ambientais
do Campus de Guajará-Mirim.
2023 - Comissão Científica do III Colóquio Internacional de Educação Intercultural na
Fronteira Brasil Bolívia: Territórios Culturais, Sustentabilidade, Direitos Humanos e
Emergências, GEIFA/UNIR, 2023; Projeto de Extensão Universitária/Departamento
de Ciências Jurídicas: questões socioambientais na fronteira Brasil/Bolívia. Dorosnil
Alves Moreira e Delson Xavier. 2023; Homenagem do CONSUN/UNIR, pelos 30 anos
como servidor da Universidade Federal de Rondônia - UNIR. 2023; certificado de
reconhecimento pelos extraordinários serviços prestados ao campus14 Jorge
Vassilakis de Guajará-mirim, da Fundação Universidade Federal de Rondônia UNIR.
(1983-2023). Guajará-Mirim. 2023; Projeto para a elaboração do dicionário biográfico
da educação na fronteira Brasil/Bolívia (Dr. Dorosnil Alves Moreira, Dra. Maria Cristina
Victorino de França e Auxiliadora dos Santos Pinto)
Pesquisa “Educação, Gestão e Currículo: a tese da arte curricular”
2023 Elaboração do memorial descritivo para progressão funcional da carreira
acadêmica universitária para a Classe de Professor Titular da Fundação Universidade
Federal de Rondônia.
Por fim, enfatizamos que o desenvolvimento desta pesquisa transcorreu de
forma positiva em todos os âmbitos, graças ao acesso completo aos materiais
elaborados pelo professor Dr. Dorosnil Alves Moreira, bem como à sua total
disponibilidade para esclarecimentos durante as conversas informais e entrevistas.
Entendemos que este momento marca o início de um justo agradecimento ao
idealizador da implantação da Universidade Federal de Rondônia UNIR, Campus de
Guajará-Mirim/RO. Com isso, desejamos que o trabalho, o empenho e a dedicação
deste incansável professor, pesquisador e autor de obras relevantes na área da
educação, sirvam não apenas como inspiração para uma educação mais crítica e
voltada à formação de cidadãos conscientes, mas, também, como forma de resgatar
e valorizar a sua trajetória.
Que sua luta antes considerada uma utopia e hoje concretizada em
realidade, seja reconhecida não apenas como parte da história, mas também como
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PROJETOS E REALIZAÇÕES DO PROF. DR. DOROSNIL ALVES MOREIRA, EM
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Revista Culturas & Fronteiras - Volume. Nº - Dezembro/2024
Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas - GEIFA /UNIR
Disponível em: https://periodicos.unir.br/index.php/culturaefronteiras/index
motivo de aplausos. Graças a ela, temos hoje a possibilidade de nos graduarmos em
um curso pautado pela excelência.
Referências
AVELAR, Alexandre de Sá. A biografia como escrita da História: possibilidades,
limites e tensões. Revista Dimensões, vol. 24, 2010, p. 157-172. ISNN: 1517-2120. p.
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GUERRA, Elaine Linhares de Assis. Manual de Pesquisa qualitativa. Belo
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MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 11 ed. São Paulo:
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MOREIRA, Dorosnil Alves. Memorial Acadêmico para progressão à Classe de
Professor Titular do Magistério Superior. Guajará-Mirim/RO, 2024. (Digitalizado).
MOREIRA, Dorosnil Alves; MATOS, Earle Bastos; CAVALCANTE, Fábio Robson
Casara. O líder gestor: fundamentos da liderança gestora. ed. Brasília/DF: Os
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MOREIRA, Dorosnil Alves (Org.) Ética, Educação, Universidade, Sociedade:
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contexto da Amazônia. 1ª. Ed. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2007.
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https://ojs.ufgd.edu.br/FRONTEIRAS/article/view/626. Acesso em: 13 abr. 2025.