UM JORNAL BISSEMANAL DEVOTADO A DEFESA DOS INTERESSES REGIONAIS: O ALTO MADEIRA

Autores

  • Paulo Sérgio Dutra Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Ciências Humanas e Sociais. Ji-Paraná/RO.

DOI:

https://doi.org/10.47209/2238-7587.v.13.n.2.5372

Resumo

O jornal Alto Madeira no ano de 1917 era um periódico bissemanal, devotado aos interesses regionais, tinha como gerente João Soares Braga, como administrador Cincinato Elias Ferreira e sua redação/oficina localizava-se à Avenida 7 de Setembro. Cidade de Porto Velho. Assim, o referido periódico oferecia assinaturas anuais, semestrais e avulsas, e recebia anúncios mediante contrato prévios. Assinalava-se também que todas as correspondências deveriam ser endereçadas ao seu gerente, advertindo que a redação não se responsabilizaria por opiniões emitidas por seus colaboradores.

Nesse sentido, o jornal Alto Madeira era constituído por quatro páginas, e esporadicamente veiculavam edições constituídas por seis ou oito páginas.  Desse modo, percorremos a edição de número 30, veiculada numa quinta-feira, em 30 de agosto de 1917. Composta por seis páginas, observou-se que a referida edição possuía vinte colunas. A este respeito, destaca-se que com exceção das páginas cinco e seis, as demais possuíam quatro colunas cada. Assim, na primeira página, da edição em destaque, em sua primeira coluna noticiou-se acontecimentos do mundo afora e a data cívica de Sete de Setembro. Na segunda coluna noticiou-se a chegada do Dr. Joaquim Tanajura, prefeito de Porto Velho a cidade de Manaus/AM, esta noticia foi construída, a partir do registro feito pelo periódico manauara “Jornal do Comercio” sobre a presença do Dr. Tanajura naquela capital. Nesta mesma coluna, veiculou-se informações sobre o quantitativo de votos recebidos por dez candidatas de um concurso de beleza intitulado “Qual a Senhorinha mais bela de Porto Velho?”. No texto em que anunciava o concurso, prometia-se, que a “senhorinha victoriosa” que recebesse mais votos teria o seu retrato “estampado” em “photogravura” em uma das edições do Alto. Ainda, sobre o referido concurso, o texto referente ao mesmo seguiu ocupando a terceira coluna da primeira página com uma carta onde um leitor manifestava-se seu voto em uma das concorrentes da seguinte forma:

Sr. Redactor do “Alto Madeira”. – Se o culto a mulher, exprime a moralidade e a intelligência de um povo, o certamen aberto entre as graciosas moças d’esta terra, particularisa a peregrina deferência d’essa illustrada Redacção ao elemento feminil que, donairosamente orna o escol da sociedade Porto-velhense. Associando-me discretamente a tão bella iniciativa, me permito a honra de justificar com o seguinte fragmento de um canto ao Brasil, dedicado pelo peota americano José Marmol á “Mulher Brasileira”, o meu humílimo quão respeitoso voto á excelsa Senhorita D. Alice Borges. (ALTO MADEIRA, 1917, p. 01)

 

Encerrou-se a terceira coluna com a notícia do assassinato do deputado amazonense, o Coronel Rodolpho Índio de Maués integrante do Partido Republicano do Amazonas. Esta noticia circundou a quarta coluna desta primeira página que também registrou acordos entre o Interventor de Mato Grosso e do Estado do Pará, através de seu representante fixado em Manaus, o Delegado Fiscal sobre o preço da borracha. A quarta coluna foi finalizada com uma poesia sátira intitulada “Bisbilhotices”.

A página dois também foi dividida em quatro colunas. Nesse sentido, abriu-se a primeira coluna com a morte do Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas pela Escola Militar do Rio de Janeiro, onde informou-se através de um telegrama transmitido a imprensa manauense. Noticiou-se sobre o escotismo nesta mesma coluna apresentando o Decreto nº 3297 de 11 de junho de 1917 considerando de utilidade publica as associações brasileiras de escoteiros existentes.

Esta coluna foi finalizada com noticias sobre a “vida social” porto-velhense e que adentrou a segunda coluna desta segunda página. Sobre a vida social em Porto Velho falou-se sobre as “cisalhas” remetendo aos poetas como Bilac, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Luís Murat, felicitou-se “a preciosa existência” dos/das aniversariantes, registrou-se o destino de viajantes em vapores que seguiam para Manaus, com destino a Belém e ao Rio de Janeiro, e registrou-se ainda, agradecimentos de pessoas de Porto Velho e região por ter o periódico feito referencias a suas datas natalícias. Nesta coluna ainda, registrou-se o movimento quantitativo de gêneros alimentícios que havia dado entrada no Mercado Municipal, bem como informações do foro sobre alvarás de licenças, pagamentos de serviço clínicos prestados e arremates de bens e imóveis. Finalizou-se a coluna informando o número de bois e porcos que haviam sido abatidos para consumo da população no Matadouro Público.

As colunas três e quatro da segunda página foram destinadas aos registros de Serviço Telegráfico, de “correspondência especial para o Alto Madeira, expedida do Rio de Janeiro e de Cuiabá”. De Cuiabá vinham três telegramas tratando das questões referentes à posse do General Cipriano Ferreira assumindo as funções de Interventor do Estado de Mato Grosso e um habeas corpus sobre o General Caetano de Albuquerque que intencionava assumir o lugar ocupado por Cipriano Ferreira. Do Rio de Janeiro havia chegado telegramas que informavam preparativos para o 7 de Setembro, sessões da Câmara dos Deputados, impostos sobre o preço da borracha e situações sobre a I Guerra Mundial. Desse modo, as colunas três e quatro desta segunda página foram encerradas com o texto “Mato Grosso” que descreveu a influencia no município de Santo Antônio do Madeira da peleja do General Caetano de Albuquerque na disputa pelo cargo de Interventor naquele estado.

Assim, o referido texto adentrou a terceira pagina da edição de número 30, ocupando quase toda a primeira coluna. Nesse sentido, a seção “Notas e Informações” iniciou-se no final da primeira coluna desta terceira página, ocupando parte da segunda coluna. Nesta seção foram registrados quatro informações de nível nacional, oito em nível local. As de nível local versaram sobre Códigos de Posturas, audiências sobre inventários post mortem, telegramas retidos, nomeações e entradas de vapores no porto da cidade de Porto Velho. Para fechar esta segunda coluna da terceira página os “ineditoriais” abriram espaço para vendas de casas, advertências sobre com quem ou não fazer negócios. Esta seção seguiu nas duas ultimas colunas desta página publicando anúncios de teores semelhantes. Por último, as colunas três e quatro foram ocupadas por anúncios comercias de “A Industrial” especialista em oficina de carpintaria e marcenaria, da “Casa Sarah” botequim de primeira ordem frequentada pela sociedade porto-velhense; da “Alfaiataria Colombo” com belíssimo sortimento de brins branco, e de cores, casimiras pretas, azuis e de cores e especialista em obras de cintas. Encerrou-se a terceira página com o anúncio das Agencias de Vapores denominada de I, Jones & Cia, que encarregavam de promover “despachos” para Manaus, Belém e Linha da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

A quarta página da edição de nº 30, trouxe em sua primeira coluna a conclusão de um texto intitulado “Echos da Guerra” que descrevia a percepção do soldado português sobre o movimento da Guerra Mundial em 1917. Nesse sentido, a primeira coluna desta página foi finalizada com a publicação dos editais expedidos pelo Juiz Municipal de Termos Ausentes do Termo de Porto Velho Comarca de Humaitá/AM. Ao todo, foram cinco editais. Um tratando de um pregão de vendas e arrematação de um terreno, e de uma barraca situado próximo a estação telegráfica, e três correspondentes a heranças de pessoas falecidas na cidade de Porto Velho e sem herdeiros presentes. Desse modo, o referido edital percorreu toda a segunda coluna, da quarta página, tomando parte da terceira coluna.

A terceira coluna da quarta página foi finalizada com a propaganda de uma marca de farinha de trigo chamada de “Gold Medal” podendo ser adquirida nas seguintes medidas barricas, meia barrica, sacos e latas, e poderia ser encontrada em importadoras localizadas em Belém e Manaus. Assim, a quarta coluna da quarta pagina da edição nº 30, do Alto Madeira foi reservada a anúncios de profissionais como advogados, médicos, professoras, fotografo/pintor, e ainda para a venda de canoas.

A este respeito, na área do direito os doutores Oswaldo M. Pinto e Manoel A. Lopes Pereira aceitavam defesas de júri, inventários, e dissoluções de sociedades comerciais. Na instrução pública a Professora Maria das neves Palmeiras Bastos de Góes havia suspendido o funcionamento das aulas do seu Externato Nossa Senhora das Neves localizado na cidade de Porto Velho, transferindo-se para Manaus. Ainda, Adan Parra, a preços módicos executava trabalhos fotográficos, desenhos, decorações de prédios e cenários de teatro. Oferecia-se também, para dar lições de desenhos em sua casa, atendendo ainda a chamados particulares.

E por fim o Dr. Jayme Pereira apresentava-se como médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, como ex-interno do Hospital da Marinha, e especialista no tratamento de doenças do coração, pulmões, estômago, fígado, rins, baço, doenças de crianças e vias urinárias. Tratava sífilis, e aplicava injeções de iodureto e salicilato de sódio, assinalava realizar ainda, pequenas cirurgias. Destacou que as consultas poderiam ser realizadas na Farmácia Americana e que concedia um abatimento de 50% aos empregados da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

As duas últimas páginas desta edição do Alto Madeira, foram destinadas ao anúncio de produtos de consumo em massa, nesse sentido, a quinta e sexta página ao invés de trazer quatro colunas por cada página, trouxe em cada uma delas duas colunas apresentando anúncios de diversas empresas que ofereciam gêneros alimentícios, medicamentos, vestuários, sendo gêneros nacionais e estrangeiros recebidos através dos vapores que chegavam a Porto Velho. 

Assim, as mercearias do João da Silva Magdaleno, Villar, e Mão Negra, ofereceriam produtos alimentícios. As duas primeiras colocavam a serviço da população produtos alimentícios nacionais e estrangeiros, a terceira era especializada em sortimentos para “Boa dispensa”.

Compreendendo a extensão da circulação de produtos nacionais e estrangeiros, importadoras localizadas em Manaus como Braga Vieira & Comp. anunciava um “Grande armazém de estivas nacionais e estrangeiras” apresentando suas filiais em Porto Velho, Fortaleza e no Abunã.

Sobre os estabelecimentos de “completo e variados sortimentos para senhoras” e “selecto sortimento” para homens, os gostos mais requintados poderiam ser satisfeitos em casas como Formosa Syria, no Bazar Paraense, e Casa Pae da Patria. Os senhores poderiam dirigir-se a Alfaiataria Rigor da Moda do competentíssimo contramestre o Sr. Rodrigues L. Tavares que executava todos os trabalhos com a máxima perfeição e elegância.

As farmácias Americana e Drogaria Madeira respondiam aos cuidados, com a saúde disponibilizando medicamentos nacionais e estrangeiros importados de Belém, Maranhão, Rio de Janeiro e Nova-York. Assinalavam que “executavam aviamentos para o interior”, com pessoal habilitado, atendendo a qualquer hora da noite. 

A este respeito, a “Casa Phenix” colocava-se na dianteira do entretenimento, nomeando-se com um “Estabelecimento Non Plus Ultra”, oferecendo concertos diariamente por um “Quarteto”, composto de professores de reputação refinada, cerveja e chopes da marca “XPTO”, além de comidas frias como: chocolate, café, leite e coalhada. Destacava-se que a decência, o respeito, e a barateza eram as divisas da referida casa. 

Nesse sentido, como observou-se, os estabelecimentos  comerciais anunciados nas páginas cinco e seis nesta edição, estavam situados na cidade de Porto Velho, em logradouros como: Rua Da Palha, Rua Floriano Peixoto, Rua Marechal Deodoro, Rua Conselheiro João Alfredo, Rua Prudente de Morais, Rua Quintino Bocaiúva, Avenida Rio Branco, e Avenida  7 de Setembro.

O periódico em destaque tinha uma circulação num âmbito regional que atingia os municípios de Santo Antônio do Madeira, Porto Velho, bem como a região do Guaporé informando a população residente.

As percepções sobre as notas apresentadas sobre o jornal Alto Madeira, evidencia-se que este configurava-se como um jornal de  temática livre, possuía um tamanho considerável em relação ao quantitativo de páginas, trazia em suas primeiras páginas as noticias, reportagens, e opiniões. Apresentava colunas contendo teores informativos diversos, dedicava parte de seus espaços aos anúncios, propagandas, e a divulgação de serviço de profissionais no campo da advocacia, saúde e educação.

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Biografia do Autor

Paulo Sérgio Dutra, Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Ciências Humanas e Sociais. Ji-Paraná/RO.

Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense, professor do Departamento de Ciências Humanas Sociais da Universidade Federal de Rondônia, Campus de Ji-Paraná. Líder do Grupo de Pesquisa e Estudos sobre Relações Raciais e Migração – GEPRAM. Integrante da Rede de Pesquisa, Ensino e Extensão da Educação nas Regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil e na América Latina – RECONAL-Edu. E-mail: paulodutra@unir.br

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Publicado

08/12/2020

Como Citar

Dutra, P. S. (2020). UM JORNAL BISSEMANAL DEVOTADO A DEFESA DOS INTERESSES REGIONAIS: O ALTO MADEIRA. Revista De Estudos De Literatura, Cultura E Alteridade - Igarapé, 13(2). https://doi.org/10.47209/2238-7587.v.13.n.2.5372