Carlos de Assumpção: o verso, o avesso, o preço da vanguarda

Resumo

Este ensaio tem por objetivo flagrar uma tensão histórica implícita à poesia e à sociedade brasileira do século XX, especificamente como se mostra no começo de sua segunda metade: se a construção de Brasília é vista enquanto uma baliza vanguardista – internacionalmente aceita – a propiciar a possibilidade de surgimento para uma vanguarda concretista que se quer, na poesia, verdadeiramente contemporânea e, ainda, de exportação, qual foi o verso, o avesso, o preço dessas vanguardas? Qual foi seu custo para a nossa poesia e sociedade? O que ficou de fora, sem voz e sem nome, majoritariamente ocultado, pelo fim dos anos 1950, começos dos anos 1960 e, mesmo, muitas décadas depois? É provável que haja outras respostas a essa pergunta, mas quero aqui sinalizar o poeta Carlos de Assumpção, cujo poema “Protesto” foi um marco decisivo na Associação Cultural do Negro e no movimento Negro de tal época e de tempos subsequentes.

ABSTRACT

This essay aims to capture an historical tension implicit in the poetry and Brazilian society of the 20th century, specifically as it is shown in the beginning of its second half: if the construction of Brasilia is seen as an avant-garde beacon - internationally accepted - to provide the possibility of emergence for a concretist avant-garde that wants, in poetry, to be truly contemporary and, still, for export, what was the verse, the reverse, the cost of these vanguards? What was their cost to our poetry and society? What was left out, without a voice and without a name, mostly hidden, by the end of the 1950s, early 1960s and even many decades later? Perhaps there are other answers to that question, but here I want to point out the poet Carlos de Assumpção, whose poem "Protest" was a decisive landmark in the Associação Cultural do Negro and in the Negro movement of that time and of subsequent times.