A viagem como lugar de escuta: o deslocamento do olhar sobre as alteridades amazônicas em A Natureza ri da Cultura, de Milton Hatoum
DOI:
https://doi.org/10.47209/2238-7587.v.15.n.1.6825Palavras-chave:
Literatura e viagem, Escuta, Alteridades amazônicas, A natureza ri da culturaResumo
O trabalho propõe a leitura do conto A natureza ri da cultura (2009), de Milton Hatoum, a fim de observar como a narrativa opera esteticamente o deslocamento do olhar imperial, comumente associado a figura do estrangeiro e seus modos de representação das alteridades amazônicas. Ambientado na cidade de Manaus, o enredo evoca as memórias de uma narradora que retorna a sua terra natal anos após a sua partida. O estranhamento frente a uma realidade que lhe era familiar, conduz a protagonista a uma viagem no tempo, mediante a qual rememora passagens da sua infância. O estudo examina como o signo da viagem, enquanto dispositivo estruturante da narrativa, irrompe como lugar privilegiado da escuta, desde onde o viajante se institui enquanto sujeito inclinado a auscultar os lugares pelos quais transita, mobilizando sentidos alternativos para aproximar-se de alteridades, cujos significados situam-se para além das imagens captadas pelo olhar. Formulações teóricas de Nenevé & Siepamann (2009) e Pratt (1999) sobre o olhar; e, de Jean-Luc Nancy (2014), sobre a escuta, embasam a análise. Demonstrar como a narrativa materializa ficcionalmente uma dimensão auditiva subjacente à experiência do trânsito, desde a qual é possível desmantelar-se os pilares da razão etnocêntrica é o objetivo deste artigo.
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