A Representação do aspecto negativo do feminino em dois contos de Ânsia Eterna, de Júlia Lopes de Almeida

Resumo

A presente pesquisa tem como objetivo geral investigar a representação do aspecto negativo do feminino nos contos “Os porcos” e “Sob as estrelas”, ambos presentes na obra Ânsia Eterna (2020), escrita pela carioca Júlia Lopes de Almeida, e publicada em 1903. De modo a alcançar o pretendido, iremos, inicialmente, apresentar o arquétipo de Lilith através de seus mitos; em um segundo momento, deveremos identificar nos referidos contos a constelação de imagens e símbolos que gravitam em torno do arquétipo; finalmente, conseguimos relacionar os aspectos míticos aos elementos temático-linguísticos das respectivas narrativas. Para tal, lançamos mão dos métodos da pesquisa bibliográfica, em seu caráter qualitativo, e da abordagem da mitocrítica, mediante os subsídios teóricos da psicologia analítica (NEUMANN, 2021; KOLTUV, 2017; ROBLES, 2019); do simbolismo (CHEVALIER e GHEERBRANT, 2021); e da mitologia comparada (CAMPBELL, 2012). Desse modo, “caçando” o mito iluminador das narrativas por meio dos estudos do arquétipo de Lilith e dos procedimentos narrativos, acreditamos ser possível demonstrar o modo como a escritora Júlia Lopes de Almeida se utiliza do mito da “primeira Eva” para representar o aspecto negativo do feminino, servindo-se da tradição mitológica judaica para lançar um olhar crítico à posição de inferioridade e de rejeição da mulher na sociedade brasileira do início do século XX. Lilith expressa os elementos de revolta, vingança e reivindicação da mulher inconformada com uma sociedade que tem pela emancipação feminina verdadeiro horror, sentimento esse expresso pelas adjetivações com as quais a deusa primitiva é sempre apresentada: demônio, prostituta, bruxa.