Este artigo tem como objetivo, mediante proposta que incorpora o escopo teórico de Milton Santos sobre os circuitos da economia urbana, compreender e analisar a distribuição espacial e a correlação de forças no plano técnico e político dos agentes do transporte rodoviário de carga que, sob o nosso ponto de vista, se enquadram no circuito inferior. O autor explicita o fato de que a diferença fundamental entre as atividades de ambos os circuitos está ancorada nas diferenças de tecnologia e organização, e destaca que “não são sistemas isolados e impermeáveis entre si, mas, ao contrário, estão em interação permanente” (SANTOS, 2008, p.261). O circuito inferior compõe-se de uma multiplicidade de atividades pouco capitalizadas que imprescindem do uso de técnicas contemporâneas – embora novos objetos sejam utilizados em menor grau e frequentemente a partir de outras combinações – e aumenta pela produção de pobreza e dívidas sociais, resultado direto das modernizações tecnológicas e organizacionais contemporâneas que têm fortalecido o circuito superior das economias urbanas. Ao relacionar as características estruturais dos circuitos com a rede urbana e o processo de industrialização, Santos afirma que há também superposição das atividades dos dois circuitos: “Como o circuito inferior está presente em todas as cidades, as atividades dos dois circuitos confundem-se em toda parte no sistema urbano, tanto nas metrópoles como nas cidades” (SANTOS, 2008, p.331). No transporte rodoviário de carga essa questão se expressa nas relações de subordinação e complementaridade que ocorrem no que estamos chamando de “cadeia de subcontratações”, gerando tensões e distensões entre os agentes que extrapolam o âmbito meramente intraurbano e compõem a dialética espacial entre os dois circuitos. A consciência de como funciona a engrenagem dessa dinâmica pode potencializar uma maior representatividade dos autônomos no plano sindical, fortalecendo a ação política e a luta por condições de trabalho mais dignas.