Fé e Enfrentamento à Intolerância Religiosa na Baia do Guajará Um Olhar Antropológico sobre a Performance “Jardim de Tradições e Resistência Negra”
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Resumo
A perseguição às religiões de matriz africana em contexto paraense é um problema histórico que reproduz, ao mesmo tempo, o racismo estrutural da sociedade brasileira (ALMEIDA, 2019) e a intolerância religiosa ativa ou por omissão do Estado para com as religiões não cristãs em território nacional desde o período colonial.
No ano de 2016, esse perene problema social se manifestou sob a forma de vários ataques contra lideranças e adeptos de religiões de matriz africana durante as realizações de oferendas a Yemanjá no distrito de Icoaraci, em Belém do Pará. A região portuária desse distrito, assim como o de seu distrito vizinho, Outeiro, é um conhecido local de culto à orixá reverenciada como grande Iabá e senhora das águas do mar no candomblé.
Como parte das reações da comunidade afro-religiosa belenense aos casos de intolerância religiosa no local, um grupo de afro-religiosos praticantes de Candomblé fez uma intervenção didática e poética na orla de Icoaraci. A maioria dos participantes da intervenção integravam o Mansu Nangetu Mansubandu Kekê Neta, uma casa de axé que até o presente se destaca na defesa dos direitos dos povos de terreiro e das populações negras do Pará. A atuação do Mansu Nangetu tem contribuições significativas na defesa do direito de uso dos espaços públicos – matas e águas – para os rituais sagrados.
A ação ocorreu no dia 20 de fevereiro no porto de Icoaraci e se chamou “Jardim de tradições e resistência negra”. Ela consistiu em um banho de pipoca (ritual de purificação / limpeza de más energias) no local. As fotografias que constituem a narrativa visual ora apresentada foram produzidas por Renata Beckmann e a seleção e organização do ensaio foto etnográfico como um todo teve o apoio de Marilu Marcia Campelo.
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Referências
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