Entre o acaso e a estrutura: o poema e o discurso da poesia marginal

Resumo

Este artigo propõe um reexame dos discursos a respeito da poesia marginal brasileira dos anos 70 que identificaram nessa produção a defesa de uma lírica espontaneísta e a negação da tradição literária. A análise se centrou na confrontação dos poemas de Cacaso, Chacal e Ana Cristina Cesar com os discursos críticos de maior relevância sobre essa geração, presentes nas obras de Hollanda (2004; 2007; 2016) e Santiago (2000; 2002). No caso específico de Ana Cristina Cesar, investigou-se o forte aspecto metalinguístico e intertextual de sua obra como um instrumento de negociação entre as propostas da poesia marginal e a chamada “tradição moderna” (PAZ, 2013). Foi possível constatar que os poemas marginais estabelecem rupturas com a crítica de poesia que os interpreta e propõem um importante exercício de revisão da instituição literatura, para além da negação da tradição. Nesse sentido, conclui-se que parte dessa produção poética dos anos 70 construiu uma poesia crítica contraditória aos discursos oficiais da crítica literária e foi capaz, no caso da obra de Ana Cristina Cesar, de realizar uma “transcriação” (CAMPOS, 2015) da poesia de seu tempo e de períodos anteriores.

ABSTRACT

This paper aims to reassess the discourses about Brazilian marginal poetry of the 1970’s, which identified, on this production, the defense of a spontaneous lyrical and the denial of a literary tradition. The analysis focused on the confrontation of Casaco, Chacal and Ana Cristina Cesar’s poems with the critical discourses of greater relevance about this generation, present on Hollanda (2004; 2007; 2016) and Santiago's (2000; 2002) works. Specifically talking about Ana Cristina Cesar's case, the significant metalinguistic and intertextual aspect of her work, as an instrument of negotiation between the proposals of a marginal poetry and the so called “modern tradition”, was analyzed (PAZ, 2013). It was possible to verify that the marginal poems presented disruptions in relation to the poetry critics that interpret them, and propose an important review exercise of the literature institution, that goes beyond the denial of the tradition. Thus, we came to the conclusion that part of this 1970’s poetic production created a critical poetry that is contradictory to the official discourses of the literary critics, and was able, in the case of Ana Cristina Cesar’s work, to perform a “transcreation” (CAMPOS, 2015) of the poetry of her time and of previous periods.