Consolidação da Paz versus Disputa Política em Angola
O Entrelugar do Processo de Reconciliação Nacional que o Inglês Cansou de Ver
Palavras-chave:
Reconciliação nacional, Memória das vítimas, Políticas de reparação, Paz, CIVICOPResumo
Após alcançar a independência em 1975, Angola viu-se mergulhada numa guerra civil de vinte e sete anos, marcada por violentos processos como o “27 de Maio de 1977” e os assassinatos pós-eleitorais de 1992, que deixaram “feridas abertas” na sociedade angolana. Com o fim da guerra, em 2002, o país tem trilhado um desafiador caminho de reconstrução e reconciliação nacional. Em 2019, o atual presidente angolano, João Lourenço, movido pelo que designou de imperativo político e cívico do Estado, criou a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), com o objetivo de promover políticas de reparação e assegurar a paz espiritual da sociedade face aos episódios traumáticos do passado. O presente artigo buscou analisar se as ações da CIVICOP estão alinhadas aos seus nobres objetivos de reconciliação entre os angolanos. Contudo, a pesquisa revelou que a atuação da Comissão tem sido marcada por graves irregularidades, como a instrumentalização política e a interferência de órgãos de segurança controlados pelo partido no poder, o que compromete a eficácia do processo de reconciliação. A metodologia utilizada baseou-se na observação não estruturada e na revisão bibliográfica, evidenciando a necessidade de resgatar a credibilidade da CIVICOP para que esta cumpra efetivamente o seu papel na cura das feridas históricas de Angola.
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